Mãe!

MãeCrítica – Mãe

O relacionamento de um casal é colocado à prova quando visitantes que não foram convidados chegam em sua casa, interrompendo sua existência tranquila.

Falei anteontem de um filme que está sendo vendido errado pelo trailer. Este Mãe! (Mother!, no original) é outro exemplo. O trailer sugere um filme de terror, e o filme passa longe disso.

Por sorte, não vi o trailer. Mas, mesmo assim, já sabia que não seria terror, afinal, trata-se do novo filme de Darren Aronofsky, o mesmo de Pi, Requiem para um Sonho, Cisne Negro e Noé.

Ok, então esqueçamos o terror e lembremos quem é o diretor. Mãe! é coerente com o resto de sua filmografia. Um filme hermético, repleto de metáforas e simbolismos. Várias camadas de interpretação, várias coisas sem sentido ao longo da projeção. E, claro, referências bíblicas. Vai ter gente que vai adorar e colocar em listas de melhores do ano; vai ter gente que vai odiar e sair antes do final.

Independente de se gostar ou não deste tipo de filme, precisamos admitir que Aronofsky é talentoso na sua proposta. Além de tecnicamente bem feito, o filme é envolvente, e a parte final é um belo espetáculo visual.

Agora, um comentário sobre o significado. Mas antes, claro, aviso de spoilers.

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Ao fim do filme, meu amigo Carlos Voltor, do canal Voltorama, falou a sua interpretação: Ele seria Deus, ela seria a natureza, a casa seria o planeta. O casal é Adão e Eva, seus filhos, Caim e Abel. Na parte final, vemos representações de guerras. Cheguei em casa, verifiquei no imdb, é isso aí. Por este ponto de vista, tudo faz mais sentido!

FIM DOS SPOILERS!

No elenco, Jennifer Lawrence, a queridinha de Hollywood, encontra mais um papel perfeito para o estilo de “over acting” dela. Não sou muito fã, mas sei que sou minoria, então ela vai continuar assim… Também no elenco, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer, Ed Harris, Kristen Wiig, Domhnall Gleeson e Brian Gleeson.

Veja por sua conta e risco. Mas vá ao cinema de cabeça aberta!

Noé

0-noe1Crítica – Noé

Novo blockbuster bíblico?

Um homem é escolhido por Deus para uma missão de resgate de todos os animais da Terra, antes que um dilúvio apocalíptico destrua o planeta.

Tem gente achando que é um blockbuster, né? Ué, não viram quem é o diretor? Darren Aronofsky, o mesmo de Pi e Réquiem Para um Sonho? Claro que o filme não será convencional!

Noé falha logo de cara, no seu conceito mais básico. É uma história bíblica, todo mundo conhece, então não dá pra inventar muita coisa. Agora, se o Darren Aronofsky queria inovar, deveria ter chamado o seu filme de outro nome, como “Norberto” ou “Nerval”. Porque Noé, o filme, parece que se passa em outro planeta. Vemos estrelas no céu mesmo de dia, e gigantes de pedra, com quatro braços e olhos luminosos, dividem as terras com os humanos.

Me parece que Aronofsky quis criar um clima onírico, talvez pra justifcar as viagens de ácido que tem no roteiro (co-escrito por ele mesmo). Afinal, fica mais fácil “comprar a ideia” de um dilúvio onde a água também brota do chão ou uma fumacinha mágica que faz os animais chaparem por tempo indeterminado – serve para TODOS os animais, mamíferos, aves, répteis, mas não afeta os humanos.

Ainda tem o personagem Matusalém, interpretado pelo grande Anthony Hopkins. A melhor definição para este personagem ouvi do meu amigo Eduardo Miranda: Matusalém é o Mestre dos Magos! Não só ele é careca em cima da cabeça mas com longos e lisos cabelos brancos na laterais, como é um velhinho que aparece apenas em momentos-chave, capaz de mágicas poderosas que resolvem problemas pontuais, mas que sempre fala frases incompletas e some logo depois. Pô, se a mágica do Matusalém é tão poderosa, por que ele não ajuda na hora do pega pra capar?

