Nas Terras Perdidas

Crítica – Nas Terras Perdidas

Sinopse (imdb): Uma feiticeira viaja para as Terras Perdidas em busca de um poder mágico que permite que uma pessoa se transforme em um lobisomem.

Algumas pessoas encontram um nicho e seguem nessa zona de conforto. Sempre lembro do Adam Sandler, que junta uns amigos, viaja, se diverte, filma um fiapo de história, e vende isso como o seu novo filme. São filmes bem ruins, mas, ora, se tem gente comprando, ele está certo de continuar fazendo.

Paul W.S. Anderson também encontrou um nicho: filmes fantásticos com roteiro fraco e cara de videogame, sempre estrelados por sua esposa Milla Jovovich. Foi assim com Resident Evil, foi assim com Monster Hunter. Por que Nas Terras Perdidas ia ser diferente?

Nas Terras Perdidas (In The Lost Lands, no original), tem uma diferença, que poderia ser algo relevante: é adaptação de um conto de George R R Martin. Não li o conto, mas, pelo roteiro, realmente parece videogame.

Num mundo pós apocalíptico, conhecemos uma bruxa que contrata um mercenário pra encontrar o covil de um lobisomem, para atender os desejos de uma rainha. E o filme segue essa jornada, em etapas que parecem justamente fases de um jogo.

(Aliás, algumas das fases não fazem muito sentido, tipo aquela onde ela encontra seres que parecem uma versão zumbi do Groot.)

Nas Terras Perdidas não chega a ser exatamente ruim. Na verdade, encontrei exatamente o que estava esperando: uma trama rasa em um ambiente fantástico, com efeitos especiais de segunda linha, e um roteiro bem fraco.

Assim como em Monster Hunter, o roteiro é o pior do filme. Parece que ninguém releu e revisou, algumas soluções são bem toscas. Heu poderia listar várias inconsistências, mas ia ser um texto meio chato. Mas só vou dizer uma coisa que chegou a me incomodar. Eles demoram alguns dias para chegarem no destino, e isso porque cortam caminho. Aí depois ela consegue voltar no mesmo dia. Ué, são caminhos diferentes?

(Depois da sessão, comentei isso com um amigo, que fez a piada “é que na ida eles foram tirando fotos e postando no Instagram, não fizeram isso na volta”.)

O visual lembra Mad Max, mas cheio de câmera lenta e imagens estilosas – parecia que Paul W.S. Anderson queria emular o estilo do Zack Snyder. Não vou reclamar dos efeitos especiais. Não são muito bons, mas servem pro estilo proposto pelo diretor. Falo o mesmo sobre as atuações de Milla Jovovich e Dave Bautista. O problema aqui é roteiro!

Agora é aguardar a bilheteria, pra saber se o casal Anderson & Jovovich vai fazer uma continuação, ou se vão adaptar outro videogame. Ainda não sabemos. Só sabemos como o resultado vai ficar.

p.s.: A personagem da Milla Jovovich em Resident Evil é Alice. Aqui é Gray Alys. Ninguém reparou que soa igual?

Um Filme Minecraft

Um Filme Minecraft

Sinopse (imdb): Quatro desajustados são transportados para um bizarro país das maravilhas cúbico onde impera a imaginação. Para voltar para casa, eles terão que dominar este mundo enquanto embarcam em uma missão com um experiente construtor imprevisível.

Um Filme Minecraft estava na minha lista de expectativas pra 2025, porque fiquei curioso de como iriam fazer um filme com atores em um mundo quadrado, e além disso o trailer passava uma vibe meio Jumanji. Ok, reconheço que, na parte técnica, Um Filme Minecraft é muito bem feito. Gostei da construção do “mundo quadrado”. Por outro lado, o roteiro… Diferente de uma adaptação bem feita como Super Mario Bros., Um Filme Minecraft é bem bobinho.

Nunca joguei, mas até onde sei, o jogo Minecraft é uma espécie de Lego dentro do computador, você usa blocos pra construir qualquer coisa. Mas por outro lado não tem exatamente uma história sendo contada no jogo. Se por um lado uma adaptação é mais complicada, por outro lado abre espaço pro roteirista viajar. O próprio Lego tem um filme sensacional, Uma Aventura Lego. Se Minecraft seguisse um caminho desses, tinha potencial de ser bem divertido.

