A Era de Ouro

Crítica – A Era de Ouro

Sinopse (imdb): Cinebiografia de Neil Bogart, o produtor musical que ajudou a fundar a Casablanca Records e lançou nomes como Donna Summer, Village People e Kiss.

Preciso admitir que heu nunca tinha ouvido falar de Neil Bogart – assim como o próprio personagem comenta em determinado momento do filme, ele nunca foi um nome famoso, sempre viveu nos bastidores. Aparentemente seus filhos querem mudar isso. Timothy Scott Bogart, seu filho mais velho, escreveu, dirigiu e co-produziu; seu irmão Evan Bogart co-produziu e trabalhou na parte musical do filme.

Nos últimos anos a gente tem tido algumas cinebiografias musicais, mas sempre focando no artista. Era de Ouro (Spinning Gold, no original) é diferente, foca no produtor. É uma ideia legal, mas fica no ar a dúvida de até que ponto podemos acreditar em tudo o que vemos na tela, sabendo que foi a família quem produziu, e também sabendo que algumas coisas foram alteradas, como por exemplo a maquiagem dos membros do Kiss. A história do Neil Bogart é realmente muito boa, mas não sabemos se tudo aquilo aconteceu daquele modo.

Verdade ou invenção, o filme traz alguns momentos bem legais, como o modo que Bogart modificou a voz da Donna Summer, puxando pelo lado sexual. As cenas com George Clinton também são bem divertidas.

Um comentário sobre defeitos técnicos: heu entendo que um filme desses precise usar tela verde e chroma key, principalmente nas cenas de shows. Mas alguns chroma keys aqui passaram do limite da tosqueira. Uma cena em particular, com Bogart conversando com seu pai antes de uma corrida de cavalos, me lembrou o chroma key de Olhos Famintos 4.

Dei uma pesquisada no imdb, mas tem poucas informações. A produção passou por vários problemas e demorou anos para ser concluída. Pelo que li, inicialmente Spike Lee seria o diretor e Samuel L. Jackson faria o papel de George Clinton. Mas no fim, ficou só galera menos conhecida.

Pelo que entendi, a produção não conseguiu licenciamento sobre algumas coisas, e é por isso, por exemplo, que a maquiagem do Kiss está alterada. Não sei se por isso ou se foi por uma falha de roteiro, mas o Village People, que era um dos artistas mais famosos da Casablanca Records, pouco aparece no filme. Parece ser apenas um “p.s.” ao fim do filme. Digo mais: segundo a wikipedia, Cher também lançou disco pela Casablanca, e ela foi completamente ignorada pelo filme.

(Não sei se lá fora Bill Withers foi um nome grande, mas acredito que pelo menos aqui no Brasil, Village People foi muito maior.)

O roteiro tem suas falhas – talvez fosse melhor o Bogart filho se unir a um roteirista mais experiente. Não só alguns artistas importantes foram jogados para escanteio, como o filme tem sérios problemas de ritmo, e, com duas horas e dezessete minutos, é um programa cansativo. Talvez fosse melhor contar essas histórias todas em uma minissérie, com cada capítulo focando em um dos artistas.

Heu não gostei das caracterizações de um modo geral. Olhei no imdb, tem várias pessoas reclamando das perucas e figurinos. Não sei se por isso ou por usar atores bem diferentes das personalidades que estavam representando – você olha os atores que fazem Gene Simmons e Paul Stanley, e nada lembram os originais. O ponto é: o elenco não é o ideal.

Roteiro mal estruturado, elenco fraco, o que salva Era de Ouro são os números musicais. Não por serem bem filmados, mas sim pela qualidade das músicas. Os artistas da Casablanca Records tinham muitas músicas boas! E no fim, logo antes dos créditos, tem uma música muito boa que me parece que foi composta para o filme, onde rola um pot-pourri usando trechos de outras músicas. Pelo menos o filme termina com o astral pra cima.

