O Dublê

Crítica – O Dublê

Sinopse (imdb): Após um acidente que quase acabou com sua carreira, um dublê precisa descobrir o paradeiro de um astro de cinema desaparecido, desmascarar uma conspiração e tentar reconquistar o amor de sua vida enquanto ainda faz seu trabalho diário.

E vamos para mais um filme da minha lista de expectativas pra 2024!

Mas, antes de entrar no filme, quero reclamar do título nacional. O Dublê é uma versão do seriado Duro na Queda, do produtor Glen A Larson (o mesmo de Battlestar Galactica), sucesso na TV brasileira nos anos 80, que passou na Globo entre 1983 e 89. Heu descobri isso porque, como já comentei, minha memória guarda detalhes bizarros e inúteis relacionados a cinema, e me lembrava do nome do protagonista da série, Colt Seavers. Mas, fica a pergunta: por que não usar “Duro na Queda”? Se fosse pra repetir o nome gringo “Fall Guy”, até entendia, mas ter um nome brasileiro diferente???

Enfim, vamos ao filme. Achei perfeito uma nova versão de Duro na Queda ser feita por David Leitch e sua produtora 87North. Leitch era dublê, virou diretor, e fundou uma produtora que faz filmes onde as cenas que exigem dublês são valorizadas. A 87North é responsável por alguns dos melhores filmes de ação recentes, como Atômica, Trem Bala (ambos dirigidos por Leitch), Anônimo, Kate, Noite Infeliz e toda a franquia John Wick. Se tem alguém certo pra fazer um filme sobre os bastidores dos dublês, esse alguém é David Leitch! (Inclusive vemos o logo da 87North algumas vezes ao longo do filme).

(Na minha sessão, antes do filme, tem um videozinho com o David Leitch e o Ryan Gosling pra falar que não é pra usar celular durante o fime, e Leitch explica que foi dublê.)

O Dublê (Fall Guy, no original) mostra um dublê, que era um dos melhores do ramo, mas que se acidenta e se afasta da profissão, até que é chamado pra voltar, pra trabalhar no set do primeiro filme dirigido por sua ex namorada. E claro que existe uma trama maior de mistério por trás de tudo.

Tecnicamente, o filme é um deslumbre. A cena inicial, quando conhecemos os dois personagens principais e vemos o acidente, é em plano sequência! Assim como a sequência aonde conhecemos o set de filmagem da Emily Blunt! E são várias sequências bem coreografada e bem filmadas. Inclusive, na introdução vemos bastidores de sequências de dublês de outros filmes da 87North (uma sequência tão rápida que deu vontade de pausar e voltar); e durante os créditos vemos bastidores das filmagens deste filme. O cinema de hoje em dia muitas vezes prefere usar o cgi do que os dublês, inclusive essa discussão está presente no filme.

Além disso, temos inúmeras referências, algumas bem explícitas (como Miami Vice) e outras mais discretas (como o efeito sonoro de O Homem de Seis Milhões de Dólares, outra série estrelada pelo mesmo ator de Duro na Queda). Também temos citações a diálogos de filmes famosos, entre os personagens do Ryan Gosling e do Winston Duke, e uma cena de ação onde os dois repetem ações de dublês em cenas famosas de filmes de ação.

Queria falar de uma sequência que achei sensacional, a sequência do karaoke intercalada com a perseguição no caminhão. Enquanto estamos na perseguição, toda a edição da cena é sincronizada com I Was Made For Lovig You, do Kiss, e sempre quando alterna pro karaoke, não perde a sincronia. Aí a Emily Blunt começa a cantar Against All Odds, do Phil Collins, e enquanto está no karaoke é a voz dela, quando intercala com a perseguição muda pro Phil Collins, e tudo continua sincronizado com a música. Toda a sequência é muito boa!

(Só achei que faltaram legendas na letra da música, quem não entende inglês ou não conhece a música vai perder parte do significado.)

