The Last of Us – E01S01

Crítica – The Last of Us – E01S01

Sinopse (imdb): Joel e Ellie, uma dupla conectada pela dureza do mundo em que vivem, são forçados a suportar circunstâncias brutais e assassinos implacáveis em uma jornada pela América pós-pandemia.

Estreou no domingo passado uma série na HBO baseada no famoso videogame The Last Of Us. Como nunca joguei o game – nem sei do que se trata – nem me interessei pela série. Mas, ouvi elogios em mais de um grupo, e reparei que alguns dos youtubers que acompanho estão comentando, então resolvi ver qualé.

E preciso dizer que rolou uma certa decepção. A série não é exatamente ruim, mas… falta muito pra ser tão boa quanto estão falando por aí. Vamos por partes.

Antes de tudo, queria falar que gosto do formato de um episódio por semana. Alguns streamings liberam de uma vez toda a temporada de uma série, e os espectadores mais afoitos fazem binge watching. Acho isso ruim, prefiro ver um episódio de cada vez, dá tempo de digerir o que a gente acabou de ver.

Vamos primeiro ao que deu certo. O criador do videogame, Neil Druckmann, é roteirista aqui. Isso já coloca The Last Of Us num patamar acima de muitas adaptações ruins – lembro de uma recente adaptação de Resident Evil que conseguiu a façanha de desagradar tanto quem jogou o game quanto quem apenas gosta de um bom filme ou série. Outro acerto foi trazer Gustavo Santaolalla, que fez a trilha sonora do videogame, para fazer a trilha sonora aqui.

Uma curiosidade: o diretor Craig Mazin não dirigia nada desde 2008, quando fez a comédia nonsense Super Herói: O Filme (e antes ele tinha escrito o roteiro de duas sequências de Todo Mundo em Pânico!). Mas, boa notícia: Mazin faz um bom trabalho aqui. E hoje ele é mais conhecido por ser o criador da série Chernobyl do que pelo seu passado no besteirol.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Gostei muito da sequência do carro, onde o ponto de vista está sempre dentro do veículo enquanto o caos acontece lá fora, inclusive com alguns planos sequência no meio (me lembrei de Filhos da Esperança, que também tem um plano sequência sensacional envolvendo um carro e o caos em volta). E não é só isso, alguns detalhes são boas sacadas como a cena onde vemos uma personagem que está virando zumbi, mas em segundo plano, fora de foco.

Dito isso, precisamos reconhecer que a gente já viu tudo isso. Estou meio saturado com o tema “apocalipse zumbi”. E o episódio traz um “plot twist” com a Ellie, mas no primeiro diálogo onde ela aparece a gente já saca qual é o segredo dela.

Tem outro problema: tudo é muito lento. O episódio tem uma hora e vinte minutos, que se arrastam…

No elenco, Pedro Pascal mais uma vez mostra que é um nome em ascensão. O seu Joel é um cara complexo, tem seus problemas, seus traumas, trabalha com coisas dentro e fora da lei, é um personagem muito bem construído. Bella Ramsey, o outro nome principal, por enquanto não é um bom personagem, ela só faz uma adolescente chata. Isso pode ser do roteiro, ou pode ser um problema com a atriz, aguardemos os próximos. Anna Torv, de Fringe, tem um papel importante, mas também ainda não mostrou a que veio.

Bem, fiz essa análise vendo apenas um episódio. Ainda faltam oito. Ou seja, admito que é cedo pra tirar conclusões. Espero que a série traga algo de novo e seja realmente isso tudo o que prometeram.

Corra, Querida, Corra

Crítica – Corra, Querida, Corra

Sinopse (imdb): Uma mulher tenta chegar em casa viva depois que seu encontro às cegas se torna violento.

Recentemente surgiu um filme polêmico na Amazon Prime, mas que sei lá por que não entrou no meu radar na época do lançamento. Como tem polêmica envolvida, cabe um comentário levemente atrasado sobre o filme?

