Instinto Materno

Crítica – Instinto Materno

Sinopse (imdb): A vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Celine desmorona após um acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo de segredos e mentiras.

O trailer vendia Instinto Materno como um suspense psicológico. Mas o resultado final ficou devendo.

Estreia na direção de Benoît Delhomme, Instinto Materno (Mothers’ Instinct, no original) é a refilmagem de Duelles, filme belga de 2018. Não vi o original, não sei se lá temos algo a mais. Normalmente, os originais europeus são melhores. Mas acredito que seja melhor, ano passado um amigo que mora na Europa tinha me recomendado esse Duelles, mas não achei onde ver aqui.

Acho que são os anos 60, tem um diálogo onde falam dos presidentes americanos, pra situar o espectador sobre qual ano o filme se passa, mas como não entendo de presidentes americanos, não sei qual ano. Enfim, duas famílias, vizinhas, muito amigas. As duas mulheres são amigas, e os filhos, de idades parecidas, são inseparáveis. Mas acontece uma fatalidade e isso abala a amizade.

A gente passa o filme todo pensando quando algo vai sacudir a trama. Um plot twist, uma grande revelação, algo bombástico. Mas nada. O filme é linear, tudo o que acontece é o que aconteceria numa vida normal. Ou seja, o filme acaba sendo chato.

Ok, temos duas grandes atrizes, Anne Hathaway e Jessica Chastain, e ambas estão bem. Mas, nenhuma atuação memorável. Filme linear com atuações lineares.

Quem foi a sessão de imprensa ganhou o livro que deu origem ao filme, e avisaram que a continuação do livro está para ser lançada em breve. Ou seja, o filme deve ter continuação. Mas, boa notícia: a história fecha, não deixa nenhuma ponta solta a ser resolvida num filme que a gente nem sabe se vai existir.

No fim, Instinto Materno não é ruim, mas é decepcionante porque tem cara de telefilme.

O Mundo Depois de Nós

Crítica – O Mundo Depois de Nós

Sinopse (imdb): As férias de uma família numa casa luxuosa sofrem uma reviravolta quando um ciberataque afeta todos os dispositivos e duas pessoas estranhas batem à porta.

Filme novo da Netflix, todo mundo está vendo e comentando, fiquei curioso quando vi que alguns canais de cinema que acompanho falavam do final, fui ver o filme pra saber por que o final está envolto em polêmicas.

Simples: PORQUE O FILME NÃO TEM FINAL! Simplesmente sobem os créditos e acabou.

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O pior é que heu estava gostando muito do filme. Mas um “final” desses me tirou do sério. Então, vou comentar o filme, depois comento sobre o encerramento.

Escrito e dirigido por Sam Esmail, adaptação do livro homônimo escrito por Rumaan Alan (que também colaborou no roteiro), O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, no original) mostra uma família que tirou uns dias de férias em uma casa alugada, quando algo acontece no mundo e eles ficam isolados. Os supostos reais donos da casa aparecem e isso só serve pra aumentar a desconfiança geral sobre o que está acontecendo.

O ritmo do filme é muito bom. O espectador é envolvido num clima crescente de tensão, não sabemos o que está acontecendo. A trama te prende, é daquele tipo de filme que é difícil pausar, são pouco mais de duas horas que passam rapidinho.

Gostei muito da câmera do Sam Esmail – sei que ele é um dos nomes por trás da série Mr Robot, mas nunca vi a série, nunca tinha visto nada dele. Em vários momentos a câmera sai do eixo, roda, sobe, mostra muitos ângulos fora do convencional. Um exemplo: tem uma cena numa cabana onde a câmera roda, sobe e sai por uma fresta no telhado, pra mostrar o que está acontecendo fora da cabana.

Algumas sequências são muito bem filmadas, como a sequência do Tesla. Ok, provavelmente é um plano sequência fake, cheio de cgi, mas mesmo assim ficou bem legal.

Ah, e pra quem gosta de mensagens subliminares, reparem que o quadro abstrato na sala muda ao longo do filme. O mesmo acontece com a pintura atrás da cama de casal. E tem uma cena onde tem um quadro atrás da Julia Roberts mostrando uma imagem parecida com o que o Ethan Hawke tinha passado há pouco.

O elenco também manda bem. Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke estão muito bem nos seus papeis, assim como os outros três mais novos e mais desconhecidos, Charlie Evans, Farrah Mackenzie e Myha’la. E já tinha visto dezenas de filmes com Ethan Hawke e com Kevin Bacon e nunca tinha reparado como são parecidos!

Dá pra ver que heu estava gostando, né? Pois bem, hora de falar do “não final”.

