Stop Making Sense

Crítica – Stop Making Sense

Sinopse (imdb): Considerado pela crítica como o maior filme-concerto de todos os tempos, a performance foi gravada ao longo de três noites no Pantages Theatre de Hollywood, em dezembro de 1983, e apresenta as canções mais memoráveis do Talking Heads.

Um amigo me convidou pra uma sessão especial de Stop Making Sense, versão remasterizada, comemorando 40 anos do lançamento, no Estação Botafogo. Já tinha visto, mas achei que seria um bom programa. Vou comentar o filme, depois comento a sessão.

Antes de começar o filme, temos um recado do próprio David Byrne comentando essa nova versão. Detalhe: ele gravou o recado para o público brasileiro!

A direção é de Jonathan Demme, que fez uns filmes simpáticos nos anos 80 (De Caso com a Máfia, Totalmente Selvagem) e em 1991 conseguiu um feito poucas vezes visto no cinema: dirigiu um filme que ganhou os cinco principais Oscar (filme, diretor, roteiro, ator e atriz): O Silêncio dos Inocentes.

Mas não vejo muito do estilo do diretor aqui. Stop Making Sense é o registro do show do Talking Heads, e a genialidade aqui está na concepção do show. Demme apenas teve que posicionar suas câmeras e registrar o que acontecia no palco.

O show começa com um palco vazio. Apenas um microfone num pedestal. David Byrne entra no palco, sozinho com um violão, e toca e canta uma música. Depois a baixista Tina Weymouth entra no palco e tocam a segunda música. Perto do fim, uma bateria é colocada no palco e a terceira música já tem Chris Frantz na bateria. Jerry Harrison, o outro guitarrista, entra na quarta música. Depois entram um percussionista e duas backing vocal. Depois um tecladista e um outro guitarrista. Depois que já temos nove músicos no palco, começam a colocar painéis e iluminação. Ao fim do show, o palco está completo.

Mesmo com toda essa movimentação, o show flui perfeitamente. E a gente ainda tem que se lembrar que era início dos anos 80, quase tudo no palco tem que ser cabeado (tem um momento que quase que uma das backing vocals tropeça no cabo do baixo da Tina Weymouth).

Jonathan Demme filmou 3 noites seguidas do show. As câmeras foram bem posicionadas, porque vemos vários closes e vários takes abertos, e não reparei em nenhum câmera! Segundo o imdb, em cada noite ele posicionava os câmeras em posições estratégicas, assim nenhum “vazava”,

Ah, Demme queria filmar alguns takes extras em estúdio, simulando o palco do teatro, mas a banda se recusou, dizendo que a resposta do público era algo essencial para a energia do palco. E que energia! David Byrne não pára em nenhum momento do show! O cara canta, toca, dança, pula, corre, é impressionante!

Pros mais novos que devem estar se perguntando “mas afinal o que é esse tal de Talking Heads?”, tem pelo menos duas coisas que acho que estão fortes na cultura pop até hoje. Uma é a música Psycho KIller, que não foi feita para o filme, mas é a música que abre o show. A outra é o terno gigante usado pelo David Byrne no fim do show, que é citado de vez em quando por aí (como no filme O Homem dos Sonhos, com Nicolas Cage).

Sobre a sessão no Estação: quando me convidaram, achei, ok, vamos lá, já vi o filme, tenho dvd, mas pode ser um programa diferente ver na tela grande. E para minha surpresa, uma boa notícia: o Estação estava lotado! Nenhuma poltrona vazia! Impressionante, um filme velho, que todo mundo já viu, numa quarta à noite, com lotação esgotada! Algumas pessoas se empolgaram e levantaram das suas cadeiras para dançar. E ao fim do filme, na última música, várias pessoas foram dançar debaixo da tela. O cinema vive!

A Noite que Mudou o Pop

Crítica – A Noite que Mudou o Pop

Sinopse (Google): Em uma noite de janeiro de 1985, as maiores estrelas da música se reuniram para gravar “We Are the World”. O documentário se aprofunda nos bastidores do evento para descobrir como tantos artistas se juntaram para fazer algo histórico.

Um documentário sobre a histórica gravação de We Are the World!

Uma contextualização pra quem não era nascido na época. No fim de 1984, um grupo de músicos ingleses se reuniu para uma gravação beneficente. A banda se chamava “Band Aid” e tinha gente como Bono, Sting, George Michael, Simon LeBon, Boy George e Phil Collins, entre outros, e a música falava do Natal: “Do They Know it’s Christmas”. Inspirados por essa gravação, um grupo de músicos americanos resolveu fazer exatamente igual (inclusive convidaram Bob Geldof, idealizador do projeto inglês, para participar da gravação), e criaram o USA For Africa, para arrecadar fundos contra a fome na África. Heu particularmente gostava mais da música inglesa (heu tinha o compacto!), mas sempre tive a impressão de que a versão americana tinha mais sucesso.

(Chegou a ter uma versão brasileira, “Chega de Mágoa”, contra a seca no Nordeste, que reuniu gente como Rita Lee, Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Simone, Roger, Paula Toller e vários outros.)

