Asteroid City

Crítica – Asteroid City

Sinopse (google): Asteroid City decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.

Filme novo do Wes Anderson!

Já comentei aqui que Wes Anderson é um dos últimos “autores” do cinema atual. Um filme dele tem cara de filme dele. O cara é obcecado por enquadramentos perfeitos, tudo em cena está milimetricamente posicionado – o tempo todo. Cada enquadramento do seu filme é perfeito, cada movimento de câmera é perfeito. Claro que reconheço o valor de um filme assim.

Vou além: o filme traz uma metalinguagem, um “filme dentro do filme”, tem um dramaturgo contando uma história, e essa história é o Asteroid City. E Anderson usa formatos diferentes pra cada momento. O filme alterna entre uma imagem p&b meio quadrada (parece o antigo 4×3) quando está com o dramaturgo e o tradicional letterbox colorido quando conta o filme em si.

O visual é fantástico. Mas, por outro lado, quase não tem história. Tirando um evento lá pelo meio do filme, nada acontece. E assim o filme fica cansativo. Fui até checar a metragem, Asteroid City tem 1h45min, mas parece ser mais longo!

Talvez o problema seja não ter um protagonista com uma história principal. Parece que estamos o tempo todo vendo personagens secundários em tramas paralelas.

O elenco é fantástico. Raras vezes a gente vê tantos atores famosos juntos. Foi assim com Oppenheimer, é assim de novo em Asteroid City: Tom Hanks, Edward Norton, Adrien Brody, Tilda Swinton, Steve Carell, Bryan Cranston, Willem Dafoe, Matt Dillon, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Jason Schwartzman, Maya Hawke, Jeffrey Wright, Hope Davis, Liev Schreiber, Sophia Lillis, Tony Revolori – entre outros. Ainda tem uma participação especial do Seu Jorge, ele está no grupo do cowboy Montana. Mas… Diferente de Oppenheimer, que tem um grande elenco e grandes atuações, aqui todas as atuações parecem propositalmente robóticas – combina com o estilo do diretor, mas torna o filme ainda mais cansativo.

Ok, reconheço que vou soar um pouco incoerente agora, porque sempre defendi que a forma vale mais que o conteúdo, sempre defendi que prefiro filmes com visuais fantásticos mesmo que as histórias fossem fracas. Mas, aqui em Asteroid City isso não funcionou. É um filme indubitavelmente bonito. Mas seria melhor se fosse um curta metragem.

Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Sinopse (Netflix): O famoso detetive Benoit Blanc vai à Grécia para desvendar um mistério que envolve um bilionário e seu eclético círculo de amizades.

Em 2019, fomos apresentados a Entre Facas e Segredos, um divertido “whodoneit”, com elenco estelar e algumas boas reviravoltas no roteiro. Pra quem curtiu, temos agora outro filme com o mesmo detetive, o Benoit Blanc de Daniel Craig. Não é uma continuação, é apenas outra história com o mesmo personagem.

(Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.)

Escrito e dirigido pelo mesmo Rian Johnson do primeiro filme, Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery, no original) leva Benoit Blanc para uma festa particular onde deveria acontecer um jogo, mas uma pessoa acaba morrendo e o espectador então precisa descobrir quem é culpado e qual é o motivo. E, assim como acontece no filme anterior, o roteiro (muito bem escrito, precisamos reconhecer) dá um monte de voltas, e nem sempre o que parece que estamos vendo é o que realmente estamos vendo.

(Gostei muito do roteiro de Glass Onion, mas preciso reconhecer que algumas coisas soam meio forçadas. Só vi o filme uma vez, mas desconfio que ao rever a gente deve encontrar algumas inconsistências aqui e ali. Nada grave, felizmente.)

Sim, o espectador vai pensar no jogo Detetive. E isso é citado no filme, vira uma piada no roteiro. Aliás, outra coisa boa a se falar do roteiro é que achei o humor muito bem dosado. Glass Onion não é uma comédia escrachada, mas tem algumas cenas bem engraçadas. E aquele personagem aleatório que está passeando pela ilha cria algumas cenas hilárias!