Não tenho problemas com filmes com finais abertos. Usando como exemplo aquele que todos se lembram, Inception, no fim o pião está rodando, e a gente não sabe se aquilo é real ou sonho. A mesma coisa com O Vingador do Futuro do Verhoeven, ao fim do filme a gente não sabe se aquilo aconteceu ou se foi uma memória implantada. A gente nunca soube o que tinha na mala do Marsellus Wallace em Pulp Fiction. E a lista é infinita. O espectador não precisa de tudo mastigado.

Agora, se um filme se propõe a contar uma história, é bom que tenha algum tipo de conclusão. Reclamei aqui no heuvi este ano de dois filmes que terminaram abruptamente para serem concluídos em continuações, Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10. Se é pra deixar gancho, tem que fazer como Missão Impossível 7, que fecha a missão que o personagem está fazendo, e deixa pontas soltas a serem resolvidas na continuação. O modo usado em Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10 foi péssimo, a narrativa foi muito mal construída.

Mas nada não é tão ruim que não possa piorar. O Mundo Depois de Nós consegue ser ainda mais tosco, porque interrompe o filme do nada. E não li nada sobre uma continuação pra fechar a história. Me parece que os realizadores quiseram trollar o público. “Sabe a personagem frustrada porque não viu o final de Friends? Poizé, agora o espectador vai ficar igualmente frustrado por não ver o final do filme!”

Pena. Heu estava realmente gostando do filme. Mas esse “não final” foi uma ducha de água fria.

A Noite das Bruxas

Crítica – A Noite das Bruxas

Sinopse (imdb): Na Veneza pós-Segunda Guerra Mundial, Poirot, agora aposentado e vivendo em seu próprio exílio, relutantemente vai a uma sessão espírita. Mas quando um dos convidados é assassinado, cabe ao ex-detetive descobrir mais uma vez o assassino.

Terceiro filme do Kenneth Branagh como Hercule Poirot. Branagh dirige e estrela cada um deles. Mas não são continuações, cada um é baseado em um livro diferente da Agatha Christie. A única coisa em comum é o protagonista.

Tive um problema com o primeiro filme, Assassinato no Expresso Oriente, porque me lembrava do final, lembrava justamente quem é o assassino, então metade do filme perdeu a graça. E o segundo filme, Morte no Nilo, não é tão bom, tem alguns problemas no seu desenvolvimento. Posso dizer que, dos três, gostei mais deste terceiro.

A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice, no original) foi baseado no livro Hallowe’en Party, que nunca tinha sido adaptado para o cinema, apenas para a tv. A trama foi trazida do Reino Unido para Veneza. E, apesar do nome sugerir, A Noite das Bruxas não é terror. Mas tem alguns jump scares!

A trama desenvolve bem o whodunit*. Todos os personagens estão fechados dentro de uma casa enorme, isolados porque a chuva fez os canais transbordarem. Acontece um assassinato e Poirot precisa investigar. Claro, ao longo da trama descobrimos que todos têm motivo para terem cometido o crime.

Branagh combinou com a equipe técnica de não avisar ao elenco quando luzes piscavam ou portas batiam. Algumas das reações no filme são legítimas!

A fotografia é muito boa e sabe aproveitar bem as paisagens de Veneza e a mansão onde se passa o whodunit. A boa trilha sonora de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha de Coringa) ajuda a criar o clima.

No elenco, Kenneth Branagh manda bem como era de se esperar. Digo mais: seu Hercule Poirot está meio confuso ao longo da projeção, e ao fim do filme a gente descobre por que. Gostei da personagem da Tina Fey, gosto da atriz, gosto do nome “Ariadne”, e gostei de como a personagem tem camadas diferentes. O grande elenco também conta com Michelle Yeoh, Jamie Dornan, Kelly Reilly, Camille Cottin, Emma Laird, Kyle Allen, Ali Khan e Riccardo Scamarcio.

Noite das Bruxas é melhor que os dois filmes anteriores, mas o fato de ser um terceiro filme talvez afaste o público. E aí vai ficar a dúvida: será que Branagh aposentará o seu Poirot, ou será que veremos mais uma adaptação da Agatha Christie?

*Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.

Sem Ar

Crítica – Sem Ar

Sinopse (imdb): Duas irmãs vão mergulhar em um local lindo e remoto. Uma das irmãs é atingida por uma pedra, deixando-a presa 28 metros abaixo. Com níveis perigosamente baixos de oxigênio e temperaturas frias, cabe a sua irmã lutar por sua vida.

