Licorice Pizza

Crítica – Licorice Pizza

Sinopse (imdb): Licorice Pizza é a história de Alana Kane e Gary Valentine crescendo, correndo e se apaixonando em San Fernando Valley, na Califórnia, em 1973.

Finalmente chegou ao circuito o badalado novo filme de Paul Thomas Anderson. O filme teve lançamento limitado no fim do ano passado, e já aparecia em algumas listas de melhores de 2021. Claro que gerou curiosidade.

Licorice Pizza (idem, no original) é bom, mas… Teve uma coisa que me tirou do filme. O protagonista Gary tem 15 anos de idade, mas se porta como um adulto experiente. Ok, a gente já sabe logo desde o início do filme que ele é um ator, então por isso seria mais esperto que a maioria dos garotos da sua idade. Mas achei exagero: o garoto primeiro é um grande empresário no ramo de colchões de água, e depois abre uma grande e badalada loja de fliperama – e ainda trabalha como câmera nas horas vagas. Mais: ele nunca tem adultos por perto, só garotos da idade dele ou ainda mais novos. Ele é tão descolado que frequenta o mesmo restaurante que poderosos produtores de Hollywood. Além disso, é um um homem maduro em relacionamentos. E ainda tem costeletas!

Lembrei de Quase Famosos, cujo protagonista William Miller é um adolescente que se mete em assuntos de adultos – ele se passa por um repórter da Rolling Stone e acaba acompanhando uma banda na estrada. Mas o garoto William é introvertido e inseguro, e tem problemas com a mãe e com a escola. Muito mais fácil de “comprar”.

Provavelmente num futuro próximo vou rever Licorice Pizza e vou curtir mais. Porque é um filmão. Paul Thomas Anderson filma em película, e parece realmente que estamos vendo um filme feito nos anos 70. A reconstituição de época é perfeita, e a boa trilha sonora ajuda. Ainda temos uma boa edição e a câmera sempre bem posicionada – rolam alguns plano sequências, curtos, nada de extraordinário, mas sempre bem bolados. Tecnicamente falando, o filme é impecável.

Já o roteiro… Bem, tem que entender que Paul Thomas Anderson nem sempre usa a “formula Syd Field”. Aqui em Licorice Pizza o roteiro é meio solto, as coisas simplesmente vão acontecendo, não existe uma linha que liga tudo. Tem gente que curte filme assim, mas tem gente que não curte.

O casal protagonista é estreante. Cooper Hoffman é filho do Philip Seymour Hoffman – que fez cinco filmes com Paul Thomas Anderson. O garoto tem futuro, mas aqui não me convenceu – ele não tem cara de 15 anos! Já Alana Haim está ótima, aguardo ansiosamente pelo seu próximo filme. A química entre os dois é boa, rola uma paixão platônica e ela freia essa paixão por causa da diferença de idade.

(Eduardo e Mônica também tem protagonistas com a mesma diferença de idade, e o casal funciona melhor – e o Eduardo ainda está preocupado com o vestibular!)

Uma curiosidade: Alana Haim é de uma família de músicos, e suas irmãs e seus pais no filme também o são na vida real.

Ainda no elenco, três participações especiais que vão dividir opiniões. Bradley Cooper interpreta o cabeleireiro e maquiador John Peters, que era namorado da Barbara Streisand na época. Não conhecia Peters, não sei se ele era assim, mas Cooper está exagerado demais, me pareceu um degrau acima do que deveria estar. E Sean Penn e Tom Waits estão em uma cena que pode até ser divertida, mas é meio desnecessária para o resto do filme.

Por fim, o nome. “Licorice Pizza” é uma gíria pra disco de vinil – não só as iniciais “LP”, como também um vinil preto poderia ser uma “pizza de alcaçuz”. Inclusive existia uma rede de lojas de discos chamada Licorice Pizza. Mas… No filme não tem nem pizza, nem alcaçuz, nem discos de vinil. Por que o nome? Sei lá…

O Franco-Atirador

Franco-AtiradorCrítica – O Franco-Atirador

Será que Sean Penn resolveu seguir a carreira do Liam Neeson?

