Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Crítica – Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Sinopse (imdb): O famoso arqueólogo e professor Jones regressa com novos desafios, perigos e aventuras, mas desta vez ele tem o sangue de uma nova geração para o ajudar nas suas descobertas e na sua luta contra um novo vilão.

O que mais tem na Hollywood contemporânea são continuações, remakes e reboots. É mais fácil vender uma ideia reciclada do que algo novo. É por isso que, 15 anos depois, temos mais um Indiana Jones – lembrando que a franquia já teve um “filho temporão” com o quarto filme, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, lançado 19 anos depois do terceiro filme.

Não sei por que, mas Steven Spielberg não dirigiu este filme, o que é uma pena. A direção ficou com James Mangold, que tem um currículo bem irregular – ele dirigiu o fraco Wolverine Imortal, e quatro anos depois, o ótimo Logan. Não sei se a culpa foi a troca de diretor, mas, em alguns momentos, Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, no original) infelizmente acabou ficando com cara de genérico (apesar de manter várias coisas icônicas, como o Harrison Ford e a trilha do John Williams).

Já tem anos que não revejo o quarto filme, na época lembro que curti, mas acho que minha avaliação vai diminuir quando o filme for revisitado. Por isso não vou comparar. Mas, mantenho o que já disse antes: os melhores são o primeiro e o terceiro. Este quinto pode brigar no ranking com o quarto e com o segundo, que é incensado pela maioria, mas é de longe o pior da trilogia original.

Vamos ao filme? Logo que começa, tenho um mimimi que talvez seja head canon. Mas, caramba, nos outros quatro filmes do Indy vemos a vinheta da Paramount virar alguma coisa na tela. E aqui nada acontece.

Pelo menos logo depois temos uma excelente (e longa) sequência de ação com o Harrison Ford rejuvenescido digitalmente. Talvez a gente reveja essa cena daqui a alguns anos e ache o cgi mal feito, mas, por agora, podemos afirmar que é um dos melhores já apresentados no cinema. E, independente do cgi, a sequência é muito boa e traz tudo o que um fã de Indiana Jones gostaria de ver.

Agora, o roteiro tem um monte de inconsistências. Ok, entendo que os outros filmes também têm falhas de roteiro aqui e ali, mas não é por isso que vou ignorar o que acontece aqui. Teve uma coisa que me incomodou bastante, que é quando os mocinhos dão uma dica de lugar para o vilão, mas conseguem fugir, e só depois que se afastam mudam de rumo – e o vilão consegue adivinhar o destino só por causa daquela leve mudança de rumo. Ou quando tem umas vinte pessoas atirando no Indy e ele se abaixa para desviar dos tiros, mas logo depois ele se levanta e ninguém mais quer atirar nele. Isso porque não estou falando de furos graves como a ponte dentro da caverna, que arrebentou mas depois aparece intacta.

Sobre o elenco: Harrison Ford é o Indiana Jones. Mesmo velho, ele é a cara do personagem, e continua ótimo no papel. E um dos pontos positivos de Indiana Jones e a Relíquia do Destino é o excelente vilão interpretado por Mads Mikkelsen. Por outro lado, a afilhada do arqueólogo, interpretada por Phoebe Waller-Bridge, é uma personagem arrogante, egoísta e antipática. Acho que muita gente vai reclamar da personagem.

Ainda no elenco. Antonio Banderas tem um papel menor, que fiquei me perguntando pra que chamar um ator deste porte para algo tão pequeno. John Rhys-Davies reaparece rapidamente como Sallah, admito que queria ver mais cenas com ele. Tem outro nome, é o segundo nome na lista do imdb, mas não sei se é spoiler, então não vou falar, mas posso dizer que no fim aparece uma participação especial que vai tocar o coração do fã. Também no elenco, Boyd Holbrook e Toby Jones.

(Cabe uma crítica ao cgi de rejuvenescimento? Harrison Ford é vinte e três anos mais velho que Mads Mikelsen. Quando o filme está em 1969, Ford realmente parece bem mais velho que Mikkelsen. Mas, no trecho inicial, que se passa durante a guerra, os dois aparentam a mesma idade. Ficou mal feito.)

