Ilha dos Cachorros

Ilha dos CachorrosCrítica- Ilha dos Cachorros

Sinopse (imdb): Um surto de gripe canina se espalhou pela cidade de Megasaki, no Japão, e o prefeito Kobayashi exigiu que todos os cães fossem mandados para a Ilha do Lixo. Na ilha, um jovem rapaz chamado Atari sai em busca do seu cão perdido, Spots, com a ajuda de cinco outros cães … com muitos obstáculos ao longo do caminho.

Nove anos depois de O Fantástico Sr. Raposo, Wes Anderson volta ao stop motion, com esse Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs, no original).

Antes de tudo, é preciso avisar que Ilha dos Cachorros não é filme para criança. Aliás, é curioso observar como boa parte dos longas em stop motion de hoje em dia não têm crianças como principal público alvo. A Laika (Kubo, Paranorman, Coraline) faz filmes que agradam mais os adultos que as crianças; Tim Burton (Frankenweenie, Noiva Cadáver) tem uma pegada dark; acho que só a Aardman (Fuga das Galinhas, Piratas Pirados, Shaun: o Carneiro) faz stop motion para o público infantil.

Ilha dos Cachorros é uma fábula contada por cachorros – e o que é curioso é que o público só entende os diálogos caninos, todos os diálogos humanos estão sem legendas! E a trama traz críticas ao totalitarismo, à limpeza étnica e ainda cita políticos corruptos. Ou seja, não é um filme infantil!

Quem conhece o estilo do Wes Anderson, sabe que o visual do filme vai ser bem trabalhado. Anderson é um dos poucos diretores contemporâneos que mantém uma identidade visual. Seus filmes são sempre cheios de detalhes visuais bem cuidados, e lha dos Cachorros não é diferente. A animação enche os olhos! E a boa trilha sonora de Alexandre Desplat ainda melhora a experiência.

Outro dia falei aqui do elenco de Hotel Transilvânia 3, né? O elenco de vozes aqui é muito mais impressionante: Bryan Cranston, Edward Norton, Bill Murray, Jeff Goldblum, Greta Gerwig, Frances McDormand, Scarlett Johansson, Harvey Keitel, F. Murray Abraham, Tilda Swinton, Liev Schreiber, Courtney B. Vance e Yoko Ono – e ainda tem Anjelica Huston num papel mudo, seja lá o que isso significa numa dublagem…

Boa opção diferente do comum!

O Grande Hotel Budapeste

0-grandehotel budapesteCrítica – O Grande Hotel Budapeste

Outro dia falei que o cinema contemporâneo tem poucos “autores”, e citei como exemplos o Tim Burton e o Terry Gilliam. Olha, a gente precisa incluir o Wes Anderson (Moonrise Kingdom) neste seleto clubinho.

O Grande Hotel Budapeste conta as aventuras de Gustave H, um lendário concierge de um famoso hotel europeu entre as as duas grandes guerras; e Zero Moustafa, o lobby boy que vira o seu melhor amigo.

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, no original) parece uma fábula. Wes Anderson tem um estilo de filmar onde todas suas cenas parecem mágicas. Parece que estamos lendo um livro de contos infantis!

A fotografia de seus filmes chama a atenção. Arrisco a dizer que o diretor deve ter TOC, cada plano é bem cuidado, tudo simétrico, sempre com o objeto centralizado no meio da tela. Isso, somado a cenários meticulosamente escolhidos e à boa trilha sonora de Alexandre Desplat, torna O Grande Hotel Budapeste um espetáculo visual belíssimo de se ver.

E não é só o visual que chama a atenção. O filme é repleto de personagens exóticos – e, detalhe importante: todos têm sua importância na trama, nenhum parece forçado. E o elenco é impressionante, sugiro checar os nomes no poster – é tanta gente que fica até difícil reconhecer todos ao longo do filme: F. Murray Abraham, Mathieu Almaric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Tom Wilkinson e Owen Wilson. Curiosamente, o protagonista é interpretado pelo desconhecido Tony Revolori. Bem, o filme é centrado em dois personagens, não sei exatamente qual do dois seria o principal. Mas sendo que o outro é o Ralph Fiennes, claro que Revolori será chamado de coadjuvante…

Pelo estilo visual de Wes Anderson, talvez O Grande Hotel Budapeste não agrade a todos. Outro problema é que o filme está sendo vendido como uma comédia, e o humor do filme é um humor peculiar, porque diverte mas não causa risadas.

Mas quem entrar no espírito da fábula vai se divertir com a aventura!

