I Saw the TV Glow

Crítica – I Saw the TV Glow

Sinopse (imdb): Dois adolescentes se conectam por causa de seu amor por um programa de TV sobrenatural, mas ele é misteriosamente cancelado.

Um amigo recomendou este novo filme da A24 usando as palavras “Porra, esqueci de te dizer, acho que vi o filme mais doido do car*lho da A24 até hoje. Que porra doida, bicho. Meu Deus. Não sei nem classificar o filme.”

E é isso mesmo. I Saw the TV Glow é uma “porra doida, bicho”.

Dois adolescentes esquisitões se aproximam porque ambos gostam de um programa de TV. Na verdade, ele não consegue acompanhar porque passa de noite e seus pais não deixam ele ficar acordado, então ele precisa passar a noite na casa dela, escondido, e depois ela passa a gravar e entregar fitas de VHS pra ele. Até que um dia ela diz que precisa ir embora, convida ele, mas ele não tem coragem. Ela desaparece, o programa é cancelado e ele fica duplamente sozinho. Ele tem uma vida medíocre, até que anos depois ela reaparece.

Sabe qual é o problema aqui? Heu não tenho nada contra filmes baseados em simbolismos, mas um filme desses precisa ser envolvente. De vez em quando vejo uns filmes onde não entendo nada, mas que o filme me envolve e me carrega na sua viagem. E não senti isso aqui. Achei I Saw the TV Glow apenas confuso. Um filme cabeça, confuso e, desculpe falar, chato.

Pelo que entendi lendo no imdb, o programa fictício Pink Opake é inspirado em Buffy. Talvez uma explicação seja que uma criança quando via Buffy achava um programa assustador, mas depois de adulta, ao rever, acharia a série meio boba.

(A fonte usada nos créditos de Pink Opake é a mesma fonte usada em Buffy. Uma das personagens de Pink Opake é chamada Tara, referencia à Tara Maclay, personagem de Buffy; e a atriz que interpretava Tara Maclay, Amber Benson, tem um papel aqui.)

Acabou o filme, fui catar explicações na internet. Li uma teoria que faz sentido: a diretora e roteirista Jane Schoenbrun é trans, então boa parte do que os personagens sentem está ligada a sentimentos reais que uma pessoa trans passa dentro da nossa sociedade. Ok, pode ser, isso explica algumas coisas. Mas pelo menos pra mim isso não “resolve o filme”, porque sempre defendo que um filme não deveria precisar de “manual de instruções”.

I Saw the TV Glow é estrelado por Justice Smith (Observadores) e Brigette Lundy-Paine (A Semente do Mal), que estão inexpressivos, mas não sei se isso é algo proposital pela proposta do roteiro. Agora, teve uma coisa que me incomodou. Inicialmente conhecemos os personagens adolescentes, pelo que entendi ele estaria no ensino fundamental e ela no ensino médio – heu chutaria que eles deveriam ter por volta de 13 e 15 anos, respectivamente, e nesse momento do filme, são interpretados por dois adolescentes. Aí a história pula dois anos, ou seja, eles teriam por volta de 15 e 17. Mas já vemos os atores adultos, e ambos têm quase 30 anos. Fica muito estranho ver um ator de 30 interpretando um adolescente do ensino médio. Era melhor contratar outros dois atores adolescentes…

Apesar de ser A24, não tenho ideia se I Saw the TV Glow vai estrear oficialmente aqui no Brasil. Mas só é recomendado pra quem curte uma “porra doida, bicho”.

A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.

Não Fale o Mal

Crítica – Não Fale o Mal

Sinopse (imdb): Uma família é convidada para passar um fim de semana em uma casa de campo tranquila, sem saber que suas férias dos sonhos logo se transformarão em um pesadelo psicológico.

Dois anos atrás, surgiu um filme dinamarquês chamado Speak no Evil, um filme muito bom, tenso e desconfortável, que só não entrou no meu top 10 de 2022 justamente por ser um filme que causava incômodo no espectador. Agora veio o anúncio da versão americana, prática comum quando um filme off-Hollywood chama a atenção, e que quase sempre traz um resultado é fraco.