Ainda queria falar dos cenários. Glass Onion foi filmado num hotel chique na Grécia. O hotel é tão caro que os atores não puderam ficar hospedados lá! E o visual é muito bonito, coerente com uma casa de um bilionário com dinheiro sobrando. Ah, a cebola de vidro no topo da construção é cgi.

Como acontece no primeiro filme, o elenco também é muito bom. Além do já citado Daniel Craig, o elenco conta com Edward Norton, Kate Hudson, Dave Bautista, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Jessica Henwick, Leslie Odom Jor. e Madelyn Cline, e rápidas participações de Ethan Hawke e Hugh Grant. Além deles, vemos Stephen Sondheim, Angela Lansbury, Natasha Lyonne e Kareem Abdul-Jabbar num jogo de Among Us online. E a voz do “relógio” é do Joseph Gordon Levitt.

Por fim, queria falar do nome do filme. O primeiro filme se chama “Knives Out”, e foi traduzido com o nome galhofa “Entre Facas e Segredos”. Ok, estamos acostumados com nomes galhofa, tipo “Loucademia de Polícia” ou “Todo Mundo Quase Morto”, isso é algo comum no cinema aqui no Brasil. Aí lançaram um segundo filme “Glass Onion: A Knives Out Mystery”. Por que? Glass Onion, ok, mas aqui não tem nada de Knives Out – as facas são algo importante no primeiro filme, não são aqui. Mas, ok, fizeram essa lambança no título original. Aí vão traduzir aqui, e deveria ser “Cebola de Vidro: Entre Facas e Segredos 2”, ou algo parecido. Mas não, mantiveram partes do nome em inglês: “Glass Onion: um Mistério Knives Out”. Caramba, por que??? Era pra avisar ao público que esse filme tem a ver com aquele? Mas aqui no Brasil o primeiro filme não se chama “Knives Out”!!!

Ilha dos Cachorros

Ilha dos CachorrosCrítica- Ilha dos Cachorros

Sinopse (imdb): Um surto de gripe canina se espalhou pela cidade de Megasaki, no Japão, e o prefeito Kobayashi exigiu que todos os cães fossem mandados para a Ilha do Lixo. Na ilha, um jovem rapaz chamado Atari sai em busca do seu cão perdido, Spots, com a ajuda de cinco outros cães … com muitos obstáculos ao longo do caminho.

Nove anos depois de O Fantástico Sr. Raposo, Wes Anderson volta ao stop motion, com esse Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs, no original).

Antes de tudo, é preciso avisar que Ilha dos Cachorros não é filme para criança. Aliás, é curioso observar como boa parte dos longas em stop motion de hoje em dia não têm crianças como principal público alvo. A Laika (Kubo, Paranorman, Coraline) faz filmes que agradam mais os adultos que as crianças; Tim Burton (Frankenweenie, Noiva Cadáver) tem uma pegada dark; acho que só a Aardman (Fuga das Galinhas, Piratas Pirados, Shaun: o Carneiro) faz stop motion para o público infantil.

Ilha dos Cachorros é uma fábula contada por cachorros – e o que é curioso é que o público só entende os diálogos caninos, todos os diálogos humanos estão sem legendas! E a trama traz críticas ao totalitarismo, à limpeza étnica e ainda cita políticos corruptos. Ou seja, não é um filme infantil!

Quem conhece o estilo do Wes Anderson, sabe que o visual do filme vai ser bem trabalhado. Anderson é um dos poucos diretores contemporâneos que mantém uma identidade visual. Seus filmes são sempre cheios de detalhes visuais bem cuidados, e lha dos Cachorros não é diferente. A animação enche os olhos! E a boa trilha sonora de Alexandre Desplat ainda melhora a experiência.

Outro dia falei aqui do elenco de Hotel Transilvânia 3, né? O elenco de vozes aqui é muito mais impressionante: Bryan Cranston, Edward Norton, Bill Murray, Jeff Goldblum, Greta Gerwig, Frances McDormand, Scarlett Johansson, Harvey Keitel, F. Murray Abraham, Tilda Swinton, Liev Schreiber, Courtney B. Vance e Yoko Ono – e ainda tem Anjelica Huston num papel mudo, seja lá o que isso significa numa dublagem…

Boa opção diferente do comum!