Moonrise Kingdom

Crítica – Moonrise Kingdom

Não sei por que, mas heu nunca tinha visto nenhum filme do Wes Anderson. Aproveitei o Festival pra consertar esta “falha”!

Verão de 1965. Em uma pequena ilha na costa da Nova Inglaterra, Sam e Suzy, que se conheceram um ano antes, combinam de fugir juntos – ela, da casa dos pais; ele, do acampamento escoteiro.

Gostei muito do estilo do diretor. Como disse, este foi o meu primeiro Wes Anderson, mas pelo que li, o estilo dele é sempre assim – Anderson é um daqueles raros casos da Hollywood contemporânea que mantém um estilo próprio (assim como Tim Burton ou Terry Gilliam). Os enquadramentos são sempre bem cuidados – existe uma simetria impressionante em quase todos os planos – e os movimentos de câmera são pensados milimetricamente. Essas características, combinadas com uma trilha sonora fora do lugar comum, uma bela fotografia e personagens muito bem construídos, dão a Moonrise Kingdom um ar delicioso.

O clima deste mezzo drama mezzo comédia é meio fantástico, às vezes parece que estamos vendo um filme de fantasia infanto-juvenil. Aliás, diria que poucas vezes vi no cinema um romance entre adolescentes de uma maneira tão bonita e delicada. Acho que vai ter muito marmanjo saindo do cinema com inveja de uma experiência adolescente dessas.

Claro que o elenco ajuda. Dois adolescentes estreantes fazem o casal principal, Kara Hayward e Jared Gilman – ambos estão ótimos. E eles tem um excelente time de coadjuvantes: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Harvey Keitel e Jason Schwartzman.

Como disse, gostei do filme, assim como gostei do estilo do diretor. Em breve vou procurar os seus outros filmes.

Pulp Fiction

Crítica – Pulp Fiction

Um curso de cinema me convidou para falar de Quentin Tarantino. Então resolvi rever os seus filmes. Primeiro revi Cães de Aluguel, já falei dele aqui no blog. Depois foi a vez de Pulp Fiction, um dos meus filmes favoritos de todos os tempos!

O filme mostra algumas histórias interligadas, envolvendo uma dupla de assassinos profissionais, um boxeador e a mulher de um chefão do crime organizado.

É difícil resumir a sinopse de Pulp Fiction, que, entre outros prêmios, levou a Palma de Ouro de melhor filme em Cannes. O genial roteiro (ganhador do Oscar de 1995), escrito pelo próprio Tarantino, foge dos clichês comumente usados pelo cinema – inclusive na linha temporal usada, fora da ordem cronológica.

O roteiro é perfeito. Diálogos afiados ao longo das duas horas e meia de filme, e várias cenas imprevisíveis. Uma das coisas que mais gosto em Pulp Fiction é justamente a ideia de distorcer clichês muito usados no cinema. Por exemplo, a cena que acontece depois da perseguição entre Butch e Marsellus é completamente diferente do que qualquer um poderia imaginar. Digo mais: algumas caracterizações, como a dupla Vincent e Jules (John Travolta e Samuel L Jackson), seguem essa onda – aquele visual dos dois é muito incomum!

O elenco é fantástico. John Travolta, Samuel L Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Amanda Plummer, Ving Rhames, Eric Stoltz, Rosanna Arquette, Maria de Medeiros, Harvey Keitel, Christopher Walken e o próprio Tarantino (rola até uma ponta de Steve Buscemi como Buddy Holly), entre outros menos conhecidos – e todos estão ótimos.

Ainda tem a trilha sonora, cheia de boas músicas que eram pouco conhecidas antes do filme – e que viraram hits em festinhas na época.

Lembro que, nos anos 90, quando vi pela primeira vez, gostei mais da crueza de Cães de Aluguel. Revendo hoje, digo que prefiro a sofisticação de Pulp Fiction

Heu poderia continuar falando do filme. Afinal, Pulp Fiction foi um marco, muita coisa em Hollywood passou a seguir o estilo criado por Tarantino (filmes como Coisas Para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto, O Nome do Jogo e Um Amor e uma 45). Mas chega. Se você não viu, corra e veja. Se já viu, é hora de rever!

P.s.: Posso contar um último “causo” ligado a este filme? Como falei no post “Quem sou heu“, tive uma videolocadora nos anos 90. O nome era “Pulp Vídeo”! 😀

.

.

Se você gostou de Pulp Fiction, o Blog do Heu recomenda:
Bastardos Inglórios
Cães de Aluguel
Um Drink no Inferno

Be Cool – O Outro Nome Do Jogo

Be Cool – O Outro Nome Do Jogo

Apesar de ter gostado de Get Shorty – O Nome do Jogo, de 95, heu ainda não tinha visto a sua continuação, Be Cool – O Outro Nome Do Jogo, de dez anos depois.