Mas, a história é confusa, tem personagens desnecessários, o vilão é ruim, a motivação dos mocinhos é besta, tudo é bagunçado demais. Sem entrar em muitos detalhes, mas, são quatro pessoas que entram no jogo e encontram o Jack Black (que já estava lá – e que, aliás, se ele sempre quis entrar na mina, por que esperou ficar velho pra isso?). O Jason Momoa, ok, é a outra estrela, também precisa estar no rolê. Os dois garotos são muito sem sal, mas tem uma justificativa pra também participarem da aventura. Agora, por que incluir aquela corretora de imóveis? Tire esse personagem e o filme não muda nada! Digo mais: inventaram uma trama paralela, fora do jogo, com a diretora da escola, que é vergonha alheia de ruim. A sensação que fica é “conseguimos uma atriz famosa, vamos criar umas cenas pra aproveitá-la”.

Ainda nos garotos. Era pro menino ser o protagonista, mas ele é tão água de salsicha que nenhum espectador vai se importar com ele. E olha como o roteiro deu mole: o moleque chega e já mostra habilidades construindo coisas, e logo cria uma arma. Caramba, na batalha final ele ainda está com a mesma arma! Num jogo onde as construções são ilimitadas, ele podia ter construído um monte de coisas diferentes pra usar contra os inimigos!

Aliás, colocaram um ator mirim sem sal pra protagonizar um filme ao lado do Jack Black e do Jason Momoa. Aí aconteceu o óbvio: os dois roubaram o protagonismo e o garoto virou coadjuvante. Consequências de um roteiro mal escrito.

Sobre a batalha final, sabe o conceito “deus ex machina”, que é quando aparece uma ajuda externa pra salvar os heróis? Nessa batalha tem duas vezes esse artifício!

Por fim, queria comentar um problema que me pareceu ser da dublagem. Infelizmente vimos o filme dublado, apesar de todos na sessão preferirem legendado. Ok, vamos no dublado. O filme termina com uma música cantada pelo Jack Black. Ele canta, tem uma banda, já tocou até no Rock in Rio, nenhum problema em vê-lo cantando. Mas, durante a estrofe, a voz dele estava muito baixa, quase inaudível, só ouvíamos as vozes nos refrães. O que me parece que aconteceu? Meu palpite é que a voz estava baixa, pra entrar a voz do dublador. Mas não teve dublagem neste momento. Ou seja, a música final ficou bem ruim. Mas calma que ainda piora! Jason Momoa não canta, mas aparece no palco ao lado do Jack Black, com um keytar pendurado no pescoço – keytar é aquele teclado que fica na correia que nem uma guitarra ou baixo. E em nenhum momento Momoa encosta nas teclas! Pra que colocar um instrumento nele se ele não vai tocar?

Um Filme Minecraft tem cenas pós crédito estilo Marvel: uma logo no início dos créditos e outra lááá no finzinho. Se você joga Minecraft, fique até o final! Mas se nunca jogou, pode ir embora.

No fim, não que Um Filme Minecraft seja “ruim”. Mas tinha um potencial enorme, e virou um filme genérico, que vai ser esquecido. Podia ser um novo Super Mario Bros, mas ficou do nível de Emoji – O Filme.

Branca de Neve

Crítica – Branca de Neve

Sinopse (imdb): Adaptação em live-action do filme de animação da Disney de 1937 “Branca de Neve e os Sete Anões”.

Estreou o filme mais polêmico de todos os tempos da última semana!

Não tem como não falar desta nova versão de Branca de Neve (Snow White, no original) sem lembrar das diversas polêmicas. Teve a escalação de uma atriz latina para um papel que deveria ser “branca como a neve”; teve esta mesma protagonista dando entrevistas falando mal da história original; teve a polêmica entre as duas atrizes principais, uma apoiando Israel e outra apoiando a Palestina; teve o Peter Dinklage reclamando da história desvalorizar os anões, e por isso supostamente os atores foram trocados por cgi… Muitas polêmicas, mas hoje vou falar do filme. (Sobre as polêmicas, procurem outros sites.)