Aproveito pra falar da trilha sonora. I Was Made for Loving You abre o filme e volta algumas vezes durante o filme, mas O Dublê ainda tem outras músicas pop boas ao longo da projeção, incidindo ACDC, The Darkness e uma cena engraçadíssima com uma música da Taylor Swift – além do já citado ótimo momento com Phil Collins.

Ah, O Dublê é um filme de ação, mas tem um pé na comédia romântica. Tem uma cena com uma DR usando metáforas do roteiro que está sendo filmado, na frente de toda a equipe, que é típica de comédias românticas!

Se tem uma crítica que posso fazer é que algumas coisas funcionavam décadas atrás, mas hoje não funcionam mais. Por exemplo: se criminosos armados entram num set de filmagem, “brincar de dublê” em volta deles fica forçado. Pior: os criminosos entram no set procurando por um personagem, e na cena seguinte este personagem está passeando em volta de todos, alegre e faceiro, e nada acontece. Essas paradas funcionavam nos anos 80, hoje em dia fica estranho. Mas, como o filme “quer ser anos 80”, a gente pode relevar.

Sobre o elenco, achei curioso ver Ryan Gosling e Emily Blunt juntos pouco depois do Oscar, onde os dois apresentaram um prêmio se alfinetando porque estavam “em lados opostos” (ele estava em Barbie, ela em Oppenheimer). Ambos estão muito bem juntos. Também no elenco, Aaron Taylor-Johnson, Hannah Waddingham, Winston Duke, Teresa Palmer, Stephanie Hsu, e uma divertida participação especial de Jason Momoa. Ah, na cena final, Lee Majors, que era o Colt Seavers na série, aparece como um policial, ao lado de Heather Thomas, sua parceira na série!

(E, depois de Anatomia de uma Queda, temos um novo cachorro ator: o Jean Claude é ótimo!)

Filmão. Estava na lista de Expectativas, boas chances de voltar na lista de Melhores do Ano.

Barbie

Crítica – Barbie

Sinopse (imdb): Viver na Terra da Barbie é ser um ser perfeito em um lugar perfeito. A menos que você tenha uma crise existencial completa. Ou que você seja um Ken.

Finalmente estreia esta semana o aguardado Barbie! Será que é bom?

Dirigido por Greta Gerwig e escrito por Gerwig e Noah Baumbach, Barbie começa muito bem, usando ironia pra criticar vários clichês ligados à boneca Barbie. Algumas piadas arrancaram gargalhadas na sala de cinema. E todos os cenários e props são sensacionais, parece realmente que estamos vendo acessórios da boneca em tamanho real.

Mas, pena que nem tudo funciona. Todo o plot dos executivos liderados pelo Will Ferrell é péssimo. E aquela correria no cenário das baias é vergonha alheia nível Trapalhões. Outra coisa ruim foi o momento reflexivo depois que a história já estava encerrada, foi um grande anti clímax.

Posso soltar uma polêmica? Ken é irrelevante, ele só “existe” se a Barbie der atenção a ele. Mas, em determinado momento do filme, Ken descobre que pode ter uma personalidade própria. E acaba que ele cria um problema no mundo da Barbie, que acaba virando um “mundo do Ken”. O filme poderia ter aproveitado esse gancho pra promover a igualdade, corrigir onde o Ken estava errado e colocar ambos personagens como protagonistas desse mundo, mas escorrega e volta ao status inicial, jogando Ken novamente para a irrelevância. Ou seja, oportunidade jogada fora.

Mas, fazendo o “advogado do diabo”, a gente tem que lembrar que é um filme da Barbie. E, dentro do universo da Barbie, sim, o Ken e irrelevante. Ken é um acessório, ele não existe sem a Barbie; já a Barbie pode existir sem o Ken. então, pensando sob este ângulo, sim, o Ken pode continuar irrelevante.

O elenco está ótimo. Margot Robbie é excelente para o papel, e o Ryan Gosling consegue estar ainda melhor – tem um momento musical onde ele canta e dança que é sensacional. Kate McKinnon tem um papel curioso, a “Barbie esquisita”, aquela boneca velha que era rabiscada e tinha o cabelo estragado; e Michael Cera está engraçado no ponto exato. E quem for às sessões dubladas vai perder a narração da Helen Mirren. Ainda no elenco, Simu Liu, John Cena, Dua Lipa, Ariana Greenblatt, America Ferrera, Emma Mackey, Kingsley Ben-Adir e Rhea Perlman.

