Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Imaculada

Crítica – Imaculada

Sinopse (imdb): Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Há poucas semanas tivemos A Primeiro Profecia, um filme de terror onde uma jovem americana ia pra Itália para virar freira e acabava ficando grávida numa trama que envolvia uma grande conspiração. E agora a gente tem Imaculada, um filme de terror onde uma jovem americana vai pra Itália para virar freira e acaba ficando grávida numa trama que envolve uma grande conspiração. Sim, mais um caso de “filmes gêmeos”, como Vida de Inseto e Formiguinhaz, Volcano e Inferno de Dante, Armageddon e Impacto Profundo, Matrix e 13º Andar, etc (falei sobre isso num podcrastinadores anos atrás)

Apesar de parecidos, A Primeira Profecia e Imaculada são diferentes na motivação das suas conspirações, e, principalmente, no final. Porque o final de Imaculada é MUITO bom. Volto a ele no fim do texto, pode deixar, sem spoilers.

Imaculada tem uma história curiosa nos bastidores. Sydney Sweeney fez uma audição para este filme em 2014, mas não passou no teste, e acabou que o projeto nunca saiu do papel. Anos mais tarde, Sweeney, agora como produtora, procurou o roteirista, adquiriu os direitos, contratou um diretor (Michael Mohan, que já tinha trabalhado com ela em The Voyeurs), conseguiu investidores, levou o filme para a produtora Neon, e finalmente conseguiu o papel.

E Sydney Sweeney está muito bem aqui. Já ouvi elogios sobre sua atuação na serie Euphoria, mas como não vi a série, minhas referências são filmes onde ela não entrega nada demais, tipo The Voyeurs e Madame Teia. Já em Imaculada ela mostra que tem potencial pra ser do primeiro time. Ainda sobre o elenco, um dos papéis principais é de Álvaro Morte, de La Casa de PapeI. É curioso ver o Professor falando em inglês…

Imaculada é curto, menos de uma hora e meia, o que acho perfeito pra filmes de terror. Gostei muito do clima esquisitão dentro do convento. Aparentemente as pessoas aceitam facilmente as coisas estranhas, mas tudo faz sentido no final. E preciso fazer um elogio aos jump scares aqui em Imaculada. Não é “filme de sustinho” à la James Wan, mas tem um ou outro aqui e ali, e são bem construídos. Preciso admitir que um deles me pegou! Ah, e é bom avisar que Imaculada é graficamente muito violento. Tem umas cenas onde o gore lembra os giallos – os personagens falando em italiano ajudam nessa lembrança.

Sobre o final. Já comentei outras vezes que um bom final eleva a nota do filme, assim como um final ruim abaixa a nota. E achei o final aqui muito bom. Sem spoilers, mas é um final que traz três coisas que admiro no cinema. Primeiro, é um final tecnicamente bem feito, é um take longo, quase três minutos sem corte. Segundo, é uma cena que exige muito da atriz, e a Sydney Sweeney não decepciona e entrega uma cena visceral, é quase um “clipe de Oscar”. Por fim, é um final simbolicamente incômodo. Muita gente não vai gostar, por ser um tema delicado, mas, independente de gostar ou não, acho difícil alguém sair do cinema indiferente depois de uma cena dessas.

Não vou comentar mais porque não quero entrar em spoilers. Mas posso dizer que Imaculada vai dar o que falar, principalmente por causa desse final.

Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.

Abigail

Crítica – Abigail

Sinopse (imdb): Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de doze anos, filha de um poderoso homem do submundo, para coletar um resgate de US$ 50 milhões. Em uma mansão isolada, os raptores logo descobrem que não estão com uma garota normal.

Antes de falar do filme, queria falar mal da divulgação. Todo o marketing se baseou na “menina vampira”. O trailer já mostra isso! Mas ela só se revela uma vampira no meio do filme, lá pelos 40 ou 45 minutos. Imagina que legal seria se o espectador não soubesse? Ia ser que nem Um Drink Para o Inferno, onde o espectador entrava no cinema sem saber que era um filme de vampiros!

Enfim, vamos ao filme. Abigail (idem, no original) é o novo filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que têm uma produtora chamada Radio Silence), que fizeram o bom Casamento Sangrento (filme acima da média que quase ninguém viu porque foi lançado no meio da pandemia), e depois foram fazer “mais do mesmo” com Pânico 5 e Pânico 6 (não são filmes ruins, mas também não são nada de mais).

Abigail lembra bastante Casamento Sangrento: personagens sendo perseguidos em uma mansão antiga e enorme. Os diretores souberam aproveitar bem o clima nos ambientes e cômodos da mansão.

Abigail tem MUITO gore. Algumas mortes, alguns membros decepados, e muito, muito sangue. Mas, o filme tem um pé na comédia, o gore aqui não causa repulsa. Algumas cenas são bem engraçadas, seja pelos diálogos ou pelas situações de humor negro. O filme até faz piadas com os clichês de vampiros no cinema!