Dirigido por Marc Webb (que fez os filmes do Homem Aranha com o Andrew Garfield), Branca de Neve se propõe a atualizar a história contada no desenho lançado em 1937. Algumas alterações até funcionaram, mas outras não. Mas, no fim, nem é um filme tão ruim. É apenas mais um live action desnecessário – como aliás, quase todos os live actions da Disney (na minha humilde opinião, o único live action bom é Cruella, que não é uma adaptação, é um spin off com uma história independente do desenho original). Ou seja, a gente esperava um grande lixo, mas é apenas mais um filme esquecível. E, claro, inferior à obra original.

Rachel Zegler foi uma escolha errada, porque na história original, a rainha fala “Como eu queria ter uma filha com a pele branca como a neve, lábios vermelhos como sangue e cabelos negros como ébano.” Tiveram que alterar a origem dela, no filme ela se chama Branca de Neve porque nasceu num dia que estava nevando – uma grande forçação de barra. Além disso, ela deu a entender através de entrevistas que não gosta do desenho. Pra que escalar uma atriz assim? Mas, pelo menos ela canta bem. Pena que Branca de Neve não tem nenhuma música empolgante – a única música que fica na cabeça quando acaba o filme é a dos anões, que todo mundo já conhece há décadas: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”

Escalar Rachel Zegler e Gal Gadot trazia outro problema, semelhante ao filme de 2012, Branca de Neve e o Caçador, quando Kristen Stewart era a Branca de Neve e Charlize Theron era a Rainha Má. Uma das falas mais famosas da história original é “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” – e, assim como Kristen Stewart nunca vai ser mais bela que Charlize Theron, Rachel Zegler nunca vai ser mais bela que Gal Gadot. Mas, reclamei disso em 2012, não sei se vale reclamar igual agora, treze anos depois. O que posso dizer sobre a Gal Gadot: ela está caricata, talvez um pouco acima do que deveria estar, mas não chega a atrapalhar. E ela canta, até canta bem, mas, nos dias de hoje, não sei se é a voz dela ou não.

Sobre os anões: eles viraram criaturas mágicas que vivem na floresta há centenas de anos, e todos são em cgi. Achei que ficou bom. O cgi dos anões é muito bem feito – assim como o cgi dos animais da floresta. Não sei muito sobre os bastidores da polêmica com o Peter Dinklage, se os anões em cgi foi por causa disso, mas sei que o resultado final, pelo menos pra mim, foi satisfatório.

Agora, o que foi bem ruim foi um núcleo de personagens que acompanha o “mocinho” – agora não pode ser mais príncipe, porque a Branca de Neve, empoderada, não pode ser salva por um príncipe (decisão que a produção tomou, que questiono se foi correta ou não). Enfim, em vez de príncipe, é um ladrão, e esse ladrão tem um bando, que não estava na história clássica, e que tem várias representatividades – e que parece saído de uma faculdade de Humanas na UFRJ. Já é uma grande forçação isso, mas calma que piora. O problema é que, tirando um (logo o anão!), essas pessoas do grupo são meros figurantes. Não têm nomes, não têm diálogos, não têm nenhuma importância para a trama. Caramba, se você vai incluir diversidade no seu filme, dê alguma relevância pra esses personagens!

Algumas coisas foram atualizadas para os dias de hoje, ok, a gente entende que se passaram quase 90 anos. Mas não entendo como não adaptaram o beijo do príncipe / ladrão no final. O cara encontra a Branca de Neve morta, e dá um beijo na boca dela? Quem beijaria a boca de um cadáver??? Não seria melhor um beijo na cabeça?

Enfim, Branca de Neve nem é tão ruim quanto esperado, mas é esquecível. O desenho ainda é muito melhor.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Sinopse (imdb): Em Rohan, um ataque surpresa de Wulf, um senhor Dunlendino astuto e implacável em busca de vingança pela morte de seu pai, força o rei Helm Mão-de-Martelo e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza de Hornburg.

Depois de décadas, O Senhor dos Anéis volta para a animação!

(Pra quem não sabe ou não se lembra, em 1978, muito antes da famosa e premiada trilogia do Peter Jackson, Ralph Bahshi dirigiu uma versão animada dos livros de Tolkien!)