Influencer

Crítica – Influencer

Sinopse (imdb): Durante uma viagem solitária e complicada pela Tailândia, a influenciadora Madison conhece CW, que viaja com facilidade e mostra a ela um estilo de vida mais desinibido. Porém, o interesse de CW por Madison toma um rumo sombrio.

Produção modesta, elenco reduzido, poucas locações, quase nenhum efeito especial, Influencer é uma boa surpresa. Não é um filme “obrigatório”, mas é melhor que boa parte do lixo que é despejado mensalmente nos streamings.

Co-escrito e dirigido por Kurtis David Harder, Influencer tem um que de Black Mirror. Não pelo lado tecnológico (quase todos os episódios de Black Mirror usam inovações tecnológicas), mas pelo lado de vermos problemas sociais causados pelo avanço da tecnologia – no caso aqui, avanço das redes sociais.

Uma coisa boa em Influencer é a imprevisibilidade de certas coisas. Sem spoilers, mas tem um momento que o filme tomou um rumo que heu nunca tinha imaginado. Pena que o fim do filme é um pouco óbvio.

A fotografia do filme usa bem alguns takes aéreos de drones – incluindo a boa cena inicial. Outra coisa legal são belíssimos cenários naturais na Tailândia.

(Uma curiosidade: muitos filmes começam sem nenhum crédito, e os créditos só aparecem ao fim do filme. Outras vezes vemos uma sequência inicial, e só depois temos créditos. Aqui os créditos aparecem aos 26 minutos de projeção!)

Agora, tem algumas coisas forçadas no roteiro. Pra começar, parece que os personagens vivem num mundo sem polícia. Gente, pessoas que desaparecem eventualmente serão investigadas! Além disso, uma personagem faz coisas que parecem meio inacreditáveis pelo computador. Uma coisa é uma pessoa adulterar uma foto e postar no Instagram; outra coisa é ela alterar um diálogo em tempo real.

O elenco tem apenas seis nomes! Gostei da Cassandra Naud, nunca tinha visto nada com ela, ela consegue construir uma personagem mais complexa do que aparenta ser.

No fim, fica aquela sensação de apesar de não ser um filme perfeito, Influencer consegue ficar acima da média.

Megatubarão 2

Crítica – Megatubarão 2

Sinopse (imdb): Segue um piloto de submersível e um grupo de cientistas em águas profundas para explorar uma trincheira desconhecida na Fossa das Marianas. No caminho, eles encontrarão o Megalodon, um gigante tubarão pré-histórico.

Antes de comentar o filme, a gente precisa se lembrar de que se trata de um filme chamado “Megatubarão 2”. Ninguém vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” achando que vai encontrar um “filme de Oscar”.

Dito isso, vamulá. Algumas coisas são bem toscas, mas confesso que me diverti em alguns momentos. Então vou comentar primeiro o que não funcionou, depois o que funcionou.

Em primeiro lugar, tenho dúvidas se um animal que vive a 7 mil metros de profundidade consegue viver tranquilamente na superfície da água. Existe a luz e existe a pressão. Mas, como não saco nada de biologia marinha, não vou dizer que isso é uma falha. Além disso, é a premissa do filme. Pode ser algo absurdo, mas, caramba, a premissa de um tubarão pré-histórico nos dias de hoje já é absurda por si só.

Muita gente vai citar outro problema, que são as conveniências de roteiro, mas isso é algo muito comum em filmes assim. São aquelas cenas onde você diz “caramba, forçou a barra!”. E quem vai ao cinema vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” não pode reclamar de algo assim. Mesmo assim, queria citar alguns exemplos de coisas sem lógica no roteiro. Vou citar dois: tem um cara no fundo do mar com uma espécie de armadura que o mantém vivo apesar da pressão. A parada aparentemente é pesada, ele anda no fundo do mar com aquilo. Aí ele se segura numa boia pra subir pra superfície. Quando chega na superfície, larga a boia e tá nadando de boa??? Outra: os mocinhos estão num bote, fugindo, aí dizem “precisamos remar, porque o motor vai atrair o tubarão!”. Aí eles começam a ser perseguidos por outro bote, com vilões, que ligam o motor e são atacados pelo tubarão. O que os mocinhos fazem? Ligam o motor pra fugir! Ué, por que o tubarão não atacou???

