Triângulo da Tristeza

Crítica – Triângulo da Tristeza

Sinopse (filmeB): O casal de modelos Carl e Yaya é convidado para um cruzeiro de luxo com uma lista de passageiros super-ricos e um capitão peculiar, alcoólatra e marxista. O que a princípio parecia uma viagem perfeita termina catastroficamente, deixando os sobreviventes presos em uma ilha deserta e lutando pela sobrevivência.

Ganhador da Palma de Ouro de Cannes em 2022 e indicado ao Oscar de melhor filme, claro que queria ver Triângulo da Tristeza, escrito e dirigido por Ruben Östlund (que já tinha ganhado Cannes antes, em 2017, por The Square: A Arte da Discórdia).

Triângulo da Tristeza é uma comédia, mas é uma comédia mais calcada na ironia do que nas piadas. Foram poucos os momentos onde achei realmente engraçados (tipo a piada de humor negro com a granada, onde ri alto!). Mas o filme todo é cheio de críticas irônicas a convenções sociais.

O início do filme me lembrou a série Curb Your Enthusiasm, do Larry David, onde vários episódios são sobre “tempestade em copo d’água”, com uma discussão enorme sobre um assunto besta. Tem duas cenas com discussões assim, uma sobre quem paga a conta do restaurante (a mulher que ganha mais e que combinou que ia pagar faz “cara de paisagem” pro homem assumir a conta); outra sobre um funcionário do navio que está sem camisa e cumprimenta a passageira. Mas, diferente da série do Larry David, aqui não puxa pro lado do humor, fica só no lado do desconforto.

Aliás, falando em desconforto, tem uma cena que vai embrulhar estômagos. O jantar do capitão é servido em uma noite de mar revolto, e muita gente começa a passar mal – e vomitar. Não sei se foi proposital ou não (acredito que sim), mas lembrei do sr Creosote, do filme O Sentido da Vida, do Monty Python. Mas, mais uma vez, a cena é mais desconfortável do que engraçada.

O filme é dividido em três partes. A primeira mostra o casal principal e como é a vida deles; a segunda mostra uma viagem em um iate de luxo onde todos são muito ricos (e por isso acham que podem fazer o que quiserem); a terceira mostra os personagens em uma ilha deserta tendo que repensar convenções sociais para sobreviverem. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que gostei de como as críticas sociais são apresentadas. Dificilmente o espectador vai sair do cinema sem se questionar sobre alguns temas.

No elenco, um nome conhecido: Woody Harrelson, mas que aparece pouco. Ficou parecendo que a produção não tinha dinheiro para pagar o cachê integral, então pagou só pra aparecer em algumas cenas – o que é estranho, já que é um filme de um ganhador de Cannes. Também no elenco, Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly De Leon, Zlatko Buric e Vicki Berlin. A nota triste é que Charlbi Dean faleceu pouco depois do lançamento do filme. Ela tinha apenas 32 anos…

Casamento em Família

Crítica – Casamento em Família

Sinopse (imdb): Michelle e Allen estão em um relacionamento. Eles decidem convidar seus pais para finalmente se conhecerem. Acontece que os pais já se conhecem bem, o que leva a algumas opiniões divergentes sobre o casamento.

Comédia romântica é um gênero que sempre gera controvérsias. Todo mundo sempre fala mal. Mas, se você estiver no clima certo, quase sempre é um bom programa. Ok, entendo, é previsível. Antes de começar o filme a gente já sabe como vai terminar. Mas nem sempre o espectador quer roteiros mirabolantes e plot twists que dão nó na cabeça, né?

Escrito e dirigido por Michael Jacobs, Casamento em Família (Maybe I Do, no original) às vezes parece um teatro filmado – principalmente na segunda metade, quando todo o elenco está na mesma casa. Além disso, é previsível e cheio de clichês. E, mesmo assim, é um programa agradável!

Assim como aconteceu em Ingresso para o Paraíso, o melhor aqui é no elenco veterano. É sempre agradável ver em tela Diane Keaton, Susan Sarandon, Richard Gere e William H. Macy. Nada contra Emma Roberts e Luke Bracey, mas os coroas têm muito mais carisma.