Mas, olha, preciso dizer que foi uma agradável surpresa. Arrisco dizer que achei Não Fale o Mal melhor que o original dinamarquês!

Existem vários sub gêneros do terror. Pra mim, o pior é esse aqui: não existe um monstro ou algo sobrenatural. O terror está no comportamento humano. Isso é muito mais assustador que qualquer monstro!

Pra quem não viu o filme dinamarquês (acredito que muita gente): um casal com uma filha pré adolescente está de férias, conhece outro casal, também com filho pré adolescente, e acabam aceitando um convite para passar uns dias na casa do outro casal. O problema é que este outro casal tem alguns comportamentos bem estranhos, e tornam a estadia algo muito desconfortável – os hóspedes se sentem incomodados com os anfitriões “sem noção”, mas não sabem como sair de situações constrangedoras.

Dirigido por James Watkins (A Mulher de Preto), Não Fale o Mal (Speak no Evil, em inglês) é bem parecido com o original. Diria que mais ou menos 80% do filme segue quase igual (tirando uma cena aqui, outra ali, como a cena do banheiro na versão dinamarquesa, ou a cena do sexo oral na versão americana). Mas, na reta final da trama, o filme de 2024 se afasta totalmente. Aquele filme tinha um final pessimista, este novo traz uma reação dos personagens. Sim, talvez tenha gente reclamando “por ser mais um final típico hollywoodiano”, mas, nesse caso, pelo menos pra mim, funcionou melhor. Porque uma das coisas que me incomodou naquele filme de dois anos atrás foi justamente a apatia dos personagens – coisa que não acontece aqui.

Sobre o elenco, diferente do filme dinamarquês, a versão americana traz alguns nomes conhecidos. James McAvoy está ótimo, ele é um cara desequilibrado no ponto exato! Mackenzie Davis e Scoot McNairy fazem o casal visitante, e Aisling Franciosi completa o quarteto principal. Todos estão bem.

O final diferente aqui foi uma boa. Primeiro porque se o filme inteiro fosse igual, pra que existir uma nova versão? Além disso, algumas coisas do outro me incomodaram, e esse aqui “consertou” essas coisas, por isso gostei mais da nova versão. Mas mesmo assim ainda acho que vale o programa duplo. Veja as duas versões!

Hellboy e o Homem Torto

Crítica – Hellboy e o Homem Torto

Sinopse (imdb): Hellboy se une a uma agente novata da B.P.D.P. na década de 1950 e são enviados para os Apalaches. Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade, dominada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como o Homem Torto.

Ninguém pediu, mas tem um Hellboy novo em cartaz. O último, de 2019, foi tão irrelevante que nem me lembro de nada dele.

Em vez de um novo recomeço com uma nova história de origem, Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, no original) traz uma história avulsa, e isso é uma boa coisa, porque não perdemos tempo e o filme já começa na ação. E preciso reconhecer que esse início foi bom, gostei da sequência dentro do vagão do trem.

Só que logo depois daí nada mais funciona. A trama é ao mesmo tempo arrastada e confusa. Um exemplo simples: logo depois da sequencia do trem, os personagens são apresentados a um menino que está sob o efeito de uma bruxa – e essa historia do menino não tem conclusão! Ou, mais pro fim do filme, tem um exemplo ainda pior. O grupo se divide em dois. Metade vai em uma missão que até agora ainda não entendi direito o objetivo. A outra metade resolve fazer outra coisa, mas essa jornada secundária acaba no meio! Os personagens apenas se juntam no final, e o filme deixa pra lá o que o segundo grupo tentou fazer.

Junte a esse roteiro atuações ruins e efeitos especiais pobres (a cobra parece efeito de app de celular), e temos mais um Hellboy esquecível como aquele de cinco anos atrás. Pena, porque gostei da ideia de se fazer um filme de terror (os outros três filmes tinham uma pegada de filmes de super herói).

A direção é de Brian Taylor, que fez Adrenalina e Gamer, que são filmes legais, mas também fez o segundo filme do Motoqueiro Fantasma, que é ruim com força. Hellboy e o Homem Torto está mais próximo de Motoqueiro Fantasma.

