Treze Vidas: O Resgate

Crítica – Treze Vidas: O Resgate

Sinopse (imdb): Uma missão de resgate é organizada na Tailândia, onde um grupo de crianças e seu treinador de futebol ficam presos em um sistema de cavernas subterrâneas que estão inundando.

Algumas histórias reais são tão boas que é só roteirizar e filmar. É o caso aqui em Treze Vidas: O Resgate (Thirteen Lives no original). Em 2018, um time de escolinha de futebol ficou preso em uma caverna na Tailândia. O caso foi explorado extensivamente pela mídia, foi um resgate complicado, demorou vários dias e envolveu pessoas de vários países.

A direção coube a Ron Howard, que já tinha feito um trabalho parecido com Apollo 13 – outra história real que era só filmar. Naquela época, Howard recebeu críticas de que estaria dramatizando demais as famílias, acho que aqui em Treze Vidas ele acertou o ponto.

(Lembrei de outro filme baseado em uma história real dirigido por Ron Howard, Rush No Limite da Emoção. Assim como não me lembrava de detalhes sobre o resgate dos meninos na Tailândia, heu não me lembrava que tinha ganhado o campeonato de F1 de 1976, e pra mim isso foi bom, porque a parte final do filme é eletrizante, e não sei se teria a mesma graça se heu já soubesse o fim da história.)

Preciso admitir que não vi o documentário The Rescue, lançado ano passado, que conta exatamente essa história. Tudo o que sabia era o que me lembrava das notícias da época. Não me lembro de nada diferente do que é mostrado na tela. Li uma crítica dizendo que o filme ignorou certos conflitos políticos que aconteceram, mas achei uma opção acertada – são quase duas horas e meia, não precisava de mais para contar essa emocionante história.

Aliás, os mergulhadores principais, Rick Stanton e John Volanthen, atuaram como colaboradores na produção. Stanton declarou que as filmagens foram precisas, o que estava “errado” é que tinha muito mais lama na água e que eles não enxergavam praticamente nada. Mas Stanton reconheceu que se fosse pra filmar na água barrenta, ninguém ia ver nada.

E falando nisso, imagino como deve ter sido difícil de filmar isso! Construíram um set num prédio do tamanho de um hangar, com tanques do tamanho de piscinas olímpicas, com túneis construídos dentro. O elenco praticava várias horas por dia em cada sessão, para depois filmar, e começar a praticar na sessão seguinte. Cada sessão era mais difícil que a anterior, para que o elenco pegasse cada vez mais experiência. Ao final, todos os atores confessaram que sentiram momentos de pânico durante as filmagens!

Hora de falar do elenco, Não me lembro de Viggo Mortensen e Colin Farrell terem sotaques tão fortes, acredito que isso seja dos personagens e não dos atores. Gostei disso. Ambos estão muito bem como os mergulhadores principais. Também no elenco, Joel Edgerton, Tom Bateman e Paul Gleeson. E já que falei dos sotaques: uma coisa que achei bem legal foi mostrar tailandeses falando em tailandês. Se esse filme fosse feito décadas atrás, certamente todos os personagens falariam em inglês.

Não vou falar do fim do filme porque acredito que boa parte dos espectadores deve se lembrar de como a história terminou. Mas mesmo sabendo, Howard consegue entregar um resultado tenso e emocionante. Treze Vidas está em cartaz no Amazon Prime.

Crimes do Futuro

Crítica – Crimes do Futuro

Sinopse (imdb): Os humanos se adaptam a um ambiente sintético, com novas transformações e mutações. Com a ajuda de Caprice, Saul Tenser, artista performático, mostra publicamente a metamorfose de seus órgãos em atuações de vanguarda.

Sempre falo aqui que a gente tem que olhar o diretor do filme. Crimes do Futuro (Crimes of the Future, no original) é o novo filme de David Cronenberg. Bora falar um pouco sobre o diretor antes de entrar no filme.

