Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Eduardo e Mônica

Crítica – Eduardo e Mônica

Sinopse (imdb): Será que o romance entre uma estudante de medicina e um colegial pode dar certo? Um casal que deve superar suas diferenças significativas para viver um grande amor.

Preciso falar que rolava um certo pé atrás com este filme. É dirigido por René Sampaio, o mesmo diretor de Faroeste Caboclo, que é um bom filme, mas que altera algumas partes essenciais da música original. Ok, admito, o meu head canon me atrapalhou. Mas não consegui curtir aquele filme por causa das adaptações.

Felizmente, aqui em Eduardo e Mônica as adaptações funcionaram – pelo menos para mim – e posso dizer que “entrei no filme”.

Tudo funciona redondinho no filme, que usa o formato de comédia romântica – duas pessoas se conhecem, se gostam, se estranham, se separam, se reconciliam, etc. Fórmula batida, mas eficiente.

Os trechos da música entram naturalmente no roteiro, tipo rola um telefonema onde eles decidem se encontrar e o Eduardo sugere uma lanchonete enquanto a Mônica sugere um filme da nouvelle vague – ou seja, um filme do Godard. Sim, alguns elementos da música estão colocados discretamente, por exemplo, na música a Mônica cita Mutantes, no filme tem uma rodinha de violão tocando Ando Meio Desligado.

Uma boa sacada foi situar o filme na década de 80. Não fala exatamente em quais anos, mas a gente sabe que se passam alguns anos durante o filme. Tem pelo menos dois indicativos: Eduardo tem um poster do Fluminense campeão brasileiro de 1984 no quarto; e um tempo depois aparece ele fazendo o vestibular em 1987.

A reconstituição de época é muito bem feita – tem um personagem que usa mochila da Company! E tem uma cena que a galera da nossa idade vai lembrar do perrengue que era telefonar interurbano com fichas de telefone!

Tem um detalhe que gostei mas que vai passar desapercebido por boa parte da audiência. Tem uma trilha sonora instrumental, tocada por violões e outras cordas, que evoca os acordes da música título. Fica aquele clima no ar, mas sem entrar na música propriamente dita (que só é tocada nos créditos finais).

A música não citava nada de política, mas política era um tema recorrente na época, o Brasil estava saindo da ditadura militar, e duas das principais bandas que vieram de Brasília traziam política e críticas sociais nas suas letras (Legião Urbana e Plebe Rude). No filme, o pai da Mônica foi exilado por causa da ditadura, e o avô do Eduardo é um ex militar. Achei uma boa sacada.

Ok, vou reclamar de uma coisa. Admito que é um problema que acontece muito no audiovisual: a idade dos atores. Não sei exatamente quando foi filmado, a data no imdb é 2020, ou seja, essas filmagens já aconteceram há um tempo. Hoje, Alice Braga tem 38 anos, e Gabriel Leone (Dom) tem 28. A diferença de idade entre os dois é boa, compatível com ele fazendo vestibular enquanto ela se forma em medicina. Mas, o Gabriel Leone, com vinte e muitos anos, dizendo “eu tenho 16 anos” não ficou legal. Mas, sei que é um problema recorrente no cinema, lembro de um Espetacular Homem Aranha onde a Emma Stone, com vinte e muitos, grita “eu tenho dezessete anos!”.

Dito isso, preciso dizer que os dois estão ótimos, são grandes atores e a química entre o casal está perfeita. Excelente escolha de elenco.

(Tem uma participação de Fabricio Boliveira, que fez o João de Santo Cristo no Faroeste Caboclo. Será que existe um “legiãoverso”?)

Como falei, ao fim do filme estava feliz e com vontade de rever. E ao mesmo tempo frustrado, porque não sei quando o filme será lançado – inicialmente a data de estreia era pra ser 06 de janeiro, mas já adiaram de novo pro dia 20.