Em 2017, a gente teve Corra!, que era um filme de terror que trazia uma inteligente abordagem sobre o racismo. Agora este Corra, Querida, Corra (Run Sweetheart Run, no original) parece que quer algo semelhante, mas fazendo uma crítica ao machismo. Mas, se aquele era um bom filme e a crítica social era bem inserida, este novo filme falha nos dois aspectos.

Antes de tudo, preciso avisar que este é um daqueles filmes onde o melhor é você não saber muita coisa. A história toma rumos inesperados. Vou dividir meu texto, e vou comentar alguns spoilers leves mais à frente. Nada grave do tipo “final explicado”, mas, se você não viu e quiser a experiência completa, é melhor não ler.

Co-escrito e dirigido por Shana Feste, Corra, Querida, Corra começa bem. Somos apresentados à protagonista Cherie, que sofre por viver no meio de um mundo machista – vemos isso no seu trabalho, no ônibus, etc. Aí ela precisa ir a um jantar de negócios que acaba que vira um encontro romântico, e esse encontro dá errado e ela agora precisa correr pela sua vida.

A estrutura do filme a partir daí é com ela tentando ajuda, e ele aparecendo e matando quem tenta ajudar. Ok, repetitivo, mas funciona dentro do formato proposto. Além disso, a fotografia à noite é boa, e curti a trilha sonora com synth pop.

Teve uma coisa que achei uma boa sacada. O Ethan, em dois momentos, quebra a quarta parede e vira a câmera, pra gente não ver cenas de violência. Achei uma boa ideia, só achei que isso deveria ter acontecido pelo menos mais uma vez. Só duas vezes ficou estranho.

Claro que o filme se baseia nos dois atores principais. Ella Balinska, que estava no recente As Panteras e na série ruim Resident Evil, está ok para o que o filme pede; Pilou Asbæk (famoso como Euron Greyjoy de Game of Thrones, e que estava no recente Samaritano) é caricato mas caiu bem no papel de machista. A dinâmica entre os dois funciona bem. Também no elenco, Clark Gregg e Shohreh Aghdashloo.

Agora, vamos aos problemas? Preciso falar que aquele “jantar de negócios” do início do filme é um furo de roteiro que me incomodou profundamente. Cherie errou na agenda, e marcou um jantar de negócios na mesma noite que o chefe tinha aniversário de casamento. Isso não foi armado pelo chefe, foi um erro da Cherie. Ou seja, era pro chefe dela estar naquele jantar! Toda a trama do filme não deveria ter acontecido! E isso era muito fácil de corrigir, uma simples linha de diálogo do chefe dizendo “marquei dois compromissos pra hoje, preciso que você me represente em um deles.”

E o roteiro ainda tem alguns pontos aqui e ali que são bem forçados. Tipo quando a Cherie é presa, e a outra mulher que está na cela ao lado dela conhece até o tipo de bebida que o Ethan prepara. Ou o cachorro que salva a Cherie! De onde veio aquele cachorro???

Outra coisa: a crítica ao machismo estrutural é bem vinda, mas às vezes o filme precisava de um pouco mais de sutileza. Mais pra perto do fim, tem um diálogo completamente desnecessário onde a First Lady fala sobre o Ethan, e que a função dele era “manter os homens no poder, e agora que a balnça de poder virou, ele está ficando desesperado”. Sério?

Tenho mais um comentário, mas vamos ao aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Lá pelo meio do filme a gente descobre que o Ethan não é apenas um machista, ele é um monstro. O filme não deixa claro o que ele é – não o vemos na forma monstro – mas desconfio que seja um vampiro, porque ele fareja sangue e precisa voltar pra casa antes do sol nascer. Heu achei essa ideia muito boa, o cara se revela um monstro de verdade. E aí a gente entende por que o filme não pode mostrar os atos de violência, porque a gente descobriria que ele é um monstro logo nos primeiros vinte minutos de filme.

FIM DOS SPOILERS!

Mas mesmo com alguns pontos positivos, o resultado final fica devendo. Pena, a ideia poderia ter dado certo.

