O Beco do Pesadelo

Crítica – O Beco do Pesadelo

Sinopse (imdb): Um jovem ambicioso com talento para manipular pessoas com algumas palavras bem escolhidas junta-se a uma psiquiatra que é ainda mais perigosa do que ele.

Apesar de ter uma carreira irregular, Guillermo del Toro sempre vai estar no meu radar. Sim, o cara fez Pacific Rim e A Colina Escarlate, mas ele também fez A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (e Blade 2, e os dois Hellboy). E não podemos nos esquecer que seu último filme, A Forma da Água, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor (além de ter entrado no top 10 de 2018 aqui no heuvi).

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, no original) traz tudo o que se espera num filme do del Toro. Elementos fantásticos, monstros (mesmo sem o filme entrar no sobrenatural), um pé no bizarro e outro no grotesco, e tudo isso embalado em um requinte visual extremamente bem cuidado.

Pena que o filme é chato. Vamulá.

O visual do filme é um espetáculo. Cenários, figurinos, props, todos os detalhes mostrados em tela são cuidadosamente escolhidos. A primeira parte do filme mostra aqueles circos dos horrores que existiam décadas atrás, com pessoas “diferentes”. O filme não mostra nada de sobrenatural, mas os elementos fantásticos estão nas atrações do circo.

O Beco do Pesadelo não é exatamente terror, está mais para uma espécie de film noir (principalmente na segunda metade), e todo esse visual ajuda. Como A Forma da Água levou os principais Oscars em 2018, provavelmente a Academia vai ficar de olho em O Beco do Pesadelo e teremos indicações a Oscars nessa área – de fotografia, direção de arte, de repente até melhor cabelo e maquiagem.

Ah, falando da maquiagem, citei lá em cima “um pé no grotesco”. Normalmente quando um filme mostra gore, foca no gore justamente para chocar. Se não é pra chocar, não precisa de gore. Del Toro usa o gore de uma maneira diferente do usual. Um exemplo: em determinado momento um personagem leva um tiro na orelha, e ficam pedaços de orelha pendurados. Se fosse só pra chocar por chocar, del Toro faria closes para aumentar a exposição da orelha despedaçada. Mas não, a orelha está lá, ao fundo…

Agora, o filme é longo demais, e cansa em alguns momentos. São duas horas e meia, e a gente se pergunta se precisava de tudo isso. Existe outra versão desta mesma história, no filme O Beco das Almas Perdidas, de 1947. Este não é uma refilmagem daquele, del Toro usou o mesmo livro original, escrito por William Lindsay Gresham, e fez uma nova adaptação. Não vi o filme anterior, mas sei que ele tem 40 minutos a menos. Se esta nova versão tivesse 40 minutos a menos, provavelmente ia ser menos cansativo.

Pelo menos a parte final é boa. A última meia hora do filme é tensa e tem um ótimo ritmo. Pelo menos a gente sai do cinema empolgado.

O elenco é muito bom. Bradley Cooper está bem, e precisa estar, já que o filme é todo em cima do seu personagem. Cate Blanchett, Toni Collette e Rooney Mara dividem a tela com o protagonista, em fases diferentes do filme. Willem Dafoe está bem, mas aparece pouco. Também no elenco, Richard Jenkins, Ron Perlman, David Strathairn, e breves participações de Mary Steenburgen e Tim Blake Nelson.

Ao fim, me lembrei de A Colina Escarlate. Um belo filme, mas chato.

Dirty Girl

Crítica – Dirty Girl

1987. Danielle é a “bad girl” da escola. Seu mau comportamento faz com que ela seja transferida para uma turma especial, só de alunos problemáticos, onde ela é escalada para um trabalho de grupo ao lado de um gordinho gay.

Mistura de drama com comédia com “road movie”, Dirty Girl é um bom filme independente e por enquanto obscuro por aqui pelo Brasil – esse só deve chegar através de dvd, acho difícil ver um filme desses no cinema.