Preciso falar da trilha sonora, mais uma vez nas mãos de John Williams. Por um lado, a trilha é muito boa porque é pontuada com os temas clássicos ao longo de todo o filme, e isso é arrepiante. Mas, por outro lado, não existe nada de novo aqui. A trilha parece uma colagem dos temas que a gente já conhece há quarenta anos.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um pouco longo demais, duas horas e trinta e quatro minutos, chega a cansar (os anteriores estão entre 1h55 e 2h07). Não precisava ser tão longo.

O final do filme é emocionante, vai ter muito nerd velho chorando na parte final. E aparentemente, agora acabou de verdade. Acho difícil Harrison Ford (que fez 80 anos ano passado) voltar ao papel. Existem boatos sobre uma série com a personagem da Phoebe Waller-Bridge, mas acho que isso só será definido pela bilheteria. Aguardemos.

Tetris

Crítica – Tetris

Sinopse (imdb): Baseado na história real do vendedor americano de vídeo games, Henk Rogers (Taron Egerton) e sua descoberta do Tetris, em 1988. Quando ele se propõe a levar o jogo para o mundo e se depara com uma perigosa teia de mentiras e corrupção por trás da Cortina de Ferro.

No meio de um monte de adaptações de vídeo game para o cinema, será que fizeram uma adaptação do Tetris? Não, é um filme que conta a história do licenciamento do jogo numa época quando o mundo não era globalizado.

O jogo Tetris foi criado numa União Soviética perto do fim. Algumas empresas negociavam os direitos de distribuição nas diferentes plataformas (computador, console, fliperama). Dirigido por Jon S Baird, o filme Tetris mostra a história dessas negociações.

Parece pouco para um longa metragem, né? Poizé. Então a trama entrou numa de colocar um maniqueísmo de capitalismo vs comunismo. E na minha humilde opinião, o filme perdeu muito nesse ponto, porque começou a usar clichês que não funcionam mais desde os anos 90.

De pontos positivos, gostei da trilha sonora de Lorne Balfe, que usa variações em cima do tema do jogo. Também gostei de alguns efeitos pontuais usando tecnologia 8 bit.

Sobre o elenco, Taron Egerton está bem. Durante os créditos aparecem imagens do Henk Rogers original, eles não são muito parecidos; por outro lado, Nikita Efremov, que faz o criador do Tetris, é bem parecido com o Alexey Pajitnov original. No resto do elenco, heu só conhecia Toby Jones. Roger Allam, que faz o dono da Mirrorsoft, está com uma caracterização estranha, parece excesso de maquiagem, não ficou bem.

Não diria que Tetris é uma perda de tempo, mas tem coisa melhor por aí.

Império da Luz

Crítica – Império da Luz

Sinopse (filmeB): Uma história poderosa e comovente sobre a conexão humana e a magia do cinema, situada em uma cidade litorânea inglesa no início dos anos 80.

Comentei no texto sobre Amsterdam, às vezes a gente vê filmes em sessões de imprensa que acontecem muito antes da estreia. Nesses casos, fico na dúvida se vale a pena lançar a crítica logo e ser um dos primeiros, ou se é melhor aguardar o lançamento, porque provavelmente vai ter mais gente falando sobre o filme. Vi Império da Luz umas duas semanas atrás, e até agora não ouvi NINGUÉM comentando, não vi nenhum vídeo no youtube, na página do imdb só tem uma crítica. Fui ver no filme B, a previsão de estreia é em 23 de fevereiro de 2023! Claro que não tem ninguém falando sobre o filme!

Enfim, vou falar logo, porque prefiro fazer uma crítica com o filme recente na memória. Não quero esperar meses. Vamos lá?

Império da Luz foi o filme escolhido para abrir o Festival do Rio deste ano. Quem viu na ocasião viu, quem não viu agora só ano que vem. E aproveito pra citar o Festival do Rio, que em outros anos sempre teve um grande espaço aqui no heuvi, mas este ano recusaram a minha credencial, então decidi ignorar o festival. Quem sabe ano que vem?

