Passion

0-Passion-PosterCrítica – Passion

Epa! Tem filme “novo” do Brian de Palma por aí?

A rivalidade entre a chefe manipuladora de uma agência de publicidade e sua talentosa funcionária se intensifica, de roubo de créditos para humilhação pública e então para assassinato.

Explico as aspas do primeiro parágrafo. Passion é um filme de 2012, mas que – até onde sei – nunca foi lançado por aqui.

De Palma tem uma carreira repleta de grandes filmes, como Dublê de Corpo, Carrie, O Pagamento Final e Femme Fatale. Mas, sabe-se lá por que, depois de Dália Negra (2006) ele deu uma sumida. Em 2007 fez Redacted, um filme que foge do estilo que o consagrou. E agora, cinco anos depois, este Passion.

Agora sim, com um novo suspense criminal, poderíamos dizer que “Brian De Palma está de volta”. Mas… o problema é que Passion na verdade parece uma imitação do estilo do diretor, mas feito por alguém sem o mesmo talento…

Passion é a refilmagem do francês Crime de Amor, lançado apenas dois anos antes. Não vi o original, não tenho como comparar. Mas arrisco dizer que foi um erro refilmar um filme elogiado tão pouco tempo depois do original. Primeiro, porque se é pra refilmar, que seja um filme velho e esquecido, ou então um filme que não foi bem recebido. Segundo, porque De Palma merece projetos melhores.

O elenco também não está muito bem, mas de repente isso acontece porque o roteiro (escrito por De Palma e por Natalie Carter, autora do roteiro original) não ajuda. Rachel McAdams está bem, mas Noomi Rapace parece apagada. Os coadjuvantes conseguem ser ainda piores – Karoline Herfurth é bonitinha, mas fraquinha; Paul Anderson tem um papel muito mal construído.

O resultado? Vemos vários elementos “depalmianos”: a tela dividida, a música de Pino Donnagio, mulheres bonitas, tensão sexual – e tudo isso De Palma sabe como filmar bem. Mas o ritmo lento e umas viradas de roteiro forçadas atrapalham, e o resultado fica devendo.

Pena. Ainda quero o velho De Palma de volta.

Um Tiro na Noite

Crítica – Um Tiro na Noite

Recentemente, revi Carrie, A Estranha. Empolgado, fui catar outro clássico do Brian De Palma pra rever.

Um técnico de som que trabalha em filmes B de terror acidentalmente grava provas de que um suposto acidente de carro foi na verdade um assassinato de um figurão da política.

Faziam muitos anos desde a última vez que heu tinha visto Um Tiro na Noite (Blow Out, no original). E não sei se foi uma boa ter revisto o filme. Achei mais defeitos do que esperava encontrar…

Vamos ao que funciona. Já disse antes, Brian De Palma é um artesão do cinema. Aqui ele mostra isso várias vezes ao longo do filme – temos planos-sequência, telas divididas, zoom, travellings, o filme inteiro é uma aula de cinema.

Mas… Em outras ocasiões, De Palma mostrou sua técnica em uma história boa. Aqui não é o caso. Um Tiro na Noite parece rock progressivo dos anos 90: muita técnica, mas pouco conteúdo.

Spoilers leves a partir de agora, ok?

Jack, o personagem de John Travolta estava gravando ruídos aleatórios, e por sorte, pegou o acidente. Ok, plausível. Mas, péra aí, tinha uma pessoa fotografando exatamente o carro na hora do acidente? Péra aí 2, a câmera era uma novidade que filmava??? Péra aí 3, Jack descobriu isso com fotos tiradas de uma revista, que ele recortou e montou um filminho????? Jack deveria jogar na mega sena acumulada, era mais fácil ganhar o prêmio.

Mas tem mais: Jack nunca deixaria Sally ir sozinha encontrar o suposto jornalista. Assim como ele nunca conseguiria persegui-la de carro através da parada. E pra que apagar as fitas, se era mais fácil e mais rápido queimar tudo? Isso porque não estou falando do óbvio: o mais fácil seria matar logo Jack, um cara com pouca relevância, apenas um técnico de som de filmes vagabundos. E a gente ainda podia relacionar mais um monte de inconsistências…

Isso tudo gera um filme de opostos: por um lado, um filme tecnicamente exuberante; por outro lado, uma história cheia de furos.

Sobre o elenco, também rola um estranho equilíbrio. Travolta está bem, mas o destaque sem dúvida é John Lithgow, excelente. Por outro lado, Nancy Allen deixa a desejar… Tudo bem que o seu papel não ajuda, mas mesmo assim, ela é o ponto fraco do elenco.