Longa de estreia do diretor e roteirista Abe Sylvia, Dirty Girl tem um problema: a primeira metade é melhor que a segunda. Senti uma queda no ritmo. Não que o filme tenha ficado ruim, mas é uma pena que o bom pique inicial não aguente a hora e meia de projeção.

No elenco, o grande nome é Juno Temple. Ainda desconhecida do grande público, Juno esteve em Desejo e Reparação e no novo Os Três Mosqueteiros, além de ter estrelado o bom (e underground) Kaboom – ela também está no novo Batman, mas esse ainda não estreou. Juno está ótima aqui, como uma garota que desperta ao mesmo tempo amor e ódio. O quase estreante  Jeremy Dozier também está muito bem como Clarke, o amigo gordo, gay e com problemas com o pai. Ainda no elenco, Milla Jovovich, Mary Steenburgen, Nicholas D’Agosto e William H. Macy.

Ah, preciso falar de um dos melhores personagens: Joan, o “saco de farinha”. Um trabalho da escola aproxima Danielle e Clarke: eles precisam cuidar de um saco de farinha como se fosse um filho. Eles pegam um pilot e desenham dois olhos e uma boca, o batizam de Joan e passam a carregar o saco de farinha para tudo quanto é canto. E os olhos e a boca (pintados) de Joan reagem a cada cena, criando um alívio cômico discreto e genial.

Gostei muito da ambientação do filme. Mas acho que os figurinistas erraram. O filme se passa em 1987, mas aqueles penteados e roupas estão mais próximos dos anos 70 do que dos 80. Se pelo menos fosse no início dos anos 80, ainda dava, mas 87 o visual já era outro…

Falando em cabelos, achei a Juno Temple a cara da atriz pornô Traci Lords. Não sei se foi intencional, mas, lá pra 87, Traci tinha um visual parecido. Vejam aqui:

(Traci Lords é a de cima…)

Enfim, Dirty Girl não é um filme essencial, mas é uma boa opção – principalmente pra quem curte os anos 80.

De Volta Para o Futuro 3

Crítica – De Volta Para o Futuro 3

Fechemos a trilogia!

Depois da frenética parte 2, a trilogia encerra com menos viagens no tempo. Agora em 1885, no velho oeste, Marty McFly e Doc Emmet Brown precisam descobrir como acelerar um carro para ativar o capacitor de fluxo. Enquanto isso, precisam evitar os confrontos com Bufford Tannen, antepassado de Biff.

Uma coisa muito legal aqui é a repetição de situações que ocorreram nos dois primeiros filmes, adaptadas para o ambiente do velho oeste. O roteiro, novamente escrito por Robert Zemeckis e Bob Gale, flui perfeitamente, e aproveita para brincar com clichês de filmes de faroeste. As referências à cultura pop são em menor quantidade, mas também estão presentes.

A manutenção do elenco foi importante para isso. Thomas F. Wilson, exagerado como nunca, brilha como o “Cachorro Louco” Tannen. Claro, temos novamente Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson e Elisabeth Shue. A novidade está com Mary Steenburgen, interpretando Clara, a única personagem que não tem nada a ver com os outros dois filmes.

Mas confesso que, dos três filmes, esse é que menos gosto. Não que seja fraco, longe disso, é que o nível da série é muito alto.

De Volta Para o Futuro 3 não só tem menos viagens no tempo, como tem um ritmo mais lento. Também rola uma leve mudança de foco – Doc Brown tem uma importância maior, chega a ter um par romântico. Isso não faz o filme ser ruim, mas o faz perder na comparação com os outros.

Mesmo assim, o filme dirigido por Zemeckis tem sequências de tirar o fôlego, como o tradicional duelo no velho oeste, ou a eletrizante parte final no trem. Mesmo um pouquinho mais fraco, é uma excelente conclusão para uma das melhores trilogias da história!