Minha expectativa por Império da Luz era por ser o novo filme dirigido por Sam Mendes, o primeiro depois do sensacional 1917 – que foi o melhor filme de 2020 aqui no heuvi! Mas, pena, Império da Luz não é tão bom quanto 1917.

Império da Luz fala de vários temas importantes, como racismo, pessoas com desequilíbrio emocional e abuso sexual no trabalho. Mas, senti uma falta de foco, o filme aborda vários temas e não se aprofunda em nenhum. Um bom exemplo é o racismo. O filme tem uma cena forte usando skinheads racistas, mas depois o filme deixa esse plot pra lá.

Por outro lado, é um filme muito bonito. Império da Luz abre com belíssimas imagens de um saguão de cinema nos anos 80. Não li em lugar nenhum isso, mas arriscaria dizer que é uma parte autobiográfica do diretor e roteirista Sam Mendes, que nasceu em 1965 e tinha 15 anos na época em que o filme se passa. Mas a sequência mais bonita é uma onde a personagem principal vê um filme, sozinha no cinema. Ok, vários clichês, como a personagem de frente emocionada com a luz do projetor ao fundo, mas uma cena inegavelmente bela e emocionante. Essa sequência tem cara de clipe pra passar no Oscar…

Sim, Oscar. A decisão de lançar o filme em fevereiro do ano que vem deve ser porque este filme deve ganhar algumas indicações, como melhor filme, melhor diretor, melhor fotografia para Roger Deakins (que já tem dois Oscars, por 1917 e Blade Runner 2049), e melhor atriz para Olivia Colman, que está ótima (ela ganhou por A Favorita e foi indicada por Meu Pai e A Filha Perdida).

Mas, apesar dos pontos positivos, Império da Luz termina com ar de decepção. Bonito, mas vazio.

Infinite

Crítica – Infinite

Sinopse (imdb): Uma ficção científica que examina o conceito de reencarnação por meio de visuais notáveis e personagens bem estabelecidos que precisam usar suas memórias e habilidades aprendidas no passado para garantir que o futuro seja protegido de “infinitos” que buscam acabar com toda a vida no planeta.

(Esse “infinito” da sinopse é como chamam essas pessoas, que são capazes de reencarnar trazendo todas as habilidade das vidas anteriores.)

Infinite traz uma boa ideia inicial, mas falha miseravelmente no seu desenvolvimento. Me parece que quiseram criar um novo Matrix, mas o conceito foi tão mal desenvolvido que não só não convence ninguém, como cansa o espectador no meio do caminho. O filme até lembrou Tenet, que precisa ficar se explicando o tempo todo.

Não sei se isso vai acontecer com outros espectadores, mas esse conceito não me convenceu, de quando uma pessoa morre ela reencarna, mas só depois de um tempo é que descobre os seus “poderes”. Num mundo com 7 bilhões de pessoas, fica difícil de saber onde o cara vai reencarnar e continuar a vida ao lado dos companheiros também infinitos.

E ter o Mark Wahlberg no papel principal atrapalha. Vejam bem, gosto dele, ele é um bom astro de ação, ele tem carisma o suficiente pra segurar um filme desse porte, mas… Ele acabou de fazer 50 anos, este mês, tinha 48 na época das filmagens. Você não pode ter uma história que se baseia em uma pessoa trazer conhecimentos de vidas anteriores, e colocar um “velho” pro papel principal. Faria muito mais sentido se fosse um cara novo.

(Um pequeno parênteses pra explicar: heu tenho 50 anos, nasci no mesmo ano que o Mark Wahlberg. Não me considero velho, ainda acho que tenho muita coisa pra viver. Mas, hoje, se heu descobrisse que tenho várias habilidades de vidas passadas, não sei se mudaria muita coisa na minha vida atual. Agora, se heu descobrisse com 20 anos de idade, aí sim, seria uma nova vida completamente diferente.)

A direção ficou com Antoine Fuqua, que tem alguns bons filmes no currículo, como Dia de Treinamento, O Protetor e a refilmagem de Sete Homens e um Destino. Pelo menos Fuqua manda bem nas cenas de ação. A história é mal desenvolvida, mas pelo menos as cenas de ação são bem filmadas.