Mas, posso dizer que, dos últimos quatro filmes que vi no cinema, dois nacionais (Eduardo e Mônica e Turma da Mônica Lições) e dois blockbusters gringos (Matrix e King’s Man), os nacionais são muito melhores!

O Esquadrão Suicida

Crítica – O Esquadrão Suicida

Vou começar lançando a polêmica: será que estamos diante do melhor filme da DCEU?

Sinopse (imdb): Os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados na prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese, infundida pelo inimigo.

Antes de começar, vamos explicar as siglas. A Marvel tem o MCU, o Marvel Cinematic Universe, que é o universo onde estão situados as dezenas de filmes. DCEU é o DC Extended Universe, o paralelo da DC. Não leio HQs, então não posso palpitar sobre qual editora é mais bem sucedida nos quadrinhos. Mas no cinema, nem o mais fanático fã da DC vai deixar de reconhecer a superioridade da Marvel.

(Bem, fãs fanáticos às vezes têm cegueira seletiva, então se o cara é muito fanático ele não vai reconhecer os fatos. Mas isso é assunto pra outro post.)

Em 2016 a gente viu o primeiro filme do Esquadrão Suicida, que teve um trailer excelente, um bom início, mas que depois se perdeu completamente e conseguiu decepcionar quase todo mundo. Até achei que iam desistir do time do Esquadrão Suicida, deixa pra lá, foi uma parada que não deu certo.

Mas aí apareceu um James Gunn no horizonte. Vamos lembrar quem é James Gunn? O cara começou na Troma, produtora de filmes trash, acho que seu primeiro trabalho no cinema foi o roteiro de Tromeu e Julieta, de 1996. Ele tinha uma carreira discreta, com filmes “menores” como Seres Rastejantes (2006) e Super (2010), até que foi contratado pela Marvel pra fazer Guardiões da Galáxia. Só pra dar um exemplo da proporção: o orçamento de Super era de 2,5 milhões de dólares, enquanto Guardiões tinha 170 milhões.

Guardiões da Galáxia era um projeto audacioso. Um filme que se encaixaria nos filmes dos Vingadores, mas era uma aventura espacial com um grupo que tinha um guaxinim e uma árvore, feito por um diretor que começou na Troma. E o resultado foi excelente, um dos melhores filmes do MCU (lembrando que tem um monte de filmes bons no MCU!).

Claro que a moral do James Gunn subiu. Ele fez o Guardiões volume 2, e ia fazer o terceiro – até que resolveram catar uns tweets politicamente incorretos que ele tinha feito anos antes, e a conservadora Disney (como mencionei no texto de anteontem sobre Jungle Cruise) o demitiu.

A Warner então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida – afinal, tanto os Guardiões quanto o Esquadrão são grupos de anti-heróis com alguns esquisitões no meio.

Vendo isso, a Disney o recontratou pra fazer Guardiões 3, mas antes ele ainda ia fazer este Esquadrão Suicida antes.

E agora a gente tem um James Gunn livre das restrições da Disney. O Esquadrão Suicida parece uma mistura dos anti-heróis de Guardiões da Galáxia com a violência e o humor politicamente correto do Deadpool. Um filme violento, engraçado, e, principalmente, divertidíssimo!

Antes de entrar no filme, vamos à pergunta: é uma continuação ou um reboot? Na verdade, tem cara de reboot, mas é uma continuação. Alguns personagens do outro filme voltam. Mas não precisa (re)ver aquele, a história aqui é independente.

Uma das poucas coisas boas do primeiro filme foi a introdução dos personagens. Aqui não tem isso, sabemos pouco sobre cada um. Mas sabe que não fez falta? O filme até faz piada com isso.

Falei que o filme era violento, né? MUITO violento. Sem entrar em spoilers, mas muita gente morre no filme. Aliás, essa é uma grande diferença para os filmes de super heróis que a gente está acostumado. Aqui morre um monte de gente, tanto personagens quanto extras. Mas não são mortes dramáticas – apesar de algumas serem bem gráficas – tem tiro na cara, tem cabeça explodindo… O filme tem muito sangue, mas a pegada é humor negro – várias mortes geram gargalhadas.

