Guerra Civil

Crítica – Guerra Civil

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico, um grupo de jornalistas percorre os Estados Unidos durante um intenso conflito que envolve toda a nação.

Bora pra mais um dos filmes que estavam na minha lista de expectativas pra 2024, o grande blockbuster da A24!

Guerra Civil (Civil War, no original) é o novo filme de Alex Garland, que até agora só tinha feito filmes “menores” e mais “herméticos”: Ex Machina, Aniquilação e Men (como roteirista, Garland tem filmes mais pop, como Extermínio, Sunshine e Dredd). Guerra Civil tem os seus momentos contemplativos, mas é um filme bem mais acessível que seus três anteriores. E, na minha humilde opinião é, de longe, seu melhor filme.

Guerra Civil é cinemão. Fotografia caprichada, mostrando um país destruído, em planos abertos, com boas atuações e um perfeito uso do som.

Guerra Civil começa com os EUA devastados por uma guerra, mas não existe uma explicação sobre os detalhes dessa guerra. Algumas cenas são colocadas aqui e ali pra situar o espectador, mas sem muitos detalhes (como a cena no posto de gasolina, quando ela oferece 300 dólares por meio tanque, e o cara só aceita porque são dólares canadenses, é assim que a gente descobre que o dólar americano não vale mais nada). Mas tem um diálogo no filme que explica a postura dos personagens: eles são jornalistas, são fotógrafos de guerra, a sua função é ficarem isolados sem tomar partido.

Talvez parte do público se sinta incomodada com isso. A gente vive num mundo cada dia mais polarizado, e inclusive rolam rumores sobre uma possível guerra civil real nos EUA. Mas aqui a gente não sabe detalhes, no filme não existe uma posição entre Esquerda e Direita. Somos os fotógrafos de guerra, estamos aqui só pra registrar a história.

Se a temática pode dividir o público, a parte técnica não tem o que se discutir. O filme tem vários planos abertos mostrando cidades parcialmente destruídas pela guerra. Claro que boa parte deve ser cgi, mas não dá pra saber o que é cgi e o que estava lá durante as filmagens. Além disso, o filme traz algumas cenas plasticamente muito bonitas, como por exemplo quando passam por árvores pegando fogo e vemos pequenas brasas flutuando no ar.

Adorei a edição de som. Em algumas sequências com muitos tiros e explosões, não ouvimos nada, só a música da trilha sonora. Também temos momentos de silêncio em pontos estratégicos da narrativa. E a sequência final é sensacional. Os protagonistas são fotógrafos de guerra, acompanhando soldados. Toda a sequência é entrecortada por registros fotográficos, “ao vivo”, e isso ajuda a manter a tensão.

Tem um detalhe que me incomodou um pouco, mas não é uma falha do filme. A personagem da Cailee Spaeny usa uma câmera com filme, daqueles que a gente precisa revelar. Heu até entenderia se fosse uma fotografia artística, entenderia a opção da personagem de usar filme. Mas se ela quer ser uma fotógrafa jornalística, é esquisito ter que ficar carregando rolos de filme e tendo que revelar tudo. Mas isso não é uma falha, é uma característica da personagem, ela gosta de fazer assim e explica isso no filme.

O elenco está muito bem. O filme foca mais no quarteto Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny (Priscilla) e Stephen McKinley Henderson (Beau Tem Medo) – lembro do Wagner Moura em Elysium, lá ele parecia “um brasileiro em Hollywood”; aqui ele já está “local”. Jesse Plemons só aparece em uma cena, uma cena bem tensa (que está parcialmente no trailer). Nick Offerman abre o filme, como o presidente dos EUA, mas também aparece pouco.

Filmão. Deve voltar aqui na lista de melhores de 2024.

Gato de Botas 2: O Último Pedido

Crítica – Gato de Botas 2: O Último Pedido

Sinopse (imdb): O Gato de Botas descobre que sua paixão pela aventura cobrou seu preço: ele esgotou oito de suas nove vidas. O Gato de Botas embarca em uma jornada épica para encontrar o mítico Último Desejo e recuperar suas nove vidas.

Lembro de quando a Dreamworks começou. A Disney reinava sozinha nos longas de animação, então surgiram a Pixar e a Dreamworks, e por um tempo eram as três no topo, com algumas poucas exceções. Mas com o passar do tempo, a Dreamworks investiu em várias continuações e spin offs, e, pelo menos pra mim, perdeu parte da graça (tirando Toy Story, a Pixar demorou bastante pra entrar no mundo das continuações).

