Os Novos Mutantes

Crítica – Os Novos Mutantes

(Não, não vou falar da versão d’Os Mutantes sem a Rita Lee)

Sinopse (imdb): Cinco jovens mutantes, apenas descobrindo suas habilidades enquanto mantidos em uma instalação secreta contra sua vontade, lutam para escapar de seus pecados passados ​​e se salvar.

Finalmente estreou Os Novos Mutantes (The New Mutants, no original). E quando falo “finalmente”, não é porque heu estava aguardando ansiosamente, mas porque esse filme foi adiado diversas vezes. Já até tinha virado piada interna no Podcrastinadores, porque já citamos esse lançamento em alguns episódios de “expectativas pro ano que vem”.

Não fui procurar detalhes da produção, mas sei que a mesma passou vários problemas. Claro que isso refletiu no resultado que vemos na tela, infelizmente. Vamos primeiro ao filme, depois a gente fala um pouco sobre os percalços.

O diretor Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) declarou que é o primeiro filme ao mesmo tempo de terror e super heróis. Achei boa a ideia, mas, não, não é a primeira vez. Sem precisar de muito esforço me lembro de Brightburn, que era uma versão terror do Superman.

A proposta era um filme de terror paralelo ao universo dos X-Men (que são citados, mas não mostrados). Gostei da ambientação no hospital / sanatório. Segundo o imdb, a produção se inspirou em Um Estranho no Ninho, Clube dos Cinco e A Hora do Pesadelo 3, a mistura ficou boa. Mas a gente logo vê que é uma produção sem dinheiro – a médica interpretada pela Alice Braga aparentemente trabalha sozinha naquele prédio enorme – ela deve ser médica, segurança, cozinheira, faxineira e responsável por serviços gerais. Será que era tão caro contratar uns dois ou três atores secundários e colocá-los de jaleco branco ao lado dela?

Mas esse não é o pior problema. A protagonista Blu Hunt é uma atriz sem graça interpretando uma personagem sem graça (no imdb, o seu nome é o quinto a ser creditado!). Carisma zero. Se o protagonismo fosse com a Anya Taylor-Joy, talvez o filme fluísse melhor. O poster do filme concorda comigo, a Anya está em destaque, enquanto a Blu está escondida.

E aí a gente vê os problemas da produção. Provavelmente houve mudanças desde o projeto inicial até o resultado nas telas (em um dos pôsteres do filme o cabelo da Maisie Williams está diferente!). E nem todas as mudanças surtiram efeito, e assim coisas ficam soltas no ar. Por exemplo, gostei do “monstro” que assombra a Anya Taylor-Joy, mas ele é pouco explorado pelo roteiro. A ideia inicial era fazer uma trilogia, talvez esse plot fosse desenvolvido. Mas aparentemente não teremos continuação…

O elenco diminuto traz nomes com potencial de criar hype – Anya Taylor-Joy, de A Bruxa e Fragmentado; Maisie Williams, de Game Of Thrones; e Charlie Heaton, de Stranger Things. Mas acho que só Anya se salva. Uma curiosidade pro público brasileiro: o personagem Roberto é brasileiro, e o ator que o interpreta, Henry Zaga, também é – ele solta umas duas frases em português, ia ficar tosco se fosse um gringo. Aliás, não nos esqueçamos de Alice Braga. Produção gringa com dois atores brasileiros, pena que é uma produção que naufragou.

(Já repararam que, aos poucos, Alice Braga constrói uma sólida carreira no cinema fantástico hollywoodiano? Ela também estava em Predadores, Elysium, Eu Sou A Lenda, Repo Men, O Ritual, Ensaio Sobre a Cegueira…)

2020, pandemia, cinemas vazios, Os Novos Mutantes finalmente foi lançado. Não tem como não pensar que foi de propósito. Afinal, “se a bilheteria for ruim, a culpa é da pandemia”.

Operação Zumbi 2

Crítica – Invasão Zumbi 2

Sinopse (imdb): Um vírus zumbi se espalhou nos últimos 4 anos por toda a Coreia do Sul. 4 coreanos em HK navegam através do bloqueio para Incheon por US $ 20 milhões em um caminhão.

Lançado em 2016, o primeiro Invasão Zumbi foi talvez a única obra audiovisual de qualidade nesse saturado subgênero “zumbi” na última década. Isso era o suficiente pra arriscar essa continuação.

Dirigido pelo mesmo Yeon Sang-ho que dirigiu o primeiro, Invasão Zumbi 2 (Train to Busan 2, no original) não chega a ser ruim. Mas é bem inferior ao primeiro. Este segundo “trem pro busão” é apenas mais um filme de zumbis.