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, no original) é um documentário que conta a história dessa gravação, contando com ricas imagens de arquivo e alguns depoimentos atuais de pessoas envolvidas.

(Só achei o nome nacional errado, se existiu uma “noite que mudou o pop”, deveria ser a versão inglesa, que veio antes…)

Já tinha visto esse videoclipe centenas de vezes, mas nunca tinha parado pra pensar como deve ter sido difícil pra juntar toda essa galera num estúdio, por causa de questões de ego e de agenda. O filme aborda isso, eles falam, por exemplo, que era pra ter o Van Halen, mas estavam em turnê; o filme também cita que Quincy Jones colocou um aviso na entrada do estúdio dizendo “deixem seus egos fora” – era muita gente, então os artistas tinham que entrar sozinhos, deixando assessores e auxiliares de fora.

A música foi composta por Michael Jackson e Lionel Ritchie. Era pra ter colaboração do Stevie Wonder, mas ele não respondeu as mensagens a tempo, quando respondeu a música já estava pronta. E eles aproveitaram a noite da premiação American Music Awards, que aconteceria em Los Angeles e contaria com boa parte dos músicos participantes do projeto. Pensa só: chegaram no estúdio 10 horas da noite, para só então começarem a gravação!

Uma coisa curiosa é a gente se situar na época. Era janeiro de 1985 – mesmo mês do primeiro Rock in Rio! Al Jarreau participou de ambos, mas acho que foi o único.

O documentário traz algumas histórias muito boas. Prince era pra ter participado, mas rolava uma briga de egos entre ele e o Michael Jackson. Sheila E, então namorada do Prince, foi usada pra tentar convencer o Prince a vir. Quando ela se tocou que era esse o motivo do convite, saiu fora.

Um dos momentos mais engraçados é quando vemos Bob Dylan perdido no meio da galera. Todos o reverenciavam como um nome importante na música, mas ele estava muito deslocado. Também foi divertido ver Diana Ross tietando Daryl Hall e começando uma onda de caça a autógrafos.

Stevie Wonder, um dos músicos mais completos presentes no estúdio, tem cara de ser muito boa praça, e também protagoniza alguns momentos bem divertidos. Ele é um dos primeiros a gravar o solo, e erra de propósito só pra quebrar o gelo para os menos experientes.

Vemos depoimentos atuais de gente como Lionel Ritchie, Bruce Springsteen, Huey Lewis, Cyndi Lauper, misturados com imagens da gravação naquela longa noite. Uma bela história que felizmente foi muito bem documentada.

A Noite que Mudou o Pop não é perfeito, senti falta de mostrar um pouco mais de alguns dos protagonistas, como Billy Joel e Tina Turner. Mesmo assim, achei muito bom.

Agora, A Noite que Mudou o Pop reforçou o que normalmente penso sobre documentários: um documentário só é bom se você se interessa pelo assunto abordado. Heu curti muito porque vivi aquela época, e me lembro das carreiras de cada um que aparece. Além disso, ver Kenny Loggins, Steve Perry, Daryl Hall e Huey Lewis juntos me lembra a minha banda Elemento Surpresa, a gente tocava Footloose, Don’t Stop Believin, Kiss on My List e Power of Love. Agora, será que alguém dá geração dos meus filhos vai curtir?

Deu vontade de ver um documentário parecido sobre a versão inglesa. Será que existe material de arquivo suficiente?

A Era de Ouro

Crítica – A Era de Ouro

Sinopse (imdb): Cinebiografia de Neil Bogart, o produtor musical que ajudou a fundar a Casablanca Records e lançou nomes como Donna Summer, Village People e Kiss.

Preciso admitir que heu nunca tinha ouvido falar de Neil Bogart – assim como o próprio personagem comenta em determinado momento do filme, ele nunca foi um nome famoso, sempre viveu nos bastidores. Aparentemente seus filhos querem mudar isso. Timothy Scott Bogart, seu filho mais velho, escreveu, dirigiu e co-produziu; seu irmão Evan Bogart co-produziu e trabalhou na parte musical do filme.

Nos últimos anos a gente tem tido algumas cinebiografias musicais, mas sempre focando no artista. Era de Ouro (Spinning Gold, no original) é diferente, foca no produtor. É uma ideia legal, mas fica no ar a dúvida de até que ponto podemos acreditar em tudo o que vemos na tela, sabendo que foi a família quem produziu, e também sabendo que algumas coisas foram alteradas, como por exemplo a maquiagem dos membros do Kiss. A história do Neil Bogart é realmente muito boa, mas não sabemos se tudo aquilo aconteceu daquele modo.

Verdade ou invenção, o filme traz alguns momentos bem legais, como o modo que Bogart modificou a voz da Donna Summer, puxando pelo lado sexual. As cenas com George Clinton também são bem divertidas.

Um comentário sobre defeitos técnicos: heu entendo que um filme desses precise usar tela verde e chroma key, principalmente nas cenas de shows. Mas alguns chroma keys aqui passaram do limite da tosqueira. Uma cena em particular, com Bogart conversando com seu pai antes de uma corrida de cavalos, me lembrou o chroma key de Olhos Famintos 4.