A novidade agora é que a animação, dirigida por Kenji Kamiyama, é em estilo anime. O visual da animação é muito bonito. É curioso ver nos cinemas uma animação “old school”, comentei aqui outro dia sobre Moana 2 e sua animação perfeita. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está longe dessa proposta, mas mesmo assim traz um belo visual.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim conta uma história que se passa 200 anos antes dos acontecimentos principais dos livros. Acompanhamos Hera, a filha do rei Helm Mão de Martelo. Li os três livros, mas não me considero um grande conhecedor de Tolkien. Me disseram que nos livros é citado que Helm tem uma filha, mas ela nem tem nome. Resolveram desenvolver então esta personagem, que ganhou o nome de Hera e virou a protagonista aqui.

Pra quem não gostou da série Anéis de Poder, a boa notícia é que aqui existe uma justificativa pra personagem feminina forte, não pareceu lacração. Afinal, ela é uma antepassada da Éowyn, que era uma personagem feminina forte nos livros e filmes. Gostei da Hera.

Aproveitando que falei dela, Miranda Otto, a Éowyn dos filmes, tem um papel aqui, narrando a história. Billy Boyd e Dominic Monaghan, Merry e Pippin nos filmes, também estão aqui, mas em outros papéis. Tem mais uma participação, numa cena curta no final, cena que parece ter sido inserida apenas por fan service.

O roteiro traz um problema. O nome do filme é “A Guerra dos Rohirrim”, e a gente lembra que no filme As Duas Torres tem uma batalha grandiosa no mesmo cenário, o Abismo de Helm. Aí a gente pensa no nome, e espera uma guerra ainda mais grandiosa. E a tal batalha do desenho é boa, mas bem inferior à do filme de 2002.

Como falei, no fim do filme rolam uns fan services. Nada importante pra trama, mas quem é fã vai curtir. Mas, talvez fosse melhor se colocassem como cenas pós créditos…

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem

Sinopse (imdb): Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Finalmente uma continuação do clássico oitentista Os Fantasmas se Divertem!

Lançado em 1988, Os Fantasmas se Divertem é um dos mais icônicos filmes da carreira de Tim Burton (diretor que coleciona títulos icônicos). Trinta e seis anos depois vemos a continuação, e a boa notícia é que quase todo o time principal está de volta.

Os Fantasmas se Divertem marcou toda uma geração com seu visual, personagens, figurinos e cenários característicos, além de muito humor negro (afinal, o filme trazia personagens mortos!). E Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, no original) traz tudo isso de volta.

Décadas se passaram, mas Beetlejuice ainda quer sair do mundo dos mortos e se casar com Lydia Deetz (Winona Ryder), que hoje tem um programa de TV ligado ao mundo sobrenatural e tem problemas de relacionamento com a filha.

Preciso dizer que gostei muito dos efeitos especiais. Alguns efeitos usados no filme de 88 são efeitos práticos que ficaram característicos, mas ao mesmo tempo são efeitos datados – com o cgi de hoje em dia ninguém mais usa efeitos como aqueles. Mas aqui em Os Fantasmas Ainda se Divertem há um bom equilíbrio entre os efeitos práticos e o cgi, e o resultado ficou muito bom. Vou além: adorei ver que aquela cobra da areia continua sendo stop motion!

A trilha sonora de Danny Elfman é tão boa quanto a do primeiro filme. Já os momentos musicais, nem tanto. O primeiro filme tem uma cena musical muito famosa, na mesa de jantar com a música Banana Boat Song. Parece que quiseram recriar algo assim, com a cena da igreja e a música MacArthur Park, mas a cena ficou interminavelmente longa. Foi cansativo chegar ao fim.

Alguns comentários sobre o elenco. Em primeiro lugar, todos os elogios possíveis ao Michael Keaton. Ele está ótimo como Beetlejuice, e como o personagem usa muita maquiagem, nem deu pra reparar que tanto tempo se passou (Alec Baldwin e Geena Davis não tinham como voltar porque os fantasmas não envelhecem mas os atores envelheceram). O humor do Beetlejuice é alucinado, e Keaton parece muito confortável no papel. No mundo dos vivos, o filme se divide entre as três gerações, Catherine O’Hara e Winona Ryder voltam aos seus papéis, e Jenna Ortega aparece como a novidade (possivelmente pensando num terceiro filme).

Danny De Vito só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Agora, não sei se gostei de outras duas participações no elenco. Willem Dafoe está bem, como sempre, mas seu papel é meio descartável. E ainda mais descartável é a Monica Bellucci, que parece que ganhou um papel só porque é a atual namorada de Tim Burton. Willem Dafoe e Monica Bellucci não estão mal, mas parecem desperdiçados. Tire os dois personagens e o filme não perde nada.

