Plano de Aposentadoria

Crítica – Plano de Aposentadoria

Sinopse (imdb): Quando Ashley e sua filha Sarah se envolvem em um empreendimento criminoso que coloca suas vidas em risco, ela recorre ao pai afastado Matt, atualmente vivendo a vida de um vagabundo de praia aposentado nas Ilhas Cayman.

Não costumo ver trailers, mas me enviaram o trailer deste Plano de Aposentadoria (The Retirement Plan, no original) acabei vendo e curti a ideia. Parecia ser um “novo John Wick”, com o Nicolas Cage no papel principal. Ok, vamos ver qualé.

A comparação é válida, afinal são dois super mega assassinos, aposentados, que são forçados a voltarem à ação. O problema é que John Wick pode até ter uma premissa clichê, mas a execução é bem longe disso. Já Plano de Aposentadoria tem uma execução burocrática, o que nos entrega um filme bem genérico. Escrito e dirigido por Tim Brown, Plano de Aposentadoria é extremamente óbvio. A gente consegue prever tudo o que vai acontecer.

Se tem algo aproveitável é o elenco. Porque, se a trama é previsível e cheia de clichês, pelo menos vemos na tela atores como Nicolas Cage, Ron Perlman, Jackie Earle Haley e Ernie Hudson – inclusive este último é aquele clichê do “amigo do mocinho que entra na trama só pra se ferrar”.

Falei desses quatro atores, mas o melhor personagem é sem dúvida o do Ron Perlman, assassino brutamontes e ao mesmo tempo carinhoso. Se uma coisa vale a pena em Plano de Aposentadoria, é o personagem do Ron Perlman!

As cenas de ação são ok. Não tem nenhuma coreografia de luta que chama a atenção. Mas, pelo menos, mostra sangue quando precisa mostrar.

Por fim, uma coisa curiosa: os diálogos repetem insistentemente que estão procurando um HD, mas o filme só mostra um pen drive. Se a gente vê um pen drive, por que não mudaram o texto dos diálogos?

Pode divertir os menos exigentes. Mas é daquele tipo de filme que a gente esquece na semana seguinte.

Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Alita: Anjo de Combate

Crítica – Alita: Anjo de Combate

Sinopse (imdb): Uma história cheia de ação da jornada de uma jovem mulher para descobrir a verdade de quem ela é e sua luta para mudar o mundo.

Opa! Filme novo do Robert Rodriguez! Ou será que é filme novo do James Cameron? Calma, explico.

Alita: Anjo de Combate (Alita: Battle Angel, no original) é baseado num mangá escrito por Yukito Kishiro. James Cameron anunciou interesse na adaptação em 2003, mas a produção atrasou por causa do Avatar (2009) e suas várias continuações (que estão previstas para serem lançadas em 2020, 2021, 2024 e 2025). Até que em 2016 foi anunciado que Robert Rodriguez assumiria a direção, dividindo o roteiro com Cameron (e com Laeta Kalogridis).

Mas, será que funciona a parceria entre um cara que costuma andar no limiar do trash e outro conhecido por uma produções megalomaníacas? Felizmente, a resposta é afirmativa!

Alita: Anjo de Combate chama a atenção logo de cara pelos efeitos especiais. A gente sabe que é um personagem digital, mas é um personagem tão perfeito que ao longo do filme a gente até se esquece disso. O trabalho de captura de movimento feito pela atriz Rosa Salazar é impressionante. Sei que é cedo, mas já arrisco dizer que estará no Oscar ano que vem.

Não só o personagem Alita, mas toda a ambientação distópica é muito bem feita. As sequências com o esporte do filme, Motorball (acredito que a semelhança com Rollerball seja proposital), também são muito bem feitas.

Sobre ser um filme do Robert Rodriguez ou não, a cena do bar (um dos melhores momentos do filme) tem a cara do diretor texano – arrisco a dizer que até a trilha sonora desta cena deve ter sido composta por ele (diferente do que acontece em quase todos os seu filmes, Rodriguez aqui não foi “multi tarefa”, seu maior orçamento até hoje tinha sido 65 milhões em Sin City 2; agora ele estava em um projeto de 200 milhões).