Um sniper de um time de mercenários mata um ministro no Congo, e depois tem que desaparecer da vida que levava. Anos depois, de volta ao Congo em um trabalho humanitário, ele vira o alvo de outro time de mercenários.

A comparação com Liam Neeson é inevitável. Não só são dois atores que começaram tarde a carreira de action heroes (Penn está com 54; Neeson tinha 56 quando fez Busca Implacável, o filme que foi o marco inicial desta fase da sua carreira), como ambos os filmes são do mesmo diretor Pierre Morel. Bem, neste aspecto, Neeson teve mais sorte que Penn. Busca Implacável é bem melhor que este O Franco Atirador (The Gunman, no original).

O Franco-Atirador não é exatamente ruim. É um filme “correto”, tudo o que esperamos está lá, no seu lugar, tudo certinho e previsível, até demais – desde o início já dá pra sentir que vai se revelar o vilão do filme. Parece um filme genérico de ação.

Se tem alguma coisa que se destaca é o elenco. Sean Penn é um grande ator (já ganhou dois Oscars, por Entre Meninos e Lobos (2004) e Milk (08)) e brilha sempre que está na tela. Aliás, Penn mostra excelente forma física – se do pescoço para cima ninguém duvida de seus 54 anos, do pescoço para baixo ele está com o corpo melhor que muita gente vinte anos mais nova. Javier Bardem e Idris Elba também estão bem, mas têm menos tempo de tela. Ainda no elenco, Jasmine Trinca, Ray Winstone e Mark Rylance.

Mas, no fim, O Franco-Atirador não vale. Só pra quem é fã do Sean Penn.

p.s.: Não confunda este filme com o homônimo O Franco Atirador, Oscar de melhor filme em 1979, dirigido pelo Michael Cimino e estrelado pelo Robert De Niro e pelo Christopher Walken!

Picardias Estudantis (1982)

0-Picardias EstudantisCrítica – Picardias Estudantis

Posso falar de um filme que todo mundo viu?

Picardias Estudantis acompanha um grupo de jovens que frequentam a escola Ridgemont High, seus relacionamentos e suas primeiras experiências com a vida adulta.

Os mais novos devem achar Picardias Estudantis (Fast Times at Ridgemont High, no original) um filme bobo de sessão da tarde. Mas, para quem viveu os anos 80, o filme mostra um irresistível painel do que foi a década.

A trama é simples, mas flui bem, com diálogos bem costurados entre os diferentes personagens, todos bem construídos. Ok, temos que admitir que rolam clichês, mas isso faz parte do processo de se fazer um filme neste estilo. A trilha sonora também é muito boa.

Picardias Estudantis tem pedigree: o roteiro é de Cameron Crowe (baseado no livro escrito por ele mesmo), que anos depois dirigiria Quase Famosos, Vanilla Sky e Jerry Maguire; a direção é de Amy Heckerling, que depois faria os primeiros Olhe Quem Está Falando e As Patricinhas de Beverly Hills.

O elenco traz várias curiosidades. Alguns protagonistas viraram grandes estrelas, outros sumiram. E alguns coadjuvantes também entraram para o primeiro escalão de Hollywood.

O primeiro nome nos créditos é Sean Penn, hoje um grande astro, na época um jovem magrelo – e que já mostrava talento. Seus dois companheiros na tela são Eric Stoltz (Pulp Fiction, Parceiros do Crime), e aquele que quase não fala é Anthony Edwards, que depois fez A Vingança dos Nerds e foi o coadjuvante de Tom Cruise em Top Gun. Judge Reinhold anda meio sumido, mas ainda fez sucesso nos anos 80 com os dois Um Tira da Pesada. Por outro lado, o jogador de futebol americano, personagem secundário, é ninguém menos que Forest Whitaker, ganhador do Oscar de melhor ator em 2007 por O Último Rei da Escócia. E, prestem atenção: um cara de boné que está algumas vezes ao lado de Reinhold, mas não tem nenhum diálogo, é um tal de Nicolas Cage, aqui ainda era creditado como Nicolas Coppola. Robert Romanus e Brian Backer tinham papeis importantes aqui, mas sumiram depois do fim dos anos 80. Ainda no elenco, Vincent Schiavelli e Ray Walston como professores.

Entre as meninas, os papeis principais são de Jennifer Jason Leigh e Phoebe Cates. A primeira se tornou uma atriz conhecida e tem grandes performances até hoje; a segunda se aposentou…

Ah, uma última curiosidade no elenco: sabe a loura que ri de Reihhold quando ele está dirigindo fantasiado de pirata? É Nancy Wilson, vocalista do grupo Heart. Anos depois, Nancy se casaria com Cameron Crowe, o roteirista. Mas não sei se este filme teve algo a ver com isso…

Sou de uma geração que se identifica com a década de 80, então gosto muito do filme. Mas reconheço que talvez a juventude atual ache o filme datado demais. Verdade, talvez seja até o caso de filme que pede uma refilmagem atualizada. Enfim, para alguns, Picardias Estudantis pode ser apenas um “filme bobo de sessão da tarde”. Mas, para este que vos escreve, é um “filme de cabeceira”!

p.s.: Em determinada cena, logo no início, um cambista oferece um ingresso para ver um show do Van Halen, em um local próximo ao palco. O preço cobrado pelo cambista é 20 dólares, porque o ingresso original custava 12,50 dólares. Ah, heu queria estar nos EUA e ter idade para ver shows em 1982!

p.s.2: Olha o oportunismo desta capa de dvd, aqui embaixo. “Também estrelando Nicholas Cage e Anthony Edwards” – acho que a maior parte do público termina o filme sem reparar nos dois…

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A Vida Secreta de Walter Mitty

walter mittyCrítica – A Vida Secreta de Walter Mitty

Filme novo dirigido pelo Ben Stiller. Seu último foi o bom Trovão Tropical, será que ele manteve o nível?

Walter Mitty é um sonhador, que vive perdido em aventuras dentro da sua cabeça, sempre cheias de ação, heroísmo e romantismo. Quando seu emprego está ameaçado, ele acaba embarcando em uma viagem real por paisagens exóticas que se revelará mais extraordinária do que os seus sonhos.

Dirigido e estrelado por Ben Stiller, A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, no original) começa muito bem. Mas infelizmente não segura a onda.

A melhor coisa de Walter Mitty são as viagens internas do protagonista, que só acontecem no início do filme. Quando ele parte para a viagem real, o filme muda de tom – em vez da divertida farsa, o filme fica com cara de livro de auto-ajuda.

A segunda parte não é ruim, visitamos belas locações na Islândia (Walter Mitty também vai para a Groenlândia e o Afeganistão, mas tudo foi filmado na Islândia), e temos um bom uso da trilha sonora (gostei do “momento Space Oddity”, usando a música do David Bowie, parcialmente cantada pela Kristen Wiig). Mas é bem menos interessante do que a primeira parte.

A parte final força um pouco a barra, dificilmente o carinha da barba ia usar aquela foto na primeira página. Mas isso é a minha opinião.

O elenco está bem. Ben Stiller não é um grande ator, mas funciona perfeitamente para o que o papel pede. Kristen Wiig mais uma vez mostra que deveria ganhar papeis de destaque nas comédias contemporâneas (assim como tínhamos visto em Paul). Sean Penn pouco aparece, e está ótimo como o excêntrico fotógrafo Sean O’Connel. Ainda no elenco, Shirley MacLaine e Adam Scott

Stiller não pode não ter feito um filme tão bom quanto Trovão Tropical, mas este A Vida Secreta de Walter Mittyh vai agradar boa parte do público.

 

Caça Aos Gângsteres

Crítica – Caça Aos Gângsteres

Los Angeles, 1940. Mickey Cohen, um dos líderes da máfia do Brooklyn, decide expandir suas atividades pelo oeste dos Estados Unidos. Um grupo especial da polícia é encarregado de capturá-lo.

Bom elenco, excelente ambientação de época… Mesmo assim, Caça Aos Gângsteres (Gangster Squad, no original) ficou devendo.

O diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia) fez um bom trabalho no visual do filme – além de uma câmera lenta bem utilizada, várias sequências são esteticamente muito bonitas. Some-se a isso uma reconstituição de época bem cuidada e temos um filme onde o visual chama a atenção.

Mas, por outro lado, o roteiro é muito fraco. Não só toda a trama é previsível, como todos os personagens são unidimensionais – isso porque não estou falando do maniqueísmo onde os maus são muito maus e os bons são perfeitos.

Pior que o elenco é bom. Acho uma pena ver Sean Penn desperdiçado como um vilão esquecível (Mickey Cohen existiu de verdade, mas os fatos aqui são ficção); enquanto parece que Emma Stone só aparece pra mostrar uma menina bonitinha. Ryan Gosling é badalado atualmente, mas não consigo entender por que, ele fica o filme inteiro com a mesma cara de paisagem que faz em todos os seus filmes (Gosling me parece uma versão masculina da Kirsten Stewart, um rostinho bonito que não consegue fazer uma expressão). Ainda no elenco, Josh Brolin, Nick Nolte, Giovanni Ribisi, Robert Patrick, Anthony Mackie e Michael Peña – todos mal aproveitados.

Por fim, o nome nacional mais uma vez enfraquece a ideia do filme. “Esquadrão de Gângsteres” é porque eles agem paralelamente à lei. “Caça aos Gângsteres” não chega a ser errado, mas passa uma ideia diferente da original.

Enfim, plasticamente, Caça Aos Gângsteres é bonito. Mas trata-se de um filme vazio. É preferível rever Os Intocáveis.

Dogma do Amor

Crítica – Dogma do Amor

Outro dia, uma amiga mandou um e-mail me perguntando sobre um filme com a seguinte descrição: “O plot é mais ou menos assim: tem duas patinadoras no gelo, gêmeas. As pessoas começam a morrer do nada. Desfalecem na rua, mas aquilo vira normal e as outras passam por cima, como se nada tivesse acontecido. Lá pelas tantas o planeta começa a congelar. E o protagonista tá num avião que não pousa e vai ficar voando até… Que filme é esse?“. Caramba, não conhecia, mas precisava ver um filme assim!

Na verdade, Dogma do Amor (It’s All About Love, no original), lançado em 2003, fala sobre um casal e suas tentativas para salvar seu relacionamento num futuro próximo onde o planeta está à beira de um colapso cósmico. E as dicas dadas pela minha amiga estavam parcialmente incorretas. Não são patinadoras gêmeas, mas aparecem quatro patinadoras iguais; e não é o protagonista quem está no avião que não pode pousar. Mesmo assim, ainda parecia ser um filme interessante.

Gosto de filmes com sinopses bizarras – fiz até um Top 10 sobre isso. Não acho que tudo tem que ser explicado, fico satisfeito mesmo quando coisas são deixadas no ar sem explicação. Mas o filme precisa ser bom. E isso não acontece com Dogma do Amor.

Aparentemente, as situações bizarras só estão na trama pra chamar a atenção. São subtramas que não tem nenhuma importância na história, e que são muito pouco exploradas – tem um lance de pessoas sem gravidade em Uganda, que só aparece na última cena, solto, sem nenhuma relação com o resto do filme.

O diretor é Thomas Vinterberg, que ficou famoso com Festa de Família, o menos ruim dentre os filmes do Dogma 95, movimento picareta inventado por ele mesmo ao lado de Lars Von Trier pra chamar a atenção, e que não trouxe nada de qualidade para o cinema. Mas, se o Dogma 95 pregava uma produção cinematográfica espartana (câmera na mão, sem trilha sonora nem iluminação artificial, atores não profissionais, etc.), aqui Vinterberg deixou tudo isso de lado e resolveu abusar dos efeitos especiais – tem até efeito onde não precisa, como a cena desnecessária dos africanos sem gravidade.

(Aliás, o nome brasileiro do filme tenta pegar carona no movimento. “É Tudo Sobre o Amor” virou “Dogma do Amor“…)

O problema é que se você tirar as bizarrices do roteiro, o filme fica vazio e sem graça. Os personagens não são interessantes, a trama não é envolvente, o roteiro tem um monte de furos (por que eles foram parar na neve, no meio do nada, perto do fim do filme?), e tudo fica enfadonho e arrastado.

No elenco, Joaquin Phoenix parece perdido. Claire Danes está um pouco melhor, seu personagem é o único interessante no filme (e tem o lance das cópias). E Sean Penn deve ter ganhado o cachê mais fácil de sua vida: aparece por alguns segundos, falando sozinho ao celular, dentro de um avião. Mais ninguém interessante no elenco.

Enfim, boa sinopse, desperdiçada num filme mal desenvolvido.

A Árvore da Vida

Crítica – A Árvore da Vida

Mais uma polêmica em cartaz nos cinemas cariocas!

O novo filme do cultuado Terrence Malick conta a história de uma família com três irmãos nos anos 50. O filme foca no irmão mais velho, desde a infância até a perda da inocência.

Trata-se de uma polêmica bem diferente da última. Enquanto Srpski Film (A Serbian Film – Terror Sem Limites) foi censurado em vários países, A Árvore da Vida traz uma recomendação oposta: ganhou a Palma de Ouro no último Festival de Cannes. Se um chega cercado de coisas negativas, o outro vem super badalado.

Mas então por que a polêmica? Fácil. A Árvore da Vida é um filme cabeça, cheio de momentos “herméticos”. Mas o público “normal”, que vai ao cinema pra ver “um filme que tem o Brad Pitt e um bebê fofinho no cartaz”, não sabe que vai ver um filme de arte. E, muitas vezes, reclama em voz alta – na sessão que fui, no Unibanco Arteplex, teve discussão entre espectadores revoltados com o filme. E pelo que tenho lido por aí, discussões e brigas têm sido constantes nas salas de cinema!

O diretor Terrence Malick é um sujeiro esquisitão. Não gosta de aparecer em fotos (tinha isso no contrato dele em Além da Linha Vermelha), e faz filmes em um ritmo diferente da maioria. Este é apenas o seu quinto filme – e seu primeiro foi em 1973, 38 anos atrás! Bem, pelo menos admito que o cara tem talento ao capturar belas imagens.

Mas, na minha humilde opinião, Malick se perdeu. As cenas de planetas e dinossauros são completamente desnecessárias. São uns vinte minutos de imagens aleatórias, sem diálogos, só com música erudita ao fundo. Admito, imagens belíssimas. Mas dispensáveis.

(Posso estar enganado, mas a impressão que tive é que Malick queria evocar 2001, Uma Odisseia no Espaço. Imagens espaciais e música clássica. O problema é que Malick não é Kubrick…)

Outra coisa dispensável é a participação de Sean Penn. Sean Penn no escritório, Sean Penn no elevador, Sean Penn andando em uma grande cidade. Tire essas cenas, o filme não perde nada – na verdade, o filme ficaria menos cansativo. O mesmo digo sobre frases soltas, em off, espalhadas pelas cenas contemplativas.

Apesar disso tudo, A Árvore da Vida não é ruim. Acho que a única parte que achei realmente ruim foi o momento “Nosso Lar”, com todo o elenco junto na praia…

Vamos falar do que funciona. A parte do Brad Pitt e sua família é boa. Os personagens são bem construídos, os atores estão ótimos, e a reconstituição de época é perfeita.