Algumas coisas funcionam. Gostei da história ter seguido em frente e da ideia do “vírus zumbi” estar fechado dentro das fronteiras da Coreia do Sul – a geografia do país ajudou nesse “plot”, a Coreia do Sul é uma península que só tem fronteira com a Coreia do Norte, que é um dos países mais fechados do mundo. Assim temos um mundo que seguiu na normalidade enquanto (aparentemente) apenas um país está arruinado pelo seu “apocalipse zumbi particular”.

Mas tem umas coisas toscas demais. Aquelas perseguições de carro são péssimas, tanto pelo lado técnico (o cgi parece um videogame antigo), quanto pela história em si (se está tudo detonado em volta, como as ruas estão tão limpas?). E aquele final parece uma versão barata de Mad Max.

Vale pros fãs. Mas o primeiro é bem melhor.

O Cemitério das Almas Perdidas

Crítica – O Cemitério das Almas Perdidas

Sinopse (Cinefantasy): Corrompido pelo poder do livro negro de Cipriano, um jesuíta e seus seguidores iniciam um reinado de terror no Brasil colonial, até serem amaldiçoados a viver eternamente presos sob os túmulos de um cemitério.

Bora de filme novo do Rodrigo Aragão?

Quem me acompanha aqui no heuvi sabe que sou fã do Rodrigo Aragão, e consegui ver todos os seus filmes nos cinemas, em festivais (Mangue Negro numa mostra de terror nacional no CCBB; A Noite do Chupacabras no RioFan; Mar Negro no Festival do Rio; Fábulas Negras no Grotesc-O-Vision; e Mata Negra no Rio Fantastik). Mas, 2020, pandemia, agora os festivais são diferentes. O Cemitério das Almas Perdidas estava na programação do Cinefantasy. Por um lado, notícia ruim, não vi num cinema. Por outro lado, notícia boa: assinei um serviço de streaming que tinha o Cinefantasy na grade. Consegui ver o filme, mesmo não morando na mesma cidade onde o festival foi sediado!

Vamos ao filme. O Cemitério das Almas Perdidas é o projeto mais ambicioso da carreira de Aragão – e seu maior orçamento até hoje. O filme corre em duas linhas temporais diferentes, e uma delas traz padres jesuítas lutando contra índios no Brasil colonial – e tudo flui muito bem. Se os filmes citados anteriormente têm um pé fortemente fincado no trash, isso não acontece aqui. O Cemitério das Almas Perdidas é um filme sério e tenso.

Não me lembro de nenhum filme fantástico nacional com essa qualidade. A maquiagem sempre foi um dos destaques nos filmes do Rodrigo Aragão, mas aqui, além da maquiagem, também temos destaques nos cenários e figurinos. A direção de arte e a fotografia são excelentes. Se O Cemitério das Almas Perdidas fosse um filme europeu, ou se fosse uma produção da A24 (Hereditário, A Bruxa), seria um filme cultuado e premiado mundo afora.

A ideia era lançar o filme no circuito no segundo semestre deste ano. Mas, com a pandemia, não existem mais lançamentos no cinema. Pena. Que O Cemitério das Almas Perdidas ganhe uma oportunidade nas telas grandes no futuro próximo. O cinema nacional de terror agradeceria!

Becky

Crítica – Becky

Sinopse (imdb): O fim de semana de uma adolescente em uma casa no lago com seu pai piora quando um grupo de condenados causa estragos em suas vidas.

Filme de vingança protagonizado por mulher não é novidade. Mas protagonizado por mulher adolescente, taí, não me lembro de nenhum outro.

Ok, Becky não é exatamente um exemplo de criatividade. O roteiro é previsível e traz os clichês de sempre. Mas a forma como o filme é contado vale o ingresso. Os diretores Jonathan Milott e Cary Murnion mostram boas ideias, como os raccords no início do filme comparando a escola com a prisão. E a violência é crível, apesar de estarmos falando de uma adolescente contra adultos grandes e fortes. Aliás, é bom avisar: Becky é bem violento.

O elenco é um dos chamarizes do filme. A protagonista é Lulu Wilson, que apesar da pouca idade, já tem alguma carreira no cinema fantástico (além da série A Maldição da Residência Hill, ela teve papéis em filmes com subtítulos coincidentemente parecidos, Livrai-nos do Mal, Ouija: Origem do Mal e Annabelle 2: A Criação do Mal). Kevin James, famoso por comédias bobonas ao lado do Adam Sandler, faz um vilão pela primeira vez, e, olha, não é que o cara manda bem? Ainda no elenco, Joel McHale, Robert Maillet e Amanda Brugel.

Becky não é um filme “obrigatório”, mas vai agradar os fãs do estilo.