Infelizmente, nem tudo no filme é perfeito. Achei o par romântico desnecessário, e o ator Keean Johnson, que o interpreta, é bem fraquinho. Por sorte, o resto do elenco é muito bom: Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali, Ed Skrein, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey e Eiza González. Li no imdb que tem Casper Van Dien e Michelle Rodriguez, mas não os vi. E o papel (não creditado) de Edward Norton nos dá a quase certeza de que teremos uma continuação.

Poizé, isso é ruim. Alita não tem fim, acaba com um gancho. Ainda acho que podiam ter fechado a história, mas é um mal comum nos dias de hoje…

Robocop 2014

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Crítica – Robocop 2014

O Robocop do José Padilha!

Detroit, 2028. Alex Murphy, pai, marido e bom policial, é ferido gravemente num acidente. O conglomerado multinacional OmniCorp, que fabrica policiais robôs, vê a chance de criar um policial meio homem meio máquina.

Admito que tinha sentimentos dúbios antes de ver o novo Robocop. Por um lado, torço muito pela carreira internacional do José Padilha. O cara é bom, merece fazer sucesso e ter reconhecimento mundial. Por outro lado, o Robocop de 1987 é muito bom até hoje e não pedia uma refilmagem.

Bem, a comparação com o original é inevitável. Mas não vou me aprofundar na comparação, outro artigo do abacaxi vai focar nisso. Posso dizer que o filme de 2014 é muito bom, mas infelizmente perde na comparação com o original de 87. Se este é mais sério e mais político, aquele era mais cínico e mais sarcástico, e, principalmente, muito mais violento.

Não sei quem são os donos dos direitos do Robocop, não sei quem escolhe o diretor. Mas achei curioso pegarem dois diretores estrangeiros para as duas versões do filme. Em 1987, era Paul Verhoeven, que tinha uma boa carreira na sua Holanda natal, mas só uma co-produção americana, Conquista Sangrenta. Agora é a vez do “nosso” José Padilha, que conquistou reconhecimento internacional com os dois Tropa de Elite.

Em entrevista concedida aqui no Rio, Padilha falou que já tinha feito documentários produzidos nos EUA, e que por isso esta sua “estreia” não foi traumática como acontece com outros brasileiros em Hollywood. Padilha estava com tanta moral que convenceu o estúdio a levar o fotógrafo Lula Carvalho, o montador Daniel Rezende e o músico Pedro Bromfman, seus colaboradores habituais (os três estavam nos dois Tropa). Padilha declarou, brincando: “galera, é um filme brasileiro!”

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Joel KInnaman, José Padilha e Michael Keaton logo antes da coletiva, no Rio de Janeiro

Não sabemos o quanto o estúdio palpitou na parte criativa de Padilha – segundo o imdb, a cada dez ideias de Padilha, o estúdio recusava nove. Mas pelo menos o resultado final parece “um filme do mesmo diretor de Tropa de Elite“. O novo Robocop tem muito de Tropa de Elite – determinada cena quase que dá pra ver o Robocop gritando para um bandido “TU É MOLEQUE! PEDE PRA SAIR!”. E a cena onde o Robocop descobre quem são os policiais corruptos é a cara do Capitão Nascimento. Afinal, são dois policiais incorruptíveis vestindo preto…

(Me lembrei da cena final de Tropa 2, que mostra Brasília. Um Robocop solto no Congresso ia deixar o lugar vazio…)

O roteiro escrito por Joshua Zetumer foi inteligente em adaptar a história sem copiar cena a cena. Algumas soluções diferentes do outro filme ficaram bem legais. Mas em outros momentos o roteiro ficou mais fraco. Por exemplo, a trajetória do vilão Clarence J. Boddicker do original foi muito mais bem resolvida do que a do seu correspondente Antoine Vallon, da refilmagem.

Os efeitos especiais estão na dose certa. O próprio Robocop teve a cintura reduzida por CGI para parecer mais robô do que gente. E os robôs ED 209 e EM 208 (que parecem cylons!) também são bem “reais”.

A trilha sonora tem alguns momentos geniais. Pra começar, o tema do filme original, de Basil Poledouris, está presente em alguns momentos, como uma homenagem. Durante o primeiro teste do Robocop, colocam, só de provocação, If I Only Had A Heart, tema do Homem de Lata de O Mágico de Oz. E a improvável Hocus Pocus, do grupo progressivo holandês Focus, aparece em outro momento, sublinhando perfeitamente uma sequência de tiroteios.