Enfim, Barbie deve agradar ao público alvo. Fui com minha filha, que está com 22 anos e brincou de Barbie quando criança, ela adorou…

O Agente Oculto

Crítica – O Agente Oculto

Sinopse (imdb): O agente mais habilidoso da CIA, cuja verdadeira identidade é desconhecida, descobre os segredos obscuros da agência e um ex-colega insano coloca uma recompensa por sua cabeça ao recrutar assassinos internacionais para caçá-lo.

Novo grande lançamento da Netflix, O Agente Oculto (The Gray Man, no original) é mais um daqueles filmes que poderiam estar na minha lista de “críticas curtas”: “O Agente Oculto – filme genérico de ação com nomes grandes no elenco e direção”. Porque é basicamente isso. Mas… Vamulá.

Com orçamento de 200 milhões de dólares, O Agente Oculto está sendo vendido como “o filme mais caro da história Netflix”, ao lado de Alerta Vermelho – outro filme que também deixou a desejar.

O Agente Oculto é baseado no livro homônimo escrito por Mark Greaney. A ideia de se adaptar já existia desde 2011, com o Brad Pitt no papel principal; depois Charlize Theron esteve ligada ao projeto, que teria produção da Sony e direção de Christopher McQuarrie. Até que chegou às mãos da Netflix, que chamaram os irmãos Russo para a direção.

Lembrando: Anthony e Joe Russo dirigiram quatro dos filmes mais conceituados de todo o MCU: Capitão América Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato. Atualmente, eles simplesmente são os responsáveis pela maior bilheteria da história do cinema. Recentemente fizeram o drama Cherry, que tem seus pontos positivos mas não é um grande filme. E uma coisa me intrigava na carreira dos irmãos, mas que agora foi respondida: o sucesso deles tem muito mais a ver com a Marvel do que com o talento da dupla.

Vejam bem, O Agente Oculto não é ruim. Bom elenco, belas locações, boas cenas de ação… Só é tudo muito genérico. Muita explosão e pouca história. Em certas cenas parece que a gente está vendo um filme do Michael Bay – tem até umas cenas com uma câmera drone, cenas parecidas com as do filme Ambulância, último filme do Bay.

Produção grandiosa, o filme se passa em vários países. Tem uma cena em Praga que é um exemplo disso que falei. A cena é boa, é empolgante, mas é tanto tiro e explosão que chega a cansar.

O elenco é muito bom. Ryan Gosling parece fazer o Ryan Gosling de sempre, mas o vilão exagerado e caricato do Chris Evans está exagerado e caricato no ponto certo. Ana de Armas está excelente, como sempre, mas tem menos tempo de tela – ei, Hollywood, tá na hora de um filme de ação girl power estrelado por ela! E uma surpresa agradável foi ver uma cena com Wagner Moura, que está muito bem. Parece que a Netflix resolveu agradar dois grandes mercados consumidores, o Brasil e a Índia, trazendo uma estrela de cada país para um papel menor mas importante – o indiano Dhanush tem um papel chave, já tinha ouvido falar dele mas nunca tinha visto nenhum filme com ele. Também no elenco, Billy Bob Thornton, Jessica Henwick, Alfre Woodard e Julia Butters.

Existe uma série de livros “O Agente Oculto”. A história deste filme se fecha, mas deixa espaço para continuações. Será que veremos mais uma franquia de filmes de ação?

O Primeiro Homem

Crítica – O Primeiro Homem

Sinopse (imdb): Um olhar sobre a vida do astronauta Neil Armstrong e a lendária missão espacial que o levou a ser o primeiro homem a caminhar na Lua em 20 de julho de 1969.

Damien Chazelle, de Whiplash e La La Land, dirigindo a cinebiografia do Armstrong… Ei, péra, como assim não é o músico Louis Armstrong? O filme é sobre o astronauta Neil Armstrong?!?!

