Micróbio e Gasolina

Microbio e Gasolina - posterCrítica – Micróbio e Gasolina

Filme novo do Michel Gondry!

Dois adolescentes, excluídos socialmente na escola, se tornam grandes amigos. Um é apelidado de Micróbio por causa de seu tamanho, o outro, de Gasolina, por gostar de coisas mecânicas. Decidem construir juntos uma casa sobre rodas, usando sucata do ferro velho, e saem de férias pela França.

Michel Gondry tem um currículo curioso. Seus fãs vão me xingar pelo que vou dizer agora, mas… sua carreira lembra a de M Night Shyamalan: um filme muito acima da média, e vários filmes à sombra deste. Gondry dirigiu um dos melhores filmes do início deste século, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, mas nunca mais fez nada à altura. Rebobine Por Favor é legal, mas inferior ao Brilho Eterno. Sua participação em Tokyo foi decepcionante, e o seu Besouro Verde é muito ruim. Gondry mudou de estilo em Nós e Eu, um filme “menor”, legalzinho, mas só.

Analisando essa filmografia, Micróbio e Gasolina (Microbe et Gasoil, no original) é uma evolução. Está longe de Brilho Eterno, mas é seu melhor filme em muito tempo.

Micróbio e Gasolina é um filme leve, despretensioso – e por isso mesmo, muito bom. O clima me lembrou os filmes do Pequeno Nicolau, também franceses, comédias leves e com personagens carismáticos, que te convidam a viver as suas fantasias. A aventura dos adolescentes Daniel “Micróbio” e Théo “Gasolina” é irresistível. O espectador fica com vontade de ter 15 anos e embarcar na casa móvel construída pela dupla.

(Me lembrei de Plunct Plact Zuuum, musical da tv brasileira onde crianças construíam um foguete com sucata. É, sou velho… A diferença é que no programa brasileiro o foguete não voava, era só imaginação.)

Enfim. É só a gente não pensar que se trata do “novo filme do diretor de Brilho eterno Sem Lembranças” que temos um ótimo filme!

Nós e Eu

Crítica – Nós e Eu

Filme novo do Michel Gondry!

No último dia de aula, um grupo de adolescentes, alunos de uma escola nova-iorquina do Bronx, sobem no ônibus para realizar o último trajeto juntos antes das férias de verão. Aos poucos o ônibus se esvazia e as relações lá dentro se transformam. Ao se tornarem mais íntimos, facetas ocultas da personalidade de cada um se revelam.

Michel Gondry é o autor do excepcional Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, um dos melhores filmes dos últimos anos. Mas o problema de ter um filme desses no currículo é viver à sombra dele – quando Gondry fará algo do mesmo nível?

Em 2008, Gondry fez Rebobine Por Favor, um filme simpático, mas longe de ser genial. No mesmo ano, fez uma das três histórias de Tokyo!, um filminho na fronteira entre o simpático e o bobinho. E em 2011 dirigiu o fraco Besouro Verde, um dos piores filmes do ano. Será que agora Gondry está “de volta”?

Bem, Nós e Eu (The We And The I, no original) é muito melhor que Besouro Verde (porque ia ser difícil ser pior, né?). Mas segue um estilo completamente diferente!

Gondry deixa de lado o ar de fábula moderna que acompanha o seu filme mais famoso (também presente em Rebobine Por Favor) e faz um filme mais “pé no chão”, mostrando um grupo de adolescentes saindo da escola. Diferente dos outros filmes, Nós e Eu não tem nada de “mágico”.

O filme se passa quase todo dentro do ônibus, e em tempo real – o que acontece fora do ônibus é mostrado em flashbacks de personagens que estão dentro do ônibus. Mais: aparentemente, nenhum dos atores é profissional, os nomes dos personagens são os mesmos dos atores que os interpretam.

Com esse ar de “cinema verdade”, meio documentário, Gondry conseguiu montar um excelente microcosmo do universo adolescente de negros e latinos de Nova York. Tem de tudo dentro o ônibus: valentões, rejeitados, nerds, artistas, brigas, tentativas de namoro…

O roteiro (do próprio Gondry) é muito bem construído. A duração do filme é a mesma do trajeto do ônibus entre a escola e o último aluno a saltar. As cenas de fora do ônibus são inseridas nas doses certas. O ritmo do filme é bem interessante, o hip hop da trilha sonora ajudou a dar agilidade à narrativa.

Me lembrei de As Melhores Coisas Do Mundo, filme nacional que também usou atores amadores para fazer um retrato da nova geração. No filme nacional, tive dificuldade com o áudio, vários dos diálogos são incompreensíveis. Aqui não tive problemas, mesmo com alguns sotaques complicados, o som é bem melhor!