Enfim, Um Tiro na Noite deve ser usado em escolas de cinema. Mas, como entretenimento, deixa a desejar.

p.s.: Fiquei duas semanas com acesso limitado à internet, e com pouquíssimo tempo para ver filmes, por causa de uma mudança – por isso a escassez de posts. Mas isso deve mudar agora, se tudo der certo!

Carrie – A Estranha (1976)

Crítica – Carrie – A Estranha (1976)

Em breve estreará a refilmagem de Carrie. É hora de rever o original de Brian de Palma, de 1976.

Carrie é uma jovem tímida que vive com uma mãe problemática. No baile de formatura da escola, preparam para ela uma terrível armadilha, que a deixa ridicularizada em público. Mas ninguém imagina os poderes paranormais que a jovem possui e muito menos de sua capacidade vingança quando está repleta de ódio.

Carrie – A Estranha é uma feliz e inspirada união entre dois mestres do terror / suspense: o escritor Stephen King e o diretor Brian De Palma.

Stephen King é indiscutivelmente um dos maiores escritores fantásticos da história da literatura. Curiosamente, são poucos os bons filmes baseados em livros seus – até o próprio King falhou feio quando resolveu arriscar na direção, ele fez o fraco Comboio do Terror nos anos 80. Este Carrie – A Estranha é uma exceção – é um filmaço!

(Outros bons filmes baseados em Stephen King: O Iluminado, Cemitério Maldito, À Beira da Loucura, Christine, Conta Comigo, Creepshow, Um Sonho de Liberdade… Acho que dá um Top 10, que tal?)

Pra quem gosta de cinema como uma arte, ver um filme dirigido por Brian De Palma nos bons tempos é uma delícia. Cada plano, cada ângulo, cada sequência, tudo é bem pensado. Tecnicamente, o filme é excelente! E toda a sequência do balde é sensacional. Aquela corda balançando criou uma tensão absurda. Heu já sabia o desfecho, e mesmo assim fiquei me remexendo no sofá.

O que é curioso é que a trama é bem simples – já pararam pra pensar que o filme se passa basicamente na preparação para o baile e no baile em si? Não li o livro do Stephen King, mas desconfio que no livro deve ter mais coisa.

O elenco tem grande responsabilidade para o sucesso do filme. Sissy Spacek está sensacional, num papel difícil, que demonstra ao mesmo tempo ingenuidade e ódio reprimido. Piper Laurie, que faz a mãe, também tem uma interpretação memorável. Aliás, as duas foram indicadas ao Oscar – parece que foi a primeira vez que um filme de terror teve indicações ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante. John Travolta, em início de carreira, brilha em um papel secundário. Ainda no elenco, William Katt, Amy Irving, Nancy Allen e Betty Buckley.

Este Carrie original é muito bom. Tenho medo da refilmagem. Tomara que não façam besteira!

Missão: Impossível

Crítica – Missão: Impossível

Agora no fim do ano estreia o quarto filme da série Missão: Impossível. Pensei que era uma boa oportunidade para rever os outros três.

Durante uma missão em Praga, um grupo de agentes especiais cai em uma cilada. Ethan Hunt (Tom Cruise), um dos únicos sobreviventes, escapa e tenta desvendar a trama por conta própria.

Missão: Impossível é uma adaptação de seriado, e também um veículo de ator, um “filme do Tom Cruise”. Mas, antes de tudo, heu considero um filme do diretor Brian De Palma.

Já falei aqui o quanto sou fã do Brian De Palma. Disse antes e repito: De Palma é um dos últimos artesãos do cinema. Cada ângulo, cada tomada, tudo é bem cuidado e bem pensado para aparecer bem na tela. Cada plano-sequência, cada travelling, cada câmera lenta, tudo no filme nos mostra que tem alguém com muito talento por trás das câmeras, que se preocupou com cada fotograma do filme. Algumas sequências são simplesmente sensacionais – aquela onde Cruise fica pendurado dentro da sala do computador se tornou um dos momentos mais marcantes do cinema dos anos 90!

Mesmo assim, Missão: Impossível não decepciona como veículo de ator. Cruise assume a responsabilidade e não faz feio como protagonista. Se seu papel não exige muito no lado dramático, o faz no lado físico. Cruise corre, pula, se pendura e faz acrobacias, e não faz feio.

O filme ainda tem vários coadjuvantes legais. O elenco conta com Jon Voight, Ving Rhames, Jean Reno, Henry Czerny, Vanessa Redgrave, um Emilio Estevez não creditado (não entedi o motivo) e uma Emanuelle Béart belíssima, como poucas vezes se viu em Hollywood.

A trilha sonora usa um dos melhores temas de seriado da história. O tema em 5/4 composto por Lallo Schiffrin é bem utilizado, tanto na sua versão original, quanto numa nova versão adaptada por Danny Elfman.

