Sinopse (imdb): Luna, uma jovem determinada, busca sua mãe que sumiu misteriosamente no último dia de Carnaval em Guarapari. Sua procura a leva até um prédio antigo, aparentemente vazio, mas repleto de almas atormentadas.
Ueba! Filme novo do Rodrigo Aragão, e desta vez no circuito!
Se você já conhece a obra do Rodrigo Aragão, pode pular este parágrafo. Se não conhece, chega aqui: Aragão é, provavelmente, o maior nome do cinema de terror feito no Brasil hoje em dia. Este é o seu sexto longa metragem desde 2008, depois de Mangue Negro, A Noite do Chupacabras, Mar Negro, Mata Negra e O Cemitério das Almas Perdidas, além de ter organizado o longa em episódios Fábulas Negras (todos têm textos aqui no heuvi). Tem gente por aí que acha que não existe terror feito no Brasil. Tem gente por aí que deveria conhecer o trabalho dele.
Cinco anos depois de seu último longa, Aragão fez seu primeiro terror “urbano” – pela primeira vez ele filmou numa cidade grande. Aragão morou na Praia do Morro, em Guarapari, local onde se passa o filme, e quando caminhava pelo calçadão à noite, às vezes via prédios quase totalmente apagados, com um ou dois apartamentos acesos. E ele imaginava como seria estar num prédio daqueles, quase vazios. Daí surgiu a ideia para o filme.
Curioso é que o roteiro teve vários tratamentos. Inclusive teve uma versão mais “clean” feita com a ajuda de um gringo, que seria facilmente vendável para uma Netflix da vida. Mas Aragão desistiu deste tratamento e voltou para uma versão anterior, mais puxada pro trash – mais a ver com o estilo dos seus outros filmes.
Prédio Vazio é urbano, mas é coerente com o resto da obra do diretor. Claras influências de Sam Raimi, Dario Argento e Zé do Caixão, tudo isso com uma pitada de trash por cima.
Curioso que o filme se passa num bairro real de Guarapari, mas o prédio onde tudo acontece não existe. O diretor falou que tentou filmar em um prédio já existente, mas diante das dificuldades de conseguir autorizações, desistiu e construiu uma maquete. Ficou boa, parece um prédio velho e caquético.
Aliás, uma curiosidade dita pelo próprio Rodrigo Aragão em um bate papo pós filme no Estação Botafogo: o longa abre com um filminho publicitário turístico sobre Guarapari, feito décadas atrás, e guardado pelo pai do diretor, que trabalhava num cinema. Só trocaram a narração, originalmente feita pelo Cid Moreira, o resto do filminho está lá na introdução.
A história é simples, uma jovem vai procurar a mãe que estava hospedada na Praia do Morro, mas quando chega no prédio, descobre que tem algo de errado lá. E claro que isso abre espaço para muitos efeitos práticos, muito sangue cenográfico, e muitos truques de maquiagem.
Aliás, uma dica pra quem gosta de procurar coisas escondidas nos filmes: assim como acontece na série A Maldição da Residência Hill, Prédio Vazio tem vários fantasmas escondidos pelos cenários. Deu vontade de rever só pra procurá-los. Isso sem contar nos easter eggs do “Aragãoverso”, como o livro de São Cipriano que estava no Cemitério das Almas Perdidas.
Sobre o elenco, Gilda Nomacce está ótima, ela acabou virando um grande nome no terror brasileiro contemporâneo (ela estava em filmes da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas, como Trabalhar Cansa, As Boas Maneiras e Quando eu Era Vivo). Também gostei muito do jovem Caio Macedo, meio alívio cômico, meio “donzelo em perigo”.
Nem tudo é perfeito. Algumas atuações não são tão boas, e as cenas de lutas entre os personagens não são muito bem filmadas. Mas a gente está acostumado a ver terror hollywoodiano bem pior que esse e não fala mal…
Por fim, se você apoia o cinema nacional, e se você quer ver mais terror feito no Brasil, vá ao cinema esta semana. É difícil quando um filme desses entra em circuito. Precisamos prestigiar!