A maquiagem também é muito boa. A produção optou por dentes que lembram os grandes predadores, como tubarões, em vez dos tradicionais caninos dos vampiros. E também usaram efeitos práticos, como por exemplo na cena onde Abigail se equilibra no corrimão – ela estava pendurada por cabos de segurança, mas era ela mesma se equilibrando.

Sobre o elenco, o grande nome é Alisha Weir. A menina é ótima, tanto quando passa a impressão de ser uma menininha doce e inocente, quanto quando vira um monstro. E ela atacando enquanto dança balé deu um charme especial à personagem. Agora, sobre o resto, os personagens são unidimensionais, achei todos meio caricatos. Acho que o único que se salva é o Kevin Durand, que faz o “grandalhão burro”, mas pelo menos tem carisma na entrega de alguns bons diálogos. O resto é mais do mesmo: Melissa Barrera, Dan Stevens, William Catlett, Kathryn Newton e Angus Cloud (este último, infelizmente, morreu de overdose, aos 25 anos, antes da estreia do filme). Completam o elenco participações especiais de Giancarlo Esposito (em duas cenas) e Matthew Goode (em uma cena).

Por fim, uma referência que nem todos vão pegar. O personagem do Giancarlo Esposito dá apelidos aos outros personagens, e depois os chama de “pack of rats”. “The Rat Pack” era o apelido dado a um grupo de artistas populares nos anos 50 e 60: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop – Don Rickles era considerado um “membro honorário”. É daí que vem os nomes dos personagens Frank, Dean, Sammy, Peter, Joey e Rickles. (Nos anos 80, adaptaram esse nome em outro grupo, o “brat pack”, com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Molly Ringwald e Ally Sheedy.)

A Primeira Profecia

Crítica – A Primeira Profecia

Sinopse (imdb): Uma jovem americana é enviada a Roma para começar uma vida de serviço à Igreja. Ela acaba desvendando uma aterrorizante conspiração que deseja provocar o nascimento do mal encarnado.

Confesso que heu estava com a expectativa lááá embaixo pra ver mais uma releitura de um clássico do terror. Acho que O Exorcista O Devoto me deixou traumatizado. Mas, não é que A Primeira Profecia não é ruim?

Recapitulando a franquia: dirigido por Richard Donner, A Profecia foi lançado em 1976 e hoje é considerado um dos melhores filmes de “terror religioso” da história do cinema. Teve continuações em 78, 81 e 91, e uma refilmagem em 2006 (pra aproveitar a data 06/06/2006). Há 18 anos ninguém mexia na franquia, até que apareceu este prequel.

Longa metragem de estreia da diretora Arkasha Stevenson, A Primeira Profecia (The First Omen, no original), diferente da maioria das releituras recentes, é um filme extremamente respeitoso com o original de 1976. A Primeira Profecia tem cara de filme feito nos anos 70, não só nos figurinos e cenografias, mas principalmente nos posicionamentos e movimentações de câmera. A galera acostumada com o “terror Blumhouse” deve até estranhar.

Um parágrafo à parte pra falar da trilha sonora de Mark Korven. A trilha é sensacional, usa as cordas e o coro de maneira perfeita. E ainda criou uma nova versão para o tema do original, composto por Jerry Goldsmith (e que lhe deu seu único Oscar em toda a carreira). Essa é daquelas trilhas pra se ouvir quando estivermos no clima de algo assustador!

O elenco também é muito bom. Nell Tiger Free, da série Servant, manda muito bem como protagonista. E Sonia Braga tem um dos papeis principais! Tem dois atores que gosto em papeis menores, Bill Nighy (como um cardeal, bem diferente do que ele costuma fazer), e Ralph Ineson (que tem uma das vozes mais legais da atual Hollywood). Também tem uma ponta de Charles Dance. Também no elenco, Maria Caballero, Nicole Sorace e Ishtar Currie-Wilson (sou o único que achei ela parecida com a Mia Goth?).

A Primeira Profecia é bom, melhor do que a média, mas ainda não é um filme perfeito. Rolam alguns jumpscares meio óbvios – por exemplo, o “peguete” da protagonista, dava pra imaginar exatamente o que iria acontecer. O mesmo posso dizer sobre o plot twist que aparece no terço final. Acredito que a maior parte da audiência já desconfiava daquilo. E claro que, por ser um prequel, a gente já sabe mais ou menos como vai terminar – e tem gancho pra uma continuação.

Mesmo assim, A Primeira Profecia foi uma agradável surpresa. Ah, se todas as releituras de clássicos do terror fossem assim…

Alice no País das Trevas

Crítica – Alice no País das Trevas

Sinopse (imdb): Uma adolescente recentemente enlutada vai morar com a avó em uma casa isolada na floresta, sem saber que forças sinistras se escondem lá dentro.