No elenco, o papel principal ficou com o pouco conhecido Joel Kinnaman (da série The Killing), talvez por ser um nome mais barato para possíveis continuações. Já para os papeis secundários, temos vários nomes conhecidos, como Michael Keaton, Gary Oldman, Samuel L. Jackson e Jackie Earle Haley. Ainda no elenco, Abbie Cornish, Jennifer Ehle, Jay Baruchel e Marianne Jean-Baptiste. Pena, não vi nenhum ator brasileiro…

Enfim, esqueçam o original e pensem neste filme como um Tropa de Elite 3 – Capitão Nascimento versão robô!

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Heu e o Michael Keaton!

Lincoln

Crítica – Lincoln

Quando soube da existência deste filme, nem me empolguei pra assistí-lo, parecia que seria apenas mais uma patriotada norte-americana. Mas o diretor é Steven Spielberg, então a gente tem que ver, né?

Abraham Lincoln, o presidente dos EUA, recém eleito para o segundo mandato, tem que administrar a Guerra da Secessão enquanto briga nos bastidores para aprovar a emenda constitucional que libertaria os escravos.

O forte do diretor Spielberg são os filmes pop. Não é qualquer um que tem no currículo títulos como Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T., Tubarão, Parque dos Dinossauros, Tintim e os quatro Indiana Jones. Mas não é novidade que ele de vez em quando faz um filme “sério”. Já foram vários, como A Cor Púrpura, Amistad, A Lista de Schindler e Cavalo de Guerra. Seus filmes sérios são bons. Mas, na minha humilde opinião, são bem inferiores àqueles onde ele se preocupa primeiro com a diversão.

Lincoln confirma que Spielberg é melhor quando pensa na diversão. Tecnicamente, o filme é perfeito. Mas é looongo. E chaaato…

Acho que só os fanáticos pela história dos EUA vão curtir o filme. A longa duração atrapalha – são intermináveis duas horas e meia de muito falatório e pouca ação. Tem uma cena que ilustra a falta de paciência: Lincoln começa a contar mais uma história, e um personagem se retira do ambiente, falando “eu não acredito que possa suportar ouvir outra de suas histórias nesse momento!”. Olha, sou fã do Spielberg, reconheço as qualidades do filme, mas concordo com este personagem…

Tem outro problema, este previsível. Spielberg quase sempre coloca problemas de relacionamento entre pais e filhos em seus filmes. A trama paralela com o filho de Lincoln que quer ir para a guerra é completamente dispensável. E o pior: um bom ator (Joseph Gordon-Levitt) é sub aproveitado.

O melhor de Lincoln é sem dúvida o seu protagonista. Lembro de Daniel Day-Lewis em filmes como O Último dos Moicanos, Gangues de Nova York e Em Nome do Pai. E posso afirmar: não consegui ver o ator na tela do cinema, só via o personagem. Acho que desde o Jim Morrison de Val Kilmer em The Doors não vejo um ator incorporar tão bem seu papel que apenas conseguimos ver o personagem na tela.

O resto do elenco também está bem. Claro, ninguém tão impressionante quanto Daniel Day-Lewis, mas temos muitos bons atores, todos bem – desde Tommy Lee Jones, também indicado ao Oscar; até Sally Field, um pouco mais velha do que o papel pedia, mas mesmo assim confortável como a sra. Lincoln. Ainda no elenco, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, Jackie Earle Haley, Tim Blake Nelson, James Spader, Hal Holbrook, Jared Harris e Michael Stuhlbarg.

Sobre o Oscar, que será entregue no domingo, arrisco meus palpites. Daniel Day-Lewis é barbada, seu Lincoln provavelmente será o seu terceiro Oscar de melhor ator. O mesmo digo sobre Spielberg, que também deve levar sua terceira estatueta – ele tem a seu favor a não indicação de Quentin Tarantino, Kathryn Bigelow e Ben Affleck, a concorrência ficou mais fácil. Sobre melhor filme, arrisco entre este e Argo, sobre melhor ator coadjuvante, fico entre o Tommy Lee Jones daqui e o Christoph Walz de Django Livre. Não acho que Sally Field leva (estou entre Jessica Chastain e Jennifer Lawrence); já o roteiro de Tony Kushner tem boas chances. Lincoln ainda concorre a trilha sonora, fotografia, figurino, edição, direção de arte e mixagem de som.