Baseado no mesmo Elmore Leonard que escreveu a primeira história, Be Cool traz de volta Chili Palmer (John Travolta), desta vez tentando entrar na indústria da música, em vez do cinema como no primeiro filme.

Be Cool tenta manter o mesmo estilo de Get Shorty: atores famosos fazendo personagens cool, tudo num visual moderno e embalado por uma trilha sonora “tarantinesca”.

Aliás, o elenco deste filme é impressionante: John Travolta, Uma Thurman, Danny DeVito, Harvey Keitel, James Woods, Vince Vaughn, The Rock, Christina Milian, Debi Mazar, Cedric The Entertainer, e ainda rolam participações especiais de Steven Tyler e Joe Perry (do Aerosmith), Black Eyed Peas e Sergio Mendes.

Mas no fim descobrimos que, por trás de tudo isso, o filme é fraquinho. Para ser sincero, achei o filme bobo… A trama é vazia, é tudo tão sem graça, que, quando acaba o filme, dá vontade de rever o original.

Bastardos Inglórios

bastardos-inglorios

Bastardos Inglórios

Oba! Hoje estreia um filme novo do Quentin Tarantino aqui no Brasil! Isso não acontece desde Kill Bill vol. 2!

Fiquei traumatizado com o que fizeram com o penúltimo filme do Tarantino, À Prova de Morte. Passou no festival de 2007, mas num dia diferente do divulgado, e depois, inexplicavelmente, nunca entrou em cartaz, nem nunca foi lançado em dvd. Heu tenho em dvd original, mas é porque comprei uma edição gringa…

Mas voltemos ao filme novo!

Durante a Segunda Guerra Mundial, na França ocupada pelos nazistas, o tenente americano Aldo Raine (Brad Pitt) é o líder de uma pequena equipe secreta, formada por soldados judeus: os “Bastardos”. O objetivo deles é simples: matar brutalmente nazistas, para espalhar medo entre eles.

Bastardos Inglórios é um filme atípico na carreira do Tarantino. Afinal, até agora ele não tinha feito nenhum filme de época, nem usado personagens históricos. E aqui temos Hitler, Goebbels e até Churchill numa ponta!

Mesmo assim o filme se porta como um “legítimo Tarantino”. Diálogos afiadíssimos, personagens muito bem construídos, violência gráfica na dose certa e trilha sonora cool. E uma das coisas que mais gosto nos filmes dele: situações imprevisíveis.

Uma coisa que Tarantino sabe fazer muito bem é construir expectativas para depois frustrá-las. Quer um exemplo? Se Kill Bill vol 1 tem rios de sangue, Kill Bill vol 2 é muito mais discreto. Algo parecido acontece com o destino de alguns dos personagens e algumas das situações de Bastardos Inglórios. Não, não vai acontecer o que você espera!

Tem outra coisa que senti falta. Tarantino normalmente usa vários atores famosos em papéis inesperados. E aqui não temos muita gente conhecida – pelo menos não tanto quanto em seus outros filmes. Sim, claro, tem o Brad Pitt, e também Diane Kruger, mas paramos por aí. Acho que o único papel “inesperado” é o do Mike Myers (Quanto Mais Idiota Melhor, Austin Powers). Procure bem, senão você não o encontrará! Fora isso, temos as vozes de Samuel L Jackson, Harvey Keitel e do próprio Tarantino, mas só as vozes mesmo.

Bem, o fato dos atores serem menos conhecidos não atrapalha o resultado final do filme. Todos estão excelentes em seus papéis. Inclusive, Christopher Walz ganhou a Palma de Ouro de melhor ator em Cannes este ano pelo seu magnífico coronel Hans Landa.

Tarantino confessou que este filme está para os filmes de guerra como um spaguetti western está para os faroestes. Inclusive, ele pensou em chamar o filme de “Era Uma Vez na França Ocupada por Nazistas“.

O fim é meio estranho, mas não comento mais nada pra não mandar spoilers. Mesmo assim, é um bom filme!

Cães de Aluguel

caesdealuguel

Cães de Aluguel

O ano era 92. Algumas pessoas começavam a comentar sobre um filme ultra-violento que estava passando em algumas salas da cidade, dirigido por um ex balconista de videolocadora. Falavam de um ritmo diferente, porque o filme usava o “tempo real” e muitos flashbacks.

Fui ver o filme. E posso dizer que a história do cinema começou uma nova era…

O filme trata de um assalto a uma joalheria. Começa com tudo dando errado, e vai mostrando com flashbacks quem são aqueles homens, todos de terno preto, e como eles chegaram lá.

