Floresta de Sangue

Crítica – Floresta de Sangue

Sinopse (Netflix): Um vigarista e uma equipe de filmagem entram na vida de duas jovens com profundas cicatrizes. Mas nada é o que parece ser.

Um amigo mandou uma mensagem com um link que dizia “Perturbador e brutal, filme da Netflix para quem tem coração forte prende o espectador do início ao fim”. Fui ver, era um filme do Sion Sono. Opa, furou a fila!

Mas… Preciso dizer que não gostei desse. Floresta de Sangue (Ai-naki mori de sakebe, no original) é maluco, como todos os filmes do diretor, mas diferente dos outros que vi, não é divertido (esse é o sexto filme do Sion Sono que tem crítica aqui no site). Sono usa muitos elementos fora da caixinha em seus filmes, como a tartaruga gigante de Love and Peace, ou as gangues cantando rap em Tokyo Tribe, ou mesmo o Nicolas Cage sem um testículo em Prisioners of the Ghostland, elementos malucos mas ao mesmo tempo divertidos. Floresta de Sangue também tem suas doideiras, mas tem um clima pesado e me deu uma bad trip. Principalmente quando acaba o filme e a gente vê que aquilo foi baseado numa história real!

Mas, Floresta de Sangue não é ruim. Vamulá.

Conheço o estilo do Sion Sono, sei que não devemos esperar nada convencional num de seus filmes. Aqui a gente tem colegiais japonesas lésbicas em um pacto suicida, um assassino serial misterioso, um violento charlatão que cria uma seita e ainda muita metalinguagem com uma equipe que quer filmar tudo, e isso tudo numa trama não linear, que ainda traz um momento musical e vários momentos de tortura física e psicológica, além de bastante gore. São mais de duas horas de filme, numa mistureba que vai afastar boa parte do público.

Tecnicamente falando, o filme é muito bem feito. Sono traz alguns detalhes bem legais. Gostei muito de uma cena onde ele usa o silêncio pra mostrar um delírio da Mitsuko.

O filme é um pouco longo demais, são duas horas e trinta e um minutos. E com tanta mistura de temas e estilos ao longo do filme, Floresta de Sangue se torna um filme cansativo. (Me parece que existe uma outra versão na Netflix, a mesma história como série com sete episódios, me pareceu uma versão estendida do filme. Mas não chequei este outro formato).

Sobre o elenco, acho complicado falar, porque as atuações no cinema oriental são muito intensas, tudo muito gritado, muito exagerado, comentei isso outro dia quando falei de Bala na Cabeça. Não curto o estilo, mas sei que é algo comum, então não vou criticar. No elenco, Kippei Shîna, Kyoko Hinami, Eri Kamataki e Shinnosuke Mitsushima – nenhum nome conhecido aqui no Brasil.

Como falei, Floresta de Sangue não é ruim. Mas saber que isso foi inspirado em uma história que realmente aconteceu não me fez bem. Fiquei imaginando a seita da vida real…

Prisoners of the Ghostland

Crítica – Prisoners of the Ghostland

Sinopse (imdb): Um criminoso deve quebrar uma maldição para resgatar uma menina raptada que desapareceu misteriosamente.

Pensa num filme maluco. Provavelmente não vai ser tão maluco quanto este Prisoners of the Ghostland!

Nicolas Cage tem feito muitos filmes – segundo o imdb, já foram 11 de 2019 pra cá. Boa parte desses filmes tem qualidade duvidosa, mas a gente consegue pinçar alguns bons títulos, como A Cor que Caiu do Espaço (2019) e Pig (2021). Mas, tem filmes como a bomba Jiu Jitsu. Então, o que fez Prisoners of the Ghostland entrar no meu radar? Vi que o diretor era Sion Sono, aí lembrei do meme do Leonardo Di Caprio – “you had my curiosity, now you have my atention”.

Sei que Sion Sono deve ser desconhecido de 99% do público brasileiro, mas já vi quatro filmes dele, todos no Festival do Rio: Por que você não vai brincar no Inferno (2013), Tokyo Tribes (2014), Paz e Amor (2015) e Antiporno (2017)

Ou seja: heu já sabia que veria um filme maluco. Quase todos que vão ver Prisoners of the Ghostland o farão pelo Nicolas Cage; heu queria era ver o novo Sion Sono!

E Sono não decepciona. Prisoners of the Ghostland é uma espécie de faroeste pós apocalíptico, com toques de Mad Max e Fuga de Nova York.

E até aqui, nada de mais.

Digo isso porque Prisoners of the Ghostland é muito mais do que apenas um faroeste pós apocalíptico. Tem personagens que ficam cobertos com pedaços de manequins. Tem uma personagem que fala em japonês ou sei lá qual língua, e logo um coro “traduz” em inglês, parecendo aqueles coros de teatro antigo. Tem grupos de personagens que ficam dançando coreografias que sei lá se têm algum significado. Tem uns caras com umas roupas que lembram os macacos voadores d’O Mágico de Oz. Tem outros que ficam puxando um ponteiro de relógio com uma corda. E no meio de tudo isso tem o Nicolas Cage, sem um testículo, com um capacete de futebol americano e um braço metálico!