Cronenberg sempre foi um cara ligado ao body horror. Lembro de uma matéria sobre ele numa revista Set ou Cinemin que o nome era “Cronenbleargh”. Ele ficou conhecido no fim dos anos 70 e início dos 80 com filmes como Shivers, Enraivecida na Fúria do Sexo, Scanners e Videodrome, e em 1986 lançou talvez seu filme mais famoso, A Mosca (pelo menos aqui no Brasil fez um grande sucesso). Além de imagens fortes e muito gore, Cronenberg também usava temas pesados, muitas vezes ligadas ao sexo, como em Crash Estranhos Prazeres, que trazia pessoas que se excitavam em acidentes de carro. Nos anos 2000, Cronenberg mudou um pouco o estilo e foi pro drama, com filmes como Marcas da Violência, Senhores do Crime, Um Método Perigoso e Mapas para as Estrelas. Heu prefiro os filmes anteriores, mas, ele agora estava tendo filmes elogiados pela crítica e concorrendo a Oscars (Marcas da Violência concorreu a melhor roteiro adaptado e ator coadjuvante; Senhores do Crime, a melhor ator), achei que era uma espécie de “amadurecimento”…

(Pelo imdb, vi que Cronenberg dirigiu um filme homônimo em 1970, Crimes of the Future, justamente o seu primeiro longa. Nunca tinha ouvido falar deste filme de 1970, li no imdb que apesar dos títulos iguais, a trama é diferente.)

Agora, oito anos depois de seu último longa, Cronenberg lança um novo filme, e de volta ao body horror. Crimes do Futuro tem bastante gore, traz uma certa semelhança com Crash pela perversão sexual, e algo de Exiztenz pela mistura de tecnologia com partes humanas.

O clima do filme é bem legal, a gente começa vendo um menino que come plástico e depois a gente descobre que é uma sociedade onde ninguém mais sente dor, e as cirurgias viram eventos artísticos. Com diz uma personagem, “cirurgias são o novo sexo”. E uma coisa legal é que Cronenberg não explica nada. O espectador que se vire pra entender.

Gostei bastante dessa premissa e de toda a ambientação, mas a história parece que não se desenvolve direito. Algumas subtramas não levam nada. E senti falta de um melhor desenvolvimento de alguns personagens, como a Timlin da Kristen Stewart, que parece que vai chegar em algum lugar mas some do nada. E até agora estou tentando entender qual era a função na trama do policial / detetive que aparece de vez em quando.

Pra piorar, o ritmo é bem lento. Ou seja, o filme tem menos de duas horas, falta coisa pra contar, e mesmo assim é cansativo.

Claro que tem gore. Vemos algumas cenas com corpos sendo cortados e órgãos à mostra. Mas, comparado com outros filmes do diretor, não foi tanta coisa assim.

Sobre as atuações, gostei do Viggo Mortensen e da Kristen Stewart e seus personagens esquisitões, mas eles estão tão esquisitos que acredito que muita gente não vai gostar. Léa Seydoux faz um papel mais dentro da normalidade.

Por fim, queria falar que não entendo este filme estar classificado como terror. Crimes do Futuro não é nada assustador, não tem um vilão / monstro / entidade, o único desconforto que o filme causa é pelo body horror. Será que foi a classificação certa? Fico mais entre ficção científica e drama.

Crimes do Futuro não vai agradar a todos. Arrisco dizer que vai agradar a poucos. Mas, como apreciador da obra do Cronenberg, posso dizer que gostei do resultado.

 

Green Book: O Guia

Crítica – Green Book: O Guia

Sinopse (imdb): Um leão-de-chácara da classe operária ítalo-americana se torna o motorista de um pianista clássico negro em uma turnê por cidades no sul dos Estados Unidos, ao longo da década de 1960.

Sabe quando uma história é tão fascinante que já vale um filme? Agora, coloque dois grandes atores para contar essa história. Passa a ser um filme imperdível.

Achei estranho ver o nome do diretor Peter Farrelly nos créditos do ganhador dos Globos de Ouro de melhor filme, roteiro e ator coadjuvante. Farrelly é conhecido por fazer, sempre em parceria com seu irmão Bobby, comédias no limite da baixaria, algumas muito boas, como Quem Vai Ficar com Mary ou Debi & Loide, outras nem tanto, como Para Maiores ou Passe Livre. Agora sem Bobby, Green Book: O Guia (Green Book, no original) é seu primeiro drama. E, olha, temos que reconhecer que ele manda muito bem na sua “nova proposta”.