Sombras da Noite

Crítica – Sombras da Noite

Uêba! Filme novo do Tim Burton!

No sec XVIII, o rico comerciante Barnabas Collins quebra o coração de uma bruxa. Como vingança, ela o transforma em vampiro e o deixa preso num caixão por duzentos anos. Em 1972, Barnabas consegue sair, e encontra sua mansão e sua família em ruínas.

Sombras da Noite (Dark Shadows, no original) é a adaptação de um antigo programa de tv homônimo, que foi ao ar entre 1966 e 1971. Não conheço o programa de tv, então não posso dizer se foi uma boa adaptação. Mas o filme, apesar de alguns escorregões aqui e ali, é divertido.

Vamos primeiro ao que funciona. Tim Burton é um dos poucos cineastas com personalidade na Hollywood contemporânea – seus filmes têm “cara de Tim Burton”. E Sombras da Noite tem essa “cara”, um filme ao mesmo tempo sombrio e engraçado, com o visual cheio de cores e detalhes que remetem a outros filmes do diretor, como Os Fantasmas se Divertem, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e A Noiva Cadáver. A direção de arte e a fotografia são pontos muito positivos aqui, pelo menos para os apreciadores do estilo de Burton. E a ambientação nos anos 70 está excelente.

O elenco é outro destaque. Pela oitava vez, Johnny Depp trabalha em um filme de Tim Burton – mais uma vez, ao lado de Helena Bonham-Carter (a dupla esteve junta nos quatro filmes anteriores de Burton, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Noiva Cadáver, Sweeney Todd e Alice no País das Maravilhas). Ambos estão muito bem, assim como Michelle Pfeiffer e Jackie Earle Haley. Mas o melhor do filme são as atuações da jovem Chloë Grace Moretz, cada vez mais madura e melhor atriz; e de Eva Green, fantástica como a bruxa. Ainda no elenco, Jonny Lee Miller, Bella Heathcote e Gulliver McGrath, além de participações especiais de Christopher Lee e Alice Cooper (interpretando ele mesmo).

Mas… A história não tem muita consistência, parece que o roteiro só funciona nas boas piadas sobre a dificuldade de adaptação de um vampiro do sec XVIII aos anos 70 (algumas das melhores cenas são explorando isso). No resto, a trama não convence muito. Um exemplo: fica claro porque Barnabas quer Victoria, mas por que ela se apaixonaria por ele?

Mesmo assim, gostei de Sombras da Noite. Leve e divertido, com um pé na bizarrice – como todo bom filme do Tim Burton deve ser!

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A Hora do Espanto
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Ilha do Medo

Ilha do Medo

Uêba! Filme novo do Scorsese nos cinemas cariocas!

1954. Dois agentes federais são mandados à Ilha Shutter, onde funciona um hospital psiquiátrico, para investigar o desaparecimento de uma paciente. Uma grande tempestade os impede de sair da ilha, e eles acabam descobrindo que existe algo de estranho com a ilha.

Ilha do Medo chama a atenção por ser um “filme de gente grande”. Enquanto Hollywood está cada vez mais infestada de novas pequenas produções, sempre econômicas, é legal ver um filmão à moda antiga, com bons atores, trama bem elaborada, fotografia bem cuidada e trilha sonora impactante. De quebra, os efeitos especiais são discretos e perfeitos.

Este já é o quarto filme de Scorsese com Leonardo DiCaprio no elenco principal (os outros foram Gangues de Nova York, O Aviador e Os Infiltrados). Parece muito, mas na verdade, Scorsese já fez parcerias assim antes, como ao lado de Robert de Niro (acho que foram oito filmes até agora: Caminhos Perigosos, Taxi Driver, New York New York, Touro Indomável, O Rei da Comédia, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo e Cassino). DiCaprio ainda não é um De Niro, mas já se destaca como um dos melhores atores de sua geração.  Ao seu lado, Ilha do Medo conta com um elenco de primeira, com nomes como Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, Elias Koteas, entre outros. Todos estão ótimos! (Aliás, os dois últimos que citei, Haley e Koteas, estão assustadores!)