Gemini: O Planeta Sombrio

Crítica – Gemini: O Planeta Sombrio

Sinopse (imdb): Um thriller de ficção-científica sobre uma missão espacial enviada para terraformar um planeta distante. No entanto, a missão encontra algo desconhecido que tem o seu próprio plano para o planeta.

Este Gemini: O Planeta Sombrio estava com nota 3,4 no imdb. Tudo indicava que seria ruim. Mas, gosto da mistura terror + ficção científica (cheguei a fazer um top 10!), então resolvi arriscar.

Como previsto, Gemini: O Planeta Sombrio (Project Gemini em inglês, Zvyozdniy razum no original russo) não é bom. O roteiro é péssimo. Tem várias coisas que não fazem sentido. Sem entrar em spoilers, uma coisa que acontece logo no início: eles constroem uma grande espaçonave usando tecnologia alienígena. Quando a nave chega ao destino, chegou no lugar errado. Aí resolvem culpar um dos tripulantes. Vem cá, um projeto deste porte, todos os cálculos de trajetória estão nas mãos de uma única pessoa?

O elenco também é bem ruim. Os atores são péssimos, alguns diálogos chegam a ser constrangedores de tão ruins. E pra piorar, o filme é dublado em inglês. Lembro de ser um problema recorrente, quando vi A Noiva, outro filme russo também dublado em inglês, comentei que a dublagem ruim piorava as atuações. Isso acontece de novo aqui.

Nem tudo é ruim. Gostei do visual, tanto da nave quanto do local da escavação. E outra coisa que gostei foi ter mostrado pouco da criatura. Lembro sempre do primeiro Alien: um monstro que você não sabe como é é mais assustador do que um monstro que aparece muito.

Mas é pouco. Vale mais rever algum filme daquela lista que citei acima. Gemini: O Planeta Sombrio estreia nos cinemas esta semana.

Fome de Viver

Crítica – Fome de Viver

Sinopse (imdb): Um triângulo amoroso se desenvolve entre uma vampira bonita, mas perigosa, seu companheiro violoncelista e uma gerontologista.

Hoje é dia de revisitar um dos melhores filmes do Tony Scott e um dos maiores cults de vampiros dos anos 80: Fome de Viver.

Mas antes do filme, posso falar do diretor? Lembro de uma piadinha maldosa que rolava nos anos 80 se referindo a Tony Scott como “o irmão menos talentoso do Ridley Scott”. Isso é porque enquanto Ridley era famoso por Alien, Blade Runner e A Lenda, Tony fazia filmes como Top Gun, Um Tira da Pesada 2 e Dias de Trovão. Mas acho isso maldade, Tony simplesmente usou um caminho mais pop.

Tem uma história boa envolvendo um tal de Quentin Tarantino. Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel em 1992, e depois teve dois roteiros oferecidos para outros diretores. Um foi Assassinos por Natureza, dirigido por Oliver Stone. Na época rolaram boatos de que Stone e Tarantino teriam brigado, e Tarantino teria pedido pra tirar o nome dos créditos. Hoje Tarantino é um nome gigante, mas, na época, parecia muita audácia de um jovem quase estreante que estava comprando briga com um veterano que já tinha 3 Oscars (roteiro por Expresso da Meia Noite e direção por Platoon e Nascido em 4 de Julho). Mas o tempo passou e vimos que aquele jovem quase estreante tinha boas cartas na mão.

O outro roteiro era Amor À Queima Roupa, que foi dirigido por Tony Scott. Não ouvi falar de nenhum problema entre os dois. Pelo contrário, o que se falou na época é que ficaram amigos. Tanto que o filme seguinte de Scott, Maré Vermelha, teve colaboração do Tarantino. O roteiro estaria sério demais, então Tarantino teria sido chamado escrever algumas cenas para quebrar a sisudez. Sendo assim, temos algumas cenas um pouco “diferentes”, como aquela onde tem uma citação a Star Trek, ou outra onde rola uma discussão sobre o Surfista Prateado.

Infelizmente Tony Scott faleceu em 2012, aos 68 anos de idade.