Não conhecia ninguém do elenco. Não tem nenhum destaque, mas se posso fazer uma “crítica head canon”, acho que o Hellboy deveria ter a voz mais grave. Senti saudades do Ron Perlman.

No fim, Hellboy e o Homem Torto é apenas mais um filme esquecível. Nem vale o ingresso do cinema.

Deep Web: O Show da Morte

Crítica – Deep Web: O Show da Morte

Sinopse (imdb): Buscando pistas sobre a morte de sua irmã, um podcaster acaba na deep web e descobre o THE MURDERSHOW, um site onde o maior lance em criptomoedas seleciona como a vítima será morta. Se você está observando eles, eles estão observando você.

Escrito e dirigido por Dan Zachary, Deep Web: O Show da Morte (The Deep Web: Murdershow, no original) é daqueles filmes que tem tanta coisa ruim que é difícil saber por onde começar. Ideia mal desenvolvida, atores ruins, efeitos pobres, tudo deu errado.

Um exemplo logo de cara: o filme começa com uma mulher que acorda numa floresta, com uma câmera presa no peito e câmeras presas nas árvores. A narrativa alterna com flashbacks da noite anterior, quando vemos que ela foi sequestrada. Ok, sequestram uma mulher e a jogam numa espécie de reality show, numa floresta. Podemos seguir a partir dessa ideia. Mas… Logo aparecem os sequestradores e a levam para um local fechado. Caramba, pra que serve criar uma ambientação numa floresta, com câmera presa no peito e câmeras nas árvores, se o filme não vai usar isso???

E o roteiro segue com várias coisas sem nenhuma lógica, como uma mulher que é presa numa gaiola, mas ninguém vê que ela tem um canivete no bolso; ou um homem que faz uma anotação de um endereço num papel e guarda no bolso, e é assassinado logo depois, e o amigo quando vê o cara morto, a primeira coisa que faz é pegar o papel no bolso do cadáver. Chega ao ponto de ter um diálogo entre duas amigas, presas em cativeiro, com uma parede entre elas, onde uma não reconhece a voz da outra! Você precisa ouvir o nome do seu amigo pra reconhecer a voz dele?

Deep Web: O Show da Morte podia pegar um “caminho Terrifier“, que é um filme meio vagabundo mas pelo menos tem muito gore. Existe público pra isso. Mas nem no gore funciona, Deep Web: O Show da Morte mostra poucas cenas de violência gráfica, e nessas poucas, é tudo muito mal feito.

Preciso falar das atuações. O ator principal precisa estar triste porque sua irmã morreu, e ele passa algumas cenas forçando um choro, numa atuação que há tempos não vejo algo tão ruim! E infelizmente não é o único ator ruim.

O final do filme é um bom exemplo de incoerência do roteiro: aparentemente pela tentativa de criar um gancho pra continuação, resolvem fazer um dos tais leilões, mas com as pessoas presentes. Caramba, o nome do filme é “DEEP WEB”! Essas pessoas não vão aparecer presencialmente!!!

Pra não dizer que odiei tudo, achei que a sequência onde os “mocinhos” enfrentam os “vilões” é fraca, mas dentro de um limite aceitável. Mas, em um filme onde tudo está muito abaixo da média, ver uma sequência apenas “fraca” não melhora muita coisa.

Por fim, deu pena do diretor e roteirista Dan Zachary. No fim do filme aparece uma homenagem, descobrimos que ele faleceu. Deu pena porque será lembrado por um filme bem tosco.

Longlegs: Vínculo Mortal

Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

Sinopse (imdb): Uma agente do FBI é designada para um caso envolvendo um assassino em série impiedoso. Conforme desvenda pistas, ela se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a em uma corrida contra o tempo.

Longlegs é o novo projeto da produtora Neon, que tem alguns grandes títulos no catálogo, como Parasita e Anatomia de uma Queda, mas que também tem vários títulos bem alternativos, como Pig, Titane, Infinity Pool e Triângulo da Tristeza. Longlegs se encaixa mais nesse segundo grupo, um filme esquisitão, que vai dividir a opinião de boa parte do público.