No elenco o outro grande nome é Chiwetel Ejiofor (Filhos da Esperança, 12 Anos de Escravidão, Doutor Estranho), que está péssimo aqui. Ele, como líder do grupo inimigo, não convence ninguém dos seus propósitos. Também no elenco, Sophie Cookson, Dylan O’Brien, Jason Mantzoukas, Rupert Friend e Toby Jones.

Claro que o filme termina com um gancho pra continuação, com a vantagem de poder trocar todo o elenco (estamos falando de reencarnação, nenhum ator precisa voltar). Mas, se o primeiro filme foi tão fraco, nem sei se quero ver o que vem depois.

Jurassic World: Reino Ameaçado

Jurassic World Reino AmeaçadoCrítica – Jurassic World: Reino Ameaçado

Sinopse (imdb): Quando o vulcão adormecido da ilha começa a ressoar, Owen e Claire montam uma campanha para resgatar os dinossauros remanescentes deste evento de nível de extinção.

O primeiro Jurassic Park, de 1993, é até hoje um grande filme. Por outro lado, suas continuações de 1997 e 2001 são esquecíveis. Já o reboot de 2015 trouxe um novo sopro de energia à franquia. Será que existe pique pra mais um filme?

Mais ou menos. Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, no original) tem seus momentos, mas o resultado final deixa a desejar.

Admito que gostei da escolha do diretor, J.A. Bayona, que fez O Orfanato, O ImpossívelSete Minutos Depois da Meia Noite. Mas uma produção deste porte normalmente não tem muito espaço pra criatividade na direção…

A parte técnica é impressionante. Se o primeiro Jurassic Park já tinha dinossauros convincentes, hoje, quando o cgi é ainda mais evoluído, a produção não economizou. Mais uma vez, temos vários dinossauros, todos muito bem feitos.

Por outro lado, o roteiro exagera nas forçações de barra. Tipo o Chris Pratt esquecer que ele não está num filme de super heróis e lutar sozinho contra vários homens armados. Ou um dinossauro modificado, que falam que tem olfato apurado, mas você consegue se esconder dele atrás de uma pilastra. Não digo mais pra não entrar em spoilers, mas o filme está cheio de situações assim. Pra piorar, tudo é muito previsível. Isso porque não tô falando de ideias repetidas dos outros filmes – de novo um dinossauro aprimorado geneticamente, de novo a ideia de se usar dinossauros para guerra, de novo uma criança desnecessária no meio da trama.

Sobre o elenco, Chris Pratt e Bryce Dallas Howard voltam aos seus papeis de Owen e Claire. Jeff Goldblum também volta ao papel de Ian Malcom, dos dois primeiros filmes, em uma rápida participação. Pelo lado negativo, temos três bons exemplos de personagens caricatos: a latina empoderada (Daniella Pineda), o nerd medroso (Justice Smith), e o vilão capitalista (Rafe Spall). Muito espaço pras caricaturas, pouco espaço pra bons atores como James Cromwell e Geraldine Chaplin (Toby Jones também é um bom ator, mas é mais um num papel caricato).

Claro que teremos mais uma continuação se este filme tiver retorno. E claro que a gente vai ver. E se não tiverem novas ideias, claro que vão repetir tudo. De novo.

Atômica

AtomicaCrítica – Atômica

Em 1989, uma agente do MI6 é enviada a Berlim para investigar o assassinato de um colega e recuperar uma lista desaparecida de agentes duplos.

Quando vi os dois John Wick, reparei que as sequências de ação eram extremamente bem filmadas. Os diretores do primeiro filme, Chad Stahelski e David Leitch, têm uma vasta carreira como dublês e como coordenadores de dublês. Atômica (Atomic Blonde, no original), o primeiro projeto solo de Leitch, é uma adaptação da HQ “The Coldest City”, escrita por Antony Johnston e ilustrada por Sam Hart (que é inglês, mas vive no Brasil). E, se John Wick já era empolgante, agora temos cenas de ação com a mesma veracidade e violência, mas dentro de um pacote muito mais elaborado. Bom elenco, boa fotografia, boa trilha sonora, cenas de ação de tirar o fôlego… Estamos diante de um dos melhores filmes do ano!