Queria falar também sobre um erro grave de continuidade. Erros de continuidade acontecem direto nos filmes, mas normalmente são coisas discretas, ao fundo, fora do foco do espectador. Mas aqui é no objeto principal da cena: Jason Statham tem três lanças, para matar três tubarões. Depois de usar duas, vemos que ainda tem duas nas suas costas! E logo depois, apenas uma!

Heu relevo todos os problemas acima. Agora, pra mim, um problema que não consigo deixar pra lá são os vilões do filme. Em primeiro lugar: não sabemos quem são, qual é a relação deles com o rolê. Simplesmente são vilões que foram jogados para o filme ter antagonistas humanos além dos tubarões. Mas, pior que isso é que são vilões extremamente caricatos, daquele tipo que ri enquanto atira no mocinho. Os anos 80 ligaram e pediram esses vilões de volta!

Agora, dito tudo isso, preciso admitir que me diverti bastante na parte final. A primeira parte do filme tenta mostrar uma trama séria, com espionagem, traições, é uma parte chata. Mas em determinado momento o filme abraça a galhofa, e a partir dai melhora muito. Dei uma sincera gargalhada na cena que mostra um tubarão atacando pessoas, com a câmera dentro da boca do tubarão!

A direção é de Ben Wheatley, que a maioria do pessoal conhece por ter feito uma versão ruim de Rebecca para a Netflix em 2020. Mas, os leitores do heuvi talvez se lembrem de Kill List (2011) e Turistas (2012), que foram comentados aqui – e ainda falei de O ABC da Morte, que também contou com o diretor.

No elenco, o único nome que vale a lembrança é Jason Statham, sempre eficiente. De ponto negativo, achei a menina Meiying (a personagem estava no primeiro filme) péssima. Não sei se por culpa da atriz ou da personagem, mas ela não está bem. Só não posso dizer que é a pior coisa do elenco porque o Pedro Pascal genérico é ainda pior.

Enfim, se alguém me perguntar, não, Megatubarão 2 não é bom. Mas quem entrar na onda da galhofa vai se divertir na parte final.

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Sinopse (imdb): Nick Fury e Talos estão tentando deter os Skrulls que se infiltraram nas esferas mais altas do universo Marvel.

Quando estreou Invasão Secreta, nova série da Marvel na Disney+, pensei em esperar acabar a série e fazer um texto comentando toda a temporada. Mas, o resultado final foi tão decepcionante que mudei de ideia e vou fazer um top 6 de momentos ruins da série.

Escolhi 6 momentos ruins. Podia ser mais, mas a decepção de Invasão Secreta me lembrou a decepção que tive com Obi Wan, e fiz um post com As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi. Então mantive o número 6. E acho que foi uma boa escolha, Invasão Secreta tem mais coisas ruins, mas deu preguiça de rever a série só pra aumentar a lista.

Antes de entrar na lista, uma crítica e um elogio. A crítica é que tudo é arrastado demais, dava tranquilamente pra se cortar as gorduras e fazer um filme de longa metragem em vez de uma série de seis episódios. Conheço várias pessoas fãs do MCU, e quase todos “se esqueciam” de ver os novos episódios a cada semana – diferente de outras séries onde todos corriam logo pra ver.

Agora, nem tudo é ruim. Olivia Colman está ótima, e sua personagem Sonya Falsworth foi a melhor coisa da série. Ela aparece pouco, mas todas as vezes são cenas boas. Uma boa personagem que espero que continue no MCU.

Vamos à lista? Claro, spoilers liberados a partir de agora!

