Clerks III

Crítica – Clerks III

Sinopse (imdb): Dante, Elias, Jay e Silent Bob são recrutados por Randal após um ataque cardíaco para fazer um filme sobre a loja de conveniência que começou tudo.

Quando soube que tinha um terceiro O Balconista (Clerks III, no original), tive “mixed feelings”. Por um lado, fiquei feliz porque gosto muito do primeiro filme, por outro lado, tive pé atrás pelo passado recente do diretor Kevin Smith.

Antes, um pequeno parênteses pra quem não conhece o primeiro filme. O ano era 1994, e lembro de ter visto no Estação Botafogo uma comédia diferente, em preto e branco, com atuações bem ruins que eram compensadas por diálogos muito bem escritos. Quase automaticamente virei fã do diretor e roteirista Kevin Smith.

Nos anos seguintes, Smith foi criando um universo cinematográfico, o “view askewniverse”, onde alguns personagens às vezes se repetiam, e onde sempre tinham pontas do Jay e do Silent Bob (interpretado pelo próprio Smith). Foram mais cinco filmes: Barrados no Shopping, Procura-se Amy, Dogma, O Império do Besteirol Contra-Ataca e O Balconista 2.

Depois do segundo O Balconista, Smith resolveu mudar o estilo e experimentar outros formatos. Nada contra, gosto quando artistas fazem coisas diferentes. O problema aqui é que nenhum dos seus novos filmes foi tão bom quanto os primeiros. Pagando Bem Que Mal Tem, Tiras em Apuros e Red State são filmes legais mas não tão bons quanto os primeiros; não gostei de Tusk; e até curti Yoga Hosers, mas é um daqueles filmes que quase ninguém viu.

Até que, em 2019, a gente teve O Império do Besteirol Contra-Ataca 2, divertido, mas só pra quem era fã do primeiro.

E agora? Será que a gente precisava de um novo O Balconista?

Precisar, não precisava. Mas, olha, posso dizer que Kevin Smith fez seu melhor filme em muito tempo!

Mas preciso dizer que minha análise terá um peso emocional. Porque sei que este foi um filme feito para os fãs do primeiro filme. (E a minha idade também é semelhante à idade dos personagens, outra coisa que me aproxima.) Ou seja, se você não gosta do estilo do diretor, não recomendo. E se você não conhece, vai perder boa parte das piadas.

(Sim, precisa conhecer o primeiro filme, mas não precisa lembrar do segundo).

Kevin Smith trabalhou em uma loja de conveniência, e isso serviu de inspiração para seu primeiro filme. Smith sofreu um ataque cardíaco em 2018, e mais uma vez usou como inspiração. Randal sofre um ataque cardíaco e resolve fazer um filme – justamente o mesmo filme que a gente viu lá em 94.

Dante e Randal ainda trabalham na loja de conveniência (Randal trabalhava numa vídeo locadora, o novo filme precisava atualizar isso). Elias, que estava no segundo filme, ainda trabalha com eles. Claro que Jay e Silent Bob também estão por perto. E o novo filme ainda traz participações de Rosario Dawson e Jennifer Schwalbach (do segundo filme) e Marilyn Ghigliotti (do primeiro filme).

(Um pequeno parênteses: Silent Bob, claro, quase não fala. Mas de vez em quando ele fala alguma coisa. Aqui isso acontece, quando ele explica a opção por filmar preto e branco, numa das cenas mais divertidas do filme.)

Falando em participações especiais, tem uma cena onde temos várias, como Ben Affleck, Sarah Michelle Gellar, Freddie Prinze Jr., Danny Trejo, Anthony Michael Hall e Melissa Benoist, entre outros. Além de um cameo do Justin Long como enfermeiro.

Falei que precisava conhecer o filme original, porque algumas cenas são referências divertidas, como por exemplo o cara que fica analisando os ovos antes de comprar.

Às vezes o humor do filme é meio bobo. Mas isso sempre foi o estilo do diretor. E, nesse pacote, incluo algumas atuações caricatas, como a dupla Elias (Trevor Fehrman) e Blockchain (Austin Zajur). Acho isso ruim, mas entendo que faz parte do pacote.