Dei uma pesquisada no imdb, mas tem poucas informações. A produção passou por vários problemas e demorou anos para ser concluída. Pelo que li, inicialmente Spike Lee seria o diretor e Samuel L. Jackson faria o papel de George Clinton. Mas no fim, ficou só galera menos conhecida.

Pelo que entendi, a produção não conseguiu licenciamento sobre algumas coisas, e é por isso, por exemplo, que a maquiagem do Kiss está alterada. Não sei se por isso ou se foi por uma falha de roteiro, mas o Village People, que era um dos artistas mais famosos da Casablanca Records, pouco aparece no filme. Parece ser apenas um “p.s.” ao fim do filme. Digo mais: segundo a wikipedia, Cher também lançou disco pela Casablanca, e ela foi completamente ignorada pelo filme.

(Não sei se lá fora Bill Withers foi um nome grande, mas acredito que pelo menos aqui no Brasil, Village People foi muito maior.)

O roteiro tem suas falhas – talvez fosse melhor o Bogart filho se unir a um roteirista mais experiente. Não só alguns artistas importantes foram jogados para escanteio, como o filme tem sérios problemas de ritmo, e, com duas horas e dezessete minutos, é um programa cansativo. Talvez fosse melhor contar essas histórias todas em uma minissérie, com cada capítulo focando em um dos artistas.

Heu não gostei das caracterizações de um modo geral. Olhei no imdb, tem várias pessoas reclamando das perucas e figurinos. Não sei se por isso ou por usar atores bem diferentes das personalidades que estavam representando – você olha os atores que fazem Gene Simmons e Paul Stanley, e nada lembram os originais. O ponto é: o elenco não é o ideal.

Roteiro mal estruturado, elenco fraco, o que salva Era de Ouro são os números musicais. Não por serem bem filmados, mas sim pela qualidade das músicas. Os artistas da Casablanca Records tinham muitas músicas boas! E no fim, logo antes dos créditos, tem uma música muito boa que me parece que foi composta para o filme, onde rola um pot-pourri usando trechos de outras músicas. Pelo menos o filme termina com o astral pra cima.

A Pequena Sereia (2023)

A Pequena Sereia (2023)

Sinopse (imdb): A filha do rei Tritão, Ariel, se apaixona loucamente por um príncipe que salvou de um naufrágio. Ela decide ir procurá-lo em terra firme e pede ajuda à bruxa do mar, Úrsula.

Mais um live action da Disney. Se quase todos até agora furam ruins, a expectativa era zero. (Acho que só gostei de Cruella, os outros todos variam entre “sofrível” e “ruim de doer”: Pinóquio, Rei Leão, Aladdin, Dumbo, Christopher Robin, A Bela e a Fera – nenhum desses a gente pode afirmar que é bom. Cheguei a gravar dois Podcrastinadores comentando alguns dos títulos.)

Dirigido por Rob Marshall (Chicago, Caminhos da Floresta, O Retorno de Mary Poppins), A Pequena Sereia (The Little Mermaid no original) mantém a tradição “live action desnecessário da Disney”. Ok, não é um dos piores, mas está bem longe de ser um bom filme. Vamulá.

O filme segue basicamente a mesma história do desenho de 1989. Uma pequena alteração aqui, outra ali, nada muito significativo. Mas não vou comparar as duas obras, porque faz tempo que não revejo o original.

Uma coisa que funcionou foi o cgi do fundo do mar. Temos belas imagens debaixo d’água – aliás, tem uma sequência logo no início do filme onde a “câmera” faz um passeio entre peixes e plantas, que tem a maior cara de sequência pra vender o filme em 3D. E gostei da sequência musical de Under The Sea, grandiosa, cheia de cores e elementos.

Por outro lado, o cgi nos bichos atrapalhou. Exatamente como aconteceu em O Rei Leão, os bichos são realistas – e portanto não têm expressões. Assim você tem um personagem que é um peixe, que deveria ser o principal coadjuvante, mas que tem exatamente a mesma cara ao longo de todo o filme. Deve ser por isso que o Linguado tem um papel menor no filme do que tinha no desenho. Os outros dois, Sebastian e Sabidão (que virou Sabidona), por serem animais mais articulados, têm uma participação maior.

Tenho outra reclamação, mas admito que é mimimi. O filme abre com a frase de Hans Christian Andersen: “Mas uma sereia não tem lágrimas, e, portanto, ela sofre muito mais… “. Ok. Mas, se não tem lágrimas, também não deveria piscar o olho, certo? Por que sereias debaixo d’água piscam o olho? Detalhe: só reparei nesse detalhe por causa da frase que abre o filme. Se não fosse por isso, nem repararia nos olhos piscando.

Sobre o elenco, achei uma forçação de barra enorme postar duas vezes na trivia do imdb que pessoas “choraram ao ouvir a voz da Halle Bailey”. Ok, a menina canta bem, mas canta igual a dezenas (centenas?) de boas cantoras por aí. Uma pessoa que chora de emoção ao ouvir alguém cantando bem precisa trocar a playlist do spotify, porque está ouvindo as músicas erradas.