Festa da Salsicha

Festa da SalsichaCrítica – A Festa da Salsicha 

Num supermercado, alimentos esperam a sua vez de serem escolhidos pelos “deuses” (os humanos) – sem saber que seu destino é virar comida.

Não se deixe enganar pelo pôster fofinho. Dirigido por Conrad Vernon (Monstros vs Alienígenas, Madagascar 3, Shrek 2), Festa da Salsicha (Sausage Party, no original) é filme pra adulto. Humor grosseiro, politicamente incorreto, cheio de piadas ligadas a sexo, drogas e religião.

A história foi escrita por Seth Rogen, Evan Goldberg e Jonah Hill. Não custa lembrar que Rogen e Goldberg antes fizeram Segurando as Pontas, É o Fim e A Entrevista – por esses três filmes a gente consegue ter uma ideia do estilo de humor que a dupla curte.

Festa da Salsicha segue esse caminho. Pelo menos tenho que admitir que algumas piadas são muito boas. O chiclete Stephen Hawking foi genial, e ri alto na citação a Exterminador do Futuro.

Mas é pouco. O material daria um excelente curta, mas a ideia perde o fôlego e o filme fica cansativo. E parece que não sabiam como terminar, achei a solução final bem ruim. Além disso, certas coisas não fazem sentido – se o chuveiro tem vida, por que o revólver é um objeto inanimado?

Rogen tem muitos amigos, e com isso o elenco original é excelente: Rogen, Jonah Hill, James Franco, Kristen Wiig, Bill Hader, Paul Rudd, Edward Norton, Salma Hayek, Michael Cera, etc. Pena que a sessão de imprensa foi dublada. Mas desta vez podemos afirmar que houve coerência com a proposta do filme: a dublagem ficou a cargo do coletivo Porta dos Fundos, que não suavizou em nada as piadas. Acho que nunca ouvi tantos palavrões num desenho animado…

No final, o resultado fica devendo, mas vale por ser diferente. Mas prepare-se para o desconforto. Não acredito que alguém consiga assistir a esse filme sem se sentir ofendido pelo menos uma vez.

As Duas Faces de um Crime

Primal FearCrítica – As Duas Faces de um Crime (1996)

Um coroinha com cara de inocente é preso, acusado pelo brutal assassinato de um padre. Um famoso advogado resolve assumir a defesa do coroinha, achando que pode ganhar os holofotes pelo caso. Mas algumas verdades ocultas podem aparecer e mudar os rumos da investigação.

Lembro da estreia de As Duas Faces de um Crime (Primal Fear, no original). O nome importante do filme era Richard Gere, mas um estreante roubou a cena. Um estreante que depois mostraria que veio pra ficar, um tal de Edward Norton.

O filme dirigido por Gregory Hoblit (Possuídos, Alta Frequência) é um eficiente “filme de tribunal”, que usa bem todos os clichês do gênero. O que se destaca aqui é o bom elenco, principalmente o então jovem Edward Norton, que impressiona num papel complexo – só não digo mais pra não dar spoilers.

Norton e Gere não estão sozinhos. As Duas Faces de um Crime ainda conta com Laura Linney, Frances McDormand, Terry O’Quinn, Alfre Woodard, Andre Braugher, Maura Tierney e John Mahoney.

Baseado no livro de William Diehl, o roteiro é muito bem construído e tem plot twists bem localizados, e traz uma surpresa no final – ou seja, se você ainda não viu, cuidado com spoilers!

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

birdmanCrítica – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Outro dia falei de como o cgi mudou o plano sequência. E agora estreia talvez o exemplo mais impressionante (até agora) da história do plano sequência no cinema: Birdman!

Um ator que fez sucesso interpretando um super herói caiu no esquecimento quando se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem. Em busca da fama perdida e do reconhecimento, ele decide roteirizar, dirigir e estrelar uma adaptação de um texto consagrado para a Broadway.