Preciso admitir que caí no bait do pôster, que fala “mais intenso que A Queda“. Gostei muito de A Queda, um filme pequeno e muito eficiente na sua proposta de criar tensão – o espectador fica realmente angustiado com o que pode acontecer com as duas no alto da torre!

Bem, Sem Ar (The Dive, no original) tem o mesmo formato: duas mulheres se veem presas em uma situação de vida ou morte, e precisam descobrir como saírem vivas. Mas, infelizmente, é bem mais fraco que A Queda.

Sem Ar é refilmagem do norueguês Além das Profundezas, de 2020. Não vi o original, não posso comparar. Mas uma coisa posso dizer sobre esta nova versão: um dos problemas é a falta de história, e parece que existia uma preocupação em chegar a uma hora e meia (o filme tem exatas uma hora e trinta e um minutos). Como não tem muito o que contar, o filme fica enrolando com uns flashbacks rasos e imagens das personagens em sofrimento. Se é pra entrar nos flashbacks, o melhor seria aprofundar isso; ou então cortar 15 minutos do filme e entregar um filme mais enxuto de uma hora e quinze.

Tive um problema, não sei se fui o único. Mas não entendi por que as pedras de repente começaram a despencar. Não entendo nada de mergulho, é normal pedras caírem repentinamente? Achei que o roteiro podia ter explicado o motivo.

Pelo menos o visual das sequências subaquáticas é muito bonito, e as duas atrizes, Louisa Krause e Sophie Lowe, estão bem. Mas é pouco, o resultado final fica devendo. Sem Ar não é exatamente um filme ruim, mas vai decepcionar quem esperava algo do nível de A Queda.

Influencer

Crítica – Influencer

Sinopse (imdb): Durante uma viagem solitária e complicada pela Tailândia, a influenciadora Madison conhece CW, que viaja com facilidade e mostra a ela um estilo de vida mais desinibido. Porém, o interesse de CW por Madison toma um rumo sombrio.

Produção modesta, elenco reduzido, poucas locações, quase nenhum efeito especial, Influencer é uma boa surpresa. Não é um filme “obrigatório”, mas é melhor que boa parte do lixo que é despejado mensalmente nos streamings.

Co-escrito e dirigido por Kurtis David Harder, Influencer tem um que de Black Mirror. Não pelo lado tecnológico (quase todos os episódios de Black Mirror usam inovações tecnológicas), mas pelo lado de vermos problemas sociais causados pelo avanço da tecnologia – no caso aqui, avanço das redes sociais.

Uma coisa boa em Influencer é a imprevisibilidade de certas coisas. Sem spoilers, mas tem um momento que o filme tomou um rumo que heu nunca tinha imaginado. Pena que o fim do filme é um pouco óbvio.

A fotografia do filme usa bem alguns takes aéreos de drones – incluindo a boa cena inicial. Outra coisa legal são belíssimos cenários naturais na Tailândia.

(Uma curiosidade: muitos filmes começam sem nenhum crédito, e os créditos só aparecem ao fim do filme. Outras vezes vemos uma sequência inicial, e só depois temos créditos. Aqui os créditos aparecem aos 26 minutos de projeção!)

Agora, tem algumas coisas forçadas no roteiro. Pra começar, parece que os personagens vivem num mundo sem polícia. Gente, pessoas que desaparecem eventualmente serão investigadas! Além disso, uma personagem faz coisas que parecem meio inacreditáveis pelo computador. Uma coisa é uma pessoa adulterar uma foto e postar no Instagram; outra coisa é ela alterar um diálogo em tempo real.

O elenco tem apenas seis nomes! Gostei da Cassandra Naud, nunca tinha visto nada com ela, ela consegue construir uma personagem mais complexa do que aparenta ser.

No fim, fica aquela sensação de apesar de não ser um filme perfeito, Influencer consegue ficar acima da média.

Sede Assassina

Crítica – Sede Assassina

Sinopse (imdb): Baltimore. Véspera de Ano Novo. Uma policial talentosa, mas problemática, é recrutada pelo investigador-chefe do FBI para ajudar a traçar o perfil e rastrear um indivíduo perturbado que está aterrorizando a cidade.

Em certos casos, não entendo qual é o critério para se decidir se um filme vai ser lançado no circuito ou se vai direto para o streaming. Porque de vez em quando aparece um filme “com cara de cinema” que é lançado direto no streaming. E o contrário também acontece, como é o caso deste Sede Assassina (To Catch a Killer, no original). Sede Assassina não é ruim, mas é tão genérico que às vezes parece que estamos vendo um episódio de série de TV tipo CSI.