(Curioso lembrar que Emma Roberts é sobrinha da Julia Roberts, que teve um grande sucesso com Uma Linda Mulher, ao lado do Richard Gere, que aqui faz o pai de Emma…)

Quem curte comédias românticas vai se divertir, assim como quem curte o elenco veterano. Quem não curte? Tem outras opções em cartaz!

Noite Infeliz

Crítica – Noite Infeliz

Sinopse (imdb): Quando um grupo de mercenários ataca a propriedade de uma família rica, o Papai Noel deve intervir para salvar o dia (e o Natal).

O tema “papai Noel badass” já me interessava. Mas quando soube que era produção da 87North, passou a ser um dos filmes aguardados do fim do ano!

Pra quem não se ligou no nome, 87North é a produtora fundada por David Leitch, e que está por trás de filmes como Anônimo, Trem Bala e Kate. Ou seja, estamos diante de uma galera que sabe fazer boas cenas de ação. Claro, isso não garante a qualidade do filme, mas pelo menos garante a qualidade das cenas de ação. E quem me conhece sabe que aprecio cenas de ação bem coreografadas e bem filmadas.

Outra coisa que falo sempre aqui é que precisamos entender a proposta do filme. Noite Infeliz (Violent Night, no original) não quer ser um grande filme, é sim uma boa diversão a partir de uma ideia maluca – um Papai Noel real, e bem diferente do que a gente imagina. O resultado é um um bom equilíbrio entre ótimas cenas de ação e sequências engraçadíssimas, com um ator protagonista inspirado, que quando acaba o filme a gente já fica com vontade de rever.

A direção é do norueguês Tommy Wirkola, um nome não muito conhecido, mas que heu acompanho desde Dead Snow, filme nórdico de zumbis lançado em 2009. Já em Hollywood, ele fez o divertido e meio trash João e Maria Caçadores de Bruxas em 2013, e já na era do streaming fez Onde Está Segunda em 2017. Currículo pequeno, mas já tem alguns bons títulos.

Um dos grandes trunfos de Noite Infeliz é não se levar a sério em momento algum – o filme é divertidíssimo! É claro que existem espaços para citações a outros filmes de Natal, como Duro de Matar e Esqueceram de Mim. Aproveito para comentar o “momento Esqueceram de Mim”. Certo momento, parece que o filme pega outra pegada no humor. Isso talvez incomode alguns espectadores, mas hei entendi que era uma homenagem ao filme do Macauley Culkin.

Outra coisa que precisa ser mencionada é a trilha sonora de Dominic Lewis. A trilha é orquestrada, parece um Alan Silvestri dos áureos tempos, e cheia de pequenas citações a temas clássicos de Natal. Há tempos que uma trilha sonora não me chamava tanto a atenção.

O roteiro não é perfeito, tem algumas situações bem forçadas. Mas… o próprio roteiro assume que são forçadas e manda a frase “é a mágica do Natal, não sei como funciona, mas funciona”. Assim, o roteiro não se preocupa com algumas incoerências. Mas, tenho uma crítica. O filme mostra alguns breves flashbacks do passado do Papai Noel, antes dele assumir o cargo. Mas não desenvolve esse plot. Ora, se você vai entrar no assunto, desenvolva. Ficar só na pincelada ficou estranho.

No elenco, todos os elogios possíveis a David Harbour, ótimo como esse Papai Noel politicamente incorreto. Ele bebe demais, ele parece ser um cara egoísta, mas mostra que lá no fundo é coerente com a mitologia do personagem. E Harbour ainda faz cenas de ação, tem uma cena num salão de jogos (a cena que termina com a estrela no olho) que tem um longo plano sequência! O vilão John Leguizamo também está bem. O terceiro nome conhecido do elenco é Beverly D’Angelo – será que seria uma citação implícita a Férias Frustradas de Natal, de 1989? No resto do elenco, ninguém relevante.

Noite Infeliz pode ficar junto de Gremlins e Duro de Matar como filmes para serem revistos a cada Natal!

Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Crítica – Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Sinopse (Disney+): Com a missão de tornar o Natal inesquecível para Quill, os Guardiões vão à Terra em busca do presente perfeito.