O diretor Alejandro González Iñárritu conseguiu um resultado impressionante com o seu plano sequência megalomaníaco que mostra os bastidores de uma peça teatral, num interessante exercício de metalinguagem. Birdman tem quase duas horas (119 min) e é basicamente um único plano sequência – no fim do filme, temos alguns planos curtos, e logo depois volta o plano sequência. Mas o filme não é um plano sequência convencional, existem passagens temporais (mesmo sem cortes visíveis na imagem) – o filme todo se passa ao longo de três dias.

Aliado a este impressionante exercício técnico, temos um ótimo elenco, com atores inspirados. Michael Keaton está impressionante e é candidato fortíssimo ao Oscar de melhor ator mês que vem. Talvez ele estivesse inspirado pelo “fantasma do Batman” – durante o filme inteiro, o protagonista dialoga com o seu alter ego. Edward Norton e Naomi Watts também estão excelentes, mas isso não é surpresa, todos sabem que são grandes atores; quem surpreende é Zach Galifianakis, num papel diferente do “gordo bobão” de sempre. Ainda no elenco, Emma Stone, Andrea Riseborough e Amy Ryan.

A trilha sonora também merece destaque. Quase todo o filme é sublinhado por uma nervosa trilha percussiva – praticamente só se ouve bateria. Detalhe: por duas vezes vemos o baterista ao fundo da cena quando a câmera passa (outro genial exemplo de metalinguagem). E a fotografia ficou a cargo de Emmanuel Lubezki, que ganhou o Oscar ano passado por Gravidade (coincidência ou não, dois filmes dirigidos por mexicanos) . Por fim, os efeitos especiais: não só o cgi ajudou na edição do plano sequência de “cortes invisíveis”, como ainda está presente em detalhes fundamentais da trama, ilustrando o conflito interno do protagonista com o seu alter-ego (e, em uma cena em particular, pra parecer que estamos realmente vendo um filme de super-heróis).

Sobre o gênero, é difícil classificar Birdman. Não é exatamente uma comédia, mas alguns trechos são muito engraçados – a sequência onde Rigman passeia pela Times Square porque ficou preso fora do teatro é hilária! Mas quem for ao cinema esperando uma comédia pode se decepcionar.

Birdman está concorrendo a 9 Oscars: filme, direção, roteiro original, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), fotografia, som e edição de som. Não será surpresa se for o grande vencedor da noite no próximo dia 22.

Por fim: o subtítulo nacional é horrível, mas não é culpa dos tradutores. O nome original é “Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance)”.

O Grande Hotel Budapeste

0-grandehotel budapesteCrítica – O Grande Hotel Budapeste

Outro dia falei que o cinema contemporâneo tem poucos “autores”, e citei como exemplos o Tim Burton e o Terry Gilliam. Olha, a gente precisa incluir o Wes Anderson (Moonrise Kingdom) neste seleto clubinho.

O Grande Hotel Budapeste conta as aventuras de Gustave H, um lendário concierge de um famoso hotel europeu entre as as duas grandes guerras; e Zero Moustafa, o lobby boy que vira o seu melhor amigo.

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, no original) parece uma fábula. Wes Anderson tem um estilo de filmar onde todas suas cenas parecem mágicas. Parece que estamos lendo um livro de contos infantis!

A fotografia de seus filmes chama a atenção. Arrisco a dizer que o diretor deve ter TOC, cada plano é bem cuidado, tudo simétrico, sempre com o objeto centralizado no meio da tela. Isso, somado a cenários meticulosamente escolhidos e à boa trilha sonora de Alexandre Desplat, torna O Grande Hotel Budapeste um espetáculo visual belíssimo de se ver.

E não é só o visual que chama a atenção. O filme é repleto de personagens exóticos – e, detalhe importante: todos têm sua importância na trama, nenhum parece forçado. E o elenco é impressionante, sugiro checar os nomes no poster – é tanta gente que fica até difícil reconhecer todos ao longo do filme: F. Murray Abraham, Mathieu Almaric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Tom Wilkinson e Owen Wilson. Curiosamente, o protagonista é interpretado pelo desconhecido Tony Revolori. Bem, o filme é centrado em dois personagens, não sei exatamente qual do dois seria o principal. Mas sendo que o outro é o Ralph Fiennes, claro que Revolori será chamado de coadjuvante…

Pelo estilo visual de Wes Anderson, talvez O Grande Hotel Budapeste não agrade a todos. Outro problema é que o filme está sendo vendido como uma comédia, e o humor do filme é um humor peculiar, porque diverte mas não causa risadas.