As cenas de “tiro porrada e bomba” são excelentes. Como o diretor manja dos paranauês no que diz respeito a dublês, tomou cuidado com detalhes que normalmente passam despercebidos, como o modo dos personagens portarem suas armas, ou um personagem que leva uma facada nas costas e depois sente a dor desta facada (já repararam que nos filmes os personagens “se esquecem” das dores?).

São várias sequências antológicas. Mas uma delas chama a atenção: um plano sequência de mais de dez minutos, onde personagens entram num prédio: tiro, porrada, porrada, tiro, sangue, mortes, mais tiro, mais porrada, gente rolando escada abaixo, mais tiro, mais porrada, mais sangue, mais mortes, personagens saem do prédio, entram num carro, começa a perseguição, carro batendo, carro capotando… Tudo sem corte!!! Ok, houve cortes. Li no imdb que foram cerca de 40 planos, emendados digitalmente. Mas não tiro o mérito da concepção de uma cena assim. Sr. Leitch, antes você tinha a minha curiosidade; agora você tem a minha atenção. ;-)

A trilha sonora merece um parágrafo à parte. Como o filme se passa em 1989, a trilha só traz clássicos oitentistas. New Order, Depeche Mode, George Michael, David Bowie, Siouxsie and the Banshees, The Clash… Todas bem inseridas no contexto.

Charlize Theron já tinha mostrado que é muito boa em filmes de ação (ela foi o highlight do último Mad Max, e ainda entrou pra franquia Velozes e Furiosos). Mas este é o seu melhor momento no estilo. Ela está linda – como sempre – e sai na porrada de um modo que ninguém vai sentir falta dos velhos “action heroes”. Aliás, já existe a expressão “action heroin”? Se ainda não existe, pode ser inaugurada aqui.

Falei da Charlize Theron, o grande nome aqui. Mas ainda não falei do resto. James McAvoy mostra mais uma vez no mesmo ano (pouco depois de Fragmentado) que é um dos melhores atores da atualidade. Sofia Boutella não está mal, mas heu esperava mais de seu personagem (afinal, não podemos nos esquecer que ela mostrou habilidades em KingsmanStar Trek). O elenco ainda conta com John Goodman, Toby Jones, Eddie Marsan, Bill Skarsgård e Til Schweiger.

Atômica: um filme para ver e rever, e depois comprar o blu-ray.

Muppets 2: Procurados e Amados

0-muppets-2-posterCrítica – Muppets 2: Procurados e Amados

Ueba! Os Muppets estão de volta!

Um empresário propõe aos Muppets uma turnê pela Europa. Mas é uma armadilha: Constantine, o sapo mais perigoso do mundo, toma o lugar de Kermit, que é levado para uma prisão na Sibéria, enquanto a trupe participa – sem saber – de assaltos a bancos.

Uma das coisas mais legais dos filmes dos Muppets é como eles usam a metalinguagem. Sempre brincam com a linguagem da tv e do cinema, e nunca levam uma trama a sério. Aqui, isso fica claro logo na primeira cena, um número musical que diz “estamos fazendo uma sequência, que não deve ficar tão boa quanto o primeiro filme” (ao longo da música, um personagem lembra que na verdade este seria o oitavo filme…). Bem, discordo da música. Muppets 2: Procurados e Amados (Muppets Most Wanted, no original) é, na minha humilde opinião, tão bom quanto o filme de 2011.

Mais uma vez dirigido por James Bobin, Muppets 2 traz tudo o que se espera de um filme dos Muppets. O humor presente aqui, nonsense, ao mesmo tempo bobo e inteligente, tem várias piadas internas e situações absurdas (eles vão de trem dos EUA até Berlim!). E alguns números musicais são ótimos (“I’ll Get You What You Want” é sensacional, tanto a música quanto a cena em si).