(E por que Noé o deixou de fora da arca é outra coisa que nem vou perguntar…)

O resto do elenco parece tão perdido quanto Hopkins. Russell Crowe me parece um pouco “gladiador” demais, sempre imaginei Noé como um velho sábio e tranquilo. Jennifer Connelly e Emma Watson estão desperdiçadas em papeis sem sal. Ray Winstone está bem até começar a chuva, depois seu papel vai ladeira abaixo. Logan Lerman e Douglas Booth parece que só estão no filme por serem rostos bonitinhos. E diz a lenda que temos as vozes de Nick Nolte e Frank Langella como vozes dos monstros de pedra, mas as vozes têm tantos efeitos que na verdade tanto faz quem dublou.

Ainda sobre a arca: o roteiro vai tropeçando até o dilúvio. Mas o filme piora muito quando toda a ação vai para dentro da arca. Spoiler leve: tem personagem desnecessário escondido na arca, tire o personagem, nada muda no rumo do filme.

Outro problema: Noé tem um maniqueísmo que chega a incomodar. Todos os descendentes de Caim são malvados que merecem ser varridos da face da Terra por uma enchente gigantesca – aparentemente só porque não são vegetarianos, segundo o filme, comer carne deve ser um pecado tão terrível que leva os pecadores direto ao inferno. Já o descendente de Seth pode ameaçar matar crianças que não deixa de ser o “mocinho”.

Nem tudo é ruim. Os efeitos especiais são excelentes. Parece que não tinha nenhum animal no set de filmagens, é tudo cgi – e são perfeitos! Os efeitos que mostram a criação dos monstros de pedra também foram impressionantes. O dilúvio em si também é muito bem feito. E tem uma breve sequência muito boa que mostra guerras ao longo dos tempos.

Mas é pouco, muito pouco. Noé está sendo vendido como um grande blockbuster, e está longe disso. E isso porque nem vou entrar na polêmica religiosa. Desculpem o trocadilho óbvio, mas Noé vai naufragar nas bilheterias…

Cisne Negro

Cisne Negro

Nina Sayers (Natalie Portman), uma obcecada bailarina, ganha o papel principal na montagem de Lago dos Cisnes, de Tchaikovisky. Nina é perfeita para o papel da delicada Cisne Branca, mas tem problemas para compor a personagem de sua irmã gêmea, a malvada Cisne Negra.

Vou falar sobre um pé atrás que tenho (ou tinha) com o diretor Darren Aronofsky. Vi seus dois primeiros filmes na mesma época, Pi e Réquiem Para um Sonho. Não são ruins, mas são “cabeça” demais, e confesso que não gostei, achei ambos bem chatos. Fiquei tão traumatizado que ainda não vi Fonte da Vida e O Lutador

Mas Aronofsky acertou a mão desta vez, Cisne Negro é muito bom. Aronofsky foi muito eficiente ao mostrar toda a paranoia que envolve Nina, usando a trilha sonora aliada a rápidos movimentos de câmera. E o clima do filme começa a mudar mais pra perto do fim, o filme vira quase um terror! Aliás, gostei de como o filme resolveu a dubiedade de Nina, entre a graça e suavidade da rainha Cisne Branca e a sensualidade agressiva da Cisne Negra.

Natalie Portman está sensacional. Se heu for apostar em apenas um Oscar para 2011, é o de melhor atriz para ela. Portman encarna com perfeição toda a obsessão e loucura que a personagem pede.

Digo mais: todo o elenco está inspirado, o filme não é só de Portman. Mila Kunis está excelente como a bailarina antagonista, sensual e imperfeita, ideal para o cisne negro. Idem sobre Vincent Cassel, Barbara Hershey e Winona Ryder.

(Me senti velho. Lembro de Winona Ryder com quatorze ou quinze anos em Inocência do Primeiro Amor. E agora ela faz uma bailarina veterana, se aposentando…)

Preciso falar da famosa e polêmica cena de sexo lésbico. A cena é sensacional, e já circulou por toda a internet. Sem mostrar nada de nudez, a cena consegue ser mais erótica que muito filme pornô! Mas é só uma cena, o filme não toma esse caminho GLS!

Sobre os eficientes e quase invisíveis efeitos especiais, tenho dúvidas sobre o quanto as meninas dançam de verdade. Vemos de perto, muito perto, a montagem do balé. Portman e Kunis têm formação de balé clássico?

Enfim, grande filme, deve ganhar várias indicações ao Oscar 2011. A estreia nacional só vai rolar em fevereiro, mas Cisne Negro já está disponível nos sites de torrent.