James Gunn é “o cara”. Se antes já era impressionante o fato dele ter saído da Troma (sua estreia foi o roteiro de Tromeu & Julieta) e chegar na Marvel, agora ele está ligado a projetos simultâneos na Marvel e na DC!

Guardiões da Galáxia Especial de Festas (The Guardians of the Galaxy Holiday Special, no original) é uma divertidíssima brincadeira. Gunn aproveitou as filmagens de Guardiões 3 e juntou o elenco para filmar um especial de natal, independente dos filmes, de pouco mais de quarenta minutos. Pretensão zero, diversão nota 10.

O filme segue uma ideia maluca (e coerente com tudo o que o diretor já tinha feito com os Guardiões): tirando Peter Quill, todos são alienígenas e não sabem o que é o Natal. Então Mantis e Drax resolvem vir até a Terra para trazer um presente para Quill: o Kevin Bacon! Sim, afinal rolou uma piada no primeiro ou segundo Guardiões onde Quill fala que Kevin Bacon foi um herói que salvou uma cidade com a dança.

Uma coisa bem legal dessa fase atual da Marvel é que cabem experimentações em formatos diferentes. Depois de uma sitcom de uma advogada Hulk e de um filme sério com homenagem ao Pantera Negra, agora tem espaço para uma bobagem divertida.

Em sua incursão pela DC, em Esquadrão Suicida e na série Peacemaker, James Gunn usou muita violência gráfica, mas aqui em Guardiões da Galáxia Especial de Festas o clima é família, mantendo a linha dos filmes dos Guardiões. Outra característica constante em seus filmes, a trilha sonora é importante, e a música de Natal que toca no início é sensacional. Não achei informações no imdb, mas desconfio que seja a banda Old 97’s caracterizada interpretando a música no filme.

O elenco é fantástico. Mesmo sendo uma produção simples, direto para o streaming, Guardiões da Galáxia Especial de Festas traz de volta quase todo o elenco dos filmes (só Zoe Saldana não está aqui). Os principais são Pom Klementieff e Dave Bautista (que estão ótimos em sua incursão pela Terra), e temos também Chris Pratt, Karen Gillan, Michael Rooker, Bradley Cooper, Vin Diesel e Sean Gunn. De novidade, Maria Bakalova faz a voz do cachorro Cosmo, ela deve estar no próximo filme. Claro, Kevin Bacon também tem uma grande participação, e sua esposa Kyra Sedgwick é quem fala ao telefone com ele.

Por fim, não me lembro de personagens da DC sendo citados no MCU. E aqui falam do Batman! Olha, se alguém for fazer um crossover Marvel x DC nos cinemas, acho que já temos a pessoa certa para tocar o projeto!

Super Quem?

Crítica – Super Quem?

Sinopse (Paris Filmes): Um ator só tem azar quando a questão é trabalho. E quando, por obra do destino, consegue o protagonismo em um filme de super-herói chamado BadMan, ele sofre um acidente e começa a viver como se fosse o personagem da história. Imerso em alucinações de sua nova vida, ele e seus amigos se veem no meio de uma grande confusão com bandidos reais e um caso para solucionar.

No meio de um monte de filmes de super heróis, que tal uma comédia francesa parodiando o gênero?

Já vi muitos filmes franceses, mas preciso admitir que não acompanho de perto o que acontece por lá. Nunca tinha visto nenhum filme do ator / diretor / roteirista Philippe Lacheau, e preciso dizer que tive uma surpresa positiva. O formato lembra aquelas paródias hollywoodianas que vieram na onda de Todo Mundo em Pânico e Não é mais um Besteirol Americano, tipo Os Espartalhões, Deu A Louca em Hollywood, Super Heróis: A Liga da Injustiça (teve uma leva de filme “alguma coisa movie”, tinha Epic Movie, Date Movie, Disaster Movie, todos muito bobos.) A diferença é que Super Quem? (Super-héros malgré lui, no original) me fez rir, coisa que não aconteceu com os filmes americanos.