Vamos ao filme? Baseado no livro homônimo de Whitley Strieber, Fome de Viver (The Hunger, no original) é um filme de vampiros um pouco diferente. A palavra “vampiro” não é dita em nenhum momento do filme, os vampiros não têm dentes caninos pontiagudos, e eles andam de dia (me lembrei de Quando Chega a Escuridão (1987), da Kathryn Bigelow, outro filme que traz vampiros “diferentes”).

Mesmo revendo hoje, quase quarenta anos depois, o visual do filme ainda é bem legal. A fotografia abusa do contra-luz,várias cenas têm cara de videoclipes – e, coincidência ou não, o filme abre com uma participação da banda Bauhaus com a música Bela Lugosi’s Dead. Achei boa a maquiagem do envelhecimento. Uma coisa que não gostei são os takes em câmera lenta, mas não sei se isso é falha ou se foi estilo do diretor.

(Assim como o irmão Ridley, Tony Scott veio da propaganda, então seus filmes sempre foram estilosos.)

Os vampiros aqui não têm presas, eles usam um colar com um pingente com o símbolo egípcio Ankh, e dentro do pingente tem uma lâmina.

Duas coisas que reparei durante o filme, e confirmei depois lendo a sessão de trívia do imdb. A primeira é um comentário “de músico”. Tem uma cena onde vemos um número musical, Bowie está no violoncelo, Deneuve está ao piano e temos uma outra personagem no violino. Bowie aparece tocando, vemos os seus dedos, ele realmente está tocando – talvez até o som que ouvimos não seja tocado por ele, mas ele, que é músico, aprendeu a tocar violoncelo para o filme. Já Deneuve ao piano finge bem mal…

O outro comentário é sobre as cenas de nudez. Susan Sarandon aparece nua, mas tive a impressão de que Catherine Deneuve tinha usado dublê de corpo – e isso foi confirmado no imdb.

No elenco, o filme fica basicamente em cima dos três principais: Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Tem uma breve participação de um ainda desconhecido Willem Dafoe em uma cena.

Por imposição do estúdio, o fim tem espaço para continuações (algo comum em filmes de terror), mas nunca fizeram um segundo filme. Foi feita uma série homônima em 1997, mas não tem nenhuma conexão com a história deste filme (apesar de usar David Bowie como apresentador).

Fome de Viver não foi bem sucedido nas bilheterias, então Tony Scott desistiu de fazer cinema e voltou a fazer comerciais. Até que dois anos depois Jerry Bruckheimer e Don Simpson o convenceram a fazer Top Gun, que viria a ser o maior sucesso comercial de 1986. A partir daí, Scott não largou mais o cinema.

O Menu

Crítica – O Menu

Sinopse (imdb): Um jovem casal viaja para uma ilha remota para comer em um restaurante exclusivo onde o chef preparou um cardápio farto, com algumas surpresas chocantes.

Parece que este O Menu (The Menu, no original) foi um dos títulos badalados no último Festival do Rio. Mas, como comentei no texto sobre Império da Luz, não dei bola para o Festival do Rio este ano, e quase deixei O Menu passar.

Dirigido pelo pouco conhecido Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game of Thrones, Shameless e Succession), O Menu é daquele tipo de filme onde quase tudo acontece no mesmo cenário, com todos os personagens presentes – quase uma peça de teatro filmada.

O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy é eficiente ao equilibrar a trama entre vários personagens. Claro, o foco maior fica nos três principais, mas tem espaço para conhecermos um pouco de cada um dos outros convidados do jantar. E o modo como o jantar é apresentado é uma boa crítica à gourmetização extrema. Aliás, vi alguns críticos incomodados, acho que a carapuça serviu e eles entenderam que seria “cinema” no lugar de “comida”.

Mas o melhor está nas atuações, principalmente de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy. Fiennes tem uma das melhores atuações da sua carreira como o chef obcecado pela perfeição. E Anya mais uma vez mostra que é um nome a ser acompanhado. Nicholas Hoult tem o terceiro papel principal, mas seu personagem é mais besta. Entre os vários nomes menores do resto do elenco, olha lá, tem o John Leguizamo!