Até mais ou menos dois terços, heu estava achando o filme divertido, mas meio bobo (como foi em O Império do Besteirol Contra-Ataca 2). Mas, na parte final, o filme conseguiu me pegar de jeito, e terminei o filme emocionado. O jeito como Kevin Smith termina seu filme fez O Balconista 3 subir vários degraus, é uma bela mensagem sobre amizade e amadurecimento.

Se você não viu o primeiro filme, ou se não gostou, ignore este terceiro. Mas, se você, assim como heu, é fã do primeiro, não perca este novo Balconista!

Halloween Kills: O Terror Continua

Crítica – Halloween Kills: O Terror Continua

Sinopse (imdb): A saga de Michael Myers e Laurie Strode continua no próximo capítulo emocionante da série de Halloween.

Halloween me lembra o cantor Roberto Carlos. Ele tem um monte de músicas boas no início da carreira. Mas fez tanta coisa ruim depois que ninguém mais queria saber quando ele lançava um disco novo.

Este é o décimo segundo Halloween. O primeiro filme foi em 1978. Aí teve continuações em 81, 82, 88, 89, e, em 95 era pra ser o sexto e último. Mas alguns anos depois a Jamie Lee Curtis voltou pra mais dois, um em 98 e outro em 2002. Em 2007 e 2009 teve um remake, feito pelo Rob Zombie. Até que em 2018, o diretor David Gordon Green disse “esqueçam tudo isso, a partir de agora só vale o primeiro”. Sim, o décimo primeiro filme ignora os nove que vieram antes.

Mais uma vez dirigido por David Gordon Green, este Halloween Kills é a continuação daquele, ou seja, temos o décimo segundo filme da franquia, mas segundo os realizadores, podem considerá-lo como o terceiro. Acho ruim isso, mas ok.

Não sei se posso dizer que Halloween Kills é um filme ruim. Mas posso dizer que é um filme besta. A gente já viu tudo isso antes.

(A gente tem que se lembrar que quando o primeiro Halloween foi lançado, esse formato era novidade. Jason Vorhees e Freddy Krueger ficaram mais famosos, mas Michael Myers veio antes. Era novidade na época. Mas isso já faz mais de 40 anos…)

Vamos ao que tem de bom. É um filme bem filmado. David Gordon Green emula o estilo de câmera com takes lentos do filme original. Pra quem gosta de gore, o filme tem algumas mortes bem violentas. E a trilha sonora usa o tema clássico composto pelo próprio John Carpenter.

No elenco, temos a volta de Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Will Patton e Andy Matichack, que estavam no filme de 2018. A novidade pra mim foi Anthony Michael Hall, aquele mesmo, de Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões e Mulher Nota Mil, num dos papeis principais.

Agora, o roteiro é bem ruim. Não tem nada de novo, e é repleto de clichês e soluções preguiçosas. Tipo, por que a galera que estava batendo no Michael Myers pára de bater?

Além disso, a parte final é bem ruim, com a narração da Jamie Lee Curtis falando em off tentando explicar por que o Michael Myers não morre. Já vimos outros 11 filmes com o personagem que não morre, além de vários outros slashers no mesmo formato, e ninguém nunca questionou isso antes. Pra que esse discurso agora?

Mas, o espectador que curte slashers e é pouco exigente talvez se divirta. Se a gente olhar só as mortes, o filme talvez passe. Mas o espectador mais exigente deve procurar coisa melhor.

E o pior é que tem “disco novo do Roberto Carlos” previsto pra ser lançado em breve. Ninguém aguenta mais, mas tem um décimo terceiro vindo aí.

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

foxcatcherCrítica – Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

Continuemos com “cinebiografias visando o Oscar”…

Dois irmãos, ambos medalhistas de ouro por luta greco-romana, entram para o time Foxcatcher, liderado pelo multimilionário patrocinador John E. du Pont, para treinarem na equipe que vai aos jogos de Seul em 88 – uma união que leva a circunstâncias imprevistas.

Dirigido por Bennett Miller (Capote), Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher, no original) traz um trio de atores inspiradíssimos – três atuações dignas de prêmios. Pena que o roteiro é fraco. Além de ser extremamente arrastado, o roteiro ainda é previsível – ora, o cara era atleta medalhista olímpico, se envolveu com álcool e drogas, claro que vai perder a próxima luta, né? Isso tudo torna as pouco mais de duas horas em um longo e arrastado programa – o único plot twist que foge do óbvio acontece logo antes do filme acabar.

