Delicatessen

Crítica – Delicatessen

Sinopse (imdb) – Comédia negra surrealista pós-apocalíptica sobre o proprietário de um prédio de apartamentos que ocasionalmente prepara uma iguaria para seus inquilinos estranhos.

(A sinopse não é exatamente isso, mas aqui em Delicatessen, a sinopse não é o mais importante.)

Vi Delicatessen no cinema, na época do lançamento, início dos anos 90, heu “morava” no Estação Botafogo nessa época. Devo ter visto mais de uma vez, porque lembro que copiei aquela saudação dos caras do esgoto com uma amiga.

Na época achei o máximo, porque gosto de visuais esquisitos, e lembro de uma comparação com Peter Greenaway (O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante), outro que tinha um visual maravilhoso, mas os filmes eram chatos (Delicatessen é de 91, mesmo ano que Greenaway lançou A Última Tempestade, filme que achei insuportável quando vi no cinema.)

Delicatessen também tinha um visual maravilhoso, e além disso tinha personagens esquisitos e uma história maluca. Virei fã automaticamente.

Adoro o modo como os diretores Jean Pierre Jeunet e Marc Caro filmam tudo. Os ângulos me lembram videoclipes do David Lee Roth na época dos primórdios da MTV, só que aqui as cores são desbotadas.

Revendo agora, a história é meio besta. Mas gosto de não sabermos muitos detalhes sobre o que está acontecendo com o mundo, afinal, tudo o que precisamos a gente consegue descobrir.

Como falei no início, aqui a forma é mais importante que o conteúdo. Se a história é besta, o modo como é contada não é. O visual do filme é fantástico, cada detalhe é bem cuidado, personagens, cenários, ângulos de câmera, iluminação. Delicatessen é um espetáculo para os olhos.

Delicatessen tem algumas cenas antológicas. As duas que envolvem as molas do colchão são sensacionais, tanto aquela que todo o prédio tem o ritmo das molas, quanto a outra dos dois sentados balançando no ritmo da tv. Também gosto muito de quase todos os personagens. Aquela Aurore que vive tentando se matar é genial!

Ah, fiquei com vontade de aprender a tocar serrote! 😛

Uma Viagem Extraordinária

uma-viagem-extraordinariaCrítica – Uma Viagem Extraordinária

Filme novo do Jean-Pierre Jeunet!

Um menino gênio, de dez anos de idade, secretamente deixa o rancho onde vive com sua família, para atravessar o país e receber um importante prêmio no Smithsonian Institute.

Quem me acompanha por aqui sabe que aprecio alguns poucos diretores contemporâneos que ainda mantém estilos próprios, alguns poucos “autores”, daqueles que a gente reconhece a obra só de ver um trecho do seu filme. Gente como Terry Gilliam, Tim Burton, Wes Anderson – e Jean-Pierre Jeunet.

Sou fã do cara desde os bizarros Delicatessen e Ladrão de Sonhos, dirigidos em parceria com Marc Caro. Depois de ir para Hollywood fazer o Alien 4, ele deu uma suavizada na bizarrice e realizou o seu maior sucesso comercial, O Fabuloso Destino de Amelie Poulan. (Propositalmente, não vou falar de Eterno Amor). Recentemente, Jeunet tinha voltado pra bizarrice com Micmacs. Ao lado de Amelie Poulan, Uma Viagem Extraordinária é seu filme mais “normal”.

Adaptação do livro “The Selected Works of T.S. Spivet”, escrito por Reif Larsen e lançado em 2009, Uma Viagem Extraordinária (L’Extravagant voyage du jeune et prodigieux T.S. Spivet, no original) é um road movie mágico. E como sempre acontece nos filmes de Jeunet, a fotografia de cores fortes é um dos destaques. O filme ainda é pontuado por algumas animações, criando um cara de fábula. O visual de seus filmes é sempre impressionante.

O problema é que, não sei dizer exatamente onde, mas Jeunet errou a mão no resultado final. Parece que Uma Viagem Extraordinária sofre com crise de identidade: não se decide entre a bizarrice natural dos personagens de Jeunet e o clima família de aventura infanto juvenil; não se decide entre o melodrama da morte do irmão e o humor histriônico da personagem de Judy Davis.

Lidera o elenco o menino quase estreante Kyle Catlett. Mas, diferente de Micmacs, aqui temos atores conhecidos, como Helena Bonham Carter, Judy Davis e Callum Keith Rennie. E, claro, Dominique Pinon tem um papel, como acontece em TODOS os filmes de Jeunet.