Dito isso, o casal Halle Bailey e Jonah Hauer-king funciona pro que o filme pede. Javier Bardem está bem (como sempre); Melissa McCarthy está caricata, mas, caramba, é uma vilã da Disney, claro que precisa ser caricata. Agora, preciso dizer que gostei muito da Sabidona da Awkwafina. Já falei mal da Awkwafina outras vezes, tipo no recente Renfield, onde o tipo de humor da atriz não encaixou no filme. Mas aqui admito: ela está perfeita como a ave desengonçada e estabanada, tanto nos gestos quanto nas falas. Digo mais: curti a música que ela canta. Pela primeira vez, posso dizer que entendi o motivo do grande fã clube que a atriz tem. Também no elenco, Jacob Tremblay, Daveed Diggs, Art Malik e Noma Dumezweni.

Agora, IMHO, o principal problema é que é um filme longo demais. O original tem uma hora e vinte e três minutos, esta nova versão tem duas horas e quinze! São cinquenta e dois minutos a mais, e não tem uma nova história que precise desse acréscimo todo. Aí o filme fica cansativo.

Sobre a polêmica. Desde que a Disney anunciou que a Ariel seria interpretada por uma negra, isso virou uma guerra na internet. Por um lado, uns defendiam que a sereias não existem, e por isso tanto faz a cor da pele. Ok, bom argumento. Por outro lado, outros defendiam que sereias não existem, mas a personagem Ariel existe. Seria como trocar a etnia do Batman, ou do Thor, ou do Pantera Negra, ou sei lá, ter um Mario que não é italiano. Ok, outro bom argumento. E qual e a minha opinião? Heu digo que a Disney acertou, porque o objetivo nunca foi promover diversidade e inclusão, e sim gerar buzz pra vender ingressos. E essa polêmica gerou um buzz enorme! Muita gente quer ver o filme pra defender ou atacar! Objetivo alcançado!

E por que digo que a Disney nunca quis promover diversidade e inclusão? Ora, existe uma princesa negra: a Tiana, de A Princesa e o Sapo, de 2009. Uma princesa que nem todos conhecem, afinal as outras são muito mais badaladas – Cinderela, Bela, Branca de Neve, Rapunzel, Aurora, Elsa e Ana, a galera lembra até da Mulan e da Moana. Mas ninguém se lembra da Tiana, o que é uma pena, porque o desenho dela é bem legal. E por que a Disney não promove a Tiana, ou faz uma continuação, ou melhor ainda, um live action? Porque isso não geraria um trending topics no twitter. Um live action da Tiana ia ter 100 pessoas comentando. Um live action da Pequena Sereia mudando a etnia da personagem vai ter 100 mil pessoas comentando. É, a Disney acertou. Polêmica vende.

(E nem vou entrar na próxima polêmica, que vai ser uma Branca de Neve estrelada por uma latina. Sim, Branca de Neve, aquela que é descrita como “lábios vermelhos como sangue, cabelo negro como ébano e pele branca como a neve”.)

Daisy Jones & The Six

Crítica – Daisy Jones & The Six

Sinopse (imdb): Siga o sucesso da banda de rock Daisy Jones e The Six através da cena musical de Los Angeles da década de 1970 em sua busca para se tornar um ícone global.

Há umas semanas, atrás me indicaram lá no grupo de apoiadores do Podcrastinadores uma nova série musical: Daisy Jones and The Six, da Amazon Prime, que mostra uma banda fictícia dos anos 70 que estava no auge do sucesso, quando algo aconteceu durante uma turnê e a banda se separou e nunca mais fizeram nada. Anos depois, eles estão sendo entrevistados (separadamente), para contar o que aconteceu. A série alterna momentos dessa entrevista com flashbacks, num formato que parece uma mistura de This is Spinal Tap com Quase Famosos.

A reconstituição de época está perfeita, e a parte musical é muito boa. A banda é inspirada no Fleetwood Mac, banda que conheço pouco. Tenho um grande elogio e um mimimi pra fazer sobre a parte musical. O elogio é que poucas vezes vi um filme ou série com músicos tão bem representados. Sou chato e presto atenção no ator interpretando um músico – ele não precisa tocar, mas precisa fingir bem que toca (caso do De Volta para o Futuro) (um ator interpretando um cirurgião não precisa fazer a cirurgia, apenas precisa convencer no seu fingimento). E, tirando um detalhe aqui, outro detalhe ali, aqui os atores estão excelentes! Inclusive, segundo o imdb, eles chegaram a fazer um show como se fossem uma banda de verdade, como laboratório! Digo mais: em mais de um momento ao longo da série, a gente vê uma música sendo executada num estúdio ou num palco, e o volume dos instrumentos varia conforme a câmera anda – o que aconteceria na vida real.

Agora, posso fazer um mimimi? Todos os atores convencem (inclusive Riley Keough quando toca violão meio sem jeito enquanto compõe – ela não domina o violão, mas toca os acordes pra apresentar a música para os companheiros de banda), menos a Suki Waterhouse como tecladista. Ok, um tecladista ou pianista pode interpretar bem sem mostrar as mãos, mas, teve uma cena em particular onde parece que ela está usando pick up de DJ, enquanto mexe em drawbars de um órgão Hammond!