E finalmente, 11 anos depois do primeiro filme, chegamos a Gato de Botas 2, que é uma continuação de um spin off de Shrek. Mas… Não é que o filme é bom?

Podemos citar dois méritos de Gato de Botas 2: O Último Pedido. O primeiro é meio previsível: uma boa história, com bons personagens. Nem me lembro se vi o primeiro filme do Gato de Botas, só me lembrava do personagem pelos grandes olhos na cara de pidão. Mas pelo menos neste novo filme, é um personagem muito bom: ele é um guerreiro, um espadachim, canta, toca violão, e depois de tudo isso vai beber leite como um gatinho normal.

E não é só ele, mas temos vários bons coadjuvantes. O time formado pela Cachinhos Dourados e os três ursos é genial, e o Perrito é um coadjuvante sensacional. E, de quebra, ainda tem vários easter eggs de contos de fada – coisa que sempre aconteceu na franquia Shrek.

O outro ponto a ser citado é a qualidade da animação. Hoje, em 2023, quando a gente vê um grande lançamento vindo de um grande estúdio, a qualidade da imagem é meio que obrigação. Ver imagens perfeitas não é mais do que obrigação. Não gostei de Os Caras Malvados, mas não gostei por causa da história e dos personagens, não tenho queixas à qualidade da animação.

Mas… Gato de Botas 2 vai um pouco além. Se chegamos a um ponto onde não tem como a animação ser mais perfeita, como fazer para se diferenciar? As cenas de ação aqui trazem um traço diferente, uma textura diferente. Procurei pela Internet elementos técnicos pra trazer aqui, mas não achei nada que explique muito o que foi feito. O que descobri é que depois do sucesso do Homem Aranha no Aranhaverso – que trazia texturas diferentes – outras animações estão pegando este caminho. E aqui a gente vê, nas cenas de ação, que o filme muda o estilo e essas cenas ficam muito mais agradáveis de se ver do que as mesmas cenas de sempre, repetindo o mesmo estilo de sempre.

Longa de animação muitas vezes é exibido dublado em português. Por sorte vi o original em inglês. O lobo é dublado pelo Wagner Moura! Gostei de vê-lo (ouvi-lo?) com uma voz diferente do que estamos acostumados! Outro detalhe que não sei se conseguiram traduzir: os capangas do vilão são os “baker dozen”, que poderia ser traduzido como “uma dúzia de padeiros”, mas na verdade é uma expressão em inglês que significa treze (catei no Google, parece que quando você comprava uma dúzia de pãezinhos e ganhava um extra de cortesia).

Já que falei do Wagner Moura, vamos ao resto do elenco. O gato é dublado pelo Antonio Banderas, e o filme ainda conta com Salma Hayek, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Samson Kayo e Harvey Guillén.

Gato de Botas 2 funcionou tão bem que está concorrendo ao Oscar de melhor longa de animação. Claro que acho que não tem chances, porque o Pinóquio do Del Toro é uma coisa de outro mundo. Mas, ser considerado pela Academia um dos cinco melhores desenhos do ano já é uma coisa boa para um filme que a principio seria apenas uma continuação de um spin off.

O Agente Oculto

Crítica – O Agente Oculto

Sinopse (imdb): O agente mais habilidoso da CIA, cuja verdadeira identidade é desconhecida, descobre os segredos obscuros da agência e um ex-colega insano coloca uma recompensa por sua cabeça ao recrutar assassinos internacionais para caçá-lo.

Novo grande lançamento da Netflix, O Agente Oculto (The Gray Man, no original) é mais um daqueles filmes que poderiam estar na minha lista de “críticas curtas”: “O Agente Oculto – filme genérico de ação com nomes grandes no elenco e direção”. Porque é basicamente isso. Mas… Vamulá.

Com orçamento de 200 milhões de dólares, O Agente Oculto está sendo vendido como “o filme mais caro da história Netflix”, ao lado de Alerta Vermelho – outro filme que também deixou a desejar.

O Agente Oculto é baseado no livro homônimo escrito por Mark Greaney. A ideia de se adaptar já existia desde 2011, com o Brad Pitt no papel principal; depois Charlize Theron esteve ligada ao projeto, que teria produção da Sony e direção de Christopher McQuarrie. Até que chegou às mãos da Netflix, que chamaram os irmãos Russo para a direção.