Li no imdb algumas pessoas criticando os personagens que brincam com clichês europeus. Discordo, é uma piada. Quem se sentiu ofendido deve ser algum chato politicamente correto.

No elenco principal, temos Caco (aqui chamado de Kermit), Miss Piggy, Fozzie, Gonzo, Animal, Walter e um incontável número de outros Muppets conhecidos. Ah, também temos alguns atores “humanos”. Ricky Gervais me pareceu um pouco forçado; já Ty Burrell, de Modern Family, e Tina Fey, de 30 Rock, estão ótimos, mesmo com papeis mais caricatos.

Ainda sobre o elenco, Muppets 2 tem um número incrível de participações especiais, várias delas aparecendo em apenas uma curta cena: Christoph Waltz, Chloë Grace Moretz, James McAvoy, Tom Hiddleston, Salma Hayek, Lady Gaga, Tony Bennet, Zach Galifianakis, Frank Langella, Toby Jones, Ray Liotta, Danny Trejo, Jemaine Clement, Rob Corddry, Miranda Richardson, Saoirse Ronan, Til Schweiger e Stanley Tucci, entre outros. E Céline Dion faz um dos números musicais – ao lado dos Muppets!

Infelizmente, os Muppets hoje em dia não têm muito espaço na mídia, talvez por serem adultos demais para as crianças, e ao mesmo tempo infantis demais para os pais. Mas, na humilde opinião deste que vos escreve, o humor dos Muppets tem a dose ideal. Pena que poucos pensam o mesmo.

p.s.: “Boa Noite, Danny Trejo” concorre fácil ao prêmio de melhor piada do ano!

Poder Paranormal

Crítica – Poder Paranormal

Novo filme de Rodrigo Cortés, diretor e roteirista de Enterrado Vivo, desta vez à frente de uma produção de maior porte.

A Dra. Margaret Matheson e seu parceiro Tom Buckley são especialistas em desmascarar falsos casos paranormais. Quando Simon Silver, um vidente cego de fama internacional, resolve retornar depois de 30 anos afastado dos holofotes, ele acaba atraindo a atenção da dupla, que quer desmascarar o “poder” do médium.

Enterrado Vivo foi um interessante e criativo exercício de claustrofobia – um filme de uma hora e meia que só tem um único ator, e tudo se passa dentro de um caixão. Um ótimo exemplo de como se fazer um filme com recursos mínimos. Agora, Cortés tinha uma produção convencional em mãos. Bom sinal, né? Pena que nem tudo funciona.

Poder Paranormal (Red Lights, no original) se desenvolve bem, cria uma boa tensão ao longo da projeção, mas parece que no meio do caminho algo se perdeu. O roteiro, também escrito por Cortés, resolve guardar uma grande reviravolta para o fim. O problema é que essa reviravolta não convence ninguém. Mas antes de falar disso, vamos aos avisos de spoiler:

SPOILERS!!!

SPOILERS!!!

SPOILERS!!!

Um monte de coisas soam forçadas depois da revelação final. Mas nada justifica o fato de ninguém pensar em testar a visão de Silver. Como assim o cara não é cego e ninguém pensou em verificar isso em mais de 30 anos?

FIM DOS SPOILERS!

O elenco traz alguns bons nomes. Cillian Murphy e Sigourney Weaver estão bem liderando o elenco. Robert De Niro não está mal, mas está longe do grande ator que foi anos atrás. Ainda no elenco, Elizabeth Olsen, Joely Richardson e Toby Jones.

No fim, fica aquela sensação de boa ideia estragada por um fim preguiçoso. Rodrigo Cortés ainda tem crédito, ainda quero acompanhar sua carreira. Mas precisa tomar cuidado para não virar um novo Shyamalan.

Branca de Neve e o Caçador

Crítica – Branca de Neve e o Caçador

Versão dark da história dos Irmãos Grimm!

Branca de Neve é a única pessoa no reino mais bonita que a Rainha Má. Por inveja, a Rainha manda um caçador encontrá-la na Floxresta Negra e matá-la.