Tenho um comentário sobre o fim, mas é um spoiler brabo, então vou colocar o aviso de spoilers.

SPOILERS!

Entendi a ideia do chef, uma espécie de vingança pessoal misturada com suicídio. Mas não consigo entender por que seus funcionários embarcariam nesse suicídio coletivo. Eles já trabalhavam num sistema quase escravo, era a chance de liberdade. Não achei muito lógico.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo não gostando do final, O Menu ainda é uma boa opção de suspense/terror diferente do óbvio.

Olhos Famintos: Renascimento

Crítica – Olhos Famintos: Renascimento

Sinopse (imdb): Forçada a viajar com o seu namorado, Laine começa a experimentar premonições associadas com o mito urbano de The Creeper. Laine acredita que algo de sobrenatural foi convocado, e que ela está no centro de tudo isto.

Sei que nos últimos dias falei aqui de dois filmes de terror muito ruins. Mas este Olhos Famintos: Renascimento (Jeepers Creepers Reborn, no original) supera os dois anteriores.

Heu achei Skinamarink muito muito ruim. Mas entendo que existe uma proposta ali. Não curto a proposta, mas entendo o objetivo. E Tubarão Mar de Sangue é cheio de clichês e tem um cgi muito tosco, mas são cenas rápidas, pra talvez tentar esconder a tosqueira. Já Olhos Famintos: Renascimento tem tanta coisa errada que tive que rever pra anotar tudo e fazer um vídeo pro youtube.

Antes de tudo, falemos sobre a franquia. Lembro de quando lançaram o primeiro Olhos Famintos em 2001 – não me lembro se passou no cinema, acho que foi direto pro mercado de home vídeo. Não era um grande filme, mas me lembro que era uma boa diversão, assim como me lembro que o monstro era bem legal. Devo ter visto o segundo (de 2003), mas não lembro de nada; provavelmente não vi o terceiro (de 2017) porque na época já existia o heuvi, heu teria escrito sobre o filme. Mesmo assim me lembro de comentários esculachando o terceiro filme como um dos piores de todos os tempos. Mal sabiam eles que ainda podia piorar…

Heu não sabia do passado criminoso de Victor Salva, diretor dos três primeiros Olhos Famintos. Ele foi preso por pedofilia no fim dos anos 80. Por causa disso, rola uma teoria de que este quarto filme (dirigido por Timo Vuorensola) seria uma espécie de vingança contra Salva e por isso é ruim de propósito. Será?

Sobre o filme, nada se salva, nem direção, nem produção, nem elenco, nem parte técnica. São tantos erros que fica até difícil de contar. Vou deixar o link para o meu vídeo no youtube. E se você preferir ver o filme, boa sorte!

Skinamarink

Crítica – Skinamarink

Sinopse (imdb): Duas crianças acordam no meio da noite e descobrem que seu pai desapareceu e que todas as janelas e portas de sua casa sumiram.

Apareceu um novo “filme de terror mais assustador de todos os tempos da última semana”. Claro que quero ver. Mas, agora existe um grande mistério na minha cabeça: como alguém pode achar esse Skinamarink assustador???

Skinamarink é um filme onde NADA acontece. Simplesmente isso. Quando o filme começou, mostrando imagens aleatórias, fiquei me perguntado “ok, quando é que a história vai começar?”. Passaram-se dez minutos. Vinte minutos. Meia hora. O filme inteiro é assim!!!

Pra quem não viu (pessoas de bom senso), explico o que são essas imagens. O diretor Kyle Edward Ball coloca a câmera em ângulos “errados”, mostra parte da parede, parte do teto, deixa a câmera parada por uns 10, 15 segundos, depois coloca a câmera em outro ângulo “errado”. Pra piorar, as imagens são cheias de ruídos, e o som também é cheio de ruídos, com apenas fragmentos de diálogos. E o filme fica assim por intermináveis uma hora e quarenta minutos!