Green Book: O Guia fala de racismo de uma maneira leve. A gente consegue entender os problemas que os personagens estão passando, e como a convivência entre os dois vai aos poucos mudando cada um deles. Ok, os rabugentos podem reclamar que há uma certa previsibilidade na trama, mas mesmo assim gostei do resultado final.

Claro que ter dois grandes atores ajuda – não à toa, os dois estão concorrendo ao Oscar. Provavelmente porque a história é contada pelo ponto de vista do Tony Lip, Viggo Mortensen concorre a melhor ator enquanto Mahershala Ali, a ator coadjuvante. Mas ambos têm importância igual na trama, e ambos estão sensacionais nos seus papéis – um italiano bronco e grosseiro e um negro super culto e educado. E, importante: diferente do resto da carreira do diretor, nenhum dos dois está caricato.

Depois que terminou o filme, corri para o Google e verifiquei: Don Shirley e Tony Lip são pessoas reais (inclusive, um dos roteiristas é Nick Vallelonga, filho do Tony Lip verdadeiro). Lip fez papeis pequenos em filmes e séries de gangster, como Os Bons Companheiros, Donnie Brasco e Família Soprano. E claro que vou catar discos do Don Shirley.

(Mahershala Ali aparece tocando piano, mas os dedos não são dele, o autor da trilha sonora Kris Bowers foi o dublê de mãos.)

Green Book: O Guia está concorrendo a cinco Oscars – filme, roteiro e edição, além dos dois atores principais. Como Mahershala Ali já tem o dele (por Moonlight), estou torcendo mais pelo Aragorn!

Capitão Fantástico

Capitão FantasticoCrítica – Capitão Fantástico

Nas florestas do Noroeste do Pacífico, um pai, dedicado a criar seus seis filhos com uma educação física e intelectual rigorosa, é forçado a deixar seu paraíso e entrar no “mundo real”, desafiando sua ideia do que significa ser pai.

O nome parece de filme de super herói, né? Mas Capitão Fantástico é exatamente o oposto disso.

Escrito e dirigido por Matt Ross (que tem uma vasta carreira como ator, apesar de nunca ter emplacado um grande papel), Capitão Fantástico (Captain Fantastic, no original) é um daqueles filmes que, quando termina, a gente fica pensando se estamos vivendo da maneira certa.

É difícil ver um filme como esse e não se imaginar vivendo como Ben, livre, no meio do mato. Uma vida saudável e independente, e criando filhos inteligentes e fortes. Mas preciso falar que não concordo com a filosofia proposta por ele. Acho que viver em sociedade é algo importante para as crianças, e não tenho nada contra tecnologia. Mesmo assim, admiro e respeito o que ele conquistou.

(Aconteceu algo parecido comigo quando vi Na Natureza Selvagem, outro filme onde o protagonista se rebela contra o sistema e vai pro meio do mato. Não consegui gostar do filme por discordar da sua filosofia).

No elenco, o grande nome é Viggo Mortensen,  inspirado, em uma das melhores atuações da sua carreira. Ele consegue passar credibilidade ao pai que se rebelou contra o sistema e cria sozinho seis filhos no meio do mato.

O resto do elenco traz seis desconhecidos como os filhos, e alguns atores mais ou menos conhecidos em papéis menores (Frank Langella, Kathryn Hahn, Steve Zahn, Missi Pyle, Erin Moriarty). Mas o filme é de Mortensen.

Filosofias à parte, o resultado final de Capitão Fantástico fica bem acima da média. O filme é leve, divertido e envolvente. Boa opção!

Maré Vermelha

Crítica – Maré Vermelha

Hora de rever Maré Vermelha!