A Hora da Sua Morte

Crítica – A Hora da Sua Morte

Sinopse (imdb): Quando uma enfermeira faz o download de um aplicativo que afirma prever o momento em que uma pessoa morre, isso indica que ela só tem três dias de vida. Com o relógio correndo e uma figura assombrando-a, ela deve encontrar uma maneira de salvar sua vida antes que o tempo acabe.

Li sobre este A Hora da Sua Morte ano passado, na lista do Festival do Rio. Não consegui ver no festival, mas pra minha sorte ele veio pro circuito.

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Justin Dec (que fez um curta com o mesmo nome três anos antes), A Hora da Sua Morte (Countdown, no original) segue a linha “terror adolescente engraçadinho”. Atores desconhecidos, alguns sustos aqui e acolá, algumas piadinhas. Divertido e despretensioso.

Divertido, mas reconheço que algumas coisas ficaram bem forçadas, tipo o aplicativo ter 60 GB (muitos celulares simplesmente não teriam espaço). As relações entre os personagens também ficou mal construída, e o padre nerd não me convenceu.

Li algumas críticas por aí decretando A Hora da Sua Morte como um dos piores filmes de terror dos últimos anos. Menos, gente. Admito que não é um grande filme. Mas, se visto na vibe certa, é uma boa diversão.

Ah, existe o app. Claro, não funciona. Mas quem quiser brincar, é só baixar.

Maria e João: O Conto das Bruxas

Crítica – Maria e João: O Conto das Bruxas

Sinopse (imdb): Há muito tempo, em um campo distante de conto de fadas, uma jovem garota leva seu irmãozinho a um bosque escuro em busca desesperada de comida e trabalho, apenas para tropeçar em um nexo de um terror aterrorizante.

Visual belíssimo, mas filme chaaato…

Dirigido pelo pouco conhecido Oz Perkins, Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel, no original) traz mais uma adaptação para o clássico conto dos irmãos Grimm. O filme é sério e estiloso – provavelmente tentando pegar carona em A Bruxa. Mas nada acontece, e o filme, que tem menos de uma hora e meia, vira um programa entediante. Um filme bonito e vazio.

No elenco, Alice Krige (o pessoal das antigas vai se lembrar dela em Sonâmbulos) está bem como a bruxa. Sophia Lillis (de It) e Samuel Leakey são as crianças do título.

Prefiro João e Maria Caçadores de Bruxas, que é galhofa assumida, mas pelo menos é divertido.

Os Órfãos

Crítica – Os Órfãos

Sinopse (imdb): Uma jovem governanta é contratada por um homem que se tornou responsável por seu jovem sobrinho e sobrinha após a morte de seus pais. Uma visão moderna da novela de Henry James, “A Volta do Parafuso”.

Olha, heu até queria gostar desse Os Órfãos (The Turning, no original). Fiquei curioso com “A Volta do Parafuso” quando anunciaram que a segunda temporada de A Maldição da Residência Hill vai ser baseada neste livro. E o filme até começa bem, mas…

Os Órfãos é um filme ideal pra exemplificar um novo conceito que quero propor: o “filme de Schrödinger”. Sabem o conceito do gato de Schrödinger, aquele gato numa caixa fechada que pode estar vivo ou morto? Então. se a gente parar o filme quando faltarem 5 minutos pra acabar, a gente não vai saber se termina bem ou não. Acreditem, neste filme, isso ajudaria muito!

O filme dirigido por Floria Sigismondi (The Runaways) até que vai razoavelmente bem. Gosto da atuação da Mackenzie Davis, rolam alguns jump scares legais, e a ambientação da mansão é ótima. Mas, perto do fim, rola um momento onde achei que teríamos um plot twist pra explicar alguns pontos da história, e… nada disso. Parece que os roteiristas saíram pra tomar um café e deixaram alguns rascunhos aleatórios rabiscados pra encerrar o filme.

Sério. Heu estava numa sessão de imprensa, de manhã, vendo o filme cheio de sono porque não tinha dormido direito na véspera. Aí de repente rola aquele final, e achei que heu tinha cochilado e perdido alguma coisa. Acabou o filme, todos os críticos em volta reclamavam! Heu não dormi, quem dormiu foi o roteirista!

Ameaça Profunda

Crítica – Ameaça Profunda

Sinopse (imdb): Uma equipe de pesquisadores oceânicos que trabalham para uma empresa de perfuração em alto mar tenta chegar em segurança após um terremoto misterioso devastar suas instalações de pesquisa e perfuração em águas profundas localizadas na parte inferior da Fossa das Marianas.