A direção e o roteiro são de Oz Perkins, filho de Anthony Perkins, aquele mesmo, de Psicose. Lembro de Maria e João, do mesmo diretor, filme com um visual ótimo, mas com um resultado final bem chato. Oz Perkins mandou melhor em Longlegs.

Longlegs parece uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Zodíaco, mas em versão terror. Um filme lento e tenso, onde acompanhamos uma agente do FBI envolvida em uma série de crimes que aconteceram nas últimas décadas, crimes misteriosos onde o suspeito nunca estava presente, mas sempre deixava no local uma carta em código.

Longlegs é assumidamente esquisitão. É daquele tipo de filme que não explica muita coisa, e que guarda elementos pra serem expostos nos momentos certos. Heu me senti envolvido pelo mistério de um suposto assassino que nunca aparece até o local do crime – e não falo mais por causa de spoilers.

Um parágrafo à parte pra falar da atuação do Nicolas Cage. Achei estranho quando vi o trailer e reparei que Cage não aparece – como assim você tem um nome importante no seu elenco e escolhe não mostrá-lo no trailer? Mas foi um acerto. Cage aparece pouco, mas é uma atuação muito intensa. Me lembrei de Mandy – Cage é exagerado, ele é conhecido pelo over acting, e Mandy soube usar isso, criando um personagem propositalmente acima do tom. Longlegs faz algo semelhante, Cage aqui está muito exagerado, e isso combina perfeitamente com a proposta do personagem.

Maika Monroe, protagonista, também está bem, mas quem se destaca é Cage, mesmo com muito menos tempo de tela. Ainda no elenco, Alicia Witt, aquela mesma de Duna (84) e Lenda Urbana (98).

Como comentei no início, Longlegs não é pra qualquer público, quem prefere o “terror parque de diversões” à la James Wan vai reclamar. Mas é uma boa opção pra quem curte um filme fora da curva.

Sob as Águas do Sena

Crítica – Sob as Águas do Sena

Sinopse (imdb): Um tubarão gigante apareceu no rio Sena, em Paris. Para evitar a catástrofe, uma cientista vai ter que encarar as tragédias do próprio passado.

Olimpíadas em Paris rolando, fui catar um filme relacionado. Que tal Sob as Águas do Sena (Sous la Seine, no original), filme francês de tubarão que se passa em Paris às vésperas dos jogos?

Dirigido por Xavier Gens, diretor do ultra violento Frontière(s), de 2007, e que recentemente dirigiu alguns episódios da série Gangs of London, Sob as Águas do Sena traz um tubarão no Rio Sena. É uma ideia aparentemente absurda, mas, na verdade um tubarão já foi avistado no rio Tâmisa, em Londres. Claro que o filme exagera essa ideia, e o tubarão aqui é mutante, muito maior que o normal, e se reproduz muito mais rápido.

Para tentar se diferenciar um pouco dos clichês de filme de tubarão, Sob as Águas do Sena tem um grupo de personagens ecologistas radicais, daqueles que querem salvar o tubarão, mesmo que pra isso humanos precisem morrer. Mas, não sei se foi proposital ou não, mas esse grupo de ecochatos é muito irritante. Tanto que – pequeno spoiler – quando o tubarão ataca a líder do grupo, comemorei!

De resto, Sob as Águas do Sena é mais do mesmo. Um tubarão de cgi que às vezes funciona, outras vezes não, algumas boas cenas de ataques de tubarão, e outras cenas onde a gente se questiona qual é a lógica – tipo aquela cena nas catacumbas onde metade das pessoas, do nada, começa a se desequilibrar e cair na água; ou uma cena onde vemos dezenas de tubarões adultos e se pergunta como eles se alimentam (até aquele momento só o tubarão principal tinha aparecido para o público).

No elenco, achei uma agradável surpresa ver Bérénice Bejo, de O Artista, no papel principal. Não que seja um papel que exija muito talento, mas pelo menos ela manda bem.