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

– Não acho ruim quando matam um personagem se isso causar um grande impacto na trama e nos personagens. Aquela morte significou algo! Um exemplo dentro do MCU foi a morte da Viúva Negra, que foi um evento bem trabalhado dentro do filme e que causou um enorme impacto em todo o MCU. Agora, quando matam a Maria Hill e o Talos e isso não causa nenhum impacto, aí é ruim. Principalmente a Maria Hill – se o Gravik queria uma imagem do Fury atirando na Maria Hill, causaria o mesmo impacto se o tiro atingisse algo grave e ela precisasse ir para o hospital. Ok, entendo que nem a Maria Hill nem o Talos são personagens muito importantes, a gente nunca veria um filme solo de nenhum deles, mas, mesmo assim, acho que foi desrespeito com o fã.

– A gente descobre que quando um skrull é ferido, aparece a pele real verde dele. Isso acontece algumas vezes ao longo da série. Pra que todo aquele “mexican standoff” entre o Fury e o Rhodes na frente do presidente? Não era só atirar na mão ou na perna do Rhodes?

– A Emilia Clarke é ruim. Existem atores que têm talento, outros têm carisma, e outros têm talento e carisma. Emilia Clarke não tem nenhum dos dois. Acho que está na hora de Hollywwod repensar a carreira dela. Talvez ela funcione melhor como coadjuvante.
(Pra piorar, no fim dá a entender que ela vai trabalhar com a Olivia Colman, que tem talento e carisma. Essa dupla não vai funcionar!)

– Admito que gostei da batalha final, quando usam poderes de vários heróis misturados. Mas, tem uma coisa que ficou estranha: eles aprenderam a dominar os poderes muito rapidamente. Em um filme com o modelo clássico de “filme de origem de super herói”, sempre tem uma parte do filme que é o personagem aprendendo a usar seus novos poderes. Aqui não, os dois já conseguem dominar tudo, automaticamente.

– O local da batalha final era radioativo. Como é que eles guardavam prisioneiros humanos lá?

– Nick Fury foi o cara que organizou a Iniciativa Vingadores. Ele conhecia todos os heróis. Se nenhum herói aparece na série, isso precisa ser verbalizado, senão é um furo de roteiro. Ok, verbalizaram. Existe a pergunta “por que você não chama os seus amigos?”. O problema é a resposta “porque é algo pessoal”. O mundo está à beira da terceira guerra mundial e essa foi a melhor desculpa que os roteiristas pensaram?

Asteroid City

Crítica – Asteroid City

Sinopse (google): Asteroid City decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.

Filme novo do Wes Anderson!

Já comentei aqui que Wes Anderson é um dos últimos “autores” do cinema atual. Um filme dele tem cara de filme dele. O cara é obcecado por enquadramentos perfeitos, tudo em cena está milimetricamente posicionado – o tempo todo. Cada enquadramento do seu filme é perfeito, cada movimento de câmera é perfeito. Claro que reconheço o valor de um filme assim.

Vou além: o filme traz uma metalinguagem, um “filme dentro do filme”, tem um dramaturgo contando uma história, e essa história é o Asteroid City. E Anderson usa formatos diferentes pra cada momento. O filme alterna entre uma imagem p&b meio quadrada (parece o antigo 4×3) quando está com o dramaturgo e o tradicional letterbox colorido quando conta o filme em si.

O visual é fantástico. Mas, por outro lado, quase não tem história. Tirando um evento lá pelo meio do filme, nada acontece. E assim o filme fica cansativo. Fui até checar a metragem, Asteroid City tem 1h45min, mas parece ser mais longo!

Talvez o problema seja não ter um protagonista com uma história principal. Parece que estamos o tempo todo vendo personagens secundários em tramas paralelas.

O elenco é fantástico. Raras vezes a gente vê tantos atores famosos juntos. Foi assim com Oppenheimer, é assim de novo em Asteroid City: Tom Hanks, Edward Norton, Adrien Brody, Tilda Swinton, Steve Carell, Bryan Cranston, Willem Dafoe, Matt Dillon, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Jason Schwartzman, Maya Hawke, Jeffrey Wright, Hope Davis, Liev Schreiber, Sophia Lillis, Tony Revolori – entre outros. Ainda tem uma participação especial do Seu Jorge, ele está no grupo do cowboy Montana. Mas… Diferente de Oppenheimer, que tem um grande elenco e grandes atuações, aqui todas as atuações parecem propositalmente robóticas – combina com o estilo do diretor, mas torna o filme ainda mais cansativo.