No meio de uma crise internacional, um submarino nuclear recebe ordens para atacar uma base rebelde russa. Logo em seguida é recebida uma nova mensagem, porém incompleta devido a uma falha na transmissão. Enquanto o capitão acha que eles devem se manter fiéis à ordem original, o segundo na hierarquia crê que a solução é esperar pela mensagem completa.

Dirigido por Tony Scott, Maré Vermelha (Crimson Tide, no original) é um bom thriller de ação de 1995, que traz um dilema interessante: dependendo da decisão tomada, o submarino pode impedir a terceira guerra mundial – ou então começá-la.

Quase todo o filme se passa dentro de um submarino, criando um clima claustrofóbico e tenso por causa da proximidade da guerra e pelo excesso de testosterona. O elenco, quase todo masculino, é uma das melhores coisas de Maré Vermelha. Gene Hackman e Denzel Washington estão excelentes, assim como Viggo Mortensen (pré Senhor dos Aneis), James Gandolfini (pré Sopranos), Matt Craven e George Dzundza. Steve Zahn pouco aparece num papel pequeno.

O roteiro, escrito por Michael Schiffer, tem uma história curiosa. Poucos anos antes, Scott nos apresentou um de seus melhores filmes, Amor À Queima Roupa, baseado no roteiro de um cara então pouco conhecido, um tal de Quentin Tarantino, na época ainda um jovem promissor com apenas um filme no currículo como diretor (Cães de Aluguel) (Assassinos por Natureza, também com seu roteiro, só seria lançado um ano depois), Scott estava em baixa nos anos anteriores (no início da carreira, Scott fez o elogiado Fome de Viver e o estrondoso sucesso de bilheteria Top Gun, e nunca mais emplacara um sucesso, nem de crítica, nem de público.). Ou seja, Amor À Queima Roupa foi muito bom para a carreira de ambos, tanto do diretor quanto do roteirista.

Dessa amizade vieram algumas cenas de Maré Vermelha. Scott tinha em mãos um filme muito sisudo. Tarantino então escreveu algumas cenas para deixar o filme mais leve. É fácil ver as cenas em questão, são cenas que mudam um pouco o foco, como a discussão sobre o desenhista do Surfista Prateado, ou a cena do Kirk e Scotty. Não preciso dizer que são minhas partes favoritas do filme…

Um Método Perigoso

Crítica – Um Método Perigoso

O filme mostra o início da psicanálise. Um jovem Carl Jung começa um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein, envolvendo interpretações de sonhos e associações de palavras, sob orientação de seu mestre, Sigmund Freud – que usa uma metodologia diferente.

Admito que não gostei do filme, mas não posso dizer que me decepcionei. Um Método Perigoso (A Dangerous Method, no original) é compatível com a carreira recente do diretor David Cronenberg.

Cronenberg não era um diretor “de ponta”, mas era reconhecido como um grande realizador de filmes de terror, com clássicos como Scanners, Videodrome e A Mosca no currículo. O gore era tão presente nos seus filmes quez ele tinha o “carinhoso” apelido “Cronembleargh”… Mesmo quando não estava no terror, seus filmes filmes eram coerentes, como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Crash – Estranhos Prazeres e eXistenZ.

Aí parece que o cara resolveu “crescer”, e passou a fazer filmes “sérios”: Marcas da Violência (2005), Senhores do Crime (2007) e agora este Um Método Perigoso. Não posso dizer que ele está errado com esta nova fase na carreira, afinal, ele ganhou mais reconhecimento da crítica em geral e seus atores são indicados a prêmios importantes (Viggo Mortensen foi indicado ao Oscar por Senhores do Crime e ao Globo de Ouro por Um Método Perigoso; William Hurt concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante  por Marcas da Violência). Mas posso dizer que, pelo menos na minha humilde opinião, sua carreira ficou sem graça. Heu preferia os seus filmes anteriores…