Ameaça Profunda (Underwater, no original) quer ser uma mistura de Alien com O Segredo do Abismo. Mas funciona melhor se visto como uma mistura de Tentáculos com Do Fundo do Mar. Sim, Ameaça Profunda só funciona se for encarado como um filme B.

Dirigido pelo pouco conhecido William Eubank, Ameaça Profunda tem um bom ritmo e uma ambientação claustrofóbica eficiente, mas tem personagens rasos, é previsível e cheio de clichês. Ou seja, é um bom filme B.

Li algumas críticas que entram mais em acontecimentos da trama, mas prefiro não citar aqui pra evitar os spoilers. Fui ao cinema sem saber de nada, o que costuma ser sempre a melhor opção. Tomara que o leitor do heuvi consiga a mesma experiência!

Dois comentários sobre o elenco. Kristen Stewart, apesar de odiada por muitos, não faz feio como a “quero ser Sigourney Weaver” da vez. Por outro lado, alguém podia ter avisado ao TJ Miller que não estamos num filme de comédia. Suas piadinhas sempre erravam o timing. Também no elenco, Vincent Cassel, Mamoudou Athie, John Gallagher Jr. e Jessica Henwick.

Vai agradar os menos exigentes.

O Farol

Crítica – O Farol

Sinopse (Festival do Rio): Em uma remota ilha diante da costa da Nova Inglaterra, no final do século XIX, dois faroleiros estão presos e isolados por conta de uma tempestade que parece interminável. Eles embarcam em um conflito crescente de vontades. A tensão aumenta quando forças misteriosas (que podem ser reais ou não) evoluem em torno da dupla.

Gostei muito de A Bruxa, filme de estreia do Robert Eggers. Claro que seu segundo filme estaria no radar. Mas… Me parece que o sucesso subiu à cabeça do diretor, que resolveu fazer um filme hermético e pretensioso.

Se teve público que se sentiu enganado com A Bruxa, que foi ao cinema pra ver filme divertido de sustinho e se deparou com um produto muito mais denso, isto não deve acontecer com este O Farol (The Lighthouse, no original). A fotografia em P&B e o formato da tela quase quadrada (1.19:1, ainda mais quadrado que o 4:3 das antigas TVs de tubo) vão afastar boa parte do público.

Mas isso não me incomodou – a fotografia P&B até tem seus bons momentos. Na minha humilde opinião, o problema de O Farol é a falta de ritmo. O filme é absurdamente chato. Os longos diálogos só pioram. E a trama não chega a lugar algum.

Se tem algo que se salva é a atuação dos dois atores principais. Willem Dafoe é um grande ator, isso a gente já sabia; já Robert Pattinson surpreende e mostra que pode almejar premiações importantes apesar do passado de “vampiro purpurina” de Crepúsculo. Ambos dão show.

Mas, sei lá. Achei muito ruim. Talvez um dia heu reveja e mude de ideia, mas, minha primeira impressão foi péssima.

Doutor Sono

Crítica – Doutor Sono

Sinopse (imdb): Anos após os eventos de “O Iluminado”, Dan Torrance, agora adulto, deve proteger uma jovem com poderes semelhantes de um culto conhecido como O Verdadeiro Nó, que ataca crianças com poderes para permanecer imortais.

Ninguém esperava uma continuação do clássico O Iluminado, mas, olha lá a programação dos cinemas…

Heu não sabia, mas existe um livro escrito pelo mesmo Stephen King onde ele conta a vida do Danny Torrance adulto. Coube ao diretor Mike Flanagan (que fez um excelente trabalho com a série A Maldição da Residência Hill) adaptar este livro.

O terreno era perigoso, afinal a comparação com a obra de Kubrik era inevitável. Felizmente o filme acerta mais do que erra.

Um ponto positivo é não querer fazer uma refilmagem. Temos personagens novos que guiam a trama por um caminho completamente diferente do filme anterior. Também gostei da caracterização dos atores escolhidos para interpretarem os personagens do filme anterior (Henry Thomas, o garotinho do ET, que estava em Residência Hill, funciona bem como o “Jack Nicholson”). E, claro que fãs de O Iluminado vão ver um monte de referências ao filme de 1980. Tem bastante fan service!

Algumas coisas do roteiro ficaram um pouco forçadas. Não vou comentar aqui pra evitar spoilers, mas falei tudo no Podcrastinadores, quem quiser, ouve lá!

O elenco é muito bom. Ewan McGregor funciona muito bem como o Danny adulto, e Rebecca Ferguson está excelente como a vilã. Também no elenco, Kyliegh Curran, Cliff Curtis, Zahn McClarnon e Emily Alyn Lind, além de uma ponta de Jacob Tremblay (O Quarto de Jack).

No fim, saldo positivo. O Iluminado não precisava de continuação, mas até que funcionou.