Além dos ternos pretos, todos têm nomes de cores – Mr. Pink. Mr. White, Mr. Blonde, Mr. Orange, Mr. Blue e Mr. Brown. Aos poucos vemos como eles foram recrutados para o assalto, e quem é cada um. E, também aos poucos, as tensões vão crescendo entre os violentos assaltantes e suas convicções, até o apoteótico fim – do qual é melhor não falar nada, porque nem todo mundo viu o filme…

Todos os diálogos do filme são geniais. Logo no início, o próprio Quentin Tarantino, diretor, roteirista e ator, protagoniza o hoje famoso “Madonna Speech”, onde explica a sua interpretação sobre a música Like a Virgin, da Madonna…

O filme é muito violento, rola muito sangue, mas não de uma maneira “splatter”. Parece real, tanto que um paramédico foi contratado pra acompanhar o sangramento de um dos personagens ao longo do filme.

O elenco está muito bom. Harvey Keitel era o único grande nome na época, e está ótimo ao lado dos geniais Steve Buscemi e Tim Roth. O quase sempre canastrão Michael Madsen funciona muito bem, ao lado do Chris Penn, que antes disso só tivera um filme que merece registro, como o amigo (magro!) do Kevin Bacon em Footloose.

Se antes do filme o diretor Quentin Tarantino era apenas um atendente de videolocadora, depois ele virou hype. Vendeu dois roteiros: Amor À Queima Roupa, do Tony Scott; e Assassinos Por Natureza, do Oliver Stone (segundo o que se diz, Oliver Stone teria mudado muito o roteiro original, por isso Tarantino pediu para ter seu nome excluído dos créditos); e depois fez Pulp Fiction.

Pulp Fiction merece um parágrafo! Se Cães de Aluguel é a violência crua, Pulp Fiction é a violência estilizada. Ganhou Oscar de melhor roteiro e Palma de Ouro de melhor filme em Cannes. Ressucitou carreiras adormecidas e mais uma vez revolucionou a estrutura dos filmes, não colocando o roteiro numa ordem cronológica. Genial, genial, genial. Outro dia falo dele aqui.

Cães de Aluguel é um filme obrigatório. Quem não viu, corra e compre um nas prateleiras de R$ 9,90 das grandes lojas. Quem viu, tá na hora de rever!

Curiosidade final: afinal, o que são os “reservoir dogs”? Durante o filme, o bando nunca é citado com esse nome, que só aparece nos créditos iniciais. Na verdade, na sua época de videolocadora, Tarantino gostou do título do filme Au Revoir Les Enfants (Adeus Meninos), do Louis Malle. Gostou do som desse nome, mas não conseguia falar direito o francês, então se enrolava falando “Au Reservoir Les Enfants“. Gostou tanto que resolveu dar o nome pro seu bando…

Um Drink No Inferno

Um Drink No Inferno

Revi neste fim de semana o genial Um Drink No Inferno, roteiro do Quentin Tarantino e com Robert Rodriguez na direção. Disse e repito: genial!

Sei que poucas pessoas desconhecem este filme, mas mesmo assim preciso avisar:

SPOILERS ABAIXO!

SPOILERS ABAIXO!

SPOILERS ABAIXO!

SPOILERS ABAIXO!

Heu achava que TODO MUNDO sabia da grande reviravolta que tem no meio do filme, até que descobri que a Garotinha Ruiva não sabia…

Bem, o fato é que são dois filmes em um, o que apenas reafirma a genialidade do projeto.

Dois irmãos, Seth (George Clooney) e Ritchie Gecko (Tarantino), assaltantes de banco, estão em fuga, indo pro México, e matando qualquer um, civil ou policial, que entrar no caminho. Perto da fronteira encontram a família de um ex pastor (Harvey Keitel), e usam como reféns para cruzar a fronteira.

E – de repente – o filme vira um filme de terror trash de vampiros. Mais: um ótimo trash!

Numa entrevista, Rodriguez e Tarantino explicaram: estamos familiarizados com aquele grupo de pessoas, os dois irmãos e a família sequestrada. Eles apenas estão indo pro México, fugindo da polícia. Eles não têm idéia de que aquele lugar é um antro de vampiros! Então, quando os vampiros gritam “dinner time”, aquilo é uma surpresa – para os personagens e também para o público!

Não conheço outra reviravolta mais bem feita na história…

Só pra falar mais uma curiosidade sobre o filme: o motoqueiro Sex Machine é interpretado por Tom Savini, mestre dos efeitos especiais da trupe do George Romero!