Ainda sobre o elenco, o personagem de Jeffrey Jones é importante para a trama, mas o ator esteve envolvido com pedofilia em 2003, então o roteiro criou uma solução para ter o personagem, mas não o ator.

Quem gosta do filme original vai curtir essa continuação!

O Corvo

Crítica – O Corvo

Sinopse (imdb): Eric Draven e Shelly Webster são almas gêmeas conectadas por um passado sombrio. Após o brutal assassinato do casal, é concedido a Eric uma chance de salvar seu verdadeiro amor. Ele, então, embarca em uma jornada implacável por vingança.

Antes de tudo, peço desculpas pelo atraso. Tinham duas sessões de imprensa no mesmo dia, O Corvo e Longlegs. Escolhi o segundo, e vi O Corvo depois, no circuito.

Rolava um certo receio. A sessão de imprensa foi no dia da estreia. Já comentei em outras ocasiões, quando a assessoria “esconde” o filme, normalmente é porque não é bom. Entrei na sala de cinema com a expectativa lá embaixo. Mas, olha, não é que me surpreendeu positivamente? Não que O Corvo (The Crow, no original) seja um grande filme, mas não é a catástrofe anunciada.

A HQ O Corvo teve uma adaptação em 1994, muito cultuada. Trazia um visual de videoclipe e causou uma grande comoção porque Brandon Lee, o ator principal, morreu no set, quando faltavam poucos dias para encerrarem as filmagens. Mas heu não gosto muito daquele filme, porque acho que o personagem principal ganha super poderes meio que do nada. O cara é assassinado logo no início do filme e já volta com a habilidade do Batman e poder de regeneração do Wolverine.

No novo filme, dirigido por Rupert Sanders (Ghost in the Shell, Branca de Neve e o Caçador, a gente conhece mais a fundo o relacionamento do casal, e quando ele volta dos mortos não está exatamente pronto para enfrentar os inimigos, ele apanha muito antes de conseguir seus objetivos. Outra coisa importante: o grande vilão tem uma conexão sobrenatural, o que justifica um personagem voltar dos mortos para enfrentá-lo. Nessa parte o filme novo é melhor.

Por outro lado, preciso dizer: se no filme de 94 tudo foi muito abrupto, neste filme achei que a parte do relacionamento do casal se estendeu demais. Ok, a gente já entendeu, bora seguir com a história!

(Os dois filmes são bem diferentes. Não li a HQ, não sei qual dos dois filmes é mais fiel.)

O Corvo ainda tem uma outra coisa melhor que o filme dos anos 90. A parte final, onde o protagonista enfrenta vários adversários num teatro onde está acontecendo uma ópera, é muito boa. Boas coreografias de luta – coreografias que conversam com as coreografias da ópera. Muita violência, muito sangue, várias partes de corpos decepadas, é uma sequência longa e muito boa.

No elenco, o nome a ser citado é Bill Skarsgård, mais uma vez mandando muito bem. O cara é bom ator e ainda tem porte físico compatível com o personagem. FKA twigs, cantora em seu primeiro filme (e que heu nunca tinha ouvido falar), faz o principal papel feminino, e funciona pro que o filme pede. O outro nome famoso é Danny Huston, que faz mais uma vez um vilão, igual a vários outros que ele já fez.

Achei o resultado final ok. Vejo muita gente em volta odiando esta nova versão, mas não achei motivo pra tanto ódio, me parece que são fãs do filme de 94 que não aceitam uma nova versão. Mas, como falei, é apenas ok. Porque no sub gênero “filme de vingança”, achei Contra o Mundo, estrelado pelo mesmo Bill Skarsgård, muito melhor que esse O Corvo.

Mestres do Universo (1987)

Crítica – Mestres do Universo (1987)

Sinopse (imdb): O heroico guerreiro He-Man luta contra o malvado Esqueleto e seu exército.

Há tempos heu tinha curiosidade de rever Mestres do Universo, de 1987. Vi no cinema, na época, nunca tinha revisto. E existe um consenso geral hoje em dia de que é um filme ruim. Resolvi catar o filme para rever. E não é que foi uma boa surpresa? Mestres do Universo não é tão ruim assim!