Algumas piadas são muito boas. Ri alto em algumas sequências, como quando o protagonista vai tentar impedir um assalto a banco e sua companheira se machuca involuntariamente várias vezes. Ou na parte final, quando os quatro estão “fazendo cosplay”, e mais uma vez tudo dá errado sem querer.

Super Quem? é cheio de referências a filmes de super heróis (tem uma boa sequência usando X-Men!). Nada muito “heavy user”, mas talvez o espectador não familiarizado com o gênero perca algumas referências. trilha sonora

Ok, o humor às vezes é bobo, como aquele pino no banco do motorista. E o filme tem algumas coisas bem previsíveis e clichês, como o vilãozão que a gente sabe que vai aparecer no final. E não gostei da parte final mostrando o casal. Por outro lado, a piada sobre o “product placement” é ótima!

O maior foco são as piadas, mas Super Quem? ainda tem umas boas sequências de ação. São pelo menos duas sequências com coreografias muito bem feitas.

Sobre o elenco, disse lá em cima, não conhecia Philippe Lacheau. Vi no imdb que ele já fez outros sete filmes com a dupla Tarek Boudali e Julien Arruti, além de três filmes com Élodie Fontan. Taí, não vi nenhum desses filmes, vou procurar. Do elenco, só conhecia Jean-Hugues Anglade, de Betty Blue e Subway.

Super Quem? não é um grande filme. Mas é melhor que a maioria das comédias que chegam por aqui.

Ingresso para o Paraíso

Crítica – Ingresso para o Paraíso

Sinopse (imdb): Um casal divorciado viaja junto para Bali para impedir que sua filha cometa o mesmo erro que eles acham que cometeram há 25 anos.

Este é mais um daqueles filmes que pedem “críticas super curtas”: “comédia romântica estrelada por Julia Roberts e George Clooney”. Porque não tem muita coisa a mais pra falar.

Mas, vamulá. Vou defender o filme!

Sempre falo que precisamos ver qual é o objetivo do filme. Quem vai ver uma comédia romântica está atrás de cenas eletrizantes, ou de reviravoltas de roteiro, ou de efeitos especiais que explodem cabeças? Ou está afim de uma história leve e divertida, atores carismáticos e belos cenários?

Dirigido por Ol Parker, Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise, no original) traz esses três elementos. Afinal, ninguém pode reclamar de ver Julia Roberts e George Clooney em cenários paradisíacos de Bali. A história é previsível? Claro que é. Mas quem procura um filme assim, quer uma história previsível.

No elenco, claro que o destaque é com Julia Roberts e George Clooney, que têm uma boa química juntos (é a quinta vez que trabalham juntos). Também gostei do outro casal, a filha deles e o noivo, Kaitlyn Dever e Maxime Bouttier. Por outro lado, achei forçados os personagens da amiga da filha e do namorado da Julia Roberts. Passaram um pouco do tom.

Ingresso para o Paraíso é uma boa comédia romântica. Se você não gosta, veja outro filme; se você curte o estilo, é o seu filme.

Thor: Amor e Trovão

Crítica – Thor: Amor e Trovão

Sinopse (imdb): A aposentadoria de Thor é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda da Valquíria, do Korg e da sua ex-namorada Jane Foster, que – para surpresa de Thor – inexplicavelmente empunha seu martelo mágico, Mjolnir, como Poderoso Thor. Juntos, eles embarcam em uma angustiante aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança do Carniceiro dos Deuses e detê-lo antes que seja tarde demais.

E a Marvel continua desenvolvendo o seu cada vez mais complexo universo cinematográfico. A boa notícia aqui é que, se Doutor Fantástico precisava de pré requisitos (quem não viu a série Wandavision deve ter ficado um pouco perdido), este Thor: Amor e Trovão (Thor Love and Thunder, no original) funciona como filme solto – o que o espectador não lembra, aparece o Korg (interpretado pelo diretor Taika) contando.