Quando me ofereceram a oportunidade de assistir e produzir conteúdo sobre Alice no País das Trevas (Alice in Terrorland, no original), fui catar o trailer. Parecia ser bem ruim. Mas, filme de terror ruim às vezes é divertido, então fui ver qualé.

Pena, aqui não é divertido, é só ruim.

Alice é uma adolescente que perdeu os pais num incêndio. Aí ela vai pra casa da avó, e começa a ter sonhos muito loucos.

Acho que a ideia era usar os sonhos (ou pesadelos) pra transformar em terror os personagens e situações da história clássica – ideia que até poderia funcionar, a história original da Alice tem muitos elementos loucos que podem ser interpretados como assustadores. Mas o desenvolvimento desses sonhos é péssimo! Não tem absolutamente nenhum momento assustador em todo o filme – e era pra ser um filme de terror!

As caracterizações também são péssimas. Chega ao ponto do Coelho usar uma máscara, mas todo o resto usa maquiagem. De quem foi a ideia estúpida de colocar aquela máscara tosca no Coelho?

Pra piorar, quando ela encontra o Chapeleiro Louco, o filme apresenta um plot twist que já era óbvio desde o início do filme!

O roteiro e a direção são de Richard John Taylor. Vi no imdb que este foi seu sétimo filme como diretor em dois anos (2022 e 2023). Para um ator, é comum ver 3 ou 4 filmes em um ano (às vezes até mais), mas para um diretor, que normalmente se envolve em todas as etapas da produção, é bem mais difícil. A não ser que seja uma produção pequena e preguiçosa como esta.

Alice no País das Trevas é curtinho, uma hora e dezessete minutos (sendo que são sete minutos de créditos, pra que tanto crédito em uma produção tão caseira???). E mesmo assim parece arrastado em alguns momentos.

Pena. Ideia boa, mas muito mal desenvolvida.

Desespero Profundo

Crítica – Desespero Profundo

Sinopse (imdb): Personagens de diferentes origens são reunidos quando o avião em que viajavam cai no Oceano Pacífico. Segue-se uma luta de pesadelo pela sobrevivência, com o suprimento de ar se esgotando e os perigos se aproximando por todos os lados.

A sinopse lembra Sharknado. Mas a proposta aqui não tem nada a ver com o trash do SciFi. Não que seja um bom filme, mas aqui pelo menos tentaram fazer um filme sério.

(Sharknado me irrita não por ser um filme trash, mas sim por ser um filme preguiçoso. Além de todo o contexto ilógico de tubarões que voam em vez de serem carregados pelo tornado, ainda tem um monte de cenas mal feitas. Num take, chove torrencialmente; no take seguinte, as calçadas estão secas. Num take, venta muito; no seguinte, não tem vento. Num take, eles estão dentro de uma casa, e a água invade o primeiro andar, água suficiente para ter um tubarão nadando; no take seguinte, eles saem de casa, e está tudo seco em volta)

Mas aqui até que podia funcionar, se tivesse um roteiro e um elenco melhores. Vamulá.

Desespero Profundo é um “drama de sobrevivência”: um avião cai no mar, afunda, e alguns sobreviventes ficam presos numa bolha de ar. E eles precisam descobrir como sair com vida. Filmes assim podem ser muito bons, lembro de A Queda, de dois anos atrás, onde duas amigas ficam presas no alto de uma torre – e todo o filme é isso. Mas em A Queda o roteiro joga elementos aqui e ali e consegue manter a tensão ao longo de toda a duração do filme, e o espectador fica angustiado na beira da poltrona. Já o roteiro de Desespero Profundo causa sono em vez de tensão.

Desespero Profundo é chato. O roteiro é preguiçoso e não traz quase nada de novidades pra incrementar a história. E, pra piorar, todos os personagens são ruins, e todos os atores são igualmente ruins. Tem um tubarão nadando dentro do avião? Que eles morram pelo tubarão ou afogados, ninguém se importa com personagens assim!

Nem tudo é ruim. O acidente do avião, quando uma parte da turbina explode e despressuriza o avião, é bem feito. Ok, não é tão bem feito quanto o de A Sociedade da Neve, mas não faz feio lembrando que este é um filme de baixo orçamento. Se fosse um curta metragem usando esse acidente de avião, seria um filme bem melhor.

Mas é um longa. Mal escrito, mal desenvolvido e mal atuado. Vale mais rever A Queda.

Imaginário – Brinquedo Diabólico

Crítica – Imaginário – Brinquedo Diabólico

Sinopse (imdb): Uma mulher retorna com a família para a casa em que cresceu. Sua filha mais jovem logo fica apegada a um ursinho de pelúcia que ela encontra no porão. Apesar da interação parecer divertida, a situação não demora para se tornar sinistra.