A série é baseada no livro “Daisy Jones and The Six, Uma história de amor e música”, da escritora Taylor Jenkins Reid. Não li o livro, não sei se a série é fiel, mas tenho algumas críticas. A história da banda é muito boa, mas tem uma história paralela sobre a Simone, amiga da protagonista Daisy Jones, que tenta carreira como cantora disco. E essa história paralela é bem mais fraca que a história principal. Digo mais: o episódio onde Daisy vai pra Grécia e se casa é completamente dispensável. Podia ter um episódio a menos, e quando ela aparecesse com o marido, era só apresentá-lo.

Sobre o elenco, tem um problema recorrente em Hollywood, que é a idade dos atores. Sam Claffin tem 36 anos, e precisa convencer como um jovem recém saído da escola no início da banda. E como temos todo o elenco em diferentes épocas, esse problema acontece com todos. Mas, se a gente relevar esse detalhe, o elenco está bem.

Riley Keough é filha de Lisa Marie Presley e neta de Elvis Presley, e nunca tinha interpretado uma cantora (ela estava no filme The Runaways, mas interpretava a irmã da vocalista). Ela convence aqui como um dos dois principais nomes, e ela funciona bem ao lado de Sam Claffin, que também está bem. Sobre o resto da banda, tive um problema com Will Harrison e Josh Whitehouse, que fazem o guitarrista e o baixista, porque achei os personagens muito parecidos (só consegui diferenciar um do outro no décimo episódio!). Completam a banda Suki Waterhouse e Sebastian Chacon, o baterista, que é um dos melhores personagens. Um nome relativamente conhecido num papel menor é Timothy Olyphant, como um empresário que ajuda a banda. Ainda no elenco, Camila Morrone, Tom Wright e Nabiyah Be.

O último episódio traz um plot twist que achei bem legal, mas não contarei por aqui porque não gosto de spoilers.

Areias Escaldantes

Crítica – Areias Escaldantes

Sinopse (wikipedia): Num futuro próximo (1990), no país fictício de Kali, um grupo de jovens terroristas executa roubos, sequestros e assassinatos sob as ordens de um misterioso chefão conhecido como “Entidade” e são perseguidos pela pomposa e ineficiente Polícia Especial.

Às vezes é melhor deixar as memórias lá no passado. Lembro que este Areias Escaldantes foi um filme marcante na minha vida, e nunca tinha revisto. Devia ter continuado sem rever…

Escrito e dirigido por Francisco de Paula, Areias Escaldantes parece um videoclipe. Imagens desconexas, atuações caricatas, tudo meio nonsense. Agora, o problema é que temos um videoclipe longa metragem. Cansa.

O roteiro é um lixo. Vou citar só dois exemplos pra mostrar como é um roteiro tosco. Um é que o filme deveria se passar na fictícia província de Kali. Mas tem um momento onde o personagem precisa ir até o Maracanã, num jogo Flamengo x Vasco! Se é pra termos um local fictício, qual é o sentido de usar um clássico no estádio mais famoso do Brasil? O outro exemplo é o Lobão, que tem um personagem policial, e que de repente aparece cantando e tocando guitarra. A gente entende ter um momento musical do Lobão (que era produtor musical do filme), mas não desse jeito à moda bangu!

Emendando os momentos musicais, a gente tem umas esquetes bem bobinhas. E como o elenco tem Luis Fernando Guimarães, Diogo Vilela e Regina Casé, impossível não lembrar de TV Pirata. Só que um TV Pirata bem mais bobo que o que a gente conhece. Também no elenco, Cristina Aché, Lobão, Jards Macaé, Guará Rodrigues, Eduardo Poly, Sérgio Bezerra e o Neville De Almeida fazendo um espião que é um dos papéis mais desperdiçados da história do cinema – ele aparece ao longo do filme como um cara misterioso, mas que não era ninguém importante no final, e ainda fala ao elenco e ao espectador que não está entendendo nada.

Pensando no personagem do Neville, a gente vê que o roteiro tinha potencial para ir longe. Existe uma tentativa de se criar um futuro distópico com uma espécie de polícia totalitária (apesar do filme se passar em 1990, apenas 5 anos no futuro). Mas essa tentativa falha miseravelmente. Areias Escaldantes é ruim como comédia, e é ainda pior como ficção científica. O filme se basta em uma trama sonolenta e sem graça de terroristas bonzinhos. Areias Escaldantes não serve nem pra criticar a ditadura militar que estava na reta final (no mesmo ano de 1985 o país teria o primeiro presidente não militar desde a década de 60).

Agora, a trilha sonora é fantástica. Músicas do Ultraje a Rigor, Titãs, Lobão, Gang 90, Ira!, Metrô, Capital Inicial e Lulu Santos. E ainda temos videoclipes inteiros, um dos Titãs e um do Lobão.

Também gostei de um detalhe aqui e outro ali, como uma corrida de táxi onde o carro se movimenta para frente e para trás ao mesmo tempo (não tem sentido, é um gag visual). Mas é pouco.