Um Método Perigoso é a adaptação da peça The Talking Cure (de Christopher Hampton, também roteirista aqui), baseada no livro A Most Dangerous Method, de John Kerr. O filme não chega a ser ruim. O problema é que é um filme chato – se baseia quase que totalmente em diálogos monótonos, um papo cabeça sobre psicologia / psiquiatria. Tem gente que curte isso, me  lembro dos meus tempos de frequentador do bar “Sujinho”, na UFRJ, campus Praia Vermelha, ao lado do Instituto de Psicologia. Naquela época, talvez heu tivesse paciência pra toda essa discussão cabeça, e a mania de Freud de dizer que tudo tem a ver com sexo. Mas confesso que hoje em dia não tenho mais saco…

Se tem algo muito bom aqui são as interpretações dos atores. Michael Fassbender e Viggo Mortensen estão bem como Jung e Freud; Vincent Cassel idem, num papel pequeno, como Otto Gross. E Keira Knightley está excelente como a desequilibrada (e depois controlada) Sabina Spielrein.

Mas no geral, é chato. Sinto que sou uma voz sozinha na multidão, mas mando o meu recado para o diretor: “Volte, Cronenberg!”

O Senhor Dos Anéis – As Duas Torres

Crítica – O Senhor Dos Anéis – As Duas Torres

Hora de falar do segundo filme da saga!

A trama segue exatamente de onde acabou o primeiro filme. Frodo precisa levar o Um Anel até Mordor, mas a Sociedade do Anel acaba se desfazendo em três núcleos, que seguem caminhos diferentes.

As Duas Torres é uma continuação diferente da maioria. O padrão em Hollywood é só pensarem na sequência depois do sucesso do primeiro filme – por isso tantas continuações são inferiores aos originais. Mas O Senhor dos Anéis foi pensado desde o início como um filme só, dividido em três partes. Por isso, heu arriscaria dizer que As Duas Torres é ainda melhor que A Sociedade do Anel – o primeiro filme tem que nos apresentar a trama e os personagens e por isso é um pouco lento; este segundo filme vai direto ao assunto.

O grupo se separa, e a trama se divide em caminhos paralelos: temos Frodo, Sam e Gollum a caminho de Mordor; Merry e Pippin fugindo de orcs; e Aragorn, Legolas e Gimli com os cavaleiros de Rohan, entre outras sub-tramas. Sim, são quase quatro horas; sim, o ritmo é quase o tempo todo tenso. E o clímax no Abismo de Helm é sensacional. Mesmo vista hoje, dez anos depois, a batalha que coloca homens e elfos enfrentando milhares de orcs ainda é excelente. Não dá pra saber o que era ator maquiado ou o que era computação gráfica – e também, quem se importa em saber? Só sei que a pancadaria rola solta, em cenas de altíssima qualidade – a sequência é ainda hoje uma das melhores batalhas da história do cinema.

Ainda sobre os efeitos especiais: é hora de falar do Gollum. Em 1999, George Lucas resolveu colocar um personagem digital no seu Star Wars ep I – A Ameaça Fantasma: o controverso Jar Jar Binks. Foi um marco na história dos efeitos especiais, mas a concepção do personagem ficou capenga – Jar Jar era um alívio cômico caricato e insuportavelmente chato. Peter Jackson foi mais feliz: Gollum não só é um personagem mais bem construído, como tecnicamente muito superior a Jar Jar – em Star Wars, um ator com uma máscara interagiu com o resto do elenco, e depois foi substituído pelo personagem digital; aqui, o ator Andy Serkis usou uma roupa com sensores de captura de movimentos – o personagem digital inserido tinha movimentos muito melhores, assim como interagia muito melhor com o resto do elenco.

E como está o Gollum hoje, dez anos depois, agora que já estamos mais acostumados a ver filmes quase inteiros em cgi? Olha, em algumas cenas, conseguimos ver claramente que ele não está no mesmo plano que o resto do filme. Mas essas cenas são minoria, o Gollum de dez anos atrás é melhor que muito cgi atual.

Alguns novo personagens são apresentados, para acompanhar o bom elenco do primeiro filme, como Brad Dourif como Grima Língua de Cobra, Miranda Otto como Eowyn, David Wenham como Faramir e Karl Urban como Eomer. Curiosidade: John Rhys-Davies, o Gimli, faz a voz do Barbárvore!