Ok, o filme dirigido por Gary Goddard (segundo o imdb, seu único longa) não é perfeito, tem seus defeitos, efeitos especiais venceram, etc. Mas é bem melhor do que heu esperava.

Acredito que boa parte do problema das pessoas está no head canon. A maior parte das pessoas foi ao cinema assistir um filme baseado no desenho animado do He-Man. E o filme Mestres do Universo é baseado no boneco He-Man, e não no desenho animado.

Lançado pela Mattel, o boneco veio antes do desenho. Rola um rumor que diz que o boneco foi feito para ser o Conan (que teve um filme lançado em 1982, estrelado pelo Arnold Schwarzenegger), e que teria sido desligado do filme porque a Mattel não queria se associar a um filme repleto de nudez e violência. Mas, segundo a Wikipedia, esse rumor nunca foi confirmado. O fato é: a Mattel criou um boneco, colocou no mercado em 1982, e o desenho só foi lançado em 1983.

Algumas coisas características do desenho não estão aqui. Umas por razão orçamentária, como o Gato Guerreiro e o Gorpo (seria difícil com o cgi existente na época); ou o fato de parte da história se passar na Terra (é mais barato filmar em locações que já existem do que criar um mundo novo). Outras alterações não tenho ideia do motivo – por que diabos não tem o príncipe Adam?

Por outro lado, criaram um personagem novo, o Gwildor, que tem bem a cara de personagem de filme de fantasia da época, uma pegada meio Willow / Labirinto / Cristal Encantado. Ah, preciso dizer, o personagem era pra ser um alívio cômico, mas é um personagem bem tosco.

Algumas partes da trama não fazem muito sentido, mas, a gente precisa se lembrar que eram os anos 80, e quase todos os filmes traziam coisas que não faziam muito sentido. E sim, temos conveniências de roteiro, como o único cara que teve acesso à chave que abre portais interdimensionais ser um músico capaz de reproduzir a melodia, ou termos uma cidade quase vazia. Mais uma vez, anos 80, isso era comum.

Algumas pessoas vão reclamar dos efeitos especiais, feitos por Richard Edlund (ganhador de dois Oscars de efeitos especiais, em 1978 por Guerra nas Estrelas e em 82 por Os Caçadores da Arca Perdida). Claro, os efeitos venceram. Mas, caramba, já se passaram 37 anos! Entendendo o contexto de quando foram feitos, os efeitos são aceitáveis. Já a trilha sonora de Bill Conti (Rocky, Karate Kid) é imponente, mas não curti, porque parece muito o tema de Superman.

Tenho alguns comentários sobre o elenco. O primeiro é que o Dolph Lundgren era o ator ideal para o papel. O He-Man era um cara loiro e muito forte, e Lundgren, com 1,96m, tinha o physique du role perfeito. Arrisco dizer que ele é tão perfeito para o papel quanto a incensada Margot Robbie como Barbie – coincidência ou não, outra boneca da Mattel. Na gringa tinha gente reclamando que ele tinha sotaque sueco, mas essa reclamação não cabe aqui no Brasil, quando a maior parte viu dublado.

Outro comentário é sobre Frank Langella como Esqueleto. O cara está ótimo, ele declarou que ia fazer o papel em homenagem a seu filho, fã do desenho. Ele parece estar se divertindo muito no papel, e disse que chegou a escrever alguns dos seus diálogos.

Também preciso falar de Courteney Cox, então com 23 anos, ainda bem longe do estrondoso sucesso como a Monica Geller de Friends. Na época, acho que ela só era famosa por ser “a garota que dança com o Bruce Springsteen no vídeo de Dancing in the Dark”, gravado três anos antes.

Ainda queria falar de Meg Foster, que faz a Maligna (ou Evil Lyn, o nome em inglês é genial!). Meg tem os olhos naturalmente muito mais claros que o padrão. Sugeriram que ela usasse lentes de contato, mas não precisa, aqueles são os olhos reais dela! Ela fala que recebeu muitos convites pra filmes de terror por causa de seus olhos.

Filme divertido e injustiçado!

Wonka

Crítica – Wonka

Sinopse (imdb): Um jovem Willy Wonka cheio de ideias está determinado a mudar o mundo a cada deliciosa mordida de seu chocolate, uma atrás da outra, provando que as melhores coisas da vida sempre começam com um sonho.

Hollywood gosta de se repetir, então um novo Fantástica Fábrica de Chocolates era algo até previsível.