A ideia de mostrar o conto clássico sob uma ótica sombria era muito boa – originalmente, as histórias eram mais pesadas, mas estamos acostumados com a amenizada “visão Disney” dos contos de fada. Mas Branca de Neve e o Caçador, dirigido pelo estreante Rupert Sanders, caiu num sério problema de escolha de elenco. Kristen Stewart como Branca de Neve foi um erro grande. Não tenho nada contra Kristen, até falei bem dela na crítica de Runaways. Ela é até bonitinha – o problema é que nunca, repito, NUNCA ela será mais bonita que a Charlize Theron.

E isso porque estamos falando só de beleza física. Porque, se talento para atuar contar, aí é covardia. Charlize engole Kristen. E isso fica claro ao longo da projeção: Kristen passa o tempo todo inexpressiva, enquanto Charlize rouba cada cena onde aparece. Me vi torcendo por uma improvável vitória da vilã na cena final – a superioridade da rainha má me lembrou O Império Contra Ataca, quando um inexperiente Luke Skywalker ataca sem sucesso um Darth Vader que se defende apenas com uma mão.

Se a gente conseguir desligar este “pequeno” detalhe, Branca de Neve e o Caçador é até legal. O visual do filme é muito bom. Fotografia bem cuidada, belos cenários e figurinos, além de efeitos especiais muito bem feitos – gostei da cena da Floresta Negra “atacando” a Branca de Neve, lembrou o desenho animado.

No elenco, o grande nome é Charlize Theron, que, sozinha, já vale o ingresso. Kristen Stewart está inexpressiva como sempre, e Chris Hemsworth faz um replay do seu Thor. Ainda tem um outro personagem, interpretado pelo desconhecido Sam Claflin, não sei se estava no conto original ou se foi colocado pra criar um triângulo amoroso (tentativa de aproximação com Crepúsculo?). Mas, enfim, não rola química entre Kristen e nenhum dois dois candidatos a mocinho.

Uma coisa interessante foi a concepção dos anões – só não entendi por que oito em vez de sete. Atores de tamanho “normal”, alterados digitalmente, interpretam os oito anões: Ian McShane (Piratas do Caribe 4), Bob Hoskins (Uma Cilada Para Roger Rabbit), Nick Frost (Todo Mundo Quase Morto), Toby Jones (O Espião que Sabia Demais), Ray Winstone (A Invenção de Hugo Cabret), Eddie Marsan (Sherlock Holmes), Johnny Harris e Brian Gleeson. Fiquei imaginando como seria O Senhor dos Aneis com a tecnologia atual. Acho que prefiro o modo como Peter Jackson fez…

Branca de Neve e o Caçador é um pouco mais longo do que deveria. Não chega a cansar, mas poderia ter meia hora a menos sem prejudicar a história.

Agora vou procurar Espelho, Espelho Meu, outro filme da Branca de Neve lançado este ano…

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Se você gostou de Branca de Neve e o Caçador, o Blog do Heu recomenda:
Alice no País das Maravilhas
As Aventuras do Barão Munchausen
Os Três Mosqueteiros

O Espião Que Sabia Demais

(Hoje inauguro uma novidade aqui no blog: um texto escrito po um colunista convidado! Com vocês, Gabriel França!)

Crítica – O Espião Que Sabia Demais

Baseado no livro de espionagem escrito por John Le Carré.

“Você eu não somos tão diferentes assim. Nós fomos treinados para identificar as falhas dos sistemas um do outro. Meu lado é tão sujo quanto o seu”.

São exatamente com estas palavras que George Smiley, interpretado de forma espetacular por Gary Oldman, propõe a maior incursão filosófica de seu personagem. Somos todos sujos, corruptos, traidores, mentirosos, egocêntricos e movidos por nossas paixões. Como também somos as nossas ações e a forma como que entendemos e conhecemos a cada um. No fundo somos aqueles personagens do baile de máscaras, uma das grandes cenas do filme dirigido pelo sueco Tomas Alfredson.

Existem duas formas de compreender O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy): 1) como um poderoso thriller de espionagem sobre a paranóia da Guerra Fria. 2) como um filme que usa tal fundo histórico e geopolítico para discutir as paixões humanas e suas maiores implicações no mundo. Ou unindo as duas concepções.