Missão: Impossível não é unanimidade, o povo mais cabeça vai achar pop demais. Mas, pra quem curte filmes de ação (o meu caso), é um dos melhores filmes dos anos 90 dentro do estilo. O filme foi um grande sucesso e abriu portas para as continuações. Em breve falo aqui dos outros filmes!

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Se você gostou de Missão: Impossível, o Blog do Heu recomenda:
Esquadrão Classe A
Trovão Tropical
Batida Policial

Redacted / Guerra Sem Cortes

Redacted / Guerra Sem Cortes

Há tempos heu adiava este último Brian de Palma. Alguma coisa já me dizia que este não era um dos seus melhores filmes…

Redacted acompanha um grupo de soldados na Guerra do Iraque, na mesma época que foi registrado o estupro seguido de morte de uma adolescente iraquiana e o assassinato de várias pessoas de sua família por alguns soldados do Exército dos Estados Unidos.

Redacted é mais um “documentário fake”, usando câmera subjetiva, como se fosse filmado pelos próprios atores. Não tenho nada contra o estilo, o problema é que o talento de De Palma foi completamente desperdiçado.

Brian de Palma é um dos poucos artesãos do cinema contemporâneo. Há pouco falei de seu O Pagamento Final, um filme onde parece que ele tem cuidado com cada plano, cada fotograma. Dá pena ver um cara com um talento desses brincando de câmera subjetiva…

O que ficou interessante na edição é que várias fontes são usadas para montar a história. Além do diário gravado pelo soldado americano, temos imagens de um documentário francês, trechos de reportagens da tv local, vídeos tirados do youtube, e até um video de extremistas publicado na internet.

O filme é uma pesada crítica à postura do exército americano na Guerra do Iraque. Isso não pegou muito bem lá nos EUA, mas aqui no Brasil não me pareceu nada demais – acho que, por aqui, ninguém nunca levou a sério esse papo de “estamos procurando armas de destruição em massa”…

Como todo filme de “realismo fake”, Redacted não traz atores famosos. Os rostos desconhecidos fazem um bom trabalho.

É curioso notar que o formato de Redacted é bem parecido com o laureado Guerra ao Terror, vencedor do Oscar de melhor filme, direção e roteiro de 2009. E Redacted, de dois anos antes, foi ignorado…

Mais um comentário: ao terminar o filme,vemos uma série de fotos, supostamente reais, de vítimas da guerra. Olha, se eram reais ou não, pouco importa. Mas com certeza eram desnecessárias…

Este filme é de 2007, e nunca foi lançado aqui no Brasil. Segundo o imdb, só passou aqui no Festival do Rio de 2008. Ok, o filme não tem muito apelo comercial, mas é do Brian de Palma, caramba! Merecia ser lançado, nem que fosse direto em dvd!

O que é estranho é que De Palma não fez nada depois deste filme. Brian, cadê você? Estamos com saudades! Volte logo! 🙂

O Pagamento Final

O Pagamento Final

Outro dia, numa comunidade do orkut, me sugeriram um texto sobre este O Pagamento Final, clássico mais ou menos recente (de 1993) de Brian De Palma. Heu já tinha o dvd em casa, e estava esperando uma desculpa pra rever o filme…

Carlito Brigante, um ex-traficante portorriquenho que acabou de sair da prisão, briga para ficar longe das drogas e da violência, enquanto todos por perto parece que querem trazê-lo de volta ao submundo do crime.

O Pagamento Final (Carlito’s Way, no original) é uma aula de cinema. O diretor Brian De Palma estava inspirado, são várias as sequências antológicas, onde ele exibe uma exímia técnica com a câmera na mão. Fica até difícil escolher um trecho favorito – heu citaria como exemplo dessa habilidade técnica toda a sequência da estação de trem.

De Palma já tinha mostrado esse cuidado no visual das suas produções nos anos anteriores, em filmes como Vestida Para Matar (1980), Um Tiro na Noite (81), Dublê de Corpo (84) ou Os Intocáveis (87). Nos anos 90 ele fez menos filmes memoráveis, mas acho que ainda podemos citar Síndrome de Caim (92) e Missão Impossível (96) como bons exemplos.

Aqui ele abusa. A câmera passeia pelos atores em longos planos-sequência ao longo de todo o filme, e vários ângulos inusitados são usados. E isso porque nem estou falando da bem cuidada reconstituição de época, nem da excelente trilha sonora, repleta de clássicos da era da discoteca.

