Licorice Pizza

Crítica – Licorice Pizza

Sinopse (imdb): Licorice Pizza é a história de Alana Kane e Gary Valentine crescendo, correndo e se apaixonando em San Fernando Valley, na Califórnia, em 1973.

Finalmente chegou ao circuito o badalado novo filme de Paul Thomas Anderson. O filme teve lançamento limitado no fim do ano passado, e já aparecia em algumas listas de melhores de 2021. Claro que gerou curiosidade.

Licorice Pizza (idem, no original) é bom, mas… Teve uma coisa que me tirou do filme. O protagonista Gary tem 15 anos de idade, mas se porta como um adulto experiente. Ok, a gente já sabe logo desde o início do filme que ele é um ator, então por isso seria mais esperto que a maioria dos garotos da sua idade. Mas achei exagero: o garoto primeiro é um grande empresário no ramo de colchões de água, e depois abre uma grande e badalada loja de fliperama – e ainda trabalha como câmera nas horas vagas. Mais: ele nunca tem adultos por perto, só garotos da idade dele ou ainda mais novos. Ele é tão descolado que frequenta o mesmo restaurante que poderosos produtores de Hollywood. Além disso, é um um homem maduro em relacionamentos. E ainda tem costeletas!

Lembrei de Quase Famosos, cujo protagonista William Miller é um adolescente que se mete em assuntos de adultos – ele se passa por um repórter da Rolling Stone e acaba acompanhando uma banda na estrada. Mas o garoto William é introvertido e inseguro, e tem problemas com a mãe e com a escola. Muito mais fácil de “comprar”.

Provavelmente num futuro próximo vou rever Licorice Pizza e vou curtir mais. Porque é um filmão. Paul Thomas Anderson filma em película, e parece realmente que estamos vendo um filme feito nos anos 70. A reconstituição de época é perfeita, e a boa trilha sonora ajuda. Ainda temos uma boa edição e a câmera sempre bem posicionada – rolam alguns plano sequências, curtos, nada de extraordinário, mas sempre bem bolados. Tecnicamente falando, o filme é impecável.

Já o roteiro… Bem, tem que entender que Paul Thomas Anderson nem sempre usa a “formula Syd Field”. Aqui em Licorice Pizza o roteiro é meio solto, as coisas simplesmente vão acontecendo, não existe uma linha que liga tudo. Tem gente que curte filme assim, mas tem gente que não curte.

O casal protagonista é estreante. Cooper Hoffman é filho do Philip Seymour Hoffman – que fez cinco filmes com Paul Thomas Anderson. O garoto tem futuro, mas aqui não me convenceu – ele não tem cara de 15 anos! Já Alana Haim está ótima, aguardo ansiosamente pelo seu próximo filme. A química entre os dois é boa, rola uma paixão platônica e ela freia essa paixão por causa da diferença de idade.

(Eduardo e Mônica também tem protagonistas com a mesma diferença de idade, e o casal funciona melhor – e o Eduardo ainda está preocupado com o vestibular!)

Uma curiosidade: Alana Haim é de uma família de músicos, e suas irmãs e seus pais no filme também o são na vida real.

Ainda no elenco, três participações especiais que vão dividir opiniões. Bradley Cooper interpreta o cabeleireiro e maquiador John Peters, que era namorado da Barbara Streisand na época. Não conhecia Peters, não sei se ele era assim, mas Cooper está exagerado demais, me pareceu um degrau acima do que deveria estar. E Sean Penn e Tom Waits estão em uma cena que pode até ser divertida, mas é meio desnecessária para o resto do filme.

Por fim, o nome. “Licorice Pizza” é uma gíria pra disco de vinil – não só as iniciais “LP”, como também um vinil preto poderia ser uma “pizza de alcaçuz”. Inclusive existia uma rede de lojas de discos chamada Licorice Pizza. Mas… No filme não tem nem pizza, nem alcaçuz, nem discos de vinil. Por que o nome? Sei lá…

Vício Inerente

Vicio-InerenteCrítica – Vício Inerente

Filme novo do Paul Thomas Anderson!

Califórnia, 1970. O nada convencional detetive Larry “Doc” Sportello investiga o desaparecimento de uma ex-namorada.

Paul Thomas Anderson é um cara talentoso, que sabe trabalhar bem suas imagens. Por outro lado, é um cara lento, e seus filmes às vezes são longos demais. Mas, como ele é o diretor de Boogie Nights, um dos meus filmes favoritos, ele tem crédito comigo.