Lembrando: Anthony e Joe Russo dirigiram quatro dos filmes mais conceituados de todo o MCU: Capitão América Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato. Atualmente, eles simplesmente são os responsáveis pela maior bilheteria da história do cinema. Recentemente fizeram o drama Cherry, que tem seus pontos positivos mas não é um grande filme. E uma coisa me intrigava na carreira dos irmãos, mas que agora foi respondida: o sucesso deles tem muito mais a ver com a Marvel do que com o talento da dupla.

Vejam bem, O Agente Oculto não é ruim. Bom elenco, belas locações, boas cenas de ação… Só é tudo muito genérico. Muita explosão e pouca história. Em certas cenas parece que a gente está vendo um filme do Michael Bay – tem até umas cenas com uma câmera drone, cenas parecidas com as do filme Ambulância, último filme do Bay.

Produção grandiosa, o filme se passa em vários países. Tem uma cena em Praga que é um exemplo disso que falei. A cena é boa, é empolgante, mas é tanto tiro e explosão que chega a cansar.

O elenco é muito bom. Ryan Gosling parece fazer o Ryan Gosling de sempre, mas o vilão exagerado e caricato do Chris Evans está exagerado e caricato no ponto certo. Ana de Armas está excelente, como sempre, mas tem menos tempo de tela – ei, Hollywood, tá na hora de um filme de ação girl power estrelado por ela! E uma surpresa agradável foi ver uma cena com Wagner Moura, que está muito bem. Parece que a Netflix resolveu agradar dois grandes mercados consumidores, o Brasil e a Índia, trazendo uma estrela de cada país para um papel menor mas importante – o indiano Dhanush tem um papel chave, já tinha ouvido falar dele mas nunca tinha visto nenhum filme com ele. Também no elenco, Billy Bob Thornton, Jessica Henwick, Alfre Woodard e Julia Butters.

Existe uma série de livros “O Agente Oculto”. A história deste filme se fecha, mas deixa espaço para continuações. Será que veremos mais uma franquia de filmes de ação?

Marighella

Crítica – Marighella

(Pensei muito se valia a pena fazer um vídeo sobre esse filme. É que é difícil falar de Marighella sem falar de política, e não gosto de dar palpites sobre política. Acredito que quem vê meus vídeos, quem ouve meus podcasts e quem lê os meus textos está mais interessado no que tenho a dizer sobre cinema, tema que domino melhor. Mas, primeiro filme do Wagner Moura como diretor, gosto do Wagner Moura, bora falar do filme dele.)

Sinopse (filmeB): 1969. Marighella não teve tempo pra ter medo. De um lado, uma violenta ditadura militar. Do outro, uma esquerda intimidada. Cercado por guerrilheiros 30 anos mais novos e dispostos a reagir, o líder revolucionário escolheu a ação. Cinebiografia sobre Carlos Marighella, político, escritor e guerrilheiro contra a ditadura militar brasileira.

(Antes de entrar no filme, só um breve comentário sobre política: IMHO, não devemos ver política com paixão, e sim com razão. Não consigo entender quem torce por um político. O político deveria servir à população, e ser criticado sempre que fizer algo errado, independente da gente se alinhar com os ideais dele ou não.
E o tema “Marighella” chama a discussão política. Carlos Marighella tem seu valor por ter lutado contra a ditadura. Respeito muito as forças armadas, mas precisamos reconhecer que o período de intervenção militar foi um dos piores momentos da história do país. Censura, perda de liberdades individuais, prisões sem motivo, torturas, assassinatos. Quem pede a volta do regime militar não sabe o tamanho da bobagem que está pedindo. Nasci em 71, não vivi nenhum problema relacionado a isso, mas na minha adolescência existia um medo pairando no ar – será que os militares vão voltar?
Mas por outro lado, Marighella promovia violência, e heu nunca posso concordar com isso. Segundo a sua lógica, cometer crimes se justificava porque seria contra um mal maior. Sei não, não acho correto você tentar consertar uma coisa errada errando igual. Então, imho, por mais que ele tenha tido importância histórica, não acho certo colocá-lo num patamar de herói.)

Enfim, chega de papo sobre política, e vamos ao que interessa!