Mas antes, um breve recap. O primeiro é de 1971, dirigido por Mel Stuart e eternizado por Gene Wilder no papel principal. A minha geração conhece bem, vi e revi diversas vezes – e, curiosamente, quando era criança não reparava na psicopatia do Willy Wonka, hoje vejo como o personagem era bem desequilibrado. Em 2005 veio a refilmagem / releitura do Tim Burton, estrelada por Johnny Depp, que trazia outra abordagem para o Willy Wonka, diferente, mas também desequilibrado.

Dirigido por Paul King, Wonka (idem, no original) não é uma refilmagem. É uma história que se passa antes, conhecemos o Willy Wonka ainda jovem, ele ainda não tem a fábrica. Isso é uma boa notícia, porque enfraquece a inevitável comparação que o filme de 2005 sofreu. Podemos comparar os Willys, mas não os filmes. Além disso, não precisa (re)ver os filmes antigos.

Wonka tem seus problemas, mas é um bom “filme família para o fim de ano”. Famílias podem tranquilamente ir ao cinema, é um filme alegre e colorido, vai agradar a maioria.

Nos últimos anos a gente se acostumou com histórias mais “pé no chão”. Wonka é o oposto desta tendência: é uma história mágica, de fantasia, não dá pra entrar no cinema querendo ver coisas reais. E todo o visual do filme ajudam nesse clima lúdico: cenários, props, figurinos…

É um filme musical, o que sei que vai repelir parte do público. Mas, caramba, os outros também tinham números musicais! Tenho dois comentários sobre essa parte musical. O primeiro é que não tem nenhuma musica marcante, lembro de outros musicais recentes como La La Land, O Rei do Show ou Tick Tick Boom, onde terminei o filme empolgado com as músicas, e aqui não tem nenhuma causando este efeito (a não ser as músicas “velhas”).

O outro comentário é justamente sobre essas músicas velhas. Lembro que fiquei frustrado com a versão de 2005 quando não teve a clássica música do Oompa Loompa. Aqui tem, e também tem a igualmente clássica Pure Imagination. As músicas compostas para o filme não empolgam, mas essas duas trazem um “quentinho no coração”.

Outro problema é sobre o tema central do filme: chocolate. Os chocolates criados pelo Willy Wonka não parecem chocolates, parecem aqueles doces de açúcar colorido que enfeitam mesas de festas – e não parecem ser gostosos. Ou seja, o espectador não vai sair do cinema com vontade de comer chocolate.

Sobre o elenco: Timothée Chalamet é um bom ator, tem star power, vai trazer público, mas, head canon meu, queria ver um Willy Wonka mais psicopata. Ele é muito bonzinho, e até agora só tivemos Wonkas desequilibrados. Por outro lado, adorei o Oompa Loompa do Hugh Grant, ele ficou perfeito como o pequenininho mal humorado (apesar de saber que ele deu entrevistas falando mal do papel). Também queria citar, dentre os personagens secundários, a dupla Olivia Colman e Matt Lucas, que estão ótimos e têm uma química muito boa. Também no elenco, Sally Hawkins, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key e Rowan Atkinson.

Apesar dos problemas, acho que Wonka vai agradar.

O Portal Secreto

Crítica – O Portal Secreto

Sinopse (imdb): Um homem consegue um estágio em uma misteriosa empresa londrina com funcionários não convencionais, incluindo o carismático CEO que está incorporando estratégias corporativas modernas a antigas práticas mágicas.

A comparação com Harry Potter é inevitável. Novo filme de fantasia, baseado numa série de livros, usando a magia escondida no mundo contemporâneo como fundo. Escrito por Tom Holt, “The Portable Door” é o primeiro livro da série J.W. Wells & Co. São sete livros, lançados entre 2003 e 2011.

Mas, logo o primeiro filme já foi meio fuén. Será que tem fôlego para uma franquia?

A direção é de Jeffrey Walker, com longa carreira na TV, mas ainda inexpressivo no cinema. Não sei se foi por isso, mas achei o diretor meio tímido. Em alguns momentos o visual lembra filmes do Terry Gilliam, em outros momentos os personagens lembram filmes do Tim Burton, mas só lembram de longe. Na minha humilde opinião, o diretor podia ter aproveitado o tema da magia e ter pirado um pouco.