Vamos aos fatos: Vício Inerente (Inherent Vice, no original) tem seus bons momentos, mas, no geral, não é um bom filme. Me parece que Paul Thomas Anderson não fez um bom trabalho ao roteirizar o livro homônimo de Thomas Pynchon. Além da trama ser rocambolesca demais, algumas cenas e personagens parecem sem propósito – por exemplo, gosto do Benicio Del Toro, mas tire o seu papel e nada muda no filme (talvez funcione no livro, mas não aqui aqui no filme). Ou seja, a adaptação é confusa, e como o filme é longo (148 minutos), o espectador já está cansado antes da metade.

Pena, porque, como falei, Vício Inerente não é ruim. De positivo, temos uma excelente ambientação de época – os figurinos e maquiagens estão perfeitos, o filme realmente parece feito nos anos 70. A fotografia de Robert Elswit é outro destaque, com um pé no cinema noir.

O elenco também está muito bem. Joaquin Phoenix está ótimo como uma espécie de Wolverine hippie; Josh Brolin idem, com o seu policial bruto e esquisitão. Ainda no elenco, Reese Witherspoon, Katherine Waterston, Jena Malone, Owen Wilson, Eric Roberts, Martin Short, Joanna Newsom, Serena Scott Thomas, Maya Rudolph, Michael Kenneth Williams e Hong Chau, além do já citado Del Toro.

Pena que o resultado final é enfadonho. Acho que é melhor rever Boogie Nights

Boogie Nights – Prazer Sem Limites

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Boogie Nights – Prazer Sem Limites

No final da década de 70, um jovem bem-dotado é descoberto por um diretor de filmes adultos. Rapidamente, ele vira um astro do cinema erótico e passa a conviver com os excessos do trinômio sexo, drogas e disco music.

Em seu segundo longa, o diretor e roteirista Paul Thomas Anderson revela um raro talento ao mostrar a ascenção e queda de um ator pornô, e todo o universo em torno disso. Um excelente retrato do cinema erótico do fim dos anos 70 ao início dos anos 80 – quando a película deu lugar ao video-cassete.

Uma excelente galeria de personagens e um elenco perto da perfeição também ajudam, e muito. O quase sempre insosso Mark Wahlberg funciona bem como o protagonista Dirk Diggler – temos inclusive uma cena dele com o, digamos, “instrumento de trabalho” para fora das calças (meninas, o ator usou uma prótese!). Burt Reynolds é Jack Horner, o diretor old school que teima em continuar usando película porque quer fazer cinema e não vídeo (dizem que foi inspirado no diretor pornô Alex de Renzy). Julianne Moore está maravilhosa (como sempre) como Amber Waves, atriz mais experiente, passando por problemas com a guarda do filho (curiosidade: esse papel foi inspirado na atriz pornô Veronica Hart, que passou pelo mesmo problema na vida real; Veronica faz a juíza que julga o caso de Amber). E acho que Heather Graham nunca esteve tão bonita quanto aqui, interpretando a Rollergirl, atriz pornô que nunca tira os patins. E ainda temos John C. Reilly, Don Cheadle, William H. Macy, Luiz Guzman, Philip Seymour Hoffman, Thomas Jane e Alfred Molina, entre outros.

(Outra curiosidade sobre o elenco: a mulher do personagem do William H. Macy é interpretada pela Nina Hartley, atriz pornô na vida real!)

Rumores dizem que Dirk Diggler seria inspirado em John Holmes, um dos maiores nomes da história do pornô. Holmes também era famoso por ser bem-dotado, também teve uma carreira paralela de filmes de ação, também se envolveu com drogas e também tem uma história mal contada envolvendo violência e assassinatos (o filme Crimes em Wonderland, estrelado por Val Kilmer, conta isso com detalhes). Mas tenho cá minhas dúvidas se isso é verdade. Afinal, o próprio Holmes é citado em uma cena do filme, como se fosse um contemporâneo de Diggler.

Boogie Nights ainda tem uma peculiaridade técnica bastante interessante. Sabe a cena inicial de A Marca da Maldade, de Orson Welles, onde, num único plano-sequencia, uma câmera passeia entre vários personagens e as coisas vão acontecendo em volta deste travelling? Esta técnica foi usada por um monte de gente legal, como Robert Altman em O Jogador, ou Brian de Palma em Olhos de Serpente. Pois bem, se uma cena destas é difícil de se fazer, P.T. Anderson mostra habilidade, e faz isso aqui vááárias vezes.

Some a isso tudo uma boa trilha sonora e uma perfeita dosagem entre humor e violência (às vezes lembra Tarantino!), e temos um dos melhores filmes de 97.

Este filme não existia no mercado brasileiro de dvds, mas foi lançado recentemente! Vale a pena comprar!