A direção mais uma vez ficou nas mãos de Taika Waititi, o mesmo do anterior Thor Ragnarok. Taika tem uma pegada forte no humor, todos sabiam que este quarto filme do Thor seria mais uma comédia. Mas a comédia é intercalada por momentos sérios. A história tem algo de drama, temos alguns temas sérios, temos personagem de luto porque perdeu filho, temos personagem com câncer. Conversei com alguns críticos que não gostaram da mistura, mas, na minha humilde opinião, o filme tem um bom equilíbrio entre o drama e a comédia escrachada.

Falei humor escrachado, né? Assim como Ragnarok, Thor: Amor e Trovão é muito engraçado. Traz umas cenas hilárias com o Stormbreaker, o machado do Thor, com ciúmes do Mjolnir. E tem uns bodes que são o alívio cômico perfeito, e que protagonizam a melhor piada do ano no cinema até agora.

Uma coisa me intrigava, que era a Jane Foster como Thor. O roteiro explica o que aconteceu. Se é uma boa explicação, aí não sei. Achei forçada. Mas, pelo menos explica.

Sobre a trilha sonora, queria fazer uma crítica. A trilha sonora é do quase onipresente Michael Giacchino (só este ano, ele já esteve em Batman, Jurassic World e Lightyear), mas nenhum tema dele me chamou a atenção. O que chama a atenção são as músicas de hard rock usadas em algumas cenas impactantes. Todas são boas músicas, todas engrandecem a cena, mas… São QUATRO músicas do Guns’n’Roses! Ok, entendo usar o Guns, tem uma piada envolvendo um dos personagens, mas me pareceu um exagero. Taika não conhece outras bandas de rock? Rainbow in the Dark, do Dio, aparece só nos créditos…

O visual do filme é fantástico, como era de se esperar. Mas teve um detalhe que achei genial. Em um filme muito colorido, determinado momento o filme perde a cor. Fica quase tudo preto e branco, com exceção de alguns detalhes aqui e ali.

Temos um novo vilão, Gorr, o Carniceiro dos Deuses. É um bom vilão, com uma boa motivação, interpretado por um grande ator, Christian Bale (sim, o Batman). Mas, achei ele mal aproveitado, e não gostei do fim que deram a ele. Me pareceu uma oportunidade desperdiçada.

Já que falamos do Christian Bale, bora falar do elenco. Chris Hemsworth parece muito à vontade com o personagem, até perdi a conta de quantos filmes ele já fez como Thor. Temos a volta de Natalie Portman como Jane Foster e Tessa Thompson como Valquíria, mas ambas parecem estar no piloto automático – sorte que o filme não pede muito delas. O diretor Taika Waititi faz a voz do Korg, personagem que tem uma importância grande (afinal, é direção e roteiro dele, né?). Temos participação da galera dos Guardiões da Galáxia: Chris Pratt, Dave Bautista, Karen Gillan, Pom Klementieff e Sean Gunn, e as vozes de Vin Diesel e Bradley Cooper. Russel Crowe faz um Zeus engraçado. Matt Damon, Luke Hemsworth e Sam Neill estavam no Thor Ragnarok, como atores teatrais interpretando Loki, Thor e Odin. Aqui eles voltam, e também temos Melissa Macarthy como Hela. E Elsa Pataky, esposa do Chris Hemsworth, aparece muito rápido como a mulher loba.

Por fim, o tradicional da Marvel: duas cena pós créditos, uma com um gancho para uma provável continuação, outra com uma homenagem bonitinha.

Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Crítica – Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Sinopse (imdb): Uma idosa imigrante chinesa se envolve em uma aventura louca, onde só ela pode salvar o mundo explorando outros universos que se conectam com as vidas que ela poderia ter levado.

Este ano tivemos um bom filme com o subtítulo “Multiverso da Loucura”. Quem diria que pouco mais de um mês depois teríamos outro bom filme usando multiversos, e ainda mais louco que o primeiro filme?

Escrito e dirigido pela dupla “Daniels” (Dan Kwan e Daniel Scheinert), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once no original) usa o conceito de multiverso de maneira insana. Algumas sequências têm poucos segundos e conseguem mostrar diversos cenários e figurinos misturados. Parece aquela sequência do gerador de imprevisibilidade de O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas que dura muito mais tempo. É tudo muito intenso, pisque o olho e perdeu partes da viagem.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem várias sequências geniais. Para ativar a viagem entre os multiversos, a pessoa precisa fazer algo inesperado. Se a primeira coisa inesperada é comer um batom, essa “inesperabilidade” vai escalando até coisas completamente malucas conforme o filme avança. E como tudo é possível, vemos por exemplo uma batalha entre a vilã e alguns guardas onde cada guarda é derrotado de maneira mais criativa possível.