Nós e Eu não é um filme convencional, nem sei se vai ser lançado no circuito. Mas é um bom filme. Só não espere um novo Brilho Eterno.

O Besouro Verde

O Besouro Verde

Estreou o aguardado O Besouro Verde, que traz a grande dúvida: como é um filme de super-heroi “lado B”, dirigido pelo cult Michel Gondry, e escrito eestrelado por Seth Rogen?

O playboy Britt Reid (Seth Rogen) só quer saber de farra, quando de repente seu pai morre e ele vira o dono do jornal “The Daily Sentinel”. Aí ele resolve virar um super-heroi mascarado, com a ajuda de Kato, motorista de seu pai.

Vou explicar a dúvida citada no primeiro parágrafo:

– O Besouro Verde na verdade surgiu no rádio, nos anos 30. Mas o filme foi baseado na série de tv feita em 66, famosa por trazer Bruce Lee como o coadjuvante Kato. Acredito que o seriado seja mais falado do que visto – sou admirador de seriados antigos, mas admito que não lembro desta série, só me lembro do tema musical. O Besouro Verde não é um heroi tão popular quanto um Super Homem ou um Homem Aranha…

– O diretor Michel Gondry é cultuadíssimo pelo seu excelente Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. E como seria Gondry à frente de uma super-produção hollywoodiana?

– Por fim, Seth Rogen já está familiarizado com a “máquina” de Hollywood. Mas ele tem cara de comédia. Será que ele funciona como protagonista de filme de super-heroi?

Respondendo tudo de um modo geral, não funcionou. O filme tem alguns acertos, alguns bons momentos. Mas tem muito mais defeitos do que virtudes. Roteiro cheio de falhas, direção fraca, atores inapropriados, o resultado final ficou devendo.

O roteiro de O Besouro Verde tem alguns sérios problemas. Todo super-heroi tem alguma motivação para os seus atos – menos Britt Reid, que era um playboy irresponsável e, do nada, resolve combater crimes, e ainda por cima fingindo que é bandido. Não faz o menor sentido! Tem mais: Kato era um motorista e mecânico que gostava de inventar coisas. Mas daí pra criar carros que são tanques de guerra equipados com muitas armas falta um pouco, não? Isso porque não estou lembrando que Reid precisava chegar ao jornal para fazer um upload para a internet – com todo aquele dinheiro, não dava pra ter um celular com acesso à internet, ou algum acessório no carro?

Um dos acertos do filme foi a escolha de dois dos atores, o antagonista Christoph Waltz e o coadjuvante Jay Chou. Waltz (Bastardos Inglórios) brilha com seu vilão Chudnofsky, caricato no ponto exato; e Chou, excelente lutador, faz um Kato muito mais interessante que o próprio Besouro. Mas, por outro lado, o elo mais fraco do elenco é logo o protagonista. Seth Rogen é um cara legal, cheio de bons filmes no currículo, mas aqui ele está muito mal. Não sei se a culpa é do ator ou do roteiro, mas como Rogen foi responsável pelas duas coisas, a culpa é dele… Ainda no elenco, Cameron Diaz e Edward James Olmos estão desperdiçados, ambos poderiam oferecer muito mais se o filme fosse melhor. Tom Wilkinson pouco aparece; e James Franco tem uma divertida ponta na cena inicial.

Preciso ver mais filmes do Michel Gondry. Seu Brilho Eterno é realmente muito bom, mas os outros filmes que vi dele deixam a desejar (Rebobine Por Favor, Tokyo! e este O Besouro Verde). Espero que não seja um caso parecido com M. Night Shyamalan, autor de uma obra prima e de vários filmes que variam entre o “mais ou menos” e o “pavorosamente ruim”.

O Besouro Verde não chega a ser um dos piores filmes de super-herois da história, como Mulher Gato ou Elektra. Mas está vários degraus abaixo de bons exemplos recentes, como Batman ou Homem de Ferro.

Tokyo!

tokyo_-movie-poster-2009

Tokyo!

Que tal um filme em três partes, cada uma dirigida por um diretor diferente? Essa ideia já rendeu bons filmes. E se os três diretores têm currículos interessantes, como Michel Gondry, Leos Carax e Joon-ho Bong, melhor ainda, não?

Bem, nem sempre a ideia funciona…

Tokyo! conta três histórias independentes entre si. A única coisa em comum é que todas se passam em Tokyo.

A primeira, de Gondry (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças), mostra um casal tentando a vida em Tokyo, mas ela se sente à sombra dele e se sente sem objetivos na vida. Até que o propósito da sua vida muda – de uma maneira bizarra!

O estilo de Gondry é sempre agradável de se ver, e a transformação da personagem é muito bem feita. Mas achei que, como história, ficou devendo…

A segunda história, de Carax, fala de um cara esquisito que sai dos esgotos infernizando a vida de quem está no caminho dele. A primeira sequência, com o ser estranho andando pela rua, é muito boa. Depois, o filme se perde, e consegue ser muito, muito chato, apesar de ter só uns 30 minutos.