E vamos para o novo terror da Blumhouse!

Dirigido e co-escrito por Jeff Wadlow (dos fracos Verdade ou Desafio e A Ilha da Fantasia) ,Imaginário – Brinquedo Diabólico (Imaginary, no original) começa bem. A protagonista é casada com um cara que tem duas filhas, uma criança e uma adolescente (que antagoniza com ela). A família se muda pra casa onde a protagonista passou a infância. Lá, a caçula encontra um ursinho de pelúcia que se torna o novo amigo imaginário dela. Claro que coisas estranhas vão acontecer, ligadas a esse amigo imaginário.

Lá pelo meio do filme rola um plot twist que me surpreendeu. Se estivesse vendo o filme em casa, heu ia voltar pra rever algumas cenas, rolou um clima meio Sexto Sentido. Mas…

Estava tudo indo bem, mas no terço final, parece que a produção se perdeu. São jogadas várias ideias e nenhuma deles é bem desenvolvida. Dois exemplos simples, pra não entrar em spoilers. Um deles é que às vezes vemos uma silhueta de uma criatura que supostamente deveria ser o “vilão do filme”, mas outras vezes vemos um urso monstruoso. O outro é quando somos levados a um mundo diferente, e o cenário parece aquele labirinto do Escher, que foi bem utilizado no filme Labirinto, de 1986. Inicialmente parece que exploraremos aquele labirinto com escadas onde a gravidade se porta de maneira diferente, mas acaba que toda a ação se passa num único corredor cheio de portas.

Resumindo: ideias são jogadas, mas não são desenvolvidas, a gente só vê ideias soltas e misturadas.

Tem outro problema. Sabe aquele tipo de personagem que é inserido na história só pra explicar pro espectador o que está acontecendo? Poizé, temos uma personagem assim, que entra na trama e é bem didática ao explicar tudo. O problema é que nada faz sentido. Ou seja, a gente tem uma personagem que usa tempo de tela tentando explicar uma coisa que não tem explicação. Seria melhor tirar essa personagem do filme!

Nem tudo é ruim. Como falei, o plot twist do meio do filme é muito bem bolado. Além disso, a trilha sonora de Bear McCreary sabe aproveitar a musiquinha que toca no ursinho de pelúcia, a gente ouve o tema em várias versões diferentes.

Mas aquele final bagunçado atrapalha tudo. Pena.

O Jogo da Morte

Crítica – O Jogo da Morte

Sinopse (imdb): A estudante Dana chora por sua irmã mais nova, uma criança outrora feliz que cometeu suicídio. Desesperada para saber o que aconteceu, ela explora a história online de sua irmã, descobrindo um jogo sinistro nas redes sociais.

Um amigo mandou o link deste O Jogo da Morte, uma “sessão de imprensa online” deste novo terror russo. Confesso que achei que ia ser bem ruim. Olha, não é que me surpreendeu? Não chega a ser um grande filme, mas é melhor do que muito lixo que chega todos os meses.

(Lembrando que terror russo me traz más lembranças, uns anos atrás tivemos alguns filmes de terror russos lançados aqui, todos eram bem fracos. Aliás, acho que o último filme russo que me empolgou foi o insano Hardcore Henry, mas o seu diretor, Ilya Naishuller, quase não dirige longas, e de lá pra cá so fez o também ótimo Anônimo (vi pelo imdb que ele esta fazendo um filme novo, com John Cena, Carla Gugino e Idris Elba, aguardemos!)).

O Jogo da Morte fala do jogo da Baleia Azul, onde jovens eram incentivados a cometer suicídio. A irmã da protagonista é vítima do jogo, então ela resolve entrar para tentar descobrir quem são os responsáveis.

O formato é aquela espécie de found footage que foi usado em Buscando e Desaparecida, filmes que se passam integralmente através de telas de computadores e celulares. (Não posso afirmar com certeza se todo o filme se passa através de telas, mas não reparei em nenhuma cena fora delas.) Ou seja, tudo aqui é construído através de chats, chamadas de vídeo redes sociais, youtube, etc.

Um detalhe importante para o entendimento do espectador: assim como em Desaparecida, tudo o que aparece escrito nas telas está em português. Lembrando que é um filme russo, isso é essencial, imagina ler tudo em russo e ficar procurando as legendas pro que está escrito?

O ritmo do filme é muito bom, reconheço que fiquei tenso em alguns momentos. Mas, por outro lado, a trama é muito previsível. Qualquer um acostumado com filmes de terror vai adivinhar o suposto plot twist do final.

No elenco, jovens atores russos desconhecidos, ninguém chama a atenção.

O Jogo da Morte não é nada revolucionário, não vai mudar a vida de ninguém. Mas é uma diversão melhor que boa parte dos filmes de terror que são lançados.