Vale pela nostalgia e pela trilha sonora. Mas parecia melhor na minha memória.

Elvis

Elvis

Sinopse (imdb): Elvis segue a história do infame astro do rock n roll Elvis Presley, visto pelos olhos de seu controverso empresário, o coronel Tom Parker. O filme explora os altos e baixos de Elvis Presley e os muitos desafios e controvérsias que ele recebeu ao longo de sua carreira.

Vamos para uma daquelas críticas muito rápidas? “Cinebiografia do Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann”. Isso já é o suficiente pra gente saber o que esperar. Mas, bora desenvolver.

Baz Luhrmann é um cara extravagante, a gente já sabe disso desde Romeu + Julieta e Moulin Rouge. Isso já fica claro antes do filme começar, quando aparece o logo da Warner todo enfeitado – parecendo que saiu do Moulin Rouge.

Apesar disso, o roteiro segue um formato bem tradicional de cinebiografias. A história é contada pelo Coronel Tom Parker, que foi o empresário do Elvis em toda a sua carreira (e que é um nome envolto em várias controvérsias). E o filme começa com o Coronel vendo o Elvis pela primeira vez, e segue acompanhando o desenvolvimento de sua carreira até o seu falecimento.

O filme é um pouco longo demais, são 2h39min, acho que podia ser menor. E Baz Luhrmann declarou que queria mais, ele disse que tem um corte de 4 horas! Ok, reconheço que a transição para a fase Las Vegas foi meio abrupta, e a gente mal vê o Elvis gordão. Mesmo assim, não acho que precise de 4 horas, o que precisava era reduzir esse.

O que me chamou a atenção foram os arranjos das músicas. Mais uma vez, Baz Luhrmann tem arranjos musicais inventivos e fora da caixinha. As músicas começam com arranjos tradicionais, e elementos diferentes são inseridos, uma bateria eletrônica aqui, uma guitarra pesada ali. E os arranjos soam orgânicos, tudo parece natural aos ouvidos.

O visual do filme também é bem legal, Baz Luhrmann manja dos paranauês quando o assunto é visual rebuscado. Algumas coisas são exageradas (incluindo algumas atuações), mas isso faz parte do pacote.

Existia uma dúvida com relação ao protagonista Austin Butler. Ouvi gente comentando que seria melhor um cara mais parecido com o Elvis (confesso que em algumas cenas ele me lembrava o John Travolta em Grease). Mas o garoto é bom, tem presença, tem carisma, e ainda canta algumas músicas. Austin Butler é um dos grandes acertos do filme!

Outro ponto que chama atenção é Tom Hanks, que está muito bem como o Coronel Tom Parker. Não será surpresa vê-lo concorrendo ao Oscar ano que vem. Também no elenco, Olivia DeJonge, Kodi Smit-McPhee, Helen Thomson, Richard Roxburgh e Kelvin Harrison Jr, mas todos em papéis bem secundários.

BB King tem um papel importante, e vemos Little Richard em uma cena. Heu queria ter visto mais da galera da época, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, talvez os Beatles (que são citados mas não aparecem). Mas admito que é um head canon meu, não é um problema do filme.

Não gostei do fim. Ok, a gente sabe que Elvis morreu, é meio inevitável ter esse baque ao fim. Mas o filme podia terminar com um número musical mais pra cima. Do jeito que terminou, o espectador vai sair deprimido da sala de cinema.

Mesmo assim, é um filmão. Boa opção para quem gosta de filmes ligados à música!

Terror no Estúdio 666

 

Crítica – Terror no Estúdio 666 / Studio 666

Sinopse (imdb): A lendária banda de rock Foo Fighters se muda para uma mansão em Encino mergulhada na terrível história do rock and roll para gravar seu tão aguardado décimo álbum.

Outro dia falei de garotos de escola tocando rock, hoje vamos falar de uma banda de verdade brincando de fazer cinema.

Antes de tudo: não precisa conhecer os Foo Fighters para curtir o filme. Mas precisa curtir terror B! Terror no Estúdio 666 é uma ideia do Dave Grohl, que criou a história e é o ator principal, e trouxe sua banda inteira para entrar na brincadeira.

Claro, as atuações são ruins. Os seis da banda interpretam eles mesmos, e fica claro que, tirando Dave Grohl, eles não têm talento para atuar. E, para o azar do espectador, um dos papéis mais importantes ficou com Pat Smear, que me pareceu o pior ator dos seis. Rami Jaffe fica pouco atrás, também é um ator bem ruim, e mesmo assim usaram seu personagem para fazer o alívio cômico. Os outros 3, Nate Mendel, Chris Shiflett e Taylor Hawkings, têm papéis mais discretos e não atrapalham – Hawkings inclusive declarou que não leu suas falas no roteiro e decidiu improvisar todos os diálogos.