Agora, preciso comentar uma coisa, mas é sobre o fim do filme, então vamos aos avisos de spoilers

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Queria comentar duas coisas que acontecem no fim do filme. Uma delas é bem forçada, mas está dentro da lógica proposta pelo filme. A outra, sinceramente não entendi de onde veio.

Vamos para a primeira. No início do filme, vemos duas pessoas com detectores de metais procurando coisas no fundo do rio Sena, que acham uma bomba. O filme então explica que existem bombas no fundo do rio. Pelo que entendi, essas bombas estão lá desde a Segunda Guerra Mundial, ou seja, há quase 80 anos. Até aí, ok. No fim do filme, vemos pessoas atirando, para tentar matar o tubarão, e um desses tiros atinge uma bomba e causa uma explosão. De novo, até aí, ok. O problema é que essa explosão de bomba causa uma reação em cadeia e várias outras bombas em volta também explodem. O filme mostra dezenas de explosões ao longo do rio, destruindo várias pontes. Não vou reclamar disso, afinal o filme menciona a existência dessas bombas. Mas é esquisito pensar que tem bombas no fundo do rio há quase 80 anos e que, de repente, todas vão explodir em uma reação em cadeia.

Já o segundo comentário é sobre uma coisa que heu sinceramente não entendi de onde veio. De repente aparece um tsunami vindo pelo rio. E as cenas finais do filme mostram Paris debaixo da água. Sabe as imagens que a gente viu do Rio Grande do Sul esse ano, com cidades submersas? Pois é, Paris está daquele jeito. Não entendo muito da geografia de Paris, da geografia da França, mas, pelo que heu lembro, não tem como represar aquela água toda. De onde veio toda aquela água que inundou Paris, e por que a água não escoou?

Sério, se alguém souber a resposta, me avise!

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esse fim completamente aleatório, Sob as Águas do Sena serve para o proposto. Porque afinal, ninguém vai esperar muito de um filme de tubarão no rio Sena.

Alien: Romulus

Crítica – Alien Romulus

Sinopse (imdb): Enquanto exploram as profundezas de uma estação espacial abandonada, um grupo de jovens colonizadores espaciais se depara com a forma de vida mais aterrorizante do universo.

E vamos a mais um Alien!

Antes, um breve recap: o primeiro Alien, de 1979, dirigido por Ridley Scott, é um clássico absoluto, um dos melhores filmes de terror e ficção científica da história. O segundo, de 86, dirigido por James Cameron, é uma ótima continuação. Tivemos um terceiro em 92 dirigido por David Fincher e um quarto em 97 dirigido por Jean Pierre Jeunet, ambos com algumas qualidades mas também alguns problemas. Tem dois Alien versus Predador, uma ideia que no papel era ótima, mas os dois filmes são muito ruins. E em 2012 o próprio Ridley Scott voltou à franquia, com Prometheus, e cinco anos depois, com Covenant, dois filmes com mais problemas do que méritos.

Agora é a vez de Fede Alvarez, que surgiu fazendo o novo Evil Dead (que é um bom filme, mas NÃO É Evil Dead!!!), e depois fez o bom O Homem nas Trevas. E Alvarez consegue um resultado muito melhor que os últimos filmes!

(Falei dos outros filmes só pra avisar que é bom ver ou rever o primeirão antes de ver este aqui, que se passa entre os dois primeiros. Alien: Romulus traz algumas referências ao Alien de 1979.)

Alien: Romulus (idem, no original) parte de uma premissa parecida com O Homem nas Trevas: um grupo de jovens precisa invadir um local pra roubar uma coisa. A princípio algo simples, entrar, pegar e sair. Mas eles acabam presos junto com algo perigoso dentro desse local.

Alien: Romulus começa num planeta minerador, onde pessoas são oprimidas pela corporação Weyland Yutani (do primeiro filme), e um grupo de jovens quer sair de lá para tentar a vida num lugar melhor. Só que o lugar mais perto está a 9 anos de distância, então eles precisam de cápsulas de criogenia para se congelarem durante a viagem. Invadem então uma estação abandonada, mas não sabem que a nave está cheia de “face huggers”.

