Um Tiro na Noite

Crítica – Um Tiro na Noite

Recentemente, revi Carrie, A Estranha. Empolgado, fui catar outro clássico do Brian De Palma pra rever.

Um técnico de som que trabalha em filmes B de terror acidentalmente grava provas de que um suposto acidente de carro foi na verdade um assassinato de um figurão da política.

Faziam muitos anos desde a última vez que heu tinha visto Um Tiro na Noite (Blow Out, no original). E não sei se foi uma boa ter revisto o filme. Achei mais defeitos do que esperava encontrar…

Vamos ao que funciona. Já disse antes, Brian De Palma é um artesão do cinema. Aqui ele mostra isso várias vezes ao longo do filme – temos planos-sequência, telas divididas, zoom, travellings, o filme inteiro é uma aula de cinema.

Mas… Em outras ocasiões, De Palma mostrou sua técnica em uma história boa. Aqui não é o caso. Um Tiro na Noite parece rock progressivo dos anos 90: muita técnica, mas pouco conteúdo.

Spoilers leves a partir de agora, ok?

Jack, o personagem de John Travolta estava gravando ruídos aleatórios, e por sorte, pegou o acidente. Ok, plausível. Mas, péra aí, tinha uma pessoa fotografando exatamente o carro na hora do acidente? Péra aí 2, a câmera era uma novidade que filmava??? Péra aí 3, Jack descobriu isso com fotos tiradas de uma revista, que ele recortou e montou um filminho????? Jack deveria jogar na mega sena acumulada, era mais fácil ganhar o prêmio.

Mas tem mais: Jack nunca deixaria Sally ir sozinha encontrar o suposto jornalista. Assim como ele nunca conseguiria persegui-la de carro através da parada. E pra que apagar as fitas, se era mais fácil e mais rápido queimar tudo? Isso porque não estou falando do óbvio: o mais fácil seria matar logo Jack, um cara com pouca relevância, apenas um técnico de som de filmes vagabundos. E a gente ainda podia relacionar mais um monte de inconsistências…

Isso tudo gera um filme de opostos: por um lado, um filme tecnicamente exuberante; por outro lado, uma história cheia de furos.

Sobre o elenco, também rola um estranho equilíbrio. Travolta está bem, mas o destaque sem dúvida é John Lithgow, excelente. Por outro lado, Nancy Allen deixa a desejar… Tudo bem que o seu papel não ajuda, mas mesmo assim, ela é o ponto fraco do elenco.

Enfim, Um Tiro na Noite deve ser usado em escolas de cinema. Mas, como entretenimento, deixa a desejar.

p.s.: Fiquei duas semanas com acesso limitado à internet, e com pouquíssimo tempo para ver filmes, por causa de uma mudança – por isso a escassez de posts. Mas isso deve mudar agora, se tudo der certo!

Carrie – A Estranha (1976)

Crítica – Carrie – A Estranha (1976)

Em breve estreará a refilmagem de Carrie. É hora de rever o original de Brian de Palma, de 1976.

Carrie é uma jovem tímida que vive com uma mãe problemática. No baile de formatura da escola, preparam para ela uma terrível armadilha, que a deixa ridicularizada em público. Mas ninguém imagina os poderes paranormais que a jovem possui e muito menos de sua capacidade vingança quando está repleta de ódio.

Carrie – A Estranha é uma feliz e inspirada união entre dois mestres do terror / suspense: o escritor Stephen King e o diretor Brian De Palma.

Stephen King é indiscutivelmente um dos maiores escritores fantásticos da história da literatura. Curiosamente, são poucos os bons filmes baseados em livros seus – até o próprio King falhou feio quando resolveu arriscar na direção, ele fez o fraco Comboio do Terror nos anos 80. Este Carrie – A Estranha é uma exceção – é um filmaço!

(Outros bons filmes baseados em Stephen King: O Iluminado, Cemitério Maldito, À Beira da Loucura, Christine, Conta Comigo, Creepshow, Um Sonho de Liberdade… Acho que dá um Top 10, que tal?)

