Slotherhouse

Crítica – Slotherhouse

Sinopse (imdb): Emily Young, uma veterana, quer ser eleita presidente de sua irmandade. Ela adota um lindo bicho-preguiça, achando que ele pode se tornar o novo mascote e ajudá-la a vencer, até que uma série de fatalidades acontece.

Assim que li o nome desse filme, já deu vontade de ver. Achei genial o trocadilho com “slaughterhouse” (matadouro em inglês)!

Sim, é um filme sobre uma preguiça assassina. Claro que não é um filme sério. A duvida é: é bom? Vamulá.

Logo de cara a gente vê que é uma galhofa. A preguiça é um boneco meio tosco, mas que é capaz de fazer coisas como dirigir um carro ou tirar selfies com o celular. Isso, claro, gera algumas boas piadas. Aliás, gostei da opção da preguiça ser um boneco. Muitas vezes optam por cgi, e quase sempre fica ruim. Aqui ficou toscamente engraçado.

Agora, se por um lado acertaram nas piadas com o boneco da preguiça, por outro lado erraram em segurar a mão nas cenas violentas. Temos um filme de terror com uma preguiça assassina e o filme quase não tem gore!

Tem outro problema: heu aceito uma preguiça que sabe usar computador e dirigir carro. Isso faz parte da premissa absurda. Mas não dá pra aceitar que a preguiça saia matando um monte de gente e ninguém resolva ver o que aconteceu. A premissa absurda é relativa à preguiça, mas teoricamente as pessoas vivem numa sociedade normal, haveria alguma investigação policial.

(Nessa parte de forçadas do roteiro, também aceito “roteirices” como as garras da preguiça, que às vezes rasgam facilmente as costas de um, mas em outras ocasiões, mal conseguem arranhar o pescoço de outