Suitable Flesh

Crítica – Suitable Flesh

Sinopse (imdb): Uma psiquiatra fica obcecada por um jovem cliente com múltiplas personalidades.

Filme novo baseado em HP Lovecraft!

Antes do filme, um breve parágrafo pra contextualizar. HP Lovecraft é um dos grandes nomes da literatura clássica de terror, mas suas histórias devem ser difíceis de se adaptar. Anos atrás fiz aqui no heuvi um top 10 de adaptações de Lovecraft, e constatei que não deve existir material para um top 20. Provavelmente os filmes mais conhecidos baseados na sua obra são Re-Animator (1985) e From Beyond (1986), ambos dirigidos por Stuart Gordon e estrelados por Jeffrey Combs e Barbara Crampton. Este Suitable Flesh é uma espécie de homenagem ao diretor Gordon, falecido em 2020.

(Gordon ainda dirigiu outros dois filmes menos conhecidos baseados em Lovecraft, Dagon, de 2001, e Sonhos na Casa das Bruxas, telefilme que estava na série Mestres do Terror.)

Dirigido pelo desconhecido Joe Lynch, Suitable Flesh parece um filme B dos anos 80 / 90, com toques eróticos, bem no estilo dos filmes dirigidos por Gordon. O roteiro é de Dennis Paoli, também roteirista das quatro adaptações citadas. Mas, um detalhe curioso: tem ar de filme B, mas não é comédia. A galhofa aqui tem um clima mais sério.

Suitable Flesh é a adaptação do conto “The Thing on the Doorstep”, de 1937. O legal aqui é que existe um demônio ou entidade que fica trocando de corpo, então boa parte do elenco tem momentos onde está vivendo outra personalidade. E na parte do gore, tirando uma cena aqui e outra ali, não tem muitas cenas graficamente fortes.

O elenco é melhor do que o esperado, Suitable Flesh tem três nomes “médios”. Heather Graham estrela o filme e, aos cinquenta e três anos de idade, ainda arrisca uma breve cena de nudez parcial. Barbara Crampton, ela mesma, dos filmes do Stuart Gordon, tem um papel importante e ainda é uma das produtoras (e continua linda aos sessenta e seis anos de idade). E Jonathan Schaech, que estava em vários filmes nos anos 90, mas sempre vou me lembrar dele em The Wonders, faz o marido da Heather Graham. Completa o elenco principal Judah Lewis, de A Babá. Só faltou o Jeffrey Combs, não sei qual foi o motivo pra ele não estar aqui.

Agora, precisa entrar na onda do filme. Porque é um filme divertido, mas ao mesmo tempo é exagerado, e tem um pé no trash. Quem curtia o estilo dos filmes do Gordon vai se divertir. Mas acho que boa parte do público de hoje em dia vai torcer o nariz.

Boogie Woogie

Boogie Woogie

Sou muito fã do filme Boogie Nights, com a Heather Graham. Quando heu soube de um filme com a mesma atriz, chamado Boogie Woogie, corri para ver!

Mas Boogie Woogie não tem nada a ver com os temas do filme de 1997. Boogie Woogie é um quadro de Mondrian, e o filme aqui fala de arte moderna. O filme mostra os bastidores da cena londrina contemporânea de arte moderna.

O elenco é muito bom. Heather Graham, Amanda Seyfried, Gillian Anderson, Charlotte Rampling, Gemma Atkinson, Jaime Winstone, Christopher Lee, Alan Cumming, Danny Huston e Stellan Skarsgard, entre outros menos cotados. Mas o roteiro é fraco… As várias situações são jogadas aparentemente sem um objetivo, sem seguir uma ordem lógica. Por exemplo, pra que serviu a cena da cirurgia de Paige?

Boogie Woogie foi baseado num livro homônimo, provavelmente no livro tudo é melhor explicado. Mas aqui no filme não funciona…

Mesmo assim, por ter uma edição ágil e ser um filme curtinho (pouco mais de hora e meia), e pelo elenco, Boogie Woogie não é chato. Pode ser uma opção para quem não for muito exigente.

Se Beber, Não Case!

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Se Beber, Não Case!

Quatro amigos vão para Las Vegas para a despedida de solteiro de um deles. Só que, na manhã seguinte, quando acordam no meio de uma ressaca enorme, com um caos no quarto do hotel, descobrem que não se lembram de nada que aconteceu na noite anterior.

Sim, tem cara de comédia pastelão besta. Ou então mais um “filme com cara de Judd Apatow” (O Virgem de 40 anos) – comédias bem construídas, mas pouco engraçadas. Mas não – o filme (The Hangover no original) é uma agradável surpresa, muito engraçado e cheio de piadas politicamente incorretas.