Sobre o elenco, Brad Pitt está excelente – não sei se é cedo, mas não me espantarei se ele for um dos favoritos ao Oscar 2012. A mãe interpretada pela desconhecida Jessica Chastain traz o equilíbrio perfeito para o papel de Pitt. O garoto Hunter McCracken, estreante, também manda bem.

Além disso, o filme tem um visual realmente bonito. A gente vê o cuidado de Malik em cada cena, são vários os momentos belos e contemplativos ao longo das quase duas horas e vinte minutos de duração.

Mas, como disse antes, A Árvore da Vida não é para todos. Arrisco a dizer que a maioria não vai gostar. Heu não gostei, me cansei um pouco de filmes cabeça… Assista por sua conta e risco! Só não vale discutir no cinema, ok?

O Pagamento Final

O Pagamento Final

Outro dia, numa comunidade do orkut, me sugeriram um texto sobre este O Pagamento Final, clássico mais ou menos recente (de 1993) de Brian De Palma. Heu já tinha o dvd em casa, e estava esperando uma desculpa pra rever o filme…

Carlito Brigante, um ex-traficante portorriquenho que acabou de sair da prisão, briga para ficar longe das drogas e da violência, enquanto todos por perto parece que querem trazê-lo de volta ao submundo do crime.

O Pagamento Final (Carlito’s Way, no original) é uma aula de cinema. O diretor Brian De Palma estava inspirado, são várias as sequências antológicas, onde ele exibe uma exímia técnica com a câmera na mão. Fica até difícil escolher um trecho favorito – heu citaria como exemplo dessa habilidade técnica toda a sequência da estação de trem.

De Palma já tinha mostrado esse cuidado no visual das suas produções nos anos anteriores, em filmes como Vestida Para Matar (1980), Um Tiro na Noite (81), Dublê de Corpo (84) ou Os Intocáveis (87). Nos anos 90 ele fez menos filmes memoráveis, mas acho que ainda podemos citar Síndrome de Caim (92) e Missão Impossível (96) como bons exemplos.

Aqui ele abusa. A câmera passeia pelos atores em longos planos-sequência ao longo de todo o filme, e vários ângulos inusitados são usados. E isso porque nem estou falando da bem cuidada reconstituição de época, nem da excelente trilha sonora, repleta de clássicos da era da discoteca.

O elenco é liderado por um também inspirado Al Pacino, que convence como o ex-traficante arrependido. Sean Penn, com visual diferente, de cabelos enrolados, também está ótimo, e Penelope Ann Miller nunca esteve tão bonita. O elenco ainda traz Luiz Guzman e John Leguizamo. Tem mais: hoje Viggo Mortensen é uma estrela; nessa época, ele ainda era coadjuvante – ele é Lalin, o paraplégico.

De Palma anda meio sumido – seu último filme foi Redacted, de 2007, nunca lançado por aqui. O Pagamento Final não foi seu último filme memorável, ele ainda fez Femme Fatale em 2002, outro filme que é uma aula de cinema. Nós, fãs de cinema, esperamos que ele volte aos bons tempos, com vários filmaços por década!

Uma Lição de Amor

Uma Lição de Amor

Um leitor daqui do blog sugeriu um filme que heu não tinha visto, I Am Sam, de 2001. Aí o cara me mandou uma cópia do dvd! Bem, filme visto. Vamos ao texto?

Sam (Sean Penn) é um deficiente mental que cria sozinho a filha Lucy (Dakota Fanning) – a mãe os abandonou no dia do nascimento. Quando Lucy faz sete anos, começa a intelectualmente ultrapassar seu pai e chama a atenção do serviço social, que tira de Sam a guarda da menina. Agora Sam, com a ajuda da advogada Rita (Michelle Pfeiffer), tem que recuperar a guarda na justiça.

Uma Lição de Amor (I Am Sam no original) poderia ser apenas mais um filme sobre deficientes mentais – temos que reconhecer que Hollywood adora o tema, tanto que rolou uma indicação ao Oscar de melhor ator para Penn por este filme. Mas alguns detalhes fazem dele um filme acima da média.