O elenco é liderado por um também inspirado Al Pacino, que convence como o ex-traficante arrependido. Sean Penn, com visual diferente, de cabelos enrolados, também está ótimo, e Penelope Ann Miller nunca esteve tão bonita. O elenco ainda traz Luiz Guzman e John Leguizamo. Tem mais: hoje Viggo Mortensen é uma estrela; nessa época, ele ainda era coadjuvante – ele é Lalin, o paraplégico.

De Palma anda meio sumido – seu último filme foi Redacted, de 2007, nunca lançado por aqui. O Pagamento Final não foi seu último filme memorável, ele ainda fez Femme Fatale em 2002, outro filme que é uma aula de cinema. Nós, fãs de cinema, esperamos que ele volte aos bons tempos, com vários filmaços por década!

Femme Fatale

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Femme Fatale

Tem muita gente burocrática trabalhando no cinema. Mas, pra nossa sorte cinéfila, tem uma meia dúzia que realmente faz arte. Brian de Palma é um desses caras.

Seu currículo é impressionante: Os Intocáveis, Dublê de Corpo, Scarface, Carrie, A Estranha, O Pagamento Final, Um Tiro na Noite, Vestida Para Matar… e ainda tem mais um monte de coisas boas! Não é à toa que tem gente por aí que o compara a Alfred Hitchcock…

Bem, em 2002, depois de um dos poucos filmes fracos de seu currículo – Missão Marte, De Palma nos deu essa pequena obra prima: Femme Fatale.

A trama é rocambolesca, como todo bom filme “depalmiano”. Rebecca Romijn-Stamos interpreta uma ladra de jóias que ganha uma chance de deixar o passado para trás, até ser fotografada pelo papparazzo Antonio Banderas. (Aliás, a modelo que está com a jóia no início do filme é a Rie Rasmussen!)

Mas, calma! Nada é tão simples!

Cada detalhe do roteiro tem uma explicação. Ao fim do filme, com uma espetacular virada de rumo, descobrimos que nem tudo é o que parece… Dá vontade de rever o filme – o que heu fiz! E assim pude constatar várias coisas que a princípio passam desapercebidas…

E não é só o roteiro que é bem feito. De Palma mostra que  fazer cinema pode ser uma tarefa próxima a de um artesão. Muita câmera lenta, ângulos não usuais, telas divididas, flashbacks… Algumas cenas são belíssimas!

Outro ponto forte do filme é a atriz Rebecca Romijn-Stamos. Dona de uma beleza estonteante, ela realmente entrou no clima sexy exigido pelo filme – mulheres fatais, diamantes, sexo e assassinato fazem parte da trama. Inclusive, em um dos extras, ela explica a cena do mergulho, onde, totalmente nua, teve que mergulhar diversas vezes, até conseguirem o resultado da câmera lenta mostrado nas telas.

Filmaço. Pra se ver e rever. E dizer “é verdade, eu não tinha reparado!”

Dublê de Corpo

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Dublê de Corpo

Ao filmar Vestida para Matar, em 1980, Brian de Palma precisou usar uma dublê de corpo para as cenas de Angie Dickinson. Daí veio a idéia para o filme Dublê de Corpo, lançado em 84.

Jake, um ator desempregado – que faz o papel de um vampiro num filme B, mas como tem claustrofobia, não consegue ficar dentro do caixão – é despejado da casa da namorada. Sem trabalho e sem ter onde morar, consegue ficar de favor numa mansão de uma amigo de um amigo. E melhor, num clima hitchcockiano, ele observa através de uma luneta uma vizinha que faz strip tease todos os dias.

Isso é só o começo de uma trama rocambolesca bem ao estilo do Brian de Palma, que também nos deu Um Tiro na Noite, Scarface, Os Intocáveis, O Pagamento Final, Olhos de Serpente, Femme Fatale, e, mais recentemente, Dália Negra. Como diz o cartaz: “Não acredite em tudo o que vê!”

Apesar do visual do filme estar um pouco datado, a trama continua “redondinha”. O elenco, encabeçado por Craig Wasson, é quase todo de rostos pouco conhecidos – a exceção é Melanie Griffith, num papel chave importantíssimo.

Tenho um trauma terrível relacionado a esse filme. Vi no cinema no fim dos anos 80, achei sensacional, e quando a Globo anunciou que ia passar, programei o videocassete para gravar e rever. Heu nunca devia ter feito isso, foi uma das maiores decepções da minha vida! Não só o filme estava completamente cortado (o trecho onde Jake vai participar de um filme pornô, com a música Relax no fundo, parecia um videoclip), como, na cena inicial, foi tirado um pedaço do filme e incluído um pedaço de outro filme!!! Quando Jake chega em casa, vai até o quarto e vê a sua namorada transando com outro, em vez disso tinha uma mulher deitada coberta por um lençol!!! Nunca soube de falta de respeito igual depois do fim da ditadura!!!