Enfim, Uma Viagem Extraordinária não é ruim, longe disso. Mas Jean-Pierre Jeunet já fez melhor…

Eterno Amor

Crítica – Eterno Amor

Finalmente, resolvi ver o único filme que faltava da filmografia do francês Jean-Pierre Jeunet!

França, 1920. Mathilde (Audrey Tautou) recebe a notícia de que seu namorado Manech morreu na guerra contra os alemães. Mas ela se recusa a acreditar, porque acha que ela saberia intuitivamente se ele morresse.

Sou fã do diretor Jean-Pierre Jeunet desde os anos 90, quando vi, no cinema, Delicatessen e Ladrão de Sonhos. Gostei (com ressalvas) da sua estreia hollywoodiana no quarto Alien; também gostei (com ressalvas diferentes) do seu mais bem sucedido filme, O Fabuloso Destino de Amelie Poulan. E adorei quando ele voltou ao estilo dos anos 90 com Micmacs, que não foi lançado aqui foi mal lançado por aqui (mas comprei o blu-ray gringo pela Amazon).

E, sei lá por qual motivo, nunca tinha tido vontade de ver este Eterno Amor (Un long dimanche de fiançailles, no original) – e olha que heu já tinha o dvd original há tempos (coisa de colecionador, se tenho todos os outros filmes em dvd / blu-ray, por que não comprar mais um e fechar a coleção?). E parece que o meu “faro” funciona: Eterno Amor é, de longe, o mais fraco dos seus filmes.

A produção é bem cuidada, claro. O visual é caprichado, como acontece em todos os filmes de Jeunet – aliás, Eterno Amor concorreu aos Oscars de Fotografia e Direção de Arte. Mas, se nos outros filmes, o diretor francês flerta com o cinema fantástico com situações estranhas e personagens bizarros, aqui é tudo convencional. E a trama não só é careta e linear, como é previsível – e chata. E o filme ter mais de duas horas só piora tudo.

Me parece que os produtores queriam se basear no rostinho simpático da atriz Audrey Tatou, que conquistou meio mundo com a sua Amelie Poulan. Mas sua Mathilde não tem um décimo do carisma da Amelie. Falha do roteiro, não da atriz. Mas, não importanta de quem é a culpa, simplesmente não funciona.

Além de Tatou, o elenco traz uma surpresa (pelo menos pra mim: Jodie Foster, interpretando num francês aparentemente perfeito. E a “não surpresa” é Dominique Pinon, claro, como em todos os filmes de Jeunet. Ainda no elenco, Gaspard Ulliel, Marion Cotillard e uma ponta de Tchéky Karyo.

Eterno Amor não é ruim. Mas falta muito pra ser bom. Só recomendado aos fãs radicais de Jeunet e/ou Audrey Tatou. Se bem que acho que vale mais a pena rever Amelie Poulan

Ladrão de Sonhos

Crítica – Ladrão de Sonhos

De vez em quando cito este Ladrão de Sonhos aqui no blog. Achei que era hora de revê-lo.

Krank, que não consegue sonhar, sequestra crianças para roubar os seus sonhos. One, ex caçador de baleias forte como um cavalo, vai até a Cidade das Crianças Perdidas tentar encontrar seu sobrinho, raptado pelos homens de Krank.

Lançado em 1995, Ladrão de Sonhos é o segundo filme da parceria Jean Pierre Jeunet e Marc Caro, que quatro anos fizeram o genial Delicatessen. O clima aqui é tão bizarro quanto no filme anterior!

Lembro na época do lançamento, cinéfilos celebraram mais um filme da parceria – mal sabíamos que este seria o segundo e último filme da dupla. Logo depois deste filme, Jeunet foi sozinho para Hollywood, onde fez o quarto filme da série Alien, e pouco depois conseguiu seu maior sucesso comercial com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (que tem um pé no bizarro, mas é bem mais mainstream que seus outros filmes). Jeunet voltaria ao universo de filmes estranhos com Micmacs à Tire-Larigot, de 2009, mas sempre trabalhando sozinho. Já Caro, não sei o que houve com ele, ficou anos sem filmar nada, até que em 2008 lançou o fraco Dante 01

Costumo usar Ladrão de Sonhos ao lado de O Grande Lebowski como exemplos de filmes onde a forma é mais importante que o conteúdo. A trama é boba – mas, além de uma direção de arte impressionante, o filme traz uma galeria de personagens sensacionais! Temos um personagem que é um cérebro dentro de um aquário, outro que são seis clones, duas velhinhas siamesas, uma anã e um fortão, além de um exército de “cíclopes” e várias crianças.