Os efeitos especiais são ok. Nada salta aos olhos nem negativamente nem positivamente. Na parte final temos goblins, feitos por efeitos de maquiagem – o que era de se esperar quando vemos que o filme foi produzido pela Jim Henson Company (Jim Henson foi o criador do Muppets e teve uma carreira ligada a bonecos no cinema).

Comentários sobre o elenco. O protagonista, Patrick Gibson, é um nome desconhecido, e serve pro que o papel pede: um cara novo e meio abobalhado. Sophie Wilde, sua parceira em tela, também é desconhecida. Agora, temos três grandes nomes no elenco. Christoph Walz é sempre bom, mas aqui ele parece estar no modo “pagar boletos”. Miranda Otto aparece pouco. Sam Neill é que tem um papel menos óbvio, ele é super mal humorado e seu personagem ainda tem um plot twist. Agora, pra mim, a melhor personagem é a recepcionista, vivida por Jessica De Gouw. Ela é ótima! E não devo ser o único a achar, afinal a atriz é desconhecida, a personagem é secundária, e mesmo assim ela está no poster do filme.

O Portal Secreto não é ruim, vai agradar a molecada. Mas não espere muita coisa.

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seya: O Começo

Crítica – Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seya: O Começo

Sinopse (imdb): O jovem Seiya luta por dinheiro enquanto procura por sua irmã sequestrada. Quando uma de suas lutas explora poderes que nunca soube que tinha, Seiya se vê lançado em um mundo de guerreiros e uma deusa reencarnada que precisa de proteção.

Nunca fui ligado em Cavaleiros do Zodíaco. O desenho estreou aqui no Brasil em 1994, nessa época heu estava no cinema vendo Pulp Fiction, Um Sonho de Liberdade e Entrevista com o Vampiro. Aí quando lançaram este filme, sem sessão de imprensa, e com vários boatos de que era muito ruim, nem me animei. Mas agora surgiu a oportunidade e resolvi ver logo de uma vez.

E confirmei: sim, é ruim.

Como falei, nunca vi o desenho, então meus comentários serão somente sobre o que está na tela, ok?

Parece que a tentativa era de criar uma nova franquia, afinal, o título do filme já diz “o começo”. Mas o roteiro é tão ruim que preferi fazer um top 10 de coisas sem sentido em vez da crítica convencional.

(Claro, spoilers liberados a partir de agora!)

Vamulá?

– Seya aparentemente ganha a vida em lutas underground. O estilo dele é evitar golpes do adversário (Muhammad Ali fazia isso!). Mas uma hora, Cassios, o dono do ringue, fica com raiva, interrompe a luta que ele mesmo estava organizando, só pra bater no Seya.

– Ainda o Cassios: ele resolve entrar pro time dos vilões, só pra matar o Seya. Oferecem dinheiro, ele diz que não precisa, só quer matar o ex funcionário.

– Os vilões têm uns capangas que usam armaduras especiais que são muito resistentes. Ok. Uma cena o Mylock se depara com 4 capangas. Aí ele saca uma arma, atira, e – surpresa! A arma consegue perfurar a armadura! Mylock explica que aquela arma é diferente. Mas… Logo depois ele atira de novo, e a arma não funciona mais.

– Ainda o Mylock nessa luta: se as armaduras são tão fortes, como é que ele consegue quebrar com um bastão?

– A personagem da Marin. Tudo o que envolve ela não faz o menor sentido. Por que ela precisa ficar isolada? Por que ela não ajuda quando o bicho pega? Por que ela não tira a máscara?

– O cenário onde a Marin vive tem um monte de coisas que não respeitam a gravidade. Até aí, aceito. O que não aceito é o Seya chegar lá e achar tudo isso normal.

– Alman Kido solta uma bomba e morre. A única explicação pra isso é: “precisamos reforçar o meme de que o Sean Bean sempre morre nos filmes!”

– Ainda a bomba: explode tudo, todas as construções, tudo vira pó. Mas, Seya e Mylock continuam lá, sem nenhum ferimento.

– Seya, de camiseta, está lutando contra o Cassios ciborgue, com braços e punhos feitos daquele material super duro. Só um soco daquele punho já seria o suficiente pra quebrar todos os ossos de Seya.

– Guraad quase consegue o seu objetivo, que era matar Saori. Mas, quando está quase lá, resolve mudar de ideia.