Também temos algumas participações interessantes no elenco. John Carpenter (que é um dos autores do tema dos créditos iniciais) aparece como um dos técnicos de som. Kerry King, guitarrista do Slayer, tem um papel pequeno. Steve Vai não aparece, apenas suas mãos, quando Grohl aparece tocando rápido. E Lionel Ritchie tem uma participação engraçadíssima. Também no elenco, Jeff Garlin, Whitney Cummings, Jenna Ortega, Will Forte e Jimmi Simpson.

Se no quesito atuação Terror no Estúdio 666 é fraco, isso é compensado no gore. O filme tem muito sangue e algumas mortes bem gráficas, boa parte delas (se não todas) usando efeitos práticos e de maquiagem – o que funciona muito melhor para a proposta do filme do que se usassem cgi. Também tem umas criaturas que parecem sombras que ficaram bem legais (mas acho que tinha algum cgi). E ainda tem uma referência a O Exorcista. Fãs do estilo vão curtir!

Terror no Estúdio 666 tem algumas situações absurdas no roteiro, tipo todos concordarem em entregar os celulares depois que encontram um cadáver. Mas, o objetivo do filme é ser uma grande brincadeira despretensiosa. Se você não levar a sério, vai se divertir. Pelo meu ponto de vista, a banda acertou em cheio, ia ser legal ver outros filmes despretensiosos com outras bandas.

Por fim, a nota triste. O filme foi lançado pouco antes do falecimento do baterista Taylor Hawkings. Fica difícil falar de uma brincadeira divertida na mesma época em que a banda perde um de seus membros.

Metal Lords

Crítica – Metal Lords

Sinopse (imdb): Dois amigos se reúnem para formar uma banda de heavy metal com uma violoncelista para participar de uma competição de bandas.

Às vezes a gente tem uma decepção, como foi com o recente Águas Profundas, que tem um bom diretor e um bom casal de protagonistas, mas que apesar disso é um filme bem ruim. E outras vezes a gente tem uma grata surpresa, quando vamos ver uma comédia adolescente sem ninguém muito conhecido no elenco principal, mas que proporciona divertidas e agradáveis duas horas em frente à tela. É o caso deste Metal Lords, nova comédia da Netflix.

Metal Lords foi dirigido por Peter Sollett, e escrito por D.B. Weiss, que curiosamente foi o co-criador e showrunner de Game of Thrones – que não tem nada a ver com este filme. Mas, lembrei de um vídeo que rolou um tempo atrás que tem tudo a ver. Era uma espécie de jam session de guitarristas tocando o tema de Game of Thrones, com o próprio D.B. Weiss tocando guitarra ao lado de Ramin Djawadi (compositor do tema), Tom Morello (Rage Against The Machine), Scott Ian (Anthrax) e Nuno Bettencourt (Extreme). E ele não faz feio! Ou seja, D.B. sempre foi um cara do rock. Ah, Ramin Djawadi e Tom Morello trabalharam na trilha sonora de Metal Lords.

Ok, a gente tem que reconhecer que Metal Lords não traz nada de novo. A gente já sabe como o filme vai se desenvolver e como vai terminar. Não é um filme para figurar em listas de melhores do ano. Mas, pode entrar em listas de bons filmes com temática rock’n’roll, como Escola de Rock, Still Crazy ou Rock Star. E, principalmente, é um filme leve e agradável, que deixa a gente com vontade de rever na primeira oportunidade.

Me perguntaram se me identifiquei com a banda, afinal, comecei a tocar na época do colégio, e tive uma fase de heavy metal no currículo. Mas, na verdade, na época do colégio minha banda era mais parecida com a banda “rival”, só comecei a tocar metal anos depois. Mas, claro, vivi algumas daquelas situações presentes no filme.

Gostei muito do trio principal do elenco, tanto pelos atores quanto pelos personagens. Falei que o elenco principal era de desconhecidos, né? Mais ou menos. O protagonista Jaeden Martell estava em It e Entre Facas e Segredos, não é um rosto completamente novo. Mas aqui em Metal Lords é que ele realmente tem espaço para mostrar um bom trabalho. Seu personagem Kevin tem um bom desenvolvimento, tanto na parte musical quanto na personalidade. Adrian Greensmith faz um personagem que é meio caricato, mas, acreditem, conheci gente igual. O garoto que só pensa no metal, filho de pai rico, com problemas de relacionamento com todos em volta – inclusive o pai. A menina Isis Hainsworth também é ótima, tanto a atriz quanto a personagem, mas achei que a mudança dela ficou meio abrupta. Mas, gostei da “nova Emily”.

Esqueci de falar, vemos os garotos tocando os instrumentos. Podem até não ser grandes músicos (não dá pra saber), mas pelo menos demonstram bem na tela.

Preciso citar aqui uma cena que achei muito boa, que é quando Kevin aprende a tocar War Pigs. No início do filme a gente vê que o garoto não toca direito e tem problemas com ritmo. Durante a War Pigs, vemos a evolução do Kevin, tanto na parte técnica tocando bateria, quanto na parte de postura e de figurino. A cena ficou muito legal!