A direção é do argentino Damián Szifron, autor do excelente Relatos Selvagens, de 2014. Infelizmente Sede Assassina está muito abaixo do seu filme mais famoso. Me lembrei de uma entrevista de um diretor brasileiro (não me lembro quem) que comentou sobre dificuldades quando filmou em Hollywood, ele disse que queria ensaiar com a atriz, mas ela só aparecia na hora exata das filmagens. Pensei que talvez Damián tenha tido problema semelhante.

Como falei, Sede Assassina não é ruim. A primeira parte, quando vemos os assassinatos acontecendo durante a queima de fogos, é muito boa. E tem uma sequência no meio do filme, quando o assassino mata um monte de gente num shopping, que é muito bem filmada – a gente acompanha a ação até quando ia começar o tiroteio, depois corta para a investigação policial e a partir daí vemos fragmentos do que aconteceu em flashbacks. Mas, fora isso, tudo é convencional demais. Já vimos isso um monte de vezes.

O elenco é ok. Os dois atores principais, Shailene Woodley e Ben Mendelsohn, estão bem. Jovan Adepo (Babilônia) é o terceiro nome do elenco, mas tem um tempo de tela bem menor; Ralph Ineson (A Bruxa, A Lenda do Cavaleiro Verde) tem um papel importante mas aparece pouco.

Pouco, mas pode agradar os que tiverem baixas expectativas.

Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Desaparecida

Crítica – Desaparecida

Sinopse (imdb): Depois que sua mãe desaparece, uma jovem tenta encontrá-la usando ferramentas online.

Antes de falar de Desaparecida, preciso falar de Buscando…  de 2018, longa de estreia de Aneesh Chaganty, um filme de suspense que se passava todo na tela de um computador, mostrando navegação pela internet, google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança.

Desaparecida (Missing, no original) não é do mesmo diretor – Chaganty aqui é responsável só pela história. Desaparecida foi escrito e dirigido por Nicholas D. Johnson e Will Merrick, que eram os editores de Buscando… (e também de Fuja, segundo filme de Chaganty, que usa o formato tradicional). Ou seja os caras já manjavam dos paranauês de “filme inteiro na tela do computador”.

Desaparecida é uma “standalone sequel”, que seria uma espécie de “sequência independente” – um filme que segue o mesmo formato do anterior, mesmo universo do anterior, mas que traz uma história independente (outros exemplos de “standalone sequel” seriam o último Mad Max ou o recente Glass Onion). Não tenho certeza, mas acredito que mais uma vez todo o filme se passa na tela do computador, com redes sociais e apps de chat. Um detalhe importante (que também aconteceu em Buscando…): todos os textos na tela foram traduzidos para português, o que dá muita agilidade à narrativa.

(Tem uma parte onde vemos uma narrativa filmada e editada de modo tradicional, mas aí a câmera se afasta e vemos que a personagem está vendo Netflix. Boa sacada!)

Ok, tem coisa forçada. Tipo pegar um número de telefone e descobrir rapidamente quem é o dono, com foto e tudo. Ou ver câmeras de turismo na Colômbia e facilmente acessar o histórico. Mas… Cinema é mentira, gente! O melhor filme do ano passado aqui no heuvi falava de um boneco de madeira que ganhava vida; o melhor filme do ano retrasado tinha uma equipe onde um dos membros era um tubarão que andava e falava. Por que encrencar com alguém que consegue informações pela Internet? E, vamulá, o filme precisava ser ágil. Se ela tivesse que ficar preenchendo formulários, ia ser bem chato.

(Agora, recomendo não ficar pensando muito. Se parar pra ver detalhes, a gente acha pequenos furos no roteiro.)

Falei que o filme é ágil, né? O ritmo é muito bom. Quando li que tinha uma hora e cinquenta e um minutos, pensei “caramba, esse lance da mãe perdida não gera tanta história assim, o filme pode ficar chato”. Nada! A história pega rumos inesperados e tem alguns plot twists que heu ficava sem saber qual rumo aquilo ia tomar. O filme é tenso, e sabe muito bem manter essa tensão.

No elenco, Storm Reid segura bem a onda – o que é algo importante, já que o filme todo é em cima dela. Gostei de ver o português Joaquim de Almeida como o colombiano. Também no elenco, Nia Long, Ken Leung, Amy Landecker e Tim Griffin.

Fica a dica: se você gostou de Buscando…, veja Desaparecida. E se você não viu Buscando…, faça uma sessão dupla!

O Menu

Crítica – O Menu

Sinopse (imdb): Um jovem casal viaja para uma ilha remota para comer em um restaurante exclusivo onde o chef preparou um cardápio farto, com algumas surpresas chocantes.