O ritmo do filme é muito bom, mas nem tudo é perfeito. Os livros davam pouca importância à Arwen e ao seu romance com Aragorn. Já os filmes dedicam muito tempo a esse romance. Essas partes são arrastaaadas… Me pareceu ser uma imposição dos produtores, ter uma “mocinha” e um “mocinho” para ajudar a vender o filme. Não gostei, podia ser como acontece no livro: o romance está lá, mas em segundo plano.

O Oscar não foi muito generoso com esta segunda parte, da trilogia este é o filme com menos prêmios e indicações. Concorreu a seis estatuetas: ganhou efeitos especiais (merecidíssimo) e edição de som; não levou melhor filme, edição, direção de arte e som.

Em breve vou rever o terceiro filme e falo dele aqui!

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel

Crítica –  O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel

É hora de encarar (mais uma vez) a trilogia estendida d’O Senhor dos Anéis!

Antes de falar do filme em si, vamos a algumas informações interessantes. Os três livros O Senhor dos Anéis, escritos por J. R. R. Tolkien entre 1937 e 1949, e lançados pela primeira vez em 1954 e 55, eram considerados “infilmáveis”. O diretor neo-zelandês Peter Jackson já tinha cinco filmes no currículo, mas nada que enchesse os olhos dos estúdios – eram três trash (Bad Taste – Náusea Total, Fome Animal e Meet The Feebles), um cult (Almas Gêmeas) e uma comédia de terror feita em Hollywood (Os Espíritos). Mesmo assim, ele conseguiu convencer o estúdio New Line Cinema a bancar um projeto ambicioso: Jackson iria com toda a equipe para a Nova Zelândia (por causa das locações naturais e da mão de obra barata), ficaria lá por 13 meses e filmaria os três filmes de uma vez. Claro que o estúdio preferia fazer só o primeiro filme, afinal, se fosse um fracasso de público, o que fariam com as continuações? Mas Jackson bateu o pé e conseguiu carregar a galera para o seu país natal – e assim foi criada uma das melhores sagas da história do cinema!

Quando os três filmes foram lançados em 2001, 2002 e 2003 nos cinemas, cada um tinha cerca de três horas de duração. As versões estendidas, onde cada filme tem cerca de quatro horas, só passaram aqui no Brasil em sessões especiais, não entraram no circuito. E acho que não foram lançadas em dvd aqui no Brasil. Só recentemente tivemos versões oficiais, já em blu-ray. Mas não comprei o blu-ray nacional, já que o box importado, com 15 discos, tem legendas e dublagem em português – comprei o meu pela Amazon.

Vamos ao filme? Quando o “Um Anel”, um anel mágico de poder dado como desaparecido há muito tempo, é encontrado, o pequeno hobbit Frodo tem a tarefa de levá-lo para ser destruído. Ele não está sozinho na sua jornada: é acompanhado por Aragorn, Boromir, o mago Gandalf, o elfo Legolas, o anão Gimli e seus amigos hobbits Sam, Merry e Pippin.

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel é um daqueles raros e felizes casos onde tudo dá certo. Adaptação literária bem feita, bom elenco, excelentes efeitos especiais, tudo isso numa trama simples (o bem contra o mal), mas contada de uma maneira excepcional.

A adaptação, que era uma grande incógnita, foi muito bem feita. Os fãs mais xiitas do livro reclamaram de algumas ausências, como por exemplo os trechos envolvendo o personagem Tom Bombadil (ignorado pelo filme), mas, afinal, era uma “adaptação”, não tinha como entrar tudo em um filme para cinema (talvez em uma mini série).

Acho que uma das coisas mais difíceis era mostrar personagens de tamanhos diferentes. Temos homens, elfos e orcs, mas todos têm tamanhos semelhantes. Já os hobbits, personagens importantíssimos na saga, são seres da altura de uma criança. E ainda tem um anão – interpretado por John Rhys-Davies, um ator de 1,85. E esses seres de tamanhos diferentes aparecem juntos vááárias vezes, e em nenhuma delas parece falso. Digo mais: hoje em dia seria tudo cgi, mas naquela época o cgi ainda não era o que é hoje (vou falar mais do cgi no texto sobre o próximo filme, As Duas Torres). Jackson usou truques de câmera e dublês nas cenas em close. O resultado ficou irretocável!