Mas quem entrar no espírito da fábula vai se divertir com a aventura!

Moonrise Kingdom

Crítica – Moonrise Kingdom

Não sei por que, mas heu nunca tinha visto nenhum filme do Wes Anderson. Aproveitei o Festival pra consertar esta “falha”!

Verão de 1965. Em uma pequena ilha na costa da Nova Inglaterra, Sam e Suzy, que se conheceram um ano antes, combinam de fugir juntos – ela, da casa dos pais; ele, do acampamento escoteiro.

Gostei muito do estilo do diretor. Como disse, este foi o meu primeiro Wes Anderson, mas pelo que li, o estilo dele é sempre assim – Anderson é um daqueles raros casos da Hollywood contemporânea que mantém um estilo próprio (assim como Tim Burton ou Terry Gilliam). Os enquadramentos são sempre bem cuidados – existe uma simetria impressionante em quase todos os planos – e os movimentos de câmera são pensados milimetricamente. Essas características, combinadas com uma trilha sonora fora do lugar comum, uma bela fotografia e personagens muito bem construídos, dão a Moonrise Kingdom um ar delicioso.

O clima deste mezzo drama mezzo comédia é meio fantástico, às vezes parece que estamos vendo um filme de fantasia infanto-juvenil. Aliás, diria que poucas vezes vi no cinema um romance entre adolescentes de uma maneira tão bonita e delicada. Acho que vai ter muito marmanjo saindo do cinema com inveja de uma experiência adolescente dessas.

Claro que o elenco ajuda. Dois adolescentes estreantes fazem o casal principal, Kara Hayward e Jared Gilman – ambos estão ótimos. E eles tem um excelente time de coadjuvantes: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Harvey Keitel e Jason Schwartzman.

Como disse, gostei do filme, assim como gostei do estilo do diretor. Em breve vou procurar os seus outros filmes.

O Legado Bourne

O Legado Bourne

A “Trilogia Bourne” está de volta. E, curiosamente, sem o protagonista Jason Bourne…

O Legado Bourne explora o universo criado pelo escritor Robert Ludlum, apresentando uma história original com um novo personagem vivendo situações de vida e morte enquanto uma trama conspiratória rola paralelamente.

Não se trata de um reboot, nem tampouco de uma continuação. Na verdade, O Legado Bourne é um spin-off, prática que acontece de vez em quando com seriados de sucesso que acabaram. Jason Bourne é citado várias vezes, algumas cenas dos outros filmes são usadas. Mas o foco do filme é em Aaron Cross, outro participante do mesmo programa de Bourne.

Tony Gilroy, roteirista dos três primeiros filmes (além de vários outros como O Advogado do Diabo e Armageddon), resolveu criar uma nova história sobre um possível colega de Bourne. Diferente dos outros filmes, este não foi adaptado de um livro, é uma história inédita baseada em situações criadas na trilogia.

Paul Greengrass, diretor do segundo e terceiro filmes da trilogia Bourne, não gostou da ideia e abandonou o projeto – segundo rumores, ele teria dito que um quarto filme teria que se chamar “A Redundância Bourne”, já que nada mais havia para se falar do personagem. Sem Greengrass, o ator principal Matt Damon também pulou fora e só aparece em fotos. O roteirista Gilroy assumiu a direção, e copia o estilo “câmera trêmula” de Greengrass (ponto negativo, na minha humilde opinião).

Não só o estilo de câmera é bem semelhante ao usado nos filmes anteriores, como o formato do filme também. Um personagem que é quase um super herói perseguido incansavelmente enquanto uma trama conspiratória rola em paralelo. Sem novidades neste aspecto.

No elenco, Jeremy Renner (o Gavião Arqueiro d’Os Vingadores) segura bem a onda como protagonista. Rachel Weisz mostra uma juventude impressionante apesar dos seus 42 anos. E Edward Norton está sub aproveitado num papel que não lhe exige nada. Ainda no elenco, Scott Glenn, Albert Finney e Stacy Keach, além de Joan Allen e David Strathairn, aparentemente em imagens reaproveitadas dos filmes da trilogia anterior.