Ok, reconheço que vou soar um pouco incoerente agora, porque sempre defendi que a forma vale mais que o conteúdo, sempre defendi que prefiro filmes com visuais fantásticos mesmo que as histórias fossem fracas. Mas, aqui em Asteroid City isso não funcionou. É um filme indubitavelmente bonito. Mas seria melhor se fosse um curta metragem.

Missão de Sobrevivência

Crítica – Missão de Sobrevivência

Sinopse (imdb): Um agente secreto da CIA e seu tradutor fogem das forças especiais no Afeganistão após um vazamento expor perigosamente sua missão secreta e revelar sua identidade.

(A sinopse lembra o recente The Covenant, do Guy Ritchie, mas são filmes bem diferentes)

Alguns atores ficam estigmatizados com um tipo de papel. Comentei isso sobre os filmes do Liam Neeson, e podemos ver o mesmo com o Gerard Butler: de um tempo pra cá, ele tem feito vários filmes onde ele é um cara eficiente e o único capaz de resolver um grande problema. Foi assim no recente Alerta Máximo, e é assim neste Missão de Sobrevivência (Kandahar, no original).

Dirigido por Ric Roman Waugh (que já trabalhou com Butler outras duas vezes, em Invasão ao Serviço Secreto e Destruição Final O Último Refúgio), Missão de Sobrevivência não é um grande filme, daqueles que entram em listas de melhores do ano, mas é uma diversão honesta. O filme traz alguns detalhes que somaram alguns pontos no resultado final.

Em primeiro lugar, o filme é bastante eficiente dentro do que ele propõe. O protagonista está numa missão, tudo dá errado e ele precisa fugir. Vários grupos diferentes querem capturá-lo. Essa fuga gera algumas bem filmadas cenas de perseguição. E gostei do conceito de não ter um único antagonista.

Ainda nas cenas de perseguição, tem uma sequência que achei “inventiva”. Eles precisam atravessar o deserto de noite, e se acenderem os faróis do carro, vão ser vistos. Então o protagonista usa um óculos de visão noturna, e toda a sequência é filmada usando este artifício. O visual ficou diferente do óbvio.

Heu queria fazer outro elogio, mas é parcial. Quase perto do fim rola um diálogo onde um personagem critica a postura dos EUA nessa guerra. Uma coisa que sempre me incomodou em filmes hollywoodianos é essa mania de transformar soldados americanos em heróis, e a gente sabe que nem sempre são heróis. Gostei quando o filme tomou esse rumo. Mas… no fim do filme parece que se esqueceram disso e o tema “heroísmo” volta com força, a ponto de ter um personagem que entra pra morrer pouco depois – de forma heroica. É, o elogio durou pouco.

Dito isso, a gente precisa reconhecer que o filme é bem previsível, e usa todos os clichês possíveis. O diretor tem boa mão pras sequências de ação, mas no final tudo fica com cara de genérico.

Tem um outro detalhe que me incomodou um pouco. Dentre os antagonistas, o filme foca mais em um deles. Mas não desenvolve o suficiente. Queria ver mais daquele personagem. Por que o roteiro investe tempo em mostrar um personagem mas não o desenvolve da maneira correta?

Sobre o elenco, este é um “filme do Gerard Butler”. Tem mais gente, mas ninguém se importa. O que interessa é que o Gerard Butler é o cara certo pra esse tipo de filme e esse tipo de papel, e ele entrega tudo que é esperado.

No fim, fica um bom filme. Genérico sim, mas bem filmado e bem conduzido.

Mansão Mal-Assombrada

Crítica – Mansão Mal Assombrada

Sinopse (imdb): Uma mãe e seu filho de nove anos estão tentando começar uma nova vida. Eles aproveitam uma oportunidade imperdível, uma adorável mansão em Nova Orleans.