“Ah, mas eu levei um susto!”. Ok, sustos podem acontecer. Se uma câmera fica 15 segundos parada mostrando uma parede em silêncio, e de repente tem um barulho alto, o espectador pode levar um susto. Mas isso está longe de transformar Skinamarink em um filme assustador.

Li em algum lugar um comentário que dizia que o diretor deveria fazer um curta em vez de um longa, mas o curta não lhe daria visibilidade (porque, tirando raros casos como Mama ou Lights Out ninguém se importa com curtas). Mas, pergunto: pra que uma hora e quarenta? Por que não uma hora e quinze? Não ia melhorar, mas pelo menos a tortura acabaria mais cedo.

Se heu posso tirar algo de útil é que aprendi um novo termo: “terror analógico” – vejo filmes de terror há mais de trinta anos e não conhecia isso. Segundo a wikipédia, “Esse gênero é comumente caracterizado pela baixa resolução das gravações, mensagens enigmáticas e estilos visuais que lembram a televisão do século XX”. Boa, conheci um subgênero de terror a ser evitado.

O pior de tudo é que como esse Skinamarink está sendo falado por aí, provavelmente farão filmes parecidos nos próximos anos. Corram para as montanhas!

Preciso pensar na minha lista de dez piores filmes de 2022. Faltam nove filmes.

Tubarão: Mar de Sangue

Crítica – Tubarão: Mar de Sangue

Sinopse (imdb): Um grupo de jovens está passando as férias no México. Depois de uma noite de muita curtição, os amigos furtam dois jetskis e os levam para o alto-mar, mas eles acabam batendo em um acidente terrível.

Já defendi aqui antes filmes que trazem premissas repetidas. Filmes que não trazem nenhuma novidade, mas que têm uma boa execução. É um feijão com arroz bem cozinhado e bem temperado – não é novidade, mas ainda assim é um prato saboroso. Por isso defendi o recente A Queda, o filme não traz nada de inovador, e mesmo assim é um ótimo entretenimento.

Pena que Tubarão: Mar de Sangue (Shark Bait, no original) não é.

A gente já viu essa história diversas vezes. Um grupo de jovens desmiolados, no último dia de férias, resolve roubar dois jet skis, acabam causando um acidente, e ficam à deriva sem ter como voltar.

Mas… Em primeiro lugar, nenhum dos personagens é bom. Já começa o filme sem o espectador se importar com nenhum deles. Que virem isca de tubarão, como o título original sugere!

E aí a gente precisa falar sobre decisões burras. Ok, entendo que o cinema é feito em cima de decisões burras de personagens, mas tem uma aqui que me tirou do sério. Um dos personagens resolve nadar para procurar um barco que ele acha que está perto. POR QUE NÃO NADAR ATÉ A PRAIA???

Aí vem outro problema. O nome do filme é “Tubarão Mar de Sangue”, o pôster tem um tubarão enorme, mas… quase não tem tubarão no filme! O tubarão demora a aparecer, e fica pouco tempo em tela!

Mas aí vem um agravante. Deve ter pouco tubarão porque usaram um cgi tosco tosco tosco. Parece feito por um app de celular, o tubarão aparece mas não faz ondas na água em volta. Não costumo reclamar se efeitos pobres, mas aqui ficou feio demais. Consegue ser pior que o Pinóquio! Era melhor usar um bonecão!

Qual é o resultado? Um filme com personagens ruins, que não causa tensão nem nem medo do tubarão, e que ainda tem um cgi muito tosco. Talvez agrade uma turma que vá ao cinema com a proposta de zoação. Mas se quiser um filme bem feito com premissa parecida, veja A Queda.

Pearl

Crítica – Pearl

Sinopse (imdb): Veja como Pearl se tornou a assassina feroz vista em “X”.

Poucos meses atrás tivemos X, bom slasher da A24, dirigido por Ti West. Na época já se falava sobre um prequel contando o passado da personagem Pearl. Olha lá, o filme já está pronto!

Pearl teve um caminho diferente da maior parte das continuações no cinema. Normalmente um filme é lançado, aí dependendo do sucesso, continuações são agendadas. Aqui não, Pearl foi filmado na mesma época que X. Como minha memória é ruim, gostei de ter um lançamento perto do outro (os dois filmes são de 2022).