Nada disso é explicado. Acredito que muitas dessas coisas tenham um significado, mas não fui catar o “manual de instruções”. Apenas curti a viagem – e que viagem!

Não sabemos onde o filme se passa, nem quando. O visual é impressionante, tanto nas cores quanto nos cenários. Prisoners of the Ghostland é um filme muito maluco, mas também é um filme muito bonito.

Nicolas Cage encaixou perfeitamente dentro do formato proposto pelo Sion Sono. Exagerado, claro, combina com toda a insanidade em volta. Também no elenco, Sofia Boutella, Nick Cassavetes, Bill Moseley e Tak Sakaguchi.

Claro que muita gente vai ver por causa do Nicolas Cage, e vai se assustar com a intensidade da loucura – e, consequentemente, não vai curtir.

Tenho pena desses. Porque heu me diverti com Prisoners of the Ghostland. E quero mais Sion Sono!

Antiporno

antipornoCrítica – Antiporno

Sinopse (Catálogo do Festival do Rio): Kyoko tem 21 anos e é uma artista promissora, repleta de autoconfiança. Quando algo não sai como o esperado, ela desconta sua frustração em Noriko, sua assistente de 36 anos. Imatura, Kyoko se comporta como uma rainha absoluta e faz Noriko passar por humilhações sexuais diante do resto da equipe.

O Festival do Rio tem umas mostras paralelas. Este ano teve uma mostra “pornochanchada à japonesa”. Queria ver pelo menos um deles. Quando vi que tinha um filme do Sion Sono, não tive dúvidas sobre qual seria o escolhido.

Explico: já tinha visto outros três filmes do Sion Sono em outras edições do Festival do Rio – Paz e Amor em 2015; Tokyo Tribe em 2014; e Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno? em 2013. Os três são esquisitos. Já tinha ideia do que ia encontrar.

E, claro, Antiporno (Anchiporuno, no original) é um filme esquisito. Cenários bizarros, personagens bizarros, situações bizarras… Quem gosta de filmes bizarros vai curtir.

Não quero falar muito sobre a trama pra não dar spoilers, até cortei parte do que estava na sinopse do catálogo (apesar de desconfiar que NENHUM dos meus leitores vai ver este filme). Só digo que Antiporno faz umas brincadeiras bem legais com metalinguagem. Quando a trama começa a cansar, rola um plot twist bizarro e tudo muda de rumo.

Esses plot twists mudam completamente a personalidade das personagens principais, o que faz o trabalho das duas atrizes principais ficar muito mais complexo e interessante. Gostei muito das performances de Ami Tomite e Mariko Tsutsui. Aliás, segundo a wikipedia, Mariko Tsutsui tem 57 anos. Acho que nunca vi uma cinquentona tão bem conservada. Parabéns, sra. Mariko!

Não foi o melhor Sion Sono que já vi (Tokyo Tribe é imbatível!), mas me diverti. Que venha outro filme dele em um festival futuro.

Paz & Amor

Love_&_PeaceCrítica – Paz e Amor

Um músico frustrado que sofre bullying por seus colegas de trabalho compra uma tartaruga, mas acaba se desfazendo dela, e se arrepende por isso. Mas sua tartaruga cresce e aprende a cantar.

No Festival do Rio do ano passado, uma das melhores surpresas foi Gangues de Tokyo, um musical hip hop em japonês. Claro que guardei o nome do diretor, Sion Sono. E claro que, quando li seu nome na programação deste ano, nem pensei duas vezes e garanti o meu ingresso.

Paz & Amor (Love and Peace em inglês) é divertidíssimo, apesar de ser um dos mais estranhos da programação deste ano. E por este motivo, não é um filme recomendado pra qualquer um, tem que ter a cabeça aberta para ver algo completamente fora da curva. Temos atuações à beira da caricatura (algo comum no cinema japonês), criaturas animadas toscamente e uma tartaruga gigante que parece o Baby da Silva Sauro.

Explicando melhor: existe uma trama paralela (que traz um belo plot twist, diga-se de passagem) onde temos brinquedos quebrados e animais abandonados que falam. E, em vez de serem animatronics ou cgi, são marionetes toscas! E a tartaruga, quando cresce, com grandes olhos e voz fina, lembra muito o personagem caçula da família Dinossauro.

Agora, mesmo com toda a tosqueira, a produção é muito bem feita. Temos grandes shows de música, e cenas bem feitas de destruição no fim. Falta de dinheiro não era um problema, a tosqueira deve ter sido uma opção da produção.