Pra quem gosta de cinema como uma arte, ver um filme dirigido por Brian De Palma nos bons tempos é uma delícia. Cada plano, cada ângulo, cada sequência, tudo é bem pensado. Tecnicamente, o filme é excelente! E toda a sequência do balde é sensacional. Aquela corda balançando criou uma tensão absurda. Heu já sabia o desfecho, e mesmo assim fiquei me remexendo no sofá.

O que é curioso é que a trama é bem simples – já pararam pra pensar que o filme se passa basicamente na preparação para o baile e no baile em si? Não li o livro do Stephen King, mas desconfio que no livro deve ter mais coisa.

O elenco tem grande responsabilidade para o sucesso do filme. Sissy Spacek está sensacional, num papel difícil, que demonstra ao mesmo tempo ingenuidade e ódio reprimido. Piper Laurie, que faz a mãe, também tem uma interpretação memorável. Aliás, as duas foram indicadas ao Oscar – parece que foi a primeira vez que um filme de terror teve indicações ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante. John Travolta, em início de carreira, brilha em um papel secundário. Ainda no elenco, William Katt, Amy Irving, Nancy Allen e Betty Buckley.

Este Carrie original é muito bom. Tenho medo da refilmagem. Tomara que não façam besteira!

Robocop – O Policial do Futuro

Crítica – Robocop – O Policial do Futuro

O “nosso” José Padilha (Tropa de Elite) está em Hollywoood trabalhando na refilmagem de Robocop – O Policial do Futuro. Resolvi então rever o original, de 1987.

Num futuro próximo, Detroit é controlada  por uma grande companhia, a OCP, que resolve criar um robô, o ED-209, para combater a elevada criminalidade que atua na cidade. Quando o projeto dá errado, a OCP tenta um outro projeto, o Robocop, um robô feito a partir de um policial dado como morto.

Clássico dos anos 80, Robocop é uma ficção científica policial dotada de uma violência cruel e sarcástica, incomum pros padrões hollywoodianos da época. Talvez isso seja o que faz o filme ser interessante ainda hoje, mais de vinte anos depois.

Robocop é um dos bons filmes da fase americana do diretor holandês Paul Verhoeven, fase que rendeu alguns filmes excelentes, como Conquista Sangrenta e O Vingador do Futuro, mas que também teve filmes de qualidade questionável, como Instinto Selvagem, Tropas Estelares e O Homem Sem Sombra (além de um filme de qualidade inquestionável: Showgirls, mas, neste caso, trata-se de falta de qualidade… 😉 ). Bem, sou suspeito, gosto de todos. Enfim, Robocop está junto com os dois primeiros que citei, na galeria dos grandes filmes de Verhoeven.

Verhoeven já tinha mostrado em Conquista Sangrenta o seu estilo de violência. Robocop segue a mesma linha, e traz várias cenas antológicas, como por exemplo o ED-209 falhando na sala da diretoria da OCP, ou o Robocop pegando um bandido com um tiro através das pernas da vítima, ou ainda o vilão saído do lixo tóxico.

O roteiro, escrito por Edward Neumeier e Michael Miner, traz uma fina ironia – as cenas são coladas por jornais na tv, sempre trazendo notícias sobre violência e sobre a degradação do planeta. A boa trilha sonora orquestrada de Basil Poledouris é outro destaque.

No elenco, o hoje sumido Peter Weller tem o melhor papel de sua carreira, ao lado de Nancy Allen, Miguel Ferrer e Ronny Cox. E o que achei mais curioso foi ver Kurtwood Smith, o pai do protagonista Eric Forman nas oito temporadas de That 70’s Show, no papel do cruel chefe dos vilões.

Robocop teve duas continuações (em 90 e 93). Vi na época dos lançamentos nos cinemas, e lembro que não gostei. Mas um dia hei de dar uma segunda chance para a parte 2, dirigida por Irving Kershner (O Império Contra-Ataca) e com roteiro de Frank Miller (Sin City).

E aí fica a pergunta: precisava de uma refilmagem? Bem, na minha humilde opinião, nenhum grande filme precisa ser refilmado, e este é o caso de Robocop. As únicas coisas que “perderam a validade” são os efeitos em stop motion do robô ED-209 e os penteados femininos oitentistas – o resto do filme ainda está atual.

Mas, enfim, Hollywood gosta de refilmagens. Tomara que José Padilha faça um bom trabalho, talento para isso a gente sabe que ele tem.