A estrutura lembra um pouco Cara, Cadê meu Carro?, onde Sean William Scott e Ashton Kutcher precisam refazer os passos da noite anterior para descobrir onde deixaram o carro. Aqui, os três amigos acordam em Las Vegas e não se lembram de nada que aconteceu na última noite. Só que, diferente do outro filme, em vez do carro, eles perderam o noivo – dois dias antes do casamento!

Um dos trunfos do filme do diretor Todd Philips e dos roteiristas Jon Lucas e Scott Moore é o elenco, de nomes quase desconhecidos. Os três amigos do noivo, Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) e Alan (Zach Galifianakis), cada um com sua personalidade distinta, são muito bem construídos. A improvável amizade entre os três é responsável por boa parte das piadas do filme.

Os personagens secundários também são legais, e aqui temos pelo menos dois rostos conhecidos. Heather Graham (a Rollergirl de Boogie Nights) faz uma prostituta boazinha, e Mike Tyson – sim, o boxeador – interpreta ele mesmo.

O título em português é que é horrível. Afinal, não tem nada a ver com o enredo do filme… Por que não uma simples tradução: “A Ressaca”?

Boogie Nights – Prazer Sem Limites

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Boogie Nights – Prazer Sem Limites

No final da década de 70, um jovem bem-dotado é descoberto por um diretor de filmes adultos. Rapidamente, ele vira um astro do cinema erótico e passa a conviver com os excessos do trinômio sexo, drogas e disco music.

Em seu segundo longa, o diretor e roteirista Paul Thomas Anderson revela um raro talento ao mostrar a ascenção e queda de um ator pornô, e todo o universo em torno disso. Um excelente retrato do cinema erótico do fim dos anos 70 ao início dos anos 80 – quando a película deu lugar ao video-cassete.

Uma excelente galeria de personagens e um elenco perto da perfeição também ajudam, e muito. O quase sempre insosso Mark Wahlberg funciona bem como o protagonista Dirk Diggler – temos inclusive uma cena dele com o, digamos, “instrumento de trabalho” para fora das calças (meninas, o ator usou uma prótese!). Burt Reynolds é Jack Horner, o diretor old school que teima em continuar usando película porque quer fazer cinema e não vídeo (dizem que foi inspirado no diretor pornô Alex de Renzy). Julianne Moore está maravilhosa (como sempre) como Amber Waves, atriz mais experiente, passando por problemas com a guarda do filho (curiosidade: esse papel foi inspirado na atriz pornô Veronica Hart, que passou pelo mesmo problema na vida real; Veronica faz a juíza que julga o caso de Amber). E acho que Heather Graham nunca esteve tão bonita quanto aqui, interpretando a Rollergirl, atriz pornô que nunca tira os patins. E ainda temos John C. Reilly, Don Cheadle, William H. Macy, Luiz Guzman, Philip Seymour Hoffman, Thomas Jane e Alfred Molina, entre outros.

(Outra curiosidade sobre o elenco: a mulher do personagem do William H. Macy é interpretada pela Nina Hartley, atriz pornô na vida real!)

Rumores dizem que Dirk Diggler seria inspirado em John Holmes, um dos maiores nomes da história do pornô. Holmes também era famoso por ser bem-dotado, também teve uma carreira paralela de filmes de ação, também se envolveu com drogas e também tem uma história mal contada envolvendo violência e assassinatos (o filme Crimes em Wonderland, estrelado por Val Kilmer, conta isso com detalhes). Mas tenho cá minhas dúvidas se isso é verdade. Afinal, o próprio Holmes é citado em uma cena do filme, como se fosse um contemporâneo de Diggler.

Boogie Nights ainda tem uma peculiaridade técnica bastante interessante. Sabe a cena inicial de A Marca da Maldade, de Orson Welles, onde, num único plano-sequencia, uma câmera passeia entre vários personagens e as coisas vão acontecendo em volta deste travelling? Esta técnica foi usada por um monte de gente legal, como Robert Altman em O Jogador, ou Brian de Palma em Olhos de Serpente. Pois bem, se uma cena destas é difícil de se fazer, P.T. Anderson mostra habilidade, e faz isso aqui vááárias vezes.

Some a isso tudo uma boa trilha sonora e uma perfeita dosagem entre humor e violência (às vezes lembra Tarantino!), e temos um dos melhores filmes de 97.

Este filme não existia no mercado brasileiro de dvds, mas foi lançado recentemente! Vale a pena comprar!