Fede Alvarez conseguiu criar um clima e um visual fantástico para o seu filme. É uma ficção científica “velha” e “suja”, muitas coisas lembram o primeiro filme, de 45 anos atrás, tudo meio retrô. Os efeitos especiais são perfeitos, tanto na parte das naves, quanto nos face huggers e xenomorfos (que não custa lembrar, foram criados por H R Giger!). E outro mérito de Alien: Romulus é que voltou a ser um filme de terror como o Alien original, tem algumas cenas bem tensas e alguns jump scares.

Ouvi críticas com relação a alguns pontos do roteiro serem cópias dos filmes anteriores. Verdade, algumas cenas realmente repetem ideias que já vimos antes em outros filmes da franquia. Mas não achei isso algo negativo. Já falei aqui no heuvi diversas vezes: o problema não é reciclar uma ideia, o problema é quando você recicla essa ideia e o resultado fica ruim. Alien: Romulus recicla ideias e entrega um resultado empolgante e num clima excepcionalmente bem construído.

No elenco, a “final girl” da vez é Cailee Spaeny (Guerra Civil, Priscilla), que se esforça pra ser a “nova Ripley”. Ouvi comentários de que ela não tem o carisma da Sigourney Weaver. Isso pode até ser verdade, mas, por outro lado,  Sigourney Weaver está com 74 anos, não tem como trazê-la de volta num novo filme! Vamos abrir espaço pra galera mais nova!

Agora, preciso dizer que não gostei da parte final. Sem spoilers aqui, mas achei o “monstro final” inferior aos que aparecem ao longo do filme.

Mesmo com o problema no final, ainda achei um filmão. Merece ser visto nos cinemas!

The Mouse Trap

Critica – The Mouse Trap

Sinopse (imdb): É o aniversário de 21 anos de Alex, mas ela está presa no fliperama em um turno tardio, então seus amigos decidem fazer uma surpresa para ela, mas um assassino mascarado vestido de Mickey Mouse decide jogar um jogo com eles.

O aguardado “filme de terror do Mickey”! Mas… The Mouse Trap é tão ruim que nem sei por onde começar. Porque, como cinema, é um filme péssimo; e pra piorar, não tem nada a ver com o Mickey, o que seria o grande chamariz.

Qual é a história por trás desse filme? Há pouco tempo, tivemos o filme de terror do Ursinho Pooh, que apesar de muito ruim foi um sucesso – como foi um filme muito barato, proporcionalmente ele rendeu muito dinheiro. Ou seja, descobriram que pegar personagens infantis clássicos e transforma-los em terror podia ser algo lucrativo. E aí descobriram que o desenho Steamboat Willie, o primeiro desenho do Mickey Mouse, ia entrar em domínio público. Por que não criar um filme de terror com o Mickey Mouse?

Para começar, se a proposta é fazer um filme de terror com o Mickey Mouse, que tal criar uma trama de alguma maneira ligada ao personagem? Porque o roteiro de The Mouse Trap não tem nada a ver com o Mickey. Um cara coloca uma máscara e ganha super poderes, consegue se teletransportar de um lugar para o outro. Como? Sei lá, mas isso é o de menos, sempre tivemos vilões slasher que desafiavam as leis da física e (quase) nunca reclamamos. O ponto é: o que isso tem a ver com o Mickey? O personagem já se teletransportou em alguma historinha? Por que diabos quando o cara vira um “Mickey assassino”, ele passa a ter o poder de teletransporte? Se você vai fazer uma história de terror com o Mickey, por que não pensar em alguma coisa que tenha a ver com o personagem???

Heu não vou falar das atuações ruins e dos diálogos ruins porque isso era algo meio esperado. Mas sim, todas as atuações aqui são péssimas e todos os diálogos são muito mal escritos. Outra coisa que também acontece são erros de continuidade, tipo, tem uma cena onde uma personagem está suja de sangue, logo depois ela não está mais suja, mas na cena seguinte ela está novamente suja.