O elenco misturava atores desconhecidos com alguns de fama intermediária, como Ian McKellen, Liv Tyler, Cate Blanchett, Ian Holm e Christopher Lee. Boa parte do elenco soube capitalizar em cima do sucesso dos filmes e hoje são nomes bem conhecidos, mas antes eram nomes “lado B” – também, quem estava disposto a se mandar pra Nova Zelândia por um projeto arriscado e com mais de um ano de duração? Mas mesmo assim, a escolha do elenco foi perfeita, cada ator “vestiu” perfeitamente o seu personagem.

Lembro de Viggo Mortensen como coadjuvante de Demi Moore em GI Jane e num pequeno papel em O Pagamento Final – hoje o cara é protagonista de grandes produções como A Estrada e Um Método Perigoso – e chegou a concorrer ao Oscar de melhor ator por Senhores do Crime. Antes desconhecido, Orlando Bloom depois esteve nos três primeiros Piratas do Caribe e em Os Três Mosqueteiros. Elijah Wood participou de bons filmes como Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças e Sin City. Dominic Monaghan teve papéis importantes em séries badaladas como Lost e Flash Forward; Sean Bean foi o personagem central da primeira temporada da elogiada série Game of Thrones. Hugo Weaving antes era mais lembrado por Priscilla, a Rainha do Deserto; hoje o currículo dele é bem extenso, com filmes do porte de Matrix, Capitão América, O Lobisomem, V de Vingança e a franquia Transformers.

Outros atores ainda estão por aí, mas não são tão famosos hoje. John Rhys-Davies já tinha uma extensa carreira, mesmo não sendo um rosto muito conhecido – acho que o seu papel mais famoso era o Sallah de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Sean Astin é outro que também já tinha currículo, ele foi o ator principal de Os Goonies quando tinha 14 anos. E acho que o único do elenco principal que era desconhecido e continua assim até hoje é Billy Boyd, o hobbit Pippin…

Os efeitos especiais também são sensacionais. Tudo bem que o que a trilogia traz de mais impressionante (o Gollum) só aparece no segundo filme. Mas mesmo assim, tudo aqui é extremamente bem feito – a começar pelo tamanho dos personagens que falei alguns parágrafos acima. Um universo onde a magia faz parte do dia-a-dia é mostrado e, hoje, uma década depois, os efeitos ainda não “perderam a validade”.

Ainda preciso falar das locações. Jackson estava certo quando quis fazer seu filme na Nova Zelândia – florestas, montanhas, planícies, rios, neve, tem todas as paisagens que o livro pedia. Boa escolha!

O filme concorreu a 13 Oscars, incluindo melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Ian McKellen. Não ganhou nenhum desses, mas levou quatro estatuetas: trilha sonora, fotografia, efeitos especiais e maquiagem.

Heu poderia continuar falando do filme, mas – caramba, o post já tá gigantesco! Só preciso falar mais uma coisa: a versão que passou nos cinemas é boa, mas, se você é fã, procure a versão estendida. É um total de 12 horas de filme, mas vale a pena!

Em breve, falo do segundo filme aqui!

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Se você gostou de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, o Blog do Heu recomenda:
Guerra nas Estrelas
Alice no País das Maravilhas
O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus
Amor Além da Vida
Sucker Punch – Mundo Surreal

O Pagamento Final

O Pagamento Final

Outro dia, numa comunidade do orkut, me sugeriram um texto sobre este O Pagamento Final, clássico mais ou menos recente (de 1993) de Brian De Palma. Heu já tinha o dvd em casa, e estava esperando uma desculpa pra rever o filme…

Carlito Brigante, um ex-traficante portorriquenho que acabou de sair da prisão, briga para ficar longe das drogas e da violência, enquanto todos por perto parece que querem trazê-lo de volta ao submundo do crime.