A primeira coisa a ser destacada é justamente o elenco, temos algumas atuações inspiradíssimas aqui. Sean Penn parece um verdadeiro deficiente mental, se heu não o conhecesse de dezenas de outros filmes, diria que ele era realmente doente. E, tão impressionante quanto Penn, temos uma Dakota Fanning de apenas sete anos trabalhando melhor que a maioria dos atores adultos por aí (por coincidência, poucos dias atrás vi The Runaways, onde Fanning mostra que já é adulta). Michelle Pfeiffer não brilha como os outros dois, mas pelo menos não atrapalha com a advogada Rita Harrison.

Outra coisa legal no filme são as inúmeras referências aos Beatles. Todas as músicas da trilha são regravações de Beatles, várias cenas e diálogos são citações aos Beatles. Até alguns nomes de personagens são tirados das canções, como Lucy Diamond e Rita Harrison.

(Curiosidade: a ideia inicial era usar as músicas originais, mas não conseguiram os direitos. Assim, pediram para vários artistas gravarem covers, mas mantendo o metrônomo no mesmo tempo, para não alterar o que já tinha sido filmado.)

Mas nem tudo é perfeito. Algumas situações são clichê demais. Sam é um ótimo pai, enquanto Rita é uma péssima mãe. E o fim do filme é água com açúcar demais…

Mesmo assim, o filme tem um ritmo envolvente e nem parece que o filme tem mais de duas horas. Vale a pena!

Na Natureza Selvagem

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Na Natureza Selvagem

Seguindo mais uma sugestão, procurei este belo filme, Na Natureza Selvagem, que conta a história de um anti-herói usando cenários naturais deslumbrantes.

Quem nunca se imaginou chutando o balde e largando a própria vida para tentar uma nova, completamente diferente, em busca de respostas para questões internas?

Christopher McCandless fez isso. Aos vinte e poucos anos, recém formado na escola, abandonou a família, rasgou os documentos, doou todas as economias e saiu de mochila nas costas, sem rumo.

Dirigido pelo ator Sean Penn, Na Natureza Selvagem foi inspirado na história real de Christopher McCandless, que existiu de verdade e fez isso tudo isso de verdade.

Bem, acho que podemos analisar a saga de McCandless por dois ângulos opostos:

– Podemos admirar sua coragem, de largar tudo em busca de um sonho.

Ou…

– Na verdade ele foi egoísta e irresponsável. Um garoto jovem, inteligente, com família, casa, educação, e que joga tudo fora e sai por aí de maneira inconsequente.

(Claro que o filme opta pela primeira opção…)

O filme é um pouco longo (quase duas horas e meia) e o ritmo é lento. Mas em momento nenhum é chato. Pelo contrário, a história é envolvente. A história começa com a chegada de McCandless no Alasca, e a partir daí acompanhamos toda a sua trajetória através de flashbacks.

Como disse antes, os cenários são deslumbrantes. O filme foi inteiramente rodado em locações espalhadas pelos Estados Unidos. E o Alasca, onde a maior parte da trama se passa, foi visitado em quatro diferentes épocas do ano.

Ainda devemos citar a belíssima trilha-sonora composta por Eddie Vedder, que ganhou um Globo de Ouro por melhor canção e chegou a ser indicado ao Oscar de melhor trilha sonora.

O prestígio de Sean Penn conseguiu reunir um ótimo elenco. Emile Hirsch (que logo depois foi o protagonista de “Speed Racer”) chegou a emagrecer 18 quilos para o papel, além de dispensar dublês. Ainda temos no elenco William Hurt, Marcia Gay Harden, Jena Malone, Catherine Keener, Kristen Stewart e Vince Vaughn, entre outros.

Veja o filme e decida se McCandless foi correto e corajoso, ou se simplesmente desperdiçou sua vida…