Sou fã do Wagner Moura, gosto do trabalho dele em Tropa de Elite, Homem do Futuro, Elysium, VIPs. Marighella é o seu primeiro filme como diretor. Algumas coisas funcionam, outras não.

Marighella começa muito bem, com um plano sequência bem legal mostrando um assalto a trem. Wagner Moura usa câmera na mão em várias partes do filme, o que funciona pra dar um ar mais documental, e algumas cenas são muito bem filmadas.

Agora, são pouco mais de duas horas e meia, e mesmo assim, tem coisa que não ficou bem. Vou dar dois exemplos. Um deles é a personagem da Adriana Esteves, que só vale porque é a Adriana Esteves. Tira esse personagem, o filme não perde nada. “Ah, mas ela está lá para mostrar um lado mais humano do Marighella”. Olha, o filho dele funciona melhor pra essa função. Inclusive a cena onde pai e filho tentam se encontrar é muito boa.

Outro exemplo é que, pelo filme parece que o Marighella só andava com uns 4 ou 5 companheiros. Ué, ele não foi um grande líder? Faltou algo no filme pra mostrar que ele tinha um alcance maior. Recentemente tivemos Judas e o Messias Negro, onde os líderes dos movimentos apareciam liderando muito mais gente.

Um aviso aos mais sensíveis: claro que tem cena de tortura, o que era algo previsível. A cena é forte, mas, heu esperava que ia ter ainda mais, achei que o filme focaria mais nesse triste aspecto da ditadura. É, até que foi bom não mostrar muito.

(Ah, fiquei com vontade de rever O Que É Isso Companheiro…)

Sobre o elenco, ouvi críticas relativas ao Seu Jorge, porque, pelas fotos que vemos na internet, Marighella não era negro. Mas isso não me incomodou, acho bobagem, hoje, em 2021, alguém se preocupar com etnias dos personagens. Na verdade o que me incomodou foi que, em algumas cenas, Seu Jorge aparece artificial demais. Parece que ele está lendo um texto, perdeu a naturalidade.

Outro nome me trouxe sentimentos dúbios. Bruno Gagliasso está bem na maior parte do filme, mas em algumas cenas ele parece um vilão caricato dos anos 80. Tem uma cena onde ele urina num cartaz com a cara do Marighella, e dá uma risada de vilão que causou vergonha alheia.

No fim, apesar de não ser um grande filme, acho que vale a pena. E quero mais filmes nacionais mostrando esse período!

Marighella ainda não foi lançado oficialmente no Brasil. Pra ver, só de maneira alternativa. Existe uma queda de braço entre o governo e a produção do filme. Não sei como está a briga agora, mas uns meses atrás soube que faltavam algumas burocracias pra Ancine liberar o filme (tem vários casos de filmes que demoram anos para serem lançados – Chatô demorou 20 anos pra chegar no circuito!). E é claro que o presidente quer atrapalhar o lançamento, então a gente não sabe o quanto dessa burocracia é algo que faz parte do sistema e o quanto é por ser um filme sobre o Marighella.

Elysium

Crítica – Elysium

Um dos mais esperados filmes do ano!

Em 2154, onde os muito ricos moram numa estação espacial, o Elysium, enquanto os outros, pobres, vivem na Terra, que virou uma gigantesca favela, decadente e superpopulada, um operário tem uma missão que pode trazer igualdade a esse mundo dividido.

Por que citei Elysium como um dos mais esperados do ano? Bem, quase todos os cinéfilos brasileiros estavam curiosos pela estreia hollywoodiana de Wagner Moura, aproveitando o sucesso internacional do seu Capitão Nascimento nos dois Tropa de Elite – Alice Braga também está no elenco, mas ela já fez vários filmes na “gringolândia”. Mas, além de torcer pelo sucesso de Moura, heu também estava curioso por ser o novo filme escrito e dirigido por Neill Blomkamp, o mesmo do excelente Distrito 9, um filme sul-africano que surpreendeu o mundo ao usar a ficção científica como metáfora para o Apartheid. Chegou a concorrer a quatro Oscars em 2010, incluindo melhor roteiro adaptado e melhor filme!

E como foi o resultado do segundo filme de Blomkamp? Bem, o resultado é positivo, mas poderia ser melhor…

O problema aqui é a comparação. Distrito 9 era, ao mesmo tempo, uma eletrizante ficção científica e uma pungente crítica social. Elysium funciona muito bem como FC, mas falha na parte social.

Spoilers leves no próximo parágrafo, ok?

Blomkamp tentou fazer uma crítica à segregação de classes sociais e à situação dos imigrantes ilegais, mas se perdeu na parte final do filme. E olha que não estou citando o maniqueísmo: todos os ricos são maus, muito maus! E ainda são capitalistas burros: se aquela “cama médica” é tão prática e tão comum a ponto de estar presente em todas as residências de Elysium, por que não trazer algumas pra Terra e vender os serviços a “preços módicos”?

Fim dos spoilers!

Provavelmente Blomkamp sofreu influência dos executivos norte-americanos. Diz a lenda que o seu roteiro foi alterado, mas como não temos acesso ao roteiro inicial, não sabemos se é verdade. Felizmente a parte “diversão” funciona muito bem. O ritmo do filme é muito bom, e os efeitos especiais são extremamente bem feitos.

E o Wagner Moura, como se saiu?

Moura é coadjuvante, o filme é de Matt Damon. Mas é um coadjuvante importantíssimo na trama, e está muito bem no seu papel de Spider, uma espécie de chefão do tráfico misturado com hacker. Aliás, tem uma cena engraçada para os brasileiros: certo momento, Spider tem uma explosão de raiva e grita dois palavrões em português…

Alice Braga tem um papel mais fraco, apesar de ser o interesse romântico do protagonista. Mas tudo bem, ela já mostrou seu talento em outras ocasiões em Hollywood – inclusive, em filmes de ação / ficção científica, como PredadoresRepo Men e Eu Sou A Lenda.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o filme anterior do diretor.

O bom elenco “off-Hollywood” ainda conta com o mexicano Diego Luna e o sul-africano Sharlto Copley (que também estava em Distrito 9). Não sei se foi coincidência, mas achei uma boa escolha usar atores que conhecem de perto a situação de países subdesenvolvidos para viverem os moradores do planeta Terra devastado. Ainda no elenco, os “gringos” Jodie Foster e William Fichtner.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o currículo prévio do diretor…

O Homem do Futuro

Crítica – O Homem do Futuro

Legal! Uma comédia / ficção científica nacional! E bem feita!

Zero (Wagner Moura) é um brilhante cientista, traumatizado por ter sido humilhado por sua namorada 20 anos antes. Prestes a descobrir uma nova forma de energia, Zero acidentalmente volta ao passado e agora tem a chance de consertar o rumo da sua vida.

O novo filme de Claudio Torres é ainda melhor que o anterior, A Mulher Invisível, que já era legal. O roteiro acerta nas idas e vindas no tempo, o timing de comédia é muito bom e não apela para o pastelão baixaria (como de vez em quando em comédias nacionais), e os efeitos especiais são simples e bem feitos. E o elenco está ótimo. Taí, este é um bom caminho para a comédia nacional.

Wagner Moura é sensacional. Ele consegue construir três personagens diferentes – um jovem deslumbrado, um adulto amargurado e um adulto bem resolvido – e convence com os três. O cara merece a boa fase: além de ter mandado bem em VIPs, o seu Tropa de Elite 2 é o representante nacional no Oscar 2011. E ele ainda estará em breve ao lado de Matt Damon, Jodie Foster e William Fichtner em Elysium, novo filme de Neill Blomkamp (Distrito 9).

E o filme não é só de Moura. Alinne Moraes, Fernando Ceylão, Maria Luísa Mendonça e Gabriel Braga Nunes também estão muito bem com diferentes personagens nas diferentes realidades temporais. Outro dos acertos de O Homem do Futuro é na parte de maquiagens e caracterizações.

Agora vamos a um papo nerd. Quem não curtir discussões sobre teorias de viagens no tempo, pule pro parágrafo seguinte.

As teorias mais usadas nos filmes de viagem no tempo são: ou a linha temporal é alterável, como em De Volta Para o Futuro – se você mudar o seu passado, o seu presente pode não acontecer; ou a linha temporal é única, como em O Exterminador do Futuro – o cara vai voltar ao passado, e aquilo tudo vai acontecer da mesma forma. Bem, a princípio Homem do Futuro segue a primeira teoria – Zero volta e cria uma realidade paralela (como acontece em De Volta Para o Futuro 2). Mas aí rola um problema: o evento que marcou toda a sua vida só tem sentido depois das idas e vindas no tempo – Helena só agiria daquele jeito por causa das viagens. Então, é usada a segunda teoria! Bem, em defesa do filme, a gente pode dizer que são teorias usadas no cinema, porque na verdade viagens no tempo não existem…

Bem, O Homem do Futuro não é um filme feito apenas para nerds. A plateia “convencional” vai curtir uma boa comédia romântica com um pé na ficção científica. Que venham outras produções nacionais com a mesma qualidade!

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Se você gostou de O Homem do Futuro, Blog do Heu recomenda o Top 10 de Filmes de Viagem no Tempo.

Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro

Tropa de Elite 2- O Inimigo Agora é Outro

Estreou a continuação do excelente Tropa de Elite – simplesmente um dos melhores filmes da história do cinema nacional. E a pergunta é: é bom como o primeiro? Felizmente, sim!

O Capitão Nascimento agora é o Tenente Coronel Nascimento, e está no comando de uma operação durante uma rebelião no presídio de segurança máxima Bangu 1. A rebelião acaba como o BOPE nos ensinou: bandido bom é bandido morto. Mas, em ano de eleição, os direitos humanos caem em cima do BOPE, e Nascimento é afastado, só que “para cima”: vai trabalhar na Secretaria de Segurança Pública. Trabalhando em escritório, Nascimento descobre que – como diz o título – “o inimigo agora é outro”.

O filme é muito bom. Tecnicamente perfeito, excelentes atuações, roteiro redondinho, tensão do início ao fim. Fiquei me questionando por que não são feitos outros filmes nacionais com essa qualidade…

Ainda a parte técnica: o diretor José Padilha, o mesmo do primeiro filme, voltou para Tropa de Elite 2. Gosto quando o mesmo diretor volta para a continuação, quase sempre isso é sinal de boa qualidade. Isso acontece aqui: assim como no primeiro filme, em Tropa de Elite 2 não existem os problemas técnicos tão comuns em filmes brasileiros.

Depois do primeiro filme, o Capitão Nascimento virou uma lenda urbana no Brasil, porque sua filosofia é radical: bandido tem que morrer. O povo brasileiro, cansado de ver a bandidagem se dar bem, aprovou os métodos do Cap. Nascimento. Rolaram várias listas na internet com fatos exagerados, na linha daqueles “Chuck Norris facts”. Agora, Nascimento ataca políticos corruptos ligados à milícias. Caramba, um cara desses tinha que ser real. O inimigo do segundo filme é ainda pior que o do primeiro!

(Curioso este filme ser lançado em época de eleição. Mas ainda acho que deveria ter sido lançado um pouco antes, afinal, os deputados e senadores já foram eleitos…)

Wagner Moura brilha novamente como o mais durão de todos os policiais. Seu Tenente Coronel Nascimento passa credibilidade no lado humano, o que faz o nosso heroi ser ainda mais importante. E alguns atores do filme original também estão de volta, como André Ramiro, com o agora Capitão Mathias, numa atuação mais dura do que no primeiro filme; e Milhem Cortaz, como o covarde Coronel Fabio. E o filme ainda traz novos personagens muito bons, como o ativista de direitos humanos Fraga (Iradhir Santos), um verdadeiro antagonista para Nascimento em vários sentidos; e o caricato apresentador de tv Fortunato (André Mattos).

Claro que o filme traz novos bordões que deverão cair na boca do povo, como aconteceu no primeiro filme (“tá com medinho, zero dois?”, “pede pra sair!”). Heu gostei da nova definição de CPMF: Comissão do Policial Militar Filhodap#$@ta…

O lançamento do primeiro filme foi envolto em uma grande polêmica, porque vazou uma cópia em dvd, e muita gente viu o filme antes de ser lançado nos cinemas. Desta vez, não só não vazou, como o filme está tendo sessões lotadas – ontem, sábado, segundo dia de exibição, comprei pela internet dois ingressos para uma sessão seis horas depois, e a sala estava quase esgotada…

(Aliás, um comentário: o filme começou 19 minutos e meio depois do início da sessão. 19 minutos e meio de muitas propagandas e alguns trailers! E olha que paguei pelo ingresso!)

Determinado momento do filme joga uma indireta que uma possível parte 3 (se é que vai ter parte 3) pode ser em Brasília… Será?

Filmaço, parceiro!