Tem um detalhe que vou implicar, mas sei que é um preciosismo. A cena final, quando eles tocam na batalha das bandas, aquela música nunca seria tocada daquele jeito sem ensaio. Nem com músicos profissionais, muito menos com músicos amadores. Já subi no palco sem ensaio, mas eram músicas mais conhecidas e com menos convenções. Certamente eles errariam a execução. Mas… É “filme de sessão da tarde”, a gente releva isso e aceita que a música saiu sem nenhum tropeço.

Tem uma outra cena que achei genial, mas não sei se é spoiler, então vou colocar os avisos.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Tem uma cena onde Kevin “ouve vozes na sua cabeça”. Aí aparecem Scott Ian (Anthrax), Tom Morello (Rage Against the Machine), Kirk Hammett (Metallica) e Rob Halford (Judas Priest) para conversar com ele. Achei genial! Mas acho uma boa citar aqui quem são, porque o filme não explica quem é quem. Só quem realmente conhece as bandas de metal é que vai reconhecer.

FIM DOS SPOILERS!

Nem sei se era pra falar tanta coisa de um filme tão despretensioso, mas é que curti e terminei a sessão empolgado. Recomendo pra todos os que gostam de música!

Amor, Sublime Amor

Crítica – Amor, Sublime Amor

Sinopse (imdb): Uma adaptação do musical de 1957 que explora o amor proibido e a rivalidade entre os Jets e os Sharks, duas gangues de rua de adolescentes de diferentes origens étnicas.

Outro dia falei aqui de Tick Tick Boom, que citava Stephen Sondheim. E olha só a coincidência: hoje é dia de falar de um musical escrito pelo próprio Sondheim (que infelizmente faleceu menos de um mês antes da estreia do filme).

Amor Sublime Amor (West Side Story, no original) é a refilmagem do clássico homônimo lançado em 1961, que por sua vez era a adaptação do musical da Broadway de 1957. O filme de 1961 é o musical mais bem sucedido da história do cinema, ganhou 10 Oscars (incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado), 3 Globos de Ouro e 2 Grammys. A história se baseia no clássico Romeu e Julieta, onde dois jovens de universos rivais se apaixonam.

Gosto de musicais, mas nunca vi a peça e nem me lembro se já tinha visto o filme Amor Sublime Amor. Mas o que me interessava aqui era o diretor. É a primeira vez que Steven Spielberg dirigiu um musical. Sou fã do Spielberg, assumo. Cada filme novo que ele faz é bem vindo!

Você pode falar várias coisas negativas sobre o Spielberg, mas ninguém pode falar que o cara não sabe filmar. Aliado ao habitual diretor de fotografia Janusz Kaminski, Spielberg apresenta um filme com o visual fantástico, São várias cenas que enchem os olhos. Só pra citar um exemplo: a cena onde vai ter a briga começa com a câmera no teto, vendo as sombras das duas gangues rivais entrando. Ficou muito legal. Ou então a cena onde Tony conhece Maria, que tem tantos lens flare que lembrei do JJ Abrams.

Agora, tenho um comentário negativo, de alguém que não viu a peça e não se lembra do filme de sessenta anos atrás. Em termos cinematográficos, achei ruim a ordem das músicas. A trama vai num crescente até o clímax que é a luta entre as gangues. E depois disso ainda tem 40 minutos de filme! A música seguinte mostra a protagonista feminina numa grande loja de departamentos, e a gente se pergunta “pra que? A história já acabou!”. No teatro podia funcionar, mas no cinema seria melhor outra ordem das músicas.

No elenco principal, acho que o único que heu conhecia é Ansel Elgort, protagonista de Baby Driver (filme que considero um “musical diferente”). O papel principal feminino é da estreante Rachel Zegler, que ganhou um teste de elenco com 30 mil candidatas. Gostei de Mike Faist, que faz o Riff; e de Ariana DeBose, que faz a Anita. E, para os fãs do filme de 60 ano atrás, Rita Moreno, que fez a Anita naquela versão (e ganhou o Oscar pelo papel) está de volta para outro papel secundário.

Antes de terminar o texto, preciso falar das legendas. São dois grande problemas. O primeiro descobri que a culpa não é da distribuição brasileira: os diálogos em espanhol não têm legendas. Spielberg declarou que queria apenas atores latinos para os papeis dos porto-riquenhos, e até aí ele está super certo e ninguém vai discordar. Mas, o que as legendas têm a ver com isso? Segundo o imdb, Spielberg teria dito “Se eu legendasse o espanhol, estaria simplesmente sobrepondo o inglês ao espanhol e dando ao inglês o poder sobre o espanhol. Isso não ia acontecer nesse filme, eu precisava respeitar a língua o suficiente para não legendar.” Desde quando legendar um diálogo em outra língua é um desrespeito??? Desculpa, Spielberg, sou seu fã, mas desta vez você pisou na bola.

A outra crítica é pra quem fez as legendas que estavam na sessão de imprensa – ou seja, provavelmente estarão nas cópias em cartaz. Em vez de traduzir as canções, rolou uma adaptação. Não sei se o tradutor usou alguma versão pré existente com outra letra, ou se simplesmente quis adaptar as sílabas à melodia, mas, o fato é que na tela a gente ouve uma coisa e lê outra. Ficou bem difícil acompanhar o filme assim.