Adaptação do livro Paciente 67, de Dennis Lehane (o mesmo que escreveu o premiado Sobre Meninos e Lobos), o roteiro de Ilha do Medo nos leva a uma interessante viagem, onde não sabemos exatamente o que é mentira e o que é verdade. Acredito que parte do público pode não gostar, já que nem sempre o que está na nossa frente é a verdade… E uma prova de que estamos diante de um filme diferente do “mais do mesmo” é o cuidado com a fotografia em cada cena. Imagens belíssimas compõem o resultado, em pouco mais de duas horas de projeção.

Um detalhe curioso sobre a música do filme: a trilha sonora não é original, composta para o filme, são temas clássicos. O tema principal é a assustadora Sinfonia número 3 de Penderecki. Independente do filme, dá medo de ouvir.

Não sei se Ilha do Medo entrará para a história como um dos grandes filmes de Scorsese, afinal, o cara já fez muita coisa boa. Mas podemos afirmar que estamos diante de um dos melhores filmes deste 2010 que começou há pouco!

Watchmen

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Watchmen

Tenho muitos amigos nerds. E a maioria está alvoraçada com a estréia de Watchmen, o novo filme de Zack Snyder, diretor da refilmagem de Madrugada dos Mortos e de 300.

Ah, sim, pros nerds, de um modo geral, antes de ser um filme do Snyder, é a adaptação da “melhor graphic novel da história”. Mas isso heu coloco entre aspas, porque não li os quadrinhos, então não posso opinar. Fui ao cinema apenas pra ver um filme. E não é que vi um bom filme?

A história se passa em 1985. Numa realidade alternativa, Nixon é o presidente pela terceira vez, e uma guerra nuclear com a União Soviética é iminente. Foi criada uma lei que proíbe super-heróis mascarados, jogando os “mocinhos” para a marginalidade. E, aos poucos, através de flashbacks, vamos conhecendo melhor a história desses mascarados.

A grande preocupação dos fãs é que essa era uma história considerada “infilmável”. Desde 1987 tem gente em Hollywood tentando trabalhar em uma adaptação!

Terry Gilliam, o ex-Monty Python que virou um diretor legal (Brazil, o Filme, 12 Macacos, tentou, ainda em 87, fazer uma adaptação. Aliás, já tinha elenco:  Robin Williams como Rorschach, Jamie Lee Curtis como Espectral, Gary Busey como Comediante e, pro papel de Coruja, estavam no páreo Richard Gere e Kevin Costner. Mas acabou desistindo, porque achou que não funcionaria como um único filme de longa metragem, e sim como minissérie de 5 horas…

E aí fica a grande dúvida: Zack Snyder conseguiu?

Bem, como não li os quadrinhos, não posso comparar como adaptação. Mas como filme posso dizer que ficou bem legal! Um filme baseado em super-heróis mais adulto, bem diferente do que se tem visto por aí, como os dois “hits baseados em quadrinhos” do ano passado, Batman e Homem de Ferro.

Quase tudo no filme funciona muito bem. O visual é impressionante, aliás, como era de se esperar. A trilha sonora, com trechos de hits oitentistas, é muito boa. O elenco é todo de semi-desconhecidos, como Jeffrey Dean Morgan, que faz um comediante sarcástico na dose certa, ou Jackie Earle Haley, que transpira ódio com seu Roschach. E a Espectral de Malin Akerman ainda vai fazer muito adolescente perder o sono, mais ou menos como um certo biquini dourado nos anos 80… Completam o time de mascarados Patrick Wilson como Coruja (não sei se de propósito, mas heu achei meio parecido com o Batman, tanto na roupa quanto no estilo “menino rico cheio de brinquedos caros”), Billy Crudup como dr Manhattan e Mathew Goode como Ozymandias.

E por que o “quase” do parágrafo acima? É que a história fica um pouco confusa às vezes, e o ritmo é um pouco lento. E, em 2 horas e 40 minutos, só explicaram o porque do superpoder do dr. Manhattan. Em tempos de X-Men e Heroes, heu esperava pelo menos saber um pouco mais sobre o motivo dos outros serem heróis…

Mesmo assim, vale o ingresso do cinema. Sim, cinema, este filme é pra ser visto em tela grande. Sabe aquelas brigas em câmera lenta de 300? Pois é, agora imagine dois mascarados enfrentando dezenas de presidiários numa rebelião…