Pra piorar, o filme me pareceu cortado, fiquei com a sensação de que estava faltando algo que esclarecesse o conflito entre Mark e John. O filme dá a entender que Mark e John tinham uma relação homossexual, mas não fala o que levou Mark a se afastar – e foi algo tão grave que precisou da intervenção do irmão David. Desconfio que deve ter rolado alguma pressão de algum dos retratados, ou do lutador Mark Schulz, ou da família do já falecido Du Pont.

Pena, porque o elenco está fantástico. Quase irreconhecível, Steve Carell faz um papel sério, completamente fora da sua zona de conforto – não foi surpresa sua indicação ao Oscar de melhor ator. Channing Tatum também está impressionante, num papel onde usa muito mais expressões corporais do que diálogos. Mark Rufallo tem menos espaço na trama, mas também está excelente, tanto que também está indicado ao Oscar, de ator coadjuvante (o filme ainda concorre a direção, roteiro original e maquiagem). O trio está muito bem, gosto de ver atores fazendo papeis que se distanciam do que fazem sempre, tanto pela maquiagem quanto pela atuação. O sumido Anthony Michael Hall também está aqui, mas não sei se ele está diferente por causa do filme ou apenas envelheceu e ainda estou acostumado com o seu “visual Clube dos Cinco. Ainda no elenco, Vanessa Redgrave e Sienna Miller.

Por fim, o subtítulo. Como assim, “a história que chocou o mundo”??? Vivi os anos 80, lembro das olimpíadas de 84 em Los Angeles e 88 em Seul, mas não me lembrava dessa história. De repente o subtítulo podia ser “a história que chocou os EUA”, porque teve zero repercussão por aqui…

Elenco bom, filme fraco. Fica a dica: se você curte um dos três atores, ou se apenas gosta de ver grandes atuações, veja Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo. Mas prepare-se pra ver bons atores num filme fraco.

Clube dos Cinco

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Clube dos Cinco

John Hughes dirigiu poucos filmes. Foram só oito, entre 84 e 91. Três comédias adolescentes essenciais para se entender a década de 80 (Gatinhas e Gatões, Curtindo a Vida Adoidado e Mulher Nota 1000), três comédias “adultas” (Antes Só do que Mal Acompanhado, Ela Vai Ter um Bebê e Quem Vê Cara Não Vê Coração) e uma comédia infantil (A Malandrinha). E, em 1985, seu único drama: Clube dos Cinco.

A história é simples: cinco jovens, completamente diferentes uns dos outros (uma patricinha, um atleta, um marginal, um cdf e uma esquisita}, ficam de castigo na escola durante um sábado inteiro, e precisam aprender a conviver uns com os outros.

Sim, a ideia é bem simples. Simples e genial, num roteiro muito bem escrito.

Acredito que uma das coisas que fez este filme ser um marco (é considerado um dos melhores filmes da década de 80!) é a construção dos cinco personagens. Claro que rolam alguns clichês, afinal, temos menos de duas horas para desenvolver os personagens e a história. Mesmo assim, a história é envolvente e acho difícil alguém não se identificar com alguma característica de algum dos cinco.

A estrutura do filme é tão simples que parece uma peça de teatro filmada. São poucos os personagens – além dos cinco, temos um professor e um zelador, e basicamente só um cenário é usado: a biblioteca da escola.

No elenco, temos Molly Ringwald (a patricinha), Emilio Estevez (o atleta), Judd Nelson (o marginal), Anthony Michael Hall (o cdf) e Ally Sheedy (a esquisita). Aliás, duas curiosidades sobre o elenco: só Molly e Anthony Michael tinham idade para estar na escola na época do filme (ambos tinham 16 anos), Emilio e Ally tinham 22 e Judd já estava com 25; os três mais velhos estavam, no mesmo ano, no elenco de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, com personagens que já tinham acabado o colégio. No cinema, as idades nem sempre são as que parecem ser…

O filme originalmente teria duas horas e meia. Mas, pra ficar mais comercial, foi cortado, e saiu com 97 minutos. Os negativos desta versão maior foram destruídos, mas John Hughes dizia que tinha uma cópia da “versão estendida” com ele. Será que agora alguém vai resolver lançar a versão maior?