Agora aguardemos o festival de 2016, onde vou direto na programação procurar se tem algo novo do Sion Sono. E enquanto isso, passei o dia cantarolando a música tema do filme – impossível não sair do cinema com a música na cabeça!

p.s.: No trailer que tem no youtube tem a música, mas não aparece a tartaruga…

Gangues de Tóquio / Tokyo Tribe

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Crítica – Gangues de Tóquio / Tokyo Tribe

Começou o Festival do Rio! Como fiz nos anos anteriores, vou focar no lado mais underground do Festival. Então, preparem-se para, nos próximos dias, ler sobre alguns filmes que ninguém ouviu falar!

Que tal começarmos com um filme de brigas de gangues da yakuza? Mas… Brigas cantadas – em hip hop – e em japonês!

Adaptação do mangá Tokyo Tribe, de Santa Inoue. Em uma Tóquio futurista, a cidade é composta por favelas, guetos e boates, além de ruas dominadas por jovens rebeldes. A cidade é dividida entre várias gangues, que vivem em uma relativa paz – que será em breve colocada de lado.

Tive a sorte de ver no Festival do Rio de 2013 Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno, filme anterior do diretor Sion Sono. Ou seja, heu já tinha ideia do que iria encontrar. E mesmo assim, me surpreendi!

Tokyo Tribe é um dos filmes mais malucos que heu já vi – e olha que já vi muito filme maluco. É uma mistura de musical, ação, comédia e trash, com muita violência gráfica, boa dose de nudez e muitas referências à cultura pop (como Laranja MecânicaKill Bill), repleto de sequências absurdas e de personagens muito, muito bizarros.

Admito que não dou bola pra rap e hip hop. Mas reconheço que a narrativa ficou bem legal – a maior parte dos diálogos são “cantados”, tudo funciona como uma colagem de videoclipes. Sono consegue criar vários planos-sequência inspirados, no meio de várias brigas bem coreografadas. E o fato de Tokyo Tribe ter uma excelente coleção de personagens estranhos ajuda ainda mais no clima esquisitão do filme – o diretor escalou rappers reais, tatuadores e dublês para os papéis principais.

Tokyo Tribe tem menos gore que Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno, mas tem uma boa quantidade de sangue fake. Os japoneses são exagerados, e a violência segue esse estilo exagerado, tornando o filme uma comédia – não sei se proposital ou não. O cinema inteiro gargalhava!

Pena que o roteiro é cheio de furos básicos – tipo, que fim levaram os dois lutadores enviados para ajudar? Além disso, tem coisa desnecessária, como aquele tanque de guerra num dos cgis mais mal feitos que vi nos últimos tempos – e o tanque é deixado de lado logo depois, ou seja, era melhor nem ter aparecido.

Tokyo Tribe tem outro problema, mas não é culpa do filme. É que tem MUITA legenda, e, pelo formato do festival, as legendas ficam fora do filme, embaixo da tela. Fica difícil acompanhar o rap em japonês…

Enfim, não é pra qualquer um. Mas quem curte algo “fora da caixa” vai se divertir!

Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno?

Crítica – Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno?

Mais um daqueles filmes que a gente só vê em festivais!

Hirata sonha em se tornar um grande cineasta. Enquanto ele planeja a realização de sua primeira obra-prima, uma violenta disputa entre dois clãs da Yakuza começa a escalar: a esposa do chefão Muto massacra a gangue do rival Ikegami e é presa, sacrificando a carreira da filha Michiko, que sonha em ser uma atriz famosa. Dez anos depois, Muto resolve provar para a esposa, prestes a sair da cadeia, que Michiko se tornou uma estrela. É então que os caminhos de Hirata e da Yakuza se cruzam numa verdadeira orgia de cinema e sangue.

Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno? (Jigoku de Naze Warui, no original) é uma grande brincadeira homenageando o cinema. Muita metalinguagem, e também muito sangue cenográfico. E, principalmente, tudo com muito bom humor!

(Aliás, é curioso ver o cinema oriental fazendo uma referência ao cinema ocidental que por sua vez foi influenciado pelo oriental. Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno? tem pelo menos uma citação explícita a Kill Bill, quando uma mulher com uma espada é cercada por vários inimigos.)

O diretor e roteirista Sion Sono já é um veterano – segundo o imdb, este é o vigésimo sétimo longa no currículo. Mas acho que ele só teve um filme lançado por aqui, O Pacto / Suicide Club – que heu não vi. Mas gostei do seu trabalho, vou ficar atento ao nome.

As atuações são exageradas. Quem não está acostumado pode achar estranho, mas isso é comum no cinema japonês. O elenco não tem nenhum nome conhecido, pelo menos por mim.

O filme é um pouco longo, pouco mais de duas horas. Na minha humilde opinião, os núcleos demoraram a se encontrar. Mas a parte final, o absurdo e divertido banho de sangue, compensa isso.