Calma que ainda piora. Um filme de terror pode ser ruim, mas ele pode pelo menos ter algum gore e mostrar mortes bem feitas – In a Violent Nature vai desagradar muita gente, mas ninguém vai reclamar das mortes. Mas aqui isso não acontece – não só não tem nenhuma morte graficamente bem feita, como o filme acaba antes de terminar de matar os personagens. Você vê que eles estão numa armadilha, você sabe que eles vão morrer, mas o filme acaba antes e não mostra. Por que??? The Mouse Trap tem cenas longas com diálogos chatos, mas na hora que vai mostrar o que o espectador quer ver, acaba o filme.

Tem outra coisa que também ficou bem esquisita. A história é contada por uma única sobrevivente do massacre, só que a gente vê ao longo do filme que ela teve o pé gravemente ferido pelo vilão. Ela não consegue mais andar, precisa de cuidados médicos, e é resgatada pelos bombeiros. Mas ela dá o depoimento pra dois policiais de dentro de uma cela, ainda com a mesma roupa – ou seja, ela foi presa como suspeita. Mas, será que alguém que alguém com o pé ferido daquele jeito não seria medicada antes de ir pra uma cela? Mais: como é que ela sabe tantos detalhes se ela não estava presente?

Mas eu acho que o pior de tudo é ser um filme de terror que não assusta, que não dá medo – e que é um filme chato. São uma hora e vinte, incluindo os créditos, e mesmo assim o filme é arrastaaado. E tem uma cena pós créditos que aparentemente só está ali pra tentar uma continuação.

Forte candidato a pior do ano.

O Exorcismo

Crítica – O Exorcismo

Sinopse (imdb): Um ator problemático começa a exibir um comportamento perturbador enquanto filma um filme de terror. Sua filha distante se pergunta se ele está voltando aos vícios do passado ou se há algo mais sinistro em jogo.

Ano passado tivemos O Exorcista do Papa, filme meia boca que só valia pela participação do Russell Crowe. Ih, olha lá, Russell Crowe está em cartaz em outro filme com o mesmo tema! Só que aqui, em vez de ser um padre, ele é um ator contratado pra fazer um filme de exorcismo.

A direção é de Joshua John Miller, roteirista do divertido Terror nos Bastidores, e estava no elenco de Quando Chega a Escuridão, filme cult de vampiro dos anos 80. Joshua é filho do ator Jason Miller, que fez o que padre Karras no filme O Exorcista, de 1973. Pelo jeito, Joshua quis homenagear o pai. Não me lembro se o filme deixa claro, mas parece que, dentro do filme, estão fazendo uma refilmagem de O Exorcista. O filme dentro do filme se chama “The Georgetown Project”; Georgetown é a cidade onde se passa o filme de 1973.

Apesar de estar sendo lançado só agora, O Exorcismo foi filmado em 2019, mas ficou guardado e parece que só “saiu da geladeira” depois do relativo sucesso de O Exorcismo do Papa. Pelo que li por aí, O Exorcismo passou por refilmagens. Não sei o que foi alterado do filme de cinco anos atrás, mas dá pra ver que o resultado agora ficou meio bagunçado.

O Exorcismo tem algumas coisas mal resolvidas. Por exemplo, o filme abre com uma morte sobrenatural, e depois apresenta um personagem (Crowe) com um problema que deixaria o espectador na dúvida se é algo real ou sobrenatural. Mas, caramba, o filme já disse pra gente, na cena de abertura, que era sobrenatural, não cabe mais essa dúvida!

E o filme segue nessa pegada de “não sabemos pra onde estamos indo”. O protagonista teve um trauma na igreja quando criança, que acho que era pra ser um plot twist, mas seria o plot twist mais mal construído do cinema este ano, e esse trauma não leva a lugar nenhum. O mesmo digo sobre o personagem do Sam Worthington, personagem mal elaborado e que tem um fim completamente sem sentido. Além disso, preciso dizer que rola uma cena onde o protagonista é possuído no meio do set de filmagens, que é uma cena bem ruim, e, mais uma vez, não leva a lugar nenhum.

Pena. O resultado final ficou devendo. O Exorcismo não é o pior filme de exorcista dos últimos tempos, afinal estamos traumatizados com o horroroso O Exorcista O Devoto, do ano passado. Mas mesmo assim está bem longe de ser um bom filme.