Carax dirigiu Mauvais Sang nos anos 80, que era um dos meu cult franceses preferidos. Em 91, o seu Os Amantes da Pont Neuf ficou famoso aqui no Brasil. De lá pra cá, só fez dois filmes antes deste Tokyo!, e acho que nenhum chegou aqui no Brasil. Heu tinha curiosidade de ver algo novo dele, foi uma grande decepção.

A terceira e última parte é a melhor. Bong, diretor do ótimo O Hospedeiro, conta a história de um sujeito recluso, que há dez anos não sai de casa e não tem contato com ninguém. Até que se apaixona por uma entregadora de pizza, e resolve enfrentar o seu medo de sair de casa para ir atrás dela.

Bong se sai melhor que seus companheiros, mas mesmo assim muita coisa não é explicada, como por exemplo, como é que uma pessoa pode ter medo de sair de casa e ao mesmo tempo ser entregadora de pizza???

No fim do longo e cansativo Tokyo!, apenas uma conclusão: dedique seu tempo com outros títulos do festival!

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

brilho_eterno_de_uma_mente

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

Imagine uma pessoa magoada com o fim de uma relação. Ela quer esquecer tudo que a lembre do ex ou da ex, certo? E agora imagine uma empresa que consegue apagar todas as memórias deste ex! Interessante, não?

Este é o mote do genial Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, um dos melhores roteiros filmados em Hollywood nos últimos anos. Não dá pra falar muito da história sem estragar o filme. Só o que posso dizer é que se trata de uma das mais belas histórias de amor já filmadas!

O diretor francês Michel Gondry (Rebobine Por Favor) conta a história do casal Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), e seus encontros e desencontros. O roteiro de Charlie Kaufman ganhou o Oscar de melhor roteiro original de 2005 (Kate Winslet foi indicada a melhor atriz). E heu arrisco a dizer que este filme merecia outro Oscar: melhor edição!

A edição deste filme é uma loucura, principalmente nos momentos em que estamos dentro da cabeça de Joel e suas memórias estão sendo apagadas. A continuidade é cuidadosamente desconstruída: num plano o casal está num lugar cheio de pessoas, no plano seguinte o casal está no mesmo lugar, só que vazio; antes um objeto está lá, a câmera se movimenta e de repente o objeto desaparece. É de deixar tonto. E ao mesmo tempo maravilhado!

Ah, sim, preciso falar sobre o elenco. Jim Carrey está irreconhecível e mostra que nem sempre é careteiro, e tem aqui a melhor interpretação de sua carreira. E além de Kate Winslet, temos Kirsten Dunst, Elijah Wood, Mark Ruffalo e Tom Wilkinson.

Por fim, volto ao roteiro. Este é daqueles filmes que dá vontade de rever, pra prestar atenção nos detalhes que passaram desapercebidos. Tudo está no lugar certo, cada cena, cada movimento, cada mudança de cor do cabelo de Clementine!

Rebobine por favor

Rebobine por favor (Be Kind Rewind)

Confesso que não vi esse no cinema. Já tinha lido sobre ele antes, e baixei da internet. Quando vi que ele estava na programação do Festival do Rio, aproveitei pra vê-lo de uma vez, pra falar dele por aqui. Ainda mais quando vemos que é o novo filme de Michel Gondry, que fez o ótimo Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças!

A idéia é muito boa: um acidente apaga todas as fitas de uma velha locadora – provavelmente um dos últimos pontos da cidade que ainda trabalha com VHS. E o funcionário da locadora e seu amigo resolvem refilmar os filmes por conta própria. Criam versões de 20 minutos, com eles mesmos nos papéis principais. E essas versões começam a fazer mais sucesso que as originais…

Sem dúvida, o melhor do filme está nas soluções criativas para estas versões. Eles conseguem refilmar Os Caça-Fantasmas, A Hora do Rush 2, Rei Leão, 2001, MIB, Robocop, entre outros. E todas as soluções criativas para recriar os elementos característicos de cada filme são geniais!

Mas o que o filme tem de melhor acaba atrapalhando. O filme em si não é tão interessante quanto os filminhos recriados. A situação criada posteriormente parece forçada, e a subtrama sobre o pianista nascido na cidade não é tão boa.

O elenco conta com bons nomes, como Mos Def, Danny Glover, Mia Farrow e Sigourney Weaver. Jack Black é que parece um pouco deslocado, parece oscilar entre a seriedade que o filme pede e a caricatura que funciona melhor nos filminhos refilmados. Mesmo assim não chega a incomodar.

Não chega a ser uma obra prima, mas vale o ingresso!