E vamos para mais uma tentativa da Disney de transformar uma atração do parque em filme. Vou copiar aqui um trecho do que escrevi ano passado quando comentei Jungle Cruise:

Não é a primeira vez que fazem um filme baseado em brinquedos do parque da Disney. O mais famoso e mais bem sucedido é Piratas do Caribe, que já tem cinco filmes, sendo que dois deles passaram a marca de um bilhão de dólares na bilheteria. Os últimos filmes não foram muito bem aceitos, mas é um sucesso incontestável. Agora, heu lembrava de pelo menos mais dois, ambos mal sucedidos nas bilheterias: Mansão Mal Assombrada, de 2003, com o Eddie Murphy; e Tomorrowland, de 2015, com o George Clooney. Mas aí lembrei de quando fui à Disney em 2018, que depois do brinquedo Torre do Terror, vi dvds à venda de um filme feito em 1997 baseado naquela atração, com Steve Guttenberg e Kirsten Dunst. Aí resolvi pesquisar pra saber se tinham outros filmes, e descobri que Missão Marte, feito pelo Brian de Palma em 2000, com Gary Sinise, Tim Robbins, Don Cheadle e Connie Nielsen, tem um roteiro inspirado na atração da Disney! E ainda descobri mais um, que nunca tinha ouvido falar: Beary e os Ursos Caipiras, de 2002, baseado no brinquedo Country Bear Jamboree.

Poizé. O filme do Eddie Murphy não deu muito certo, então, vinte anos depois, é hora de uma nova tentativa. Pena que também não deu muito certo.

Pra começar, o filme é longo demais. São duas horas e três minutos pra contar uma história que cabia em menos de uma hora e meia. Aí a gente se perde em tramas paralelas que não são importantes para o filme (como o excessivo foco no luto do Ben, que podia ter resultado em algo na parte final, mas foi esquecido). E, pior, é um filme para crianças, que não terão paciência para uma sessão de duas horas!

Sobre o elenco: ninguém está muito mal, mas senti que falta conjunto. Juntaram alguns bons atores, um time heterogêneo, mas falta química entre eles, o grupo não parece entrosado. O time principal conta com Rosario Dawson, LaKeith Stanfield, Owen Wilson, Danny DeVito, Tiffany Haddish e Chase Dillon.

Novo parágrafo pra comentar 3 participações especiais no elenco. Jamie Lee Curtis aparece pouco e está bem como sempre. A guia de turismo me pareceu ser Winona Ryder, mas não está oficialmente creditada. E o fantasma principal é interpretado pelo Jared Leto, mas me pergunto pra que chamar um nome importante como Jared Leto se você não vai usá-lo? O fantasma e em cgi, não vemos o ator. E a voz é alterada, não ouvimos o ator. Podia ser qualquer um!

Nem tudo é ruim. Estive na Disney em 2018, claro que fui na atração Haunted Mansion, mas claro que não me lembro de detalhes. Mas, mesmo assim, me lembrei de várias referências, como o organista tocando e saindo caveirinhas dos tubos do órgão, ou dos fantasmas dançando no salão. Provavelmente quem está com a atração fresca na memória vai pegar muitas referências.

Os efeitos especiais são ok. Nada salta aos olhos nem positiva, nem negativamente. Gostei de alguns takes onde rola uma perseguição entre os corredores e os corredores mudam de comprimento e de eixo, mas são cenas rápidas. A trilha sonora também funciona – e tem uma rápida e divertida citação a It’s a Small World.

Mas no fim, os pontos positivos não são o suficiente pra sustentar, e o filme cansa. Aguardemos a próxima atração que vai virar filme.

O Convento

Crítica – O Convento

Sinopse (imdb): Após a misteriosa morte do Padre Michael, sua irmã, Grace, decide viajar até o convento onde ele vivia na Escócia para descobrir o que realmente aconteceu. Sem confiar na versão oficial da Igreja, ela investiga por conta própria.

Confesso que fui ver este O Convento (Consecration, no original), novo lançamento de terror, com a expectativa lá embaixo. Tivemos tantos filmes de terror ruins recentemente que achei que este era mais um pra lista. Mas, olha, a pouca expectativa ajudou. O Convento não é um grande filme, mas é menos ruim do que a média que temos recebido.