Mesmo sem ter um diretor tarimbado (é o apenas o terceiro filme de Gilroy como diretor, antes dirigiu Duplicidade e Conduta de Risco), O Legado Bourne segue direitinho a fórmula dos blockbusters hollywoodianos. Bons atores, sequências de ação emocionantes, parte técnica impecável. Ainda rolam belas paisagens geladas no Canadá, e, pra manter a “tradição”, uma sequência de perseguição. Mas, sei lá, fica aquela sensação de “será que a gente precisava de mais um filme igual a tantos outros”?

Pelo menos o filme é bem feito. Quem for ao cinema procurando um blockbuster eficiente vai gostar. Só não espere algo a mais…

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Se você gostou de O Legado Bourne, o Blog do Heu recomenda:
A Identidade Bourne
A Supremacia Bourne
O Ultimato Bourne

O Ditador

Crítica – O Ditador

Oba! Outro filme politicamente incorreto do Sacha Baron Cohen!

O Ditador conta a heroica história do ditador Aladeen, que arrisca a própria vida para garantir que a democracia nunca chegue a Wadiya, país que ele governa com mão de ferro e muito amor.

Sacha Baron Cohen é um cara que faz muito bem ao humor dos tempos atuais onde a correção política impera. Ele é corajoso ao cutucar onde muitos têm medo. Mas ele está certo, afinal o humor deveria ser livre de censuras. A única piada ruim é a piada sem graça, piadas ofensivas sempre tiveram espaço no humor.

Me lembro do programa de tv Da Ali G Show, onde Sacha Baron Cohen interpretava três personagens: o rapper Ali G, o repórter do Cazaquistão Borat e a bicha especialista em moda Bruno. O programa era um mockumentary cheio de situações constrangedoras, sempre puxando pro lado politicamente incorreto. Cada um dos três personagens interagia com pessoas que não sabiam que era um ator por trás, e as situações desconfortáveis eram constantes e inevitáveis.

Em 2006, veio o filme Borat, com seu humor grosseiro e ofensivo questionando o american way of life. Três anos depois ele lançou Brüno, mas esse era mais fraco, bem inferior a Borat. Agora, em 2012, O Ditador recupera o bom nível do humor, ao mesmo tempo que mantém o espírito grosseiro e ofensivo.

Mais uma vez dirigido por Larry Charles (diretor dos outros dois filmes), O Ditador tem uma diferença estrutural para os outros dois: o mockumentary foi deixado de lado, o personagem é ficcional e ninguém está sendo “enganado” como nos outros filmes. Por um lado, isso pode tirar um pouco da espontaneidade que rolava nos outros filmes (que traziam algumas cenas impagáveis por conta de pessoas que não sabiam que aquilo era fake). Mas por outro lado, isso abriu espaço para um tipo ousado de piada – Megan Fox e Edward Norton aparecem no filme interpretando eles mesmos sendo sacaneados!

O roteiro, escrito pelo próprio Cohen em parceria com Alec Berg, David Mande e Jeff Schaffer, traz algumas piadas muito boas, misturadas a algumas tão grosseiras que beiram o limite do bom senso. Mas no geral, achei o filme muito engraçado. E o discurso que Aladeen faz no final é genial, uma crítica aos EUA, usando uma ironia pouco comum de se ver por aí

No elenco, o destaque – claro – é Sacha Baron Cohen, que mais uma vez mostra que é um bom ator fora do mockumentary (ele já tinha feito um bom trabalho em A Invenção de Hugo Cabret). E, por ser um filme de ficção, Cohen tem alguns bons atores ao seu lado, como Ben Kingsley, Anna Faris e John C. Reilly, além do pouco conhecido Jason Mantzoukas (na verdade, o principal coadjuvante).

Claro que o humor de O Ditador não é pra qualquer um – além de ser um humor propositalmente ofensivo, algumas são de gosto duvidoso. Mas, quem tem a cabeça aberta e concorda comigo que o politicamente correto é algo ruim, vai curtir O Ditador.

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Se Beber Não Case