Pelo que li, X foi filmado na Nova Zelândia, e a equipe ficou de quarentena por causa da pandemia. Assim como James Gunn aproveitou esse período de isolamento para escrever Peacemaker, Ti West e Mia Goth teriam aproveitado para escrever o roteiro de um prequel, para aproveitar equipe técnica e locações. Claro que lembrei de Roger Corman, que fazia essas economias para criar novos filmes vagabundos. Mas Pearl não tem cara de produção feita com “restos”, o resultado final ficou bom, parece um filme projetado do zero.

Mesmo diretor, mesma atriz, roteiro escrito por ambos. Mas são filmes diferentes. Pearl é bem mais lento, e a primeira morte demora bastante pra acontecer. Mas, se é lento como slasher, Pearl traz um excelente desenvolvimento de personagem. Poucas vezes na história do cinema a gente teve tanto foco na construção de um vilão.

Uma coisa curiosa: se X tem cara de filme feito nos anos 70, Pearl tem cara de produções dos anos 40/50 (inclusive nos créditos). E isso deixou o filme bem mais claro e colorido, coisa que não é muito comum em filmes de terror.

Achei a parte final muito boa. Mia Goth tem um longo monólogo que se não fosse o preconceito das premiações com terror provavelmente lhe indicaria a prêmios. E a cena final, o take final, quando começam a rolar os créditos mas a câmera continua gravando, é assustadoramente bonita.

Em breve teremos um terceiro filme, Maxxxine, mas ainda não sei nada sobre ele. Que Ti West e Mia Goth mantenham a qualidade!

Barbarian / Noites Brutais

Crítica – Barbarian / Noites Brutais

Sinopse (imdb): Uma mulher que aluga uma acomodação no Airbnb descobre que a casa onde ela está não é nada do que parecia.

Alguns filmes são fáceis de comentar, quando acaba o filme já tenho formatado na minha cabeça metade do que vou escrever aqui. Outros são bem difíceis, como este Noites Brutais / Barbarian. Este é daquele tipo de filme que o quanto menos você souber informações, melhor será sua experiência. Então vou me policiar para escrever um texto aqui com o maior cuidado possível. Sem spoilers!

Noites Brutais / Barbarian foi escrito e dirigido por Zach Cregger, um nome pouco conhecido, que já tinha alguma experiência como ator e diretor em programas de tv – de comédia. Aparentemente é um nome novo no terror. Um nome a ser anotado!

O roteiro de Noites Brutais / Barbarian passeia por caminhos bem diferentes – por isso é bom não saber muita informação antes. O filme toma rumos que me surpreenderam. E gosto quando um filme me surpreende.

Uma coisa que podemos falar sem risco de spoiler é que Cregger sabe muito bem como posicionar e movimentar sua câmera pela casa. O uso da iluminação também é bem feito. O filme constrói muito bem a tensão. Durante uma hora e quarenta minutos o espectador fica na beirada da poltrona.

Ouvi uma crítica sobre a segunda parte, porque traz outro clima. Ok, entendo a crítica, mas discordo, porque pra mim foi legal a mudança. Um filme todo no mesmo clima ia ser legal? Ia. Mas, como falei, gosto de surpresas. E, tecnicamente falando, o filme é bem eficiente nessas mudanças. Muda até o aspect ratio da tela.

De quebra Noites Brutais / Barbarian ainda traz espaço para discussões sociais, tanto pelo lado financeiro (a parte da cidade onde o filme se passa foi arruinada pela crise financeira) tanto pela parte da posição da mulher – ela deve aceitar entrar numa casa onde já tem um homem desconhecido?

Sobre o elenco, não quero entrar em detalhes por causa de spoilers. Os principais papéis são de Georgina Campbell, Bill Skarsgård, Justin Long e Richard Brake. Todos estão bem.

A boa notícia é que Noites Brutais / Barbarian entrou no catálogo do Star+, então ficou fácil para assistir. Não leia nada e vá ver o filme!