O Pagamento Final (Carlito’s Way, no original) é uma aula de cinema. O diretor Brian De Palma estava inspirado, são várias as sequências antológicas, onde ele exibe uma exímia técnica com a câmera na mão. Fica até difícil escolher um trecho favorito – heu citaria como exemplo dessa habilidade técnica toda a sequência da estação de trem.

De Palma já tinha mostrado esse cuidado no visual das suas produções nos anos anteriores, em filmes como Vestida Para Matar (1980), Um Tiro na Noite (81), Dublê de Corpo (84) ou Os Intocáveis (87). Nos anos 90 ele fez menos filmes memoráveis, mas acho que ainda podemos citar Síndrome de Caim (92) e Missão Impossível (96) como bons exemplos.

Aqui ele abusa. A câmera passeia pelos atores em longos planos-sequência ao longo de todo o filme, e vários ângulos inusitados são usados. E isso porque nem estou falando da bem cuidada reconstituição de época, nem da excelente trilha sonora, repleta de clássicos da era da discoteca.

O elenco é liderado por um também inspirado Al Pacino, que convence como o ex-traficante arrependido. Sean Penn, com visual diferente, de cabelos enrolados, também está ótimo, e Penelope Ann Miller nunca esteve tão bonita. O elenco ainda traz Luiz Guzman e John Leguizamo. Tem mais: hoje Viggo Mortensen é uma estrela; nessa época, ele ainda era coadjuvante – ele é Lalin, o paraplégico.

De Palma anda meio sumido – seu último filme foi Redacted, de 2007, nunca lançado por aqui. O Pagamento Final não foi seu último filme memorável, ele ainda fez Femme Fatale em 2002, outro filme que é uma aula de cinema. Nós, fãs de cinema, esperamos que ele volte aos bons tempos, com vários filmaços por década!

Senhores do Crime

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Senhores do Crime

Quem conhece o diretor canadense David Croneberg sabe que, anos atrás, ele podia ser chamado de “Cronembleargh”, devido à quantidade de cenas escatológicas presentes em seus filmes. Sua filmografia era repleta de filmes de terror ou de temática fantástica, sempre com cenas fortes, como pudemos ver em filmes como A Mosca, Videodrome ou Scanners.

Mas parece que, de uns anos pra cá, ele resolveu “amadurecer”: começou a fazer filmes mais “sérios”. Em 2005, ele nos apresentou o estranho Marcas da Violência. Digo estranho porque parece que infelizmente não consegue se identificar entre diferentes estilos: muito lento para um filme de ação, mas muito violento para um drama; muito careta pros fãs antigos, mas muito esquisito pro público mainstream.

Agora, com Senhores do Crime, Cronemberg acertou a mão. Até teve um ator indicado ao Oscar de melhor ator – quer maior prova de maturidade?

Em Londres, nos dias atuais, Anna (Naomi Watts), uma enfermeira descendente de russos, procura a família de um bebê que nasceu de uma adolescente grávida e drogada que apareceu – e morreu – no hospital. E, sem reparar, começa a se infiltrar na máfia russa.

Viggo Mortensen, o Aragorn de O Senhor dos Anéis, encontra aqui com Nikolai o seu melhor momento como ator, tanto que foi indicado ao Oscar e comparado com Robert De Niro. Nikolai sempre se identifica como “apenas o chofer”, mas aos poucos vamos descobrindo mais sobre esse fascinante e misterioso personagem. Nikolai está quase sempre acompanhado de Kirill, o espalhafatoso filho do chefe, em mais uma magnífica interpretação, desta vez pelo francês Vincent Cassel (pra quem não sabe, marido de uma tal de Monica Bellucci…).

Cronemberg também mostra que ainda sabe usar a escatologia, em diversas cenas. Mas aqui, em vez de explorar temas fantásticos como em seus filmes de outrora, explora as delicadas relações entre diferentes pessoas e diferentes culturas.

O ritmo do filme e as cenas fortes podem desagradar alguns. Mas acredito que podemos colocar esse filme ao lado de Gêmeos – Mórbida Semelhança como os melhores filmes “sérios” de Cronemberg.