A direção de arte merece um parágrafo à parte. Se o visual em Delicatessen já era bem cuidado, aqui Jeunet e Caro conseguiram um resultado muito interessante. Cada detalhe do cenário, cada figurino (desenhados por Jean-Paul Gaultier), cada cor usada, tudo é feito para compor um visual de sonho / pesadelo poucas vezes visto no cinema. Ângulos pouco comuns usados pelas câmeras de Jeunet e Caro ajudam o clima onírico. De quebra, alguns efeitos especiais mostrando pulgas são extremamente bem feitos (lembrem-se que estávamos no meio dos anos 90, bem antes da enxurrada de cgi). Outro destaque é a música de Angelo Badalamenti, que lembra um velho realejo.

No elenco, só dois nomes conhecidos: Ron Perlman, antes da fama de Hellboy e Sons of Anarchy; e Dominique Pinon, o baixinho esquisito que sempre trabalha com Jeunet (e com Caro, ele também estava em Dante 01). Uma coisa curiosa: existe uma aproximação entre o grandalhão de Perlman e a menina Judith Vittet, de 11 anos, e a leveza da narrativa não faz isso parecer “errado”.

Ladrão de Sonhos é um belo espetáculo. Recomendado àqueles que curtem um visual bem elaborado. E também aos que gostam de uma bizarrice…

Mortadelo e Salaminho – Agentes Quase Secretos

Mortadelo e Salaminho – Agentes Quase Secretos

De uns anos pra cá, virou moda filme baseado em quadrinhos sérios. Mas os filmes baseados em quadrinhos de humor são mais raros. Por isso me empolguei quando vi este filme com os atrapalhados agentes secretos Mortadelo e Salaminho para vender na promoção da Casa & Vídeo.

Na trama deste filme espanhol de 2003, o Professor Bactério inventa uma nova arma, chamada DDT (algo como “Desmoralizador De Tropas”), que serve para derrotar um exército inteiro sem precisar dar nenhum tiro. Mas a arma é roubada e oferecida a um país vizinho, Tirania, cujo ditador quer entrar em guerra com a Rainha da Inglaterra. O Super, chefe da agência T.I.A., sabendo que seus agentes Mortadelo e Salaminho são dois trapalhões, chama um agente estrangeiro para resolver o caso. Mortadelo e Salaminho, com inveja, resolvem agir por conta própria.

Vou confessar que não era muito fã dos quadrinhos, escritos por Francisco Ibañez. Preferia, no mesmo formato, os franceses Asterix e Obelix. Mas li muitas histórias, me lembro bem. Por isso foi uma agradável surpresa ver que o filme conseguiu captar muito bem a essência dos quadrinhos. Digo mais: a adaptação aqui funcionou melhor do que todos os filmes do Asterix que heu já vi! Vários detalhes dos quadrinhos estão lá, a ambientação é perfeita. E os atores…

Um parágrafo à parte para falar das caracterizações. Benito Pocino está IGUAL ao Mortadelo! Acho que nem com cgi eles conseguiriam um Mortadelo tão real. Até nos disfarces nonsense, típicos dos quadrinhos. E Pepe Viyuela não fica muito atrás, ele está excelente como Salaminho. Mariano Venancio e Janfri Topera também estão ótimos como o Super e o Professor Bactério, respectivamente, mas estas caracterizações eram mais fáceis. E, para fechar, Dominique Pinon, de Delicatessen e Amélie Poulain, caricato (e genial) como sempre, faz Fredy Mazas, o agente secreto estrangeiro.

Ok, o humor às vezes é meio bobo. Mas, caramba, a gente tem que se lembrar que se trata de uma adaptação de quadrinhos de humor escrachado. Às vezes, parece que estamos vendo um filme nonsense, na onda do trio Zucker-Abrahams-Zucker (Apertem Os Cintos, Top Secret). Se algumas piadas são bobas, outras são hilárias!

(E tem mais: o filme é direcionado para a criançada. O humor serve também para os pequenos!)