A direção é de Christopher Smith, que em 2009 dirigiu o bom Triângulo do Medo, um filme de viagem no tempo que costumo recomendar pra quem está atrás de filmes pouco conhecidos sobre o tema. Curiosamente, nunca vi nenhum outro filme do diretor.

Já comentei aqui outras vezes: quando um filme acaba mal, perde pontos; quando acaba bem, ganha pontos. O Convento é um filme mediano, mas que termina com um plot twist bem legal, e isso melhora a sua nota.

Triângulo do Medo deixava pontas soltas e depois resolvia, e o mesmo acontece em O Convento. Algumas coisas parecem sem sentido, mas rola um plot twist no final onde boa parte dessas coisas passa a ter sentido. (Algumas coisas continuam sem sentido, tipo o policial deixar a protagonista investigar sozinha uma cena de dois possíveis crimes, mas a gente releva.)

Além de ser um filme bem lento, O Convento traz outro problema: é um terror que não assusta. Não tem jump scare, não dá medo – e ainda por cima usa e abusa de todos os clichês do subgênero “terror religioso”. Pelo menos o cenário do convento na Escócia é bonito.

A protagonista é interpretada por Jena Malone (Sucker Punch, Demônio de Neon), que funciona para o que o filme pede. O único outro nome que heu conhecia no elenco é Danny Houston (Mulher-Maravilha, X-Men Origens Wolverine http://www.heuvi.com.br/x-men-origins-wolverine/), que está caricato como sempre – aliás, o personagem também é ruim. Também no elenco, Thoren Ferguson, Janet Suzman, Alexandra Lewis e Eilidh Fisher.

O plot twist deixa espaço para uma continuação, mas espero que não aconteça. Terminou bem, deixa quieto!

Oppenheimer

Crítica – Oppenheimer

Sinopse (imdb): A história do cientista americano J. Robert Oppenheimer e o seu papel no desenvolvimento da bomba atômica.

Ontem falei de Barbie, hoje vamos de Oppenheimer!

Christopher Nolan é um grande diretor, ninguém questiona isso. Mas, muitas vezes, seus filmes são chatos e pretensiosos. Tecnicamente, Oppenheimer é muito bem feito. Mas… é chato.

São intermináveis três horas de blá-blá-blá, com inúmeros personagens entrando e saindo de tela, com pelo menos três linhas temporais distintas. E é daquele tipo de narrativa que se você se distrai e perde um único diálogo, você se perde pelo resto do filme.

Agora, não podemos dizer que é um filme ruim. Nolan sabe filmar, tecnicamente falando Oppenheimer é muito bom, além de ter uma reconstituição de época irretocável. E o elenco estelar está sensacional.

É até complicado de se falar de tantos atores famosos juntos. Cillian Murphy está muito bem como o principal, e nem sei quem seria o segundo nome mais importante, num elenco que conta com Robert Downey Jr, Matt Damon, Emily Blunt, Florence Pugh, Gary Oldman, Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Rami Malek, Alden Ehrenreich, Jason Clarke, Tom Conti, Alex Wolff, Matthew Modine, David Dastmalchian, Dane DeHaan, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård e Casey Affleck – entre outros. Se for pra destacar alguém, heu diria que Robert Downey Jr pode ganhar uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante – não só ele está bem diferente do usual como seu personagem tem um bom desenvolvimento. Outro destaque seria para Gary Oldman, que ganhou um Oscar interpretando um líder político na Segunda Guerra Mundial, e agora interpreta outro líder político na mesma guerra. Oldman só aparece em uma cena, mas está sensacional!

A trama vai e vem entre 3 linhas temporais, e a fotografia alterna entre cor e p&b, ajudando o espectador a se situar, a parte em cores seriam divagações sobre a vida do Robert Oppenheimer, enquanto a parte p&b seria documental sobre o julgamento que o cientista foi submetido. Mesmo assim, como tem muita informação ao longo de muito tempo de filme, vai ter espectador perdido.