Não sei se podemos chamar Tudo em todo lugar ao mesmo tempo de comédia, mas tem cenas engraçadíssimas. Tem uma luta na parte final onde a protagonista enfrenta um adversário sem calças, e com algo enfiado naquela parte famosa da anatomia da Anitta. Tem uma divertidíssima citação ao Ratatouille. E o universo com as pessoas com salsichas no lugar dos dedos das mãos é hilário!

Acho que o que mais chama a atenção é a edição. Fiquei imaginando, deve ter dado um trabalho hercúleo organizar todas aquelas imagens misturadas de forma que ainda fizessem algum sentido. E ainda tem inúmeras mudanças de formato de tela (aspect ratio), o que confunde ainda mais.

Mas, também preciso falar da protagonista Michelle Yeoh. Já falei dela outras vezes, mas aqui acho que foi sua melhor atuação. Ela consegue transparecer todos os conflitos de todas as versões de sua personagem – e ainda mostra nas cenas de luta a habilidade que a gente já conhece desde O Tigre e o Dragão – sem uma atriz que luta artes marciais o filme não seria o mesmo. Não será surpresa vê-la concorrendo ao Oscar ano que vem.

Ainda no elenco, preciso falar de dois nomes. Primeiro, a agradável surpresa que foi rever Ke Huy Quan, que foi o Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição e o Data em Goonies, e não lembro de nenhum outro filme dele desde 1985 (vi no imdb, ele fez pouca coisa de lá pra cá, e nada relevante). Além dele, vemos Jamie Lee Curtis num papel diferente de tudo o que ela já fez. Também no elenco, Stephanie Hsu e James Hong.

Os efeitos especiais são simples e eficientes. Tem um efeito recorrente onde a protagonista parece ser puxada em alta velocidade, que não requer malabarismos em cgi e tem um efeito excelente na tela.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é longo, duas horas e dezenove minutos, e não mantém o pique até o final. Achei a segunda metade bem inferior à primeira. Ok, talvez o filme ficasse louco demais se fosse o tempo todo no mesmo ritmo insano, mas sei lá podiam ter reduzido a segunda metade.

Mas mesmo com o final longo demais, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é um filme altamente recomendado. Afinal, não é todo dia que vemos algo realmente diferente no cinema.

O Peso do Talento

Crítica – O Peso do Talento

Sinopse (filmeB): Depois de perder seu dinheiro, Nicolas Cage precisa recuperar-se financeiramente, mas o problema foi a solução que ele encontrou: aceitar o valor de US$ 1 milhão para ir à festa de aniversário de um super fã que também é um chefão do crime. Parecia que ia dar certo, mas o inesperado acontece quando uma agente da CIA o recruta para viver o papel de sua vida: Nicolas Cage e seus grandes sucessos nas telonas.

A ideia de O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent, no original) era interessante. Fazer um filme em cima dos exageros do Nicolas Cage, estrelado pelo próprio Nicolas Cage.

Cage era o nome certo para um projeto destes. Não consigo pensar em outro nome que funcionaria tão bem. O cara estrelou vários filmes de sucesso, ganhou o Oscar, e ficou conhecido por ser um cara extravagante e que gosta de gastar dinheiro em coisas caras e nem sempre necessárias. De uns anos pra cá, sua carreira entrou numa espiral de filmes de gosto duvidoso, mas que, diferente de um Bruce Willis (que, doente, fez uma série de filmes vagabundos onde pouco aparecia, para juntar um pé de meia), Cage continua atuando intensamente, quase sempre com o seu over acting que se tornou uma de suas principais características. Nome perfeito para um projeto que satiriza ele mesmo!