Um bom exemplo disso é uma sequência muito boa onde rola quase uma competição entre o Idris Elba e o John Cena pra ver quem é mais eficiente matando. E quase todas as mortes são engraçadíssimas. E o encerramento da sequência é inesperado e genial!

Uma coisa que gostei muito aqui é justamente essa imprevisibilidade. O roteiro sai do óbvio várias vezes (característica que também acontecia em Guardiões da Galáxia). Você está vendo a cena, achando que ela vai ter uma conclusão, e o roteiro te dá uma rasteira e mostra outro caminho. Gosto disso, gosto de ser surpreendido por soluções fora do óbvio.

As cenas de ação são muito boas. São várias, com vários personagens, e a câmera sempre consegue mostrar bem a ação. E os efeitos especiais também são ótimos. Falei mal da onça de Jungle Cruise, né? O Tubarão Nanaue aqui é muito mais bem feito. Ok, parece uma ideia reciclada, um novo Groot – inclusive porque ambos são dublados por atores famosos (o Groot é o Vin Diesel; o Nanaue é o Sylvester Stallone). Mas, assim como o Groot é um personagem adorável, digo o mesmo sobre o Nanaue.

Ah, ainda nos efeitos. O filme é entrecortado por intertítulos, como se fossem títulos para cada capítulo. E esses intertítulos são escritos com elementos que estão na cena. Boa ideia. Simples e eficiente.

Claro que ainda preciso falar da trilha sonora. Assim como nos dois Guardiões, a trilha aqui é muito bem escolhida. E, olha só, tem música brasileira no meio!

O elenco é ótimo. Mas, como falei, morrem personagens, então não vou entrar em detalhes sobre cada um, pra não dar indícios de quais são os mais importantes. Pelo star power do elenco, arrisco a dizer que os principais seriam Margot Robbie e Idris Elba, mas o filme divide bem o protagonismo entre todo o time. Tem a Alice Braga, num papel pequeno mas importante, mais um filme fantástico na carreira dela (comentei sobre isso no texto sobre Novos Mutantes). Também no elenco, Michael Rooker, Viola Davis, Joel Kinnaman, Nathan Fillion, Jai Courtney, Sean Gunn, John Cena, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Peter Capaldi e uma ponta do Taika Waititi (pisque o olho e você perderá!).

Se for pra falar mal de alguma coisa, falo do vilão Thinker, interpretado pelo Peter Capaldi. Personagem sub aproveitado. Não estraga o filme, claro. Mas é um personagem besta.

Heu poderia continuar falando aqui, mas chega. O filme estreia hoje, quero rever assim que possível. E recomendo pra qualquer um que goste de se divertir nos cinemas.

Ah, tem cena pós créditos! Fiquem até o fim do filme!

Por fim, só pra confirmar a frase do início. Não dá pra comparar este filme com filmes de fora do DCEU, como Coringa ou a trilogia do Nolan, porque são propostas completamente diferentes. Agora, dentro do DCEU, já tivemos Homem de Aço, Batman vs Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha, Liga da Justiça, Aquaman, Shazam, Aves de Rapina, Mulher Maravilha 84 e o novo Liga da Justiça versão do diretor. Alguns bons, outros maomeno, outros ruins. É, olhando a lista, O Esquadrão Suicida é realmente o melhor até agora.

#pas

Soul

Crítica – Soul

Vamos de Pixar?

Sinopse (imdb): Depois de conseguir o emprego de sua vida, um pianista de jazz de Nova York de repente se vê preso em um mundo estranho entre a Terra e a vida após a morte.

A Pixar deu azar com a pandemia. Em 2019, lançou Toy Story 4, e a previsão era dois longas pra 2020, Dois Irmãos (Onward) e Soul. Mas, na época do lançamento mundial de Dois Irmãos, veio a pandemia e o filme nem chegou a passar nos cinemas de alguns países – o Brasil estava nessa leva.

E o cinema entrou em compasso de espera, porque ninguém sabe quando poderemos ter salas cheias de novo.

Dois Irmãos saiu pelo streaming, e perdeu o “bonde do hype” (e nunca saberemos se a história seria outra se fosse lançado no cinema). Mas, com Soul, parece que o lançamento via streaming deu certo.

Antes de entrar no filme, queria falar que esse tema falou diretamente comigo. Já vivi essa situação de “quero viver de música, vou esperar a minha grande chance, e vou dar aulas enquanto isso não acontecer”. Felizmente posso dizer que hoje vivo feliz trabalhando com outras coisas e deixando a música como um hobby sério. Mas o Helvecio de 25 anos era bem parecido com o protagonista de Soul.

Vamos ao filme? Muita gente está comparando Soul com Divertida Mente – porque ambos trazem mundos paralelos ao nosso, mostrando o que seriam os bastidores de coisas da nossa vida – se um fala das emoções, o outro fala de antes e depois da nossa vida aqui nesse planeta. E a comparação tem lógica, afinal ambos os filmes foram dirigidos pelo mesmo Pete Docter (que ainda fez Up e Monstros S.A.).

Soul consegue criar todo um universo onde as almas se preparam para vir para a Terra. E, claro, como acontece na maioria dos limes da Pixar, temos um mundo visualmente rico, personagens bem construídos, e uma trama com momentos engraçadíssimos, ao lado de momentos onde a maior parte do público vai chorar de emoção.

O traço do desenho é fantástico. Nas cenas de Nova York, o traço é tão bem feito que às vezes parece que filmaram os cenários. E, pra contrastar com os desenhos perfeitos, temos alguns personagens – os “Zés” – que são feitos de uma única linha, sem profundidade. Ficou genial!

Só mais um comentário sobre o traço do desenho. Não me lembro de nenhum desenho animado onde vemos um piano sendo tocado de maneira tão perfeita. Você vê os dedos do personagem nas teclas do piano, a sincronia é perfeita!

Sobre a trilha sonora, a surpresa positiva foi descobrir que foi feita por Trent Reznor e Atticus Ross – dupla que fez a trilha de vários filmes do David Fincher, como Mank, Garota Exemplar, Millenium, A Rede Social (até ganharam o Oscar por este último). Heu já curtia as trilhas da dupla, mas não tinha ideia que seriam capazes de fazer uma trilha de jazz, e logo uma trilha tão boa. Afinal, eles são do Nine Inch Nails, que é uma banda de rock industrial e eletrônico.

Vi dublado, quando vi que os dois atores principais são Jamie Foxx e Tina Fey, deu vontade de rever legendado. Gosto muito de ambos. E entre as vozes originais, ainda tem a Alice Braga como um dos Zés!

Os Novos Mutantes

Crítica – Os Novos Mutantes

(Não, não vou falar da versão d’Os Mutantes sem a Rita Lee)

Sinopse (imdb): Cinco jovens mutantes, apenas descobrindo suas habilidades enquanto mantidos em uma instalação secreta contra sua vontade, lutam para escapar de seus pecados passados ​​e se salvar.

Finalmente estreou Os Novos Mutantes (The New Mutants, no original). E quando falo “finalmente”, não é porque heu estava aguardando ansiosamente, mas porque esse filme foi adiado diversas vezes. Já até tinha virado piada interna no Podcrastinadores, porque já citamos esse lançamento em alguns episódios de “expectativas pro ano que vem”.

Não fui procurar detalhes da produção, mas sei que a mesma passou vários problemas. Claro que isso refletiu no resultado que vemos na tela, infelizmente. Vamos primeiro ao filme, depois a gente fala um pouco sobre os percalços.

O diretor Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) declarou que é o primeiro filme ao mesmo tempo de terror e super heróis. Achei boa a ideia, mas, não, não é a primeira vez. Sem precisar de muito esforço me lembro de Brightburn, que era uma versão terror do Superman.

A proposta era um filme de terror paralelo ao universo dos X-Men (que são citados, mas não mostrados). Gostei da ambientação no hospital / sanatório. Segundo o imdb, a produção se inspirou em Um Estranho no Ninho, Clube dos Cinco e A Hora do Pesadelo 3, a mistura ficou boa. Mas a gente logo vê que é uma produção sem dinheiro – a médica interpretada pela Alice Braga aparentemente trabalha sozinha naquele prédio enorme – ela deve ser médica, segurança, cozinheira, faxineira e responsável por serviços gerais. Será que era tão caro contratar uns dois ou três atores secundários e colocá-los de jaleco branco ao lado dela?

Mas esse não é o pior problema. A protagonista Blu Hunt é uma atriz sem graça interpretando uma personagem sem graça (no imdb, o seu nome é o quinto a ser creditado!). Carisma zero. Se o protagonismo fosse com a Anya Taylor-Joy, talvez o filme fluísse melhor. O poster do filme concorda comigo, a Anya está em destaque, enquanto a Blu está escondida.

E aí a gente vê os problemas da produção. Provavelmente houve mudanças desde o projeto inicial até o resultado nas telas (em um dos pôsteres do filme o cabelo da Maisie Williams está diferente!). E nem todas as mudanças surtiram efeito, e assim coisas ficam soltas no ar. Por exemplo, gostei do “monstro” que assombra a Anya Taylor-Joy, mas ele é pouco explorado pelo roteiro. A ideia inicial era fazer uma trilogia, talvez esse plot fosse desenvolvido. Mas aparentemente não teremos continuação…

O elenco diminuto traz nomes com potencial de criar hype – Anya Taylor-Joy, de A Bruxa e Fragmentado; Maisie Williams, de Game Of Thrones; e Charlie Heaton, de Stranger Things. Mas acho que só Anya se salva. Uma curiosidade pro público brasileiro: o personagem Roberto é brasileiro, e o ator que o interpreta, Henry Zaga, também é – ele solta umas duas frases em português, ia ficar tosco se fosse um gringo. Aliás, não nos esqueçamos de Alice Braga. Produção gringa com dois atores brasileiros, pena que é uma produção que naufragou.

(Já repararam que, aos poucos, Alice Braga constrói uma sólida carreira no cinema fantástico hollywoodiano? Ela também estava em Predadores, Elysium, Eu Sou A Lenda, Repo Men, O Ritual, Ensaio Sobre a Cegueira…)

2020, pandemia, cinemas vazios, Os Novos Mutantes finalmente foi lançado. Não tem como não pensar que foi de propósito. Afinal, “se a bilheteria for ruim, a culpa é da pandemia”.

Elysium

Crítica – Elysium

Um dos mais esperados filmes do ano!

Em 2154, onde os muito ricos moram numa estação espacial, o Elysium, enquanto os outros, pobres, vivem na Terra, que virou uma gigantesca favela, decadente e superpopulada, um operário tem uma missão que pode trazer igualdade a esse mundo dividido.

Por que citei Elysium como um dos mais esperados do ano? Bem, quase todos os cinéfilos brasileiros estavam curiosos pela estreia hollywoodiana de Wagner Moura, aproveitando o sucesso internacional do seu Capitão Nascimento nos dois Tropa de Elite – Alice Braga também está no elenco, mas ela já fez vários filmes na “gringolândia”. Mas, além de torcer pelo sucesso de Moura, heu também estava curioso por ser o novo filme escrito e dirigido por Neill Blomkamp, o mesmo do excelente Distrito 9, um filme sul-africano que surpreendeu o mundo ao usar a ficção científica como metáfora para o Apartheid. Chegou a concorrer a quatro Oscars em 2010, incluindo melhor roteiro adaptado e melhor filme!

E como foi o resultado do segundo filme de Blomkamp? Bem, o resultado é positivo, mas poderia ser melhor…

O problema aqui é a comparação. Distrito 9 era, ao mesmo tempo, uma eletrizante ficção científica e uma pungente crítica social. Elysium funciona muito bem como FC, mas falha na parte social.

Spoilers leves no próximo parágrafo, ok?

Blomkamp tentou fazer uma crítica à segregação de classes sociais e à situação dos imigrantes ilegais, mas se perdeu na parte final do filme. E olha que não estou citando o maniqueísmo: todos os ricos são maus, muito maus! E ainda são capitalistas burros: se aquela “cama médica” é tão prática e tão comum a ponto de estar presente em todas as residências de Elysium, por que não trazer algumas pra Terra e vender os serviços a “preços módicos”?

Fim dos spoilers!

Provavelmente Blomkamp sofreu influência dos executivos norte-americanos. Diz a lenda que o seu roteiro foi alterado, mas como não temos acesso ao roteiro inicial, não sabemos se é verdade. Felizmente a parte “diversão” funciona muito bem. O ritmo do filme é muito bom, e os efeitos especiais são extremamente bem feitos.

E o Wagner Moura, como se saiu?

Moura é coadjuvante, o filme é de Matt Damon. Mas é um coadjuvante importantíssimo na trama, e está muito bem no seu papel de Spider, uma espécie de chefão do tráfico misturado com hacker. Aliás, tem uma cena engraçada para os brasileiros: certo momento, Spider tem uma explosão de raiva e grita dois palavrões em português…

Alice Braga tem um papel mais fraco, apesar de ser o interesse romântico do protagonista. Mas tudo bem, ela já mostrou seu talento em outras ocasiões em Hollywood – inclusive, em filmes de ação / ficção científica, como PredadoresRepo Men e Eu Sou A Lenda.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o filme anterior do diretor.

O bom elenco “off-Hollywood” ainda conta com o mexicano Diego Luna e o sul-africano Sharlto Copley (que também estava em Distrito 9). Não sei se foi coincidência, mas achei uma boa escolha usar atores que conhecem de perto a situação de países subdesenvolvidos para viverem os moradores do planeta Terra devastado. Ainda no elenco, os “gringos” Jodie Foster e William Fichtner.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o currículo prévio do diretor…

O Ritual

Crítica – O Ritual

O seminarista Michael Kovac, em crise com a própria fé, vai para o Vaticano fazer um “curso de exorcismo”, e cria um elo com o padre Lucas, um famoso exorcista.

Filmes de exorcismo têm um problema sério: é inevitável a comparação com o clássico O Exorcista, de 1973 – logo um dos melhores filmes de terror da história.

Mas, dentre os diversos filmes de exorcismo que apareceram nos últimos tempos, O Ritual não faz feio. O filme tem pelo menos duas coisas dignas de destaque. Uma delas é o realismo do roteiro. O próprio personagem padre Lucas fala que não devemos esperar por “cabeças girando e sopa de ervilha” – uma clara referência à escatologia d’O Exorcista. Além disso, o cético padre Michael vive questionando a veracidade dos casos de exorcismo que enfrenta.

A outra coisa boa é o elenco acima da média. Ok, o ator principal, o desconhecido Colin O’Donoghue, não faz nada demais (só heu achei ele igualzinho a Jared Padalecki, o Sam Winchester de Supernatural?). Mas, por outro lado, Anthony Hopkins arrebenta! Só a sua atuação na parte final do filme já vale o ingresso / aluguel / download. Completam o elenco Alice Braga, Rutger Hauer, Ciarán Hinds, Toby Jones e Maria Grazia Cucinotta.

A direção é de Mikael Håfström, que recentemente fez o bom 1408, com John Cusack. O roteiro, baseado em fatos reais, não é perfeito, tem alguns clichês aqui e alguns escorregões acolá, mas acerta no geral.

O Ritual não ameaça o posto de “melhor filme de exorcismo da história”. Mas vai agradar os fãs do gênero.

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Se você gostou de O Ritual, o Blog do Heu recomenda:
O Último Exorcismo
Evocando Espíritos
Sobrenatural
Conspiração Xangai

Território Restrito

Território Restrito

Um painel sobre imigrantes de diferentes nacionalidades lutando pela legalização em Los Angeles. O filme lida com problemas com a fronteira, fraude de documento, processo de obtenção do green card, locais de trabalho para imigrantes ilegais, naturalização, terrorismo e, claro, choque de culturas.

Território Restrito é um daqueles filmes de narrativa fragmentada, mostrando vários personagens que nem sempre se cruzam. Já vimos isso antes, isso às vezes funciona, mas nem sempre. O resultado aqui é mediano.

O que gostei é que o filme escrito e dirigido por Wayne Kramer não levanta bandeiras. Em algumas subtramas, os EUA são os “mocinhos”; em outras, são os vilões. Várias raças diferentes são mostradas, e cada uma tem um caminho diferente, independente da imagem que teremos sobre o país onde querem entrar.

É difícil falar sobre o elenco de um filme assim, afinal, cada ator tem muito pouco tempo na tela. Mas deu pena da Alice Braga. Lembro que falaram do Rodrigo Santoro em As Panteras, porque ele não falava nada. Mas seu papel não era tão pequeno. Alice Braga contracena com Harrison Ford, mas só aparece em uma única cena! Sua personagem continua sendo citada, mas ela já devia estar no set de outro filme… Além dos dois, o elenco conta com Ray Liotta, Ashley Judd, Jim Sturgess, Cliff Curtis, Alice Eve, Lizzy Caplan e Sarah Shahi.

O ritmo é um pouco lento, mas a narrativa fragmentada traz fluidez ao filme, que não fica chato em nenhum momento.

Território Restrito não é um filme essencial, mas pode ser uma boa opção.

P.s.: Curiosidade sobre o poster nacional: rolou uma “photoshopada”. No poster original, não era a Alice Braga, era o Ray Liotta à direita…

Predadores

Predadores

Um grupo de soldados de elite, estranhos entre si, vindos de lugares diferentes, se encontra numa floresta desconhecida e precisa lutar contra um misterioso inimigo.

Todos aqui conhecem a franquia Predador, certo? Tivemos Predador em 1987 e sua continuação em 90; recentemente, dois Alien Vs Predador (2004 e 07). Pra quem não sabe do que se trata: o predador é um caçador, vindo de outro planeta. Usa uma avançada tática de camuflagem e poderosas armas. E caça por esporte.

Aí vem a pergunta: precisa de mais um, já que os dois AVP foram fraquinhos? O que mais me chamou a atenção nesta nova produção com cara de caça níqueis vagabundo foi o nome Robert Rodriguez na produção. Sou fã do cara, se ele assina, merece um crédito… Porque admito que nunca tinha ouvido falar do diretor Nimrod Antal.

O roteiro traz uma surpresa logo de cara, que diz respeito a onde eles estão. E, lá pro meio, traz outra surpresa legal. Mais não digo por causa dos spoilers. Mas posso dizer que tudo está coerente com o conceito da franquia.

Quando li quem liderava o elenco, me questionei o que diabos Adrien Brody estava fazendo aqui. Caramba! O cara ganhou o Oscar de melhor ator há sete anos, e agora faz uma continuação de um filme de ação descerebrado? Mas, reconheço que ele até que funciona… Brody está fortão, com cara de mau e voz gutural de Batman. Coerente com o papel.

O elenco é acima da média, em se considerando que o segundo filme, de 1990, tinha Danny Glover como nome mais famoso. Além de Brody, temos Topher Grace (o eterno Forman de That 70’s Show), Danny Trejo (esse cara deve ser amigo do Robert Rodriguez…), Laurence Fishburne, Walton Goggins, Oleg Taktarov e Alice Braga.

(Aliás, Alice Braga está mandando bem em sua carreira internacional de filmes de ação / ficção científica. Depois de Eu Sou a Lenda e Repo Men, aqui ela é, mais uma vez, o principal papel feminino!)

O ponto fraco do elenco foi Laurence Fishburne. Gosto dele, é um bom ator, mas achei seu personagem completamente inconsistente – além de estar acima do peso exigido pelo papel!

O roteiro ainda tem alguns furos (como é que o médico saiu no meio da explosão, se ele estava bem distante dos outros?). Mas, para o que o filme se propõe, funciona. E os efeitos especiais e cenários são muito legais.

Boa diversão descerebrada!

Repo Men

Repo Men

No futuro, qualquer órgão do seu corpo poderá ser trocado por um artificial. Mas, no caso de falta de pagamento, este órgão poderá ser retirado de você por um funcionário da companhia fornecedora…

Antes de falar do filme, preciso falar de outra coisa. O argumento é interessante, mas é muito parecido com o recente Repo – The Genetic Opera, um musical de terror, onde órgãos transplantados e não pagos são retirados da mesma forma. E, pra piorar, alguns detalhes ainda ajudam na semelhança, como a existência de uma nova droga sintética (droga em pó vermelho vs zydrate); ou a cantora com olhos modificados em ambos os filmes… Isso sem falar no próprio nome dos coletores de órgãos, chamados de repo men em ambos os filmes!

Mas, apesar da semelhança, Darren Lynn Bousman, o diretor de Repo – The Genetic Opera, declarou que todos devem assistir o novo filme. Provavelmente ele sabe que não tem como competir com um grande lançamento – Repo – The Genetic Opera foi lançado em 2008 em 11 salas; Repo Men, de 2010, foi para 2.600 salas…

Mas vamos ao filme!

A sinopse é aquilo que falei, né? Órgãos artificiais são vendidos através de financiamentos. Atrasou o pagamento, vem um Repo Man e toma o órgão de volta. A diferença é que aqui não é musical nem terror, é uma ficção científica misturada com policial, lembra um pouco Blade Runner.

É o filme de estreia do quase desconhecido Miguel Sapochnik, e traz no elenco alguns nomes famosos: os sempre competentes Jude Law e Forest Whitaker, além de Liev Schreiber, Carice van Houten e a “nossa” Alice Braga. Ninguém se destaca, mas também ninguém atrapalha.

O clima do filme é bem legal. Tão legal que a gente quase deixa de lado um monte de incoerências do roteiro. Pena que tem coisas que não dá pra deixar passar, como, por exemplo, como é que um cara, com emprego fixo, perde todos os três primeiros pagamentos? (Não é interessante para a companhia perder um devedor!). Ou: onde estão as armas de fogo?

O filme ainda tem espaço para uma citação genial. Determinada cena, Law e Whitaker estão vendo tv. E na tv está passando O Sentido a Vida, do Monty Python – justamente a cena do doador der órgãos!

Apesar de não ser novidade, o final é legal, e salvou o terço final do filme, onde parecia que o roteirista tinha perdido a mão.

Se você gosta do estilo e não se importa com ideias “requentadas”, este é uma boa opção!

P.s.1: se o argumento é muito parecido com Repo – The Genetic Opera, o roteiro lembra muito Brazil, o filme, de Terry Gilliam. Em Brazil, um funcionário modelo de uma grande corporação acaba sendo perseguido pelo seu colega e se envolvendo com uma mulher quase desconhecida no meio do caminho. Isso sem falar do fim de ambos, mas aqui não falo mais por causa de spoilers!

P.s.2: existe um filme quase homônimo, o Repo Man, dirigido pelo cult Alex Cox em 1984. Não vi este, mas pelo que li por aí, não tem nada a ver, é só coincidência.