Confesso que rolou uma certa decepção com a explosão. Nolan é um cara que gosta de filmar coisas reais – o que é algo muito positivo, diga-se de passagem. Em Dunkirk, em uma cena com milhares de soldados na praia, ele fez questão de ter atores até nas fileiras lá atrás onde poderiam ser figuras de papelão. Em Tenet, ele usou um avião de verdade na cena onde o avião bate no hangar. Aqui ele se propôs a mostrar uma explosão atômica sem usar cgi. Ok, é uma explosão bem filmada, mas, não encheu os olhos.

Ouvi gente comentando positivamente sobre a mixagem do som. Mas discordo, achei falha. Em algumas cenas os diálogos ficam embolados atrás de uma trilha sonora alta e efeitos sonoros igualmente altos. Entendo que Nolan queria passar para o espectador que o personagem estava passando por um momento de confusão mental, mas faltou equilíbrio, ficou ruim. Dito isso, preciso admitir que gostei da densa trilha sonora de Ludwig Göransson.

Vai ter muito fã do Nolan elogiando Oppenheimer, afinal, o filme tem seus pontos positivos. Mas, vai ter muito “espectador comum” saindo cansado e confuso da sessão, pensando que teria sido melhor ter comprado ingresso pra ver Barbie.

Barbie

Crítica – Barbie

Sinopse (imdb): Viver na Terra da Barbie é ser um ser perfeito em um lugar perfeito. A menos que você tenha uma crise existencial completa. Ou que você seja um Ken.

Finalmente estreia esta semana o aguardado Barbie! Será que é bom?

Dirigido por Greta Gerwig e escrito por Gerwig e Noah Baumbach, Barbie começa muito bem, usando ironia pra criticar vários clichês ligados à boneca Barbie. Algumas piadas arrancaram gargalhadas na sala de cinema. E todos os cenários e props são sensacionais, parece realmente que estamos vendo acessórios da boneca em tamanho real.

Mas, pena que nem tudo funciona. Todo o plot dos executivos liderados pelo Will Ferrell é péssimo. E aquela correria no cenário das baias é vergonha alheia nível Trapalhões. Outra coisa ruim foi o momento reflexivo depois que a história já estava encerrada, foi um grande anti clímax.

Posso soltar uma polêmica? Ken é irrelevante, ele só “existe” se a Barbie der atenção a ele. Mas, em determinado momento do filme, Ken descobre que pode ter uma personalidade própria. E acaba que ele cria um problema no mundo da Barbie, que acaba virando um “mundo do Ken”. O filme poderia ter aproveitado esse gancho pra promover a igualdade, corrigir onde o Ken estava errado e colocar ambos personagens como protagonistas desse mundo, mas escorrega e volta ao status inicial, jogando Ken novamente para a irrelevância. Ou seja, oportunidade jogada fora.

Mas, fazendo o “advogado do diabo”, a gente tem que lembrar que é um filme da Barbie. E, dentro do universo da Barbie, sim, o Ken e irrelevante. Ken é um acessório, ele não existe sem a Barbie; já a Barbie pode existir sem o Ken. então, pensando sob este ângulo, sim, o Ken pode continuar irrelevante.

O elenco está ótimo. Margot Robbie é excelente para o papel, e o Ryan Gosling consegue estar ainda melhor – tem um momento musical onde ele canta e dança que é sensacional. Kate McKinnon tem um papel curioso, a “Barbie esquisita”, aquela boneca velha que era rabiscada e tinha o cabelo estragado; e Michael Cera está engraçado no ponto exato. E quem for às sessões dubladas vai perder a narração da Helen Mirren. Ainda no elenco, Simu Liu, John Cena, Dua Lipa, Ariana Greenblatt, America Ferrera, Emma Mackey, Kingsley Ben-Adir e Rhea Perlman.

Enfim, Barbie deve agradar ao público alvo. Fui com minha filha, que está com 22 anos e brincou de Barbie quando criança, ela adorou…