Poizé. Na minha humilde opinião, Chazelle escolheu o Armstrong “errado”. E fez um filme correto, mas sem graça.

Ok, admito que achei o filme bobo, mas reconheço que ele cumpre os objetivos. O Primeiro Homem (First Man, no original) é um “filme pra Oscar”. Produção grandiosa, contando a história real de um herói norte americano, com nomes badalados na produção e no elenco. É, visto por esse ângulo, Chazelle mandou bem. E deve conseguir algumas indicações ao prêmio da Academia em 2019.

A reconstituição de época é bem cuidada, e os efeitos especiais são discretos e eficientes. O pouso na lua – momento chave no filme (e na História) – é uma sequência belíssima, com toques de jazz na trilha sonora. O público geral vai curtir.

O problema é que tudo é muito linear e sem graça. Apolo XIII contava uma história semelhante mas era muito mais emocionante. Estrelas Além do Tempo se passa na mesma época e local, e tem personagens muito mais cativantes. E a longa duração (duas horas e vinte e um minutos) torna tudo cansativo.

No elenco, Chazelle repete a parceria com Ryan Gosling, que faz cara de paisagem o tempo todo (como sempre, aliás), mas funciona porque o papel pede – será que vem outra indicação ao Oscar? Claire Foy faz sua esposa, num papel provavelmente adaptado para os dias de hoje – sua Janet Armstrong é uma mulher forte e desafiadora, diferente do que era comum nos anos 60 – mas coerente com a onda de mulheres fortes do cinema atual. Também no elenco, Jason Clarke, Kyle Chandler, Ciarán Hinds, Ethan Embry, Corey Stoll, Shea Whigham, Patrick Fugit e Lukas Haas.

O Primeiro Homem vai agradar muita gente (principalmente nos EUA). Mas ainda acho que que Chazelle faria melhor se escolhesse o outro Armstrong…

p.s.: Aposto como vai ter gente dizendo que é um filme de ficção científica…

Blade Runner 2049

BladeRunner2049Crítica – Blade Runner 2049

Sinopse (imdb): Um novo Blade Runner descobre um segredo escondido que o leva a rastrear o ex-Blade Runner Rick Deckard, que está há trinta anos desaparecido.

Ok, admito, estava com muito pé atrás com este Blade Runner 2049 (idem, no original). Sou muito fã do original de 1982. E quando li que o diretor ia ser Denis Villeneuve, me lembrei de O Homem Duplicado, um filme cabeça muito ruim, e a preocupação aumentou. Mas aí vi A Chegada, infinitamente melhor que o outro, e relaxei. Ok, Villeneuve, você agora tinha o meu aval. Vamos “pagar pra ver”.

Felizmente, Villeneuve fez um bom trabalho. Blade Runner 2049 é um espetáculo visual belíssimo, e toda a mitologia do primeiro filme é respeitada. Só acho que não precisava de mais de duas horas e quarenta minutos…

Existem três curtas feitos para situar o espectador sobre o que está acontecendo: uma animação com estilo de anime contando o blecaute; e dois filminhos apresentando os personagens de Dave Bautista e Jared Leto. Não rolam spoilers, quem quiser ver antes pode ser uma boa, tem no youtube.

Sobre spoilers: Harrison Ford está no cartaz do filme, então todos sabem da sua presença no filme. Mas posso dizer que era melhor que a sua participação fosse guardada – como foi com o Wolverine em X-Men Apocalipse. Seria uma agradável surpresa vê-lo sem ser anunciado.