Um filme desses, pra funcionar, precisaria de efeitos especiais excelentes. E, segundo o imdb, este filme tem o maior orçamento em efeitos especiais da história do cinema espanhol! E, realmente, os efeitos digitais aqui funcionam perfeitamente. Todos os exageros dos quadrinhos estão nas telas; e nada de efeitos parece fora do lugar. Os efeitos são melhor usados do que muita produção hollywoodiana…

Parece que existe um outro filme, mas sem o Benito Pocino… Será que presta? Vou procurar…

Deu vontade de reler Mortadelo e Salaminho…

The Oxford Murders / Los Crimenes de Oxford

The Oxford Murders / Los Crimenes de Oxford

Na Universidade de Oxford, um professor inglês (John Hurt) e um aluno americano (Elijah Wood) ajudam a polícia a tentar solucionar uma série de crimes aparentemente ligados a símbolos matemáticos.

O filme é daquele tipo “mistérios misteriosos”, onde a gente fica tentando adivinhar quem será o próximo a morrer, como e por que, e logo vem uma virada de roteiro que nos joga em outra direção. Neste ponto, o filme flui bem, apesar da trama ser um pouco confusa. O problema é que certas coisas na história parecem meio forçadas demais, e aí o que antes funcionava perde a credibilidade.

Sou fã do diretor espanhol Álex de la Iglesia. Gosto de quase todos os seus filmes: Ação Mutante, O Dia da Besta, Perdita Durango, A Comunidade, Crime Ferpeito… Todos trazem um delicioso ar de filme B, um irresistível humor meio trash. Bem, quase todos. Este The Oxford Murders não tem cara de Álex de la Iglesia… Não falo isso só porque o filme se passa na Inglaterra e os atores principais são hollywoodianos. Perdita Durango é em inglês e se passa na América! The Oxford Murders simplesmente parece ser feito por outra pessoa. Não é um filme ruim, apenas não tem a cara do diretor.

Elijah Wood e John Hurt estão bem em seus papéis, o aluno e o professor que desconfiam um do outro. Nos papéis femininos, temos Julie Cox e Leonor Watling (o único nome espanhol no elenco principal). O francês Dominique Pinon faz um pequeno e importante papel.

A trama usa muitas referências matemáticas e é um pouco difícil de acompanhar, mas pelo menos a solução do filme tem uma certa lógica, apesar de também soar meio forçação de barra – ainda não “enguli” o terceiro assassinato, e achei muita viagem o quarto.

Não vi nada sobre este filme aqui no Brasil, apesar dele ser de 2008. Nem título em português! Por enaquanto, só via download…

Dante 01

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Dante 01

Outro dia recebi por e-mail uma dessas listas de piores filmes. Este Dante 01 estava lá. Fui ver do que se tratava, descobri que é dirigido pelo Marc Caro, que fez, nos anos 90, em parceria com Jean-Pierre Jeunet, dois filmes que gosto muito, Delicatessen e Ladrão de Sonhos. Como assim, um cara que fez dois filmes muito legais ter dirigido um filme digno de estar numa lista de piores? Baixei o filme para ver qualé.

Dante 01 mostra uma prisão numa estação espacial, na órbita de um planeta distante. É uma prisão experimental, onde psiquiatras fazem experiências em presos perigosos. Uma nova médica chega com um novo tratamento, baseado em nanotecnologia. Junto com ela, chega um novo prisioneiro, com misteriosos poderes.

No elenco, temos Lambert Wilson, o Merovigian de Matrix 2 e 3, como o prisioneiro misterioso, e, claro, Dominique Pinon, que estava em Delicatessen e Ladrão de Sonhos, e também nos outros filmes de Jeunet, Alien 4, O Fabuloso Destino de Amelie Poulan e Eterno Amor.

O clima do filme é bem interessante, claustrofóbico, todo dentro da estação espacial. As cores e os ângulos inusitados lembram o estilo dos filmes anteriores de Caro. Tudo funciona bem por quase todo o filme.

Mas… O filme está presente em listas de piores filmes por um bom motivo. Tudo anda muito bem, até que, de repente, uns dez minutos antes do final, o filme se perde completamente. Sei lá o que aconteceu, me parece que a produção deve ter tido problemas e não terminaram o filme como era previsto. Eventos inexplicados acontecem, rola uma certa psicodelia na tela e uma narração tenta explicar o que era pra ter acontecido pelas imagens.

Não recomendo o filme. Só para aqueles que não se importam em ver algo sem fim…