Tinker, Tailor, Soldier, Spy é uma fita absolutamente inovadora em termos técnicos neste gênero fílmico. Aqui nos é proposto um ritmo lento, gradual e constante. Onde cada parte é imprescindível para o todo. Não temos tiros, montagem frenética ou apostas em violência descabida. Por isso a fita é diferenciada, ousada em diversas cenas, de uma força simbólica que pouco vi nos últimos anos. Há de se comentar, por exemplo, a cena na Hungria entre um informante e Jim Prideaux (Mark Strong) e os olhares trocados por Prideaux e Bill Haydon (Colin Firth) numa certa cena relevante durante a trama.

Temos muito aqui do cinema de Bergman, Hitchcock e alguns breves lapsos de Operação França (The French Connection) ao longo dos 127 minutos. Tudo isso adicionado ao excelente roteiro que retira todas as gorduras do seriado produzido pela BBC nos anos 70 e do próprio livro. No entanto a grande sacada do roteiro e do próprio Tomas Alfredson é fazer um ajuste narrativo na introdução que é absolutamente genial! Desde já Alfredson, indubitavelmente, um dos grandes diretores da nova geração. Já havia mostrado potencial em seu filme de vampiros adolescentes Deixe Ela Entrar. Aqui fez o seu potencial prevalecer em terreno concreto.

Um exemplo da delicada e econômica direção do Alfredson é quando Smiley e seus dois colaboradores Peter Guillam (Benedict Cumberbatch) e Mendel (Roger Lloyd-Pack) estão em um carro e sofrem um “ataque” de uma mosca. Ao contrário de Peter incomodado com a mesma, Smiley simplesmente abre a porta do carro com um simples e leve movimento, com uma tranqüilidade e serenidade ímpares.

Não podemos nos esquecer da brilhante trilha sonora, uma realização de Alberto Iglesias, que já trabalhou com diretores do calibre de um Pedro Almodóvar. A música do desfecho (a francesa La Mer aqui interpretada pelo espanhol Julio Iglesias) é absolutamente contagiante e um grande acerto da produção. Certamente uma das melhores da temporada e bem utilizada em momentos propícios criando fortes contornos dramáticos.

Aliás, voltando ao elenco, o que falar sobre ele? Há anos não via um elenco tão rico em um único filme. Cada personagem, mesmo com poucos minutos em cena, deixa muito bem a sua marca. Mark Strong, Tom Hardy, Ciarán Hinds, Colin Firth, John Hurt, Benedict Cumberbatch, Toby Jones e Simon MCBurney.

Gary Oldman é um show à parte. Uma interpretação esplendorosa, de um dos maiores atores da face da terra. Sinceramente, são extremamente indescritíveis os seus trejeitos aqui, sua fria racionalidade em frente a um homem sutil e frágil com inúmeros conflitos internos.

As indicações ao Oscar de Melhor Ator, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora Original foram absolutamente justas. E poderia ter sido perfeitamente indicado em categorias como Melhor Diretor, Fotografia e Filme. Tudo o que a política academia deseja em filme existe em Tinker, Tailor, Soldier Spy. Os votantes preferiram filmes burocráticos como Cavalo de Guerra (War Horse), Histórias Cruzadas (The Help) e Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close).

Posso afirmar que vejo como absolutamente injustas as críticas em relação ao filme. Que é inconclusivo, confuso, lento… Nada disso possui alguma razão em meu ponto de vista. Pois outra grande sacada do Alfredson, a partir roteiro escrito por Bridget O’Connor e Peter Straughan, é confiar no seu espectador, chamá-lo para o filme e não transformá-lo em algo menor (subestimando nossa inteligência), tampouco se utilizando de artifícios baratos de um episódio de série barata que passa em um canal tosco de TV Fechada.

Infelizmente, no cenário nacional, será mais uma obra-prima que não ganhará um público que merece.

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Gabriel França, 23 anos, graduado em História, professor, pós-graduado pela Universidade de Brasília, tricolor de coração e um cinéfilo maníaco.