O elenco é bom. Ryan Gosling normalmente tem cara de paisagem, mas pra este papel funcionou bem – afinal, ele é um androide (e não há dubiedade sobre isso). Com um enorme carisma, Ford mais uma vez volta a um papel icônico (como fizera antes com Indiana Jones e Han Solo); Leto e Bautista pouco aparecem. Gostei da personagem de Ana de Armas, e aquela cena de sexo entre humano, androide e holograma ficou muito boa. Também no elenco, Robin Wright, Sylvia Hoeks, Mackenzie Davis, e uma participação especial de Edward James Olmos

A trilha sonora de Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch às vezes tenta emular a trilha clássica do Vangelis, mas no resto do filme lembra mais as notas graves de A Chegada. Ficou ok. Mas Blade Runner é sintetizador, e não monges tibetanos. Senti falta do Vangelis…

Pelo menos o visual compensa. A fotografia de Roger Deakins é fenomenal. Alguns cenários lembram o filme original (como os gigantescos painéis de neon); enquanto os cenários novos chamam a atenção pela beleza e grandiosidade (como o prédio de Niander Wallace, ou os cenários em Las Vegas).

Findo o filme, fica a dúvida: será que vai virar franquia e vão fazer um terceiro (e um quarto, um quinto…), ou será que para por aí? Denis Villeneuve não me parece ser um diretor que combina com franquias. Mas, por outro lado, ainda dá pra aproveitar elementos que foram pouco usados.

Por fim, queria registrar que finalmente li o livro “Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?”, escrito por Philip K. Dick nos anos 60, e que deu origem ao primeiro filme. É curioso ver que o livro tem uma história bem diferente do filme. Me lembrei de fãs do livro “O Senhor dos Anéis” reclamando porque o personagem Tom Bombadil foi cortado do filme. Se a adaptação do “Ovelhas Elétricas” fosse hoje em dia, ia ter “muito mimimi pelas internetes” reclamando que “o filme não respeitou o livro”…

La La Land: Cantando Estações

La La LandCrítica – La La Land: Cantando Estações

Em Los Angeles, um pianista de jazz que sonha em ter a sua própria casa noturna se apaixona por uma aspirante a atriz.

La La Land: Cantando Estações (La La Land, no original) chamou atenção quando ganhou sete Globos de Ouro: melhores filme, ator e atriz (comédia ou musical); diretor, roteiro, trilha sonora e canção. Ok, a gente sabe que a premiação do Globo de Ouro separa os filmes musicais dos dramas, é “mais fácil” ganhar um prêmio quando não é drama (onde normalmente estão os principais candidatos). Mas se a gente lembrar que os cinco prêmios mais importantes do Oscar são filme, diretor, roteiro, ator e atriz,  La La Land se saiu MUITO bem no Globo de Ouro.

(Atualizando: saiu a lista dos indicados ao Oscar, La La Land concorre a 14 estatuetas – número recorde, nunca um filme concorreu a 15. As chances de Oscar são bem grandes.)

La La Land foi escrito e dirigido por Damien Chazelle, o mesmo de Whiplash. Seu novo filme é um “musical clássico”, daqueles que as pessoas param de falar, começam a cantar e dançar, e, quando a música acaba, tudo volta ao normal. A boa notícia é que as músicas são muito boas, dá vontade de caçar o cd com a trilha sonora quando saímos do cinema.

Não só o filme é alegre, colorido e empolgante, como a parte técnica também é excelente. Vemos vários planos sequência complexos, cheios de coreografias de dança e sapateado!

Ainda sobre a parte técnica, queria falar sobre o Ryan Gosling tocando piano. Chazelle declarou que tudo o que vemos na tela foi realmente tocado pelo ator. Olha, posso garantir que o que vemos não é resultado de apenas alguns meses de prática. Quem toca aquilo no piano estudou por anos. Ou seja: ou Gosling já tocava piano antes, ou tem um dublê de mãos inserido digitalmente.

Ah, o elenco. Ryan Gosling não é um ator muito versátil, ele costuma ter a mesma “cara de paisagem” em todos os filmes (sempre lembro dele nos filmes Drive e Só Deus Perdoa, onde ele usa a mesma expressão durante todo o filme). Mas aqui ele está bem, ele toca piano, canta, dança sapateia, e, apesar de continuar com cara de paisagem, não incomoda. Emma Stone também está bem. Nenhum dos dois tem um vozeirão, mas os arranjos foram feitos respeitando as suas extensões vocais, então tudo desce redondinho (apesar do grave de Gosling ser bastante fraco). J.K. Simmons, que ganhou um Oscar trabalhando com Chazelle, aparece num pequeno papel; o músico John Legend também tem um papel importante.

Claro que tem gente que não suporta musicais e vai passar longe. Mas quem não tiver preconceito verá o primeiro grande filme de 2017.

Apenas Deus Perdoa

Crítica – Apenas Deus Perdoa

Não sei por qual motivo, este era um dos mais procurados filmes do Festival do Rio 2013. Com dois pés atrás, fui ver qualé.

Um inglês, membro de uma poderosa família de criminosos, gerencia uma academia de boxe em Bangkok, fachada para uma operação internacional de heroína. Quando seu irmão mais novo é assassinado depois de matar uma prostituta, ele recebe a visita de sua mãe, que chega com a obsessiva ideia de recolher o corpo do caçula e vingar sua morte.

Heu já estava escaldado por ser “o novo filme do diretor e protagonista de Drive“. Achei Drive pretensioso, superestimado – e fraco. Mas acredito que essa desconfiança ajudou. Com a expectativa lá embaixo, não achei Apenas Deus Perdoa (Only God Forgives, no original) tão ruim quanto esperava.

Quem viu Drive (e também quem viu Valhala Rising, filme anterior do mesmo diretor) sabe o que esperar: ritmo lento, poucos diálogos e muita violência gratuita. Apenas Deus Perdoa segue exatamente a mesma fórmula. E ainda repete Ryan Gosling quase mudo com sua cara de paisagem. (O outro nome conhecido do elenco é Kristin Scott Thomas, caricata e canastrona como nunca na carreira.)

Pelo menos Apenas Deus Perdoa tem uma coisa muito boa: uma belíssima fotografia. O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn fez um bom trabalho na escolha das imagens. Por mais estranho que pareça, é um filme violento e ao mesmo tempo bonito. A trilha sonora também é boa.

Agora, falemos sobre a violência. Apenas Deus Perdoa é um filme violento, claro. Mas me pareceu mais discreto que os outros dois filmes que vi do mesmo diretor. Refn segurou um pouco a onda nas imagens graficamente violentas. Critiquei o excesso de violância gratuita em Drive, mas senti falta aqui…

Pelo fórum do imdb, tem muita discussão sobre Apenas Deus Perdoa – metade defendendo, metade atacando. Na minha humilde opinião, tem seu valor. Mas está longe de ser um filme bom.

Caça Aos Gângsteres

Crítica – Caça Aos Gângsteres

Los Angeles, 1940. Mickey Cohen, um dos líderes da máfia do Brooklyn, decide expandir suas atividades pelo oeste dos Estados Unidos. Um grupo especial da polícia é encarregado de capturá-lo.

Bom elenco, excelente ambientação de época… Mesmo assim, Caça Aos Gângsteres (Gangster Squad, no original) ficou devendo.

O diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia) fez um bom trabalho no visual do filme – além de uma câmera lenta bem utilizada, várias sequências são esteticamente muito bonitas. Some-se a isso uma reconstituição de época bem cuidada e temos um filme onde o visual chama a atenção.

Mas, por outro lado, o roteiro é muito fraco. Não só toda a trama é previsível, como todos os personagens são unidimensionais – isso porque não estou falando do maniqueísmo onde os maus são muito maus e os bons são perfeitos.

Pior que o elenco é bom. Acho uma pena ver Sean Penn desperdiçado como um vilão esquecível (Mickey Cohen existiu de verdade, mas os fatos aqui são ficção); enquanto parece que Emma Stone só aparece pra mostrar uma menina bonitinha. Ryan Gosling é badalado atualmente, mas não consigo entender por que, ele fica o filme inteiro com a mesma cara de paisagem que faz em todos os seus filmes (Gosling me parece uma versão masculina da Kirsten Stewart, um rostinho bonito que não consegue fazer uma expressão). Ainda no elenco, Josh Brolin, Nick Nolte, Giovanni Ribisi, Robert Patrick, Anthony Mackie e Michael Peña – todos mal aproveitados.

Por fim, o nome nacional mais uma vez enfraquece a ideia do filme. “Esquadrão de Gângsteres” é porque eles agem paralelamente à lei. “Caça aos Gângsteres” não chega a ser errado, mas passa uma ideia diferente da original.

Enfim, plasticamente, Caça Aos Gângsteres é bonito. Mas trata-se de um filme vazio. É preferível rever Os Intocáveis.

Drive

Crítica – Drive

Na época do Festival do Rio, ouvi bons comentários sobre este Drive. Não consegui ver na ocasião, pelos horários escassos, mas achei que ia entrar no circuito. Ainda não entrou, mas, como já saiu o brrip, aproveitei pra conferir.

Um motorista que trabalha às vezes como dublê em filmes, às vezes como piloto de fugas para criminosos, descobre que caiu em uma armadilha quando seu último trabalho dá errado.

A princípio não tinha entendido qual o propósito de Drive. É parado demais pra ser um filme de ação, mas violento demais para um filme cabeça. Aí vi que é de Nicolas Winding Refn, o mesmo diretor de Valhala Rising, e “caiu a ficha”. É a mesma coisa: um cara misterioso, caladão e solitário, cenas looongas com a câmera parada onde nada acontece, e muita violência gráfica. Igualzinho ao seu filme anterior.

E chato. Assim como o seu filme anterior.

A gente fica esperando a história do motorista monossilábico engrenar, mas parece que o diretor só gosta de planos longos e contemplativos, onde vemos os atores parados. Muito pouca coisa acontece no filme.

Com um roteiro onde quase nada acontece, os personagens são rasos. Afinal, como eles vão se desenvolver se não há história? Assim, o bom elenco é desperdiçado: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Ron Perlman, Albert Brooks, Christina Hendricks e Brian Cranston não têm muito o que fazer.

E tem a violência. Olha, já vi filme vagabundo de terror com desculpas menos esfarrapadas pra mostrar violência gratuita. O gore aqui é desmedido – chega a aparecer um crânio sendo esmagado – e, na minha humilde opinião, completamente fora do contexto. E olha que gosto de filmes com violência gráfica!

Pra não dizer que o filme é um lixo total, gostei da trilha sonora, que emula sons synth pop dos anos 80. Também gostei de algumas perseguições de carro – a sequência inicial é muito boa, assim como a que sucede o assalto à loja de penhores. A fotografia também é bem cuidada.

Mas é pouco. Muito pouco para um filme que está com nota 8,1 no imdb e que a respeitada crítica Ana Maria Baiana considerou o melhor de 2011. Acho que essas pessoas viram um filme diferente do que heu vi. Ou então elas curtem um filme onde nada acontece…

Entre Segredos e Mentiras

Crítica – Entre Segredos e Mentiras

Um herdeiro de uma família milionária (Ryan Gosling) se apaixona e se casa com uma mulher humilde (Kirsten Dunst). Quando ela desaparece misteriosamente, ele se torna o principal suspeito. Baseado em fatos reais.

Sabe quando um filme é “correto”, mas não é bom? É o caso aqui. Entre Segredos e Mentiras (All Good Things, no original) tem um bom elenco, uma bem cuidada reconstituição de época e uma bela fotografia. Mas parece que o filme não “decola” nunca.

Não sei precisar exatamente onde está o problema do filme dirigido por Andrew Jarecki (Na Captura dos Friedmans). Talvez seja o ritmo excessivamente lento; talvez seja a história pouco interessante. O fato é: Entre Segredos e Mentiras não empolga.

Mas, como disse, o filme não é ruim. Podemos destacar um bom trabalho do elenco, principalmente o casal principal. Kirsten Dunst e Ryan Gosling (principalmente Gosling) convencem com seu casal complexo. Os coadjuvantes Frank Langella e Lily Rabe também estão bem.

Pena que isso não é suficiente. Entre Segredos e Mentiras não é ruim, mas também está longe de ser bom. Tem coisa melhor por aí.