Esse obscuro objeto do desejo

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Esse obscuro objeto do desejo

Na segunda metade dos anos 80, heu frequentei o Cineclube Estação Botafogo direto. Sim, o nome na época era “cineclube”, não era um circuito de salas como é hoje. A programação era bem parecida com a de um cineclube – vi na tela grande reprises de muitos filmes que já tinham passado em outras épocas.

Esse Obscuro Objeto do Desejo, último filme do surrealista Luis Buñuel, era o meu “filme cabeça” favorito na época. Vi umas quatro ou cinco vezes, tudo no escurinho do cinema!

Fernando Rey interpreta Mathieu, um senhor, rico, já com uma certa idade, e completamente obcecado por uma jovem de 18 anos, Conchita. Interpretada por Carole Bouquet. E tambem por Angela Molina.

Como assim? São duas atrizes diferentes? Ah, devem então interpretar diferentes fases da vida de Conchita, certo? Nada! As duas se alternam nas cenas. Uma cena é a Carole Bouquet, a cena seguinte ja mudou pra Angela Molina, depois volta pra Carole, pra depois Angela de novo…

Inicialmente pensei que cada atriz interpretaria uma diferente faceta da mesma personagem – característica essencial para o jogo de gato e rato que acontece entre os dois protagonistas. Mas aí percebi que lá pro meio do filme isso não tem mais nenhuma lógica…

Sim, amigos, este é Luis Buñuel. Ele mesmo, que em 1929 dirigiu o revolucionário curta Um Cão Andaluz, junto de um tal de Salvador Dali…

Tive a sorte de conseguir ver no cinema alguns filmes do Buñuel. Inclusive o próprio Um Cão Andaluz – existe uma cena famosa de um olho sendo cortado que é impressionante até hoje! E pelo pouco que conheço de Buñuel, este filme é fiel ao seu estilo narrativo.

O filme começa com Mathieu entrando num trem e jogando um balde d’água na cabeça de Conchita quando esta tenta entrar no mesmo trem. Mathieu então começa a contar sua história para os colegas de cabine. Através de flashbacks, conhecemos toda a história da manipuladora Conchita enlouquecendo Mathieu.

Uma coisa curiosa quando se vê o filme hoje, 30 anos depois (o filme é de 77), é notar como a sociedade era machista. A mãe de Conchita, viúva, passa o dia inteiro na igreja, e não quer voltar a trabalhar. E, pior, não quer que sua filha trabalhe! Sociedade esquisita, né? Aí vem o Mathieu, rico, dá dinheiro pra sustentar mãe e filha… Olha, hoje em dia isso ia soar esquisito…

Outra coisa digna de nota é Carole Bouquet, em sua estréia no cinema (ela já tinha trabalhado pra tv). Alguns anos depois ficou mais conhecida pelo grande público ao fazer uma bond girl, em 007 Somente para os seus Olhos. Mas aqui, lindíssima, com apenas 20 anos, é um dos pontos altos do filme.

Filmaço. Não é pra qualquer um, não é pra qualquer hora. Mesmo assim, repito: filmaço!

Categorias: Carole Bouquet, Luis Buñuel, Surrealismo

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