Parece que este O Menu (The Menu, no original) foi um dos títulos badalados no último Festival do Rio. Mas, como comentei no texto sobre Império da Luz, não dei bola para o Festival do Rio este ano, e quase deixei O Menu passar.

Dirigido pelo pouco conhecido Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game of Thrones, Shameless e Succession), O Menu é daquele tipo de filme onde quase tudo acontece no mesmo cenário, com todos os personagens presentes – quase uma peça de teatro filmada.

O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy é eficiente ao equilibrar a trama entre vários personagens. Claro, o foco maior fica nos três principais, mas tem espaço para conhecermos um pouco de cada um dos outros convidados do jantar. E o modo como o jantar é apresentado é uma boa crítica à gourmetização extrema. Aliás, vi alguns críticos incomodados, acho que a carapuça serviu e eles entenderam que seria “cinema” no lugar de “comida”.

Mas o melhor está nas atuações, principalmente de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy. Fiennes tem uma das melhores atuações da sua carreira como o chef obcecado pela perfeição. E Anya mais uma vez mostra que é um nome a ser acompanhado. Nicholas Hoult tem o terceiro papel principal, mas seu personagem é mais besta. Entre os vários nomes menores do resto do elenco, olha lá, tem o John Leguizamo!

Tenho um comentário sobre o fim, mas é um spoiler brabo, então vou colocar o aviso de spoilers.

SPOILERS!

Entendi a ideia do chef, uma espécie de vingança pessoal misturada com suicídio. Mas não consigo entender por que seus funcionários embarcariam nesse suicídio coletivo. Eles já trabalhavam num sistema quase escravo, era a chance de liberdade. Não achei muito lógico.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo não gostando do final, O Menu ainda é uma boa opção de suspense/terror diferente do óbvio.

Não se preocupe, Querida

Crítica – Não se preocupe, Querida

Sinopse (imdb): Uma dona de casa dos anos 1950 que mora com o marido em uma comunidade experimental utópica começa a se preocupar com a possibilidade de sua empresa estar escondendo segredos perturbadores.

Um tempo atrás me falaram de um filme dirigido pela Olivia Wilde que seria numa onda meio Mulheres Perfeitas, uma sociedade perfeitinha mas com algum mistério por trás. Acabei me esquecendo desse filme, até que veio o email com o convite para a sessão de imprensa de Não se preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, no original). Era esse o filme!

Fui ver sem saber de mais nada. Só depois que descobri que teve um monte de barracos nos bastidores Florence Pugh teria brigado com a Olivia Wilde, Harry Styles teria cuspido no Chris Pine… Mas, esse é um site de cinema e não de fofocas, vou falar do filme, quem quiser bastidores procure em outro lugar.

O complicado de falar sobre um filme destes é que existe um grande mistério por trás de tudo o que acontece. O desafio é fazer uma crítica sem spoilers. Vou me segurar!
Não se preocupe, Querida é o segundo longa dirigido por Olivia Wilde (ela dirigiu alguns curtas e alguns videoclipes). Ela consegue criar um bom clima de tensão e mistério – o que diabos está acontecendo naquele lugar? E o visual meio artificial daquela cidade criada ajuda nessa estranheza.

O elenco está muito bem. Segundo o imdb, Olivia Wilde pretendia estrelar, mas quando viu Midsommar mudou de ideia e convidou a Florence Pugh, que está ótima no papel principal (Olivia ficou com um papel secundário). Também no elenco, Chris Pine, Harry Styles e Gemma Chan – todos estão bem.

(Se a gente lembrar que a Olivia Wilde fez DC Liga dos Super Pets e o Harry Styles estava na cena pós créditos de Eternos, são 3 Marvel contra 2 DC…)

Adorei a trilha sonora, que parece que usa vozes sussurradas como instrumentos musicais. Se o filme é tenso e esquisito, fica ainda mais tenso e esquisito quando usa uma trilha tensa e esquisita. E tem uma cena que ficou engraçada, principalmente para o público brasileiro, envolvendo a música Desafinado, quando um cara dança de modo completamente sem nexo com a música.

O roteiro de Katie Silberman, Carey Van Dyke e Shane Van Dyke não é perfeito, o filme tem algumas facilitações meio forçadas, tipo o médico esquecer uma pasta com documentos confidenciais. Mesmo assim, gostei do ritmo frenético da parte final, e gostei de como terminou o filme.

O filme é um pouco longo, mas mesmo assim gostei do resultado final. Não se preocupe, Querida estreia dia 22 nos cinemas, e já quero rever!