E realmente Cage é uma das melhores coisas daqui. Temos várias referências aos seus filmes como A Outra Face, Despedida em Las Vegas, A Rocha, 60 Segundos… E tem uma coisa que gostei, que é um Nicolas Cage imaginário, mais novo (me parece o Cage de Coração Selvagem), que aparece conversando com o Cage atual.

Outro ponto positivo é Pedro Pascal, que interpreta o milionário fã do Nicolas Cage. Não só Pascal está muito bem, como sua química com Cage é ótima. No resto do elenco, o único nome que me chamou a atenção foi uma ponta de Neil Patrick Harris.

O filme tem algumas cenas bem engraçadas, outras meio bobas. Pra ser sincero, achei divertido, mas apenas isso, mas, na sessão onde fui, tinha gente perdendo o fôlego de tanto rir. Ou seja, não achei tão engraçado, mas presenciei gente que achou.

Por fim, sempre fico feliz de ver filmes no cinema, mas tenho minhas dúvidas se este O Peso do Talento não teria um público maior se fosse lançado em streaming. Hoje em dia é difícil levar a galera para as salas de cinema, não sei se o filme terá o público almejado.

Jackass Forever

Crítica – Jackass Forever

Sinopse (imdb): Após 11 anos, a equipe Jackass retorna para sua cruzada final.

É complicado falar de Jackass. Porque quem vai ver Jackass sabe exatamente o que está vendo. Pra fazer uma análise crítica a gente precisa ter isso em mente.

Pra quem não conhece Jackass: era uma série da MTV do início dos anos 2000 onde um grupo de malucos faziam várias pegadinhas, alternando entre coisas perigosas e momentos escatológicos. E sempre se sacaneavam e se divertiam muito no processo – era nítido que entre eles era uma grande curtição. Depois da MTV, eles fizeram alguns filmes para o cinema. Falei aqui no heuvi sobre o filme Jackass 3D, de 2010, vou copiar aqui alguns trechos do que escrevi naquela ocasião:

Um grupo de insanos inconsequentes (li em algum lugar que são dublês) começou um programa na MTV, dez anos atrás, onde a ideia era, basicamente, ver eles mesmos se ferrando. Ou eles faziam algo perigoso e alguém saía machucado, ou então algo nojento. A parte da nojeira não me atrai, mas os momentos onde eles quase sempre se machucam são muito engraçados. (…) É difícil falar de um filme desses. Afinal, quem se propõe a ver, já sabe o que vai encontrar. Quem não curte, passa longe de filmes assim!

Disse isso na época, e repito aqui. A parte da nojeira realmente continua sem graça, tipo, esperma de porco? Sério? Mas, algumas das pegadinhas são realmente engraçadas. Em alguns momentos, me vi rindo alto, como no momento marching band, ou no sapateado em cima de uma plataforma de choque, ou a cena do conserto da lâmpada no poste, ou o toboágua que não caía na água.

E preciso dizer que alguns momentos foram realmente corajosos. Tem duas pegadinhas, uma envolvendo uma aranha, outra com um urso, que são momentos bem tensos. E Johnny Knoxville se machucou sério na tourada!

Uma coisa legal é que boa parte da galera das antigas está de volta – se a gente pensar que esse tipo de pegadinha envolve riscos físicos, é bem mais complicado para serem performadas por pessoas de 40 e muitos anos do que pessoas de 20 e poucos. A gente vê a volta dos cinquentões (ou quase) Johnny Knoxville, Steve-O, Wee Man, Preston Lacy, Chris Pontius e Dave England (os mais velhos são de 1969, os mais novos de 1973). Acho que do time principal antigo só faltam dois: Ryan Dunn, que faleceu num acidente de carro, e Bam Margera, que se desentendeu com a produção do filme e se desligou do projeto (ele aparece em uma das pegadinhas, filmada antes da sua saída). A direção ainda é de Jeff Tremaine, diretor desde a época da MTV. E Spike Jonze, um dos criadores, também continua com a turma. E junto deles vemos alguns novos nomes – me parece que isso seria uma saída pra continuar a franquia mesmo sem os originais.

Dito tudo isso, preciso reconhecer que Jackass é meio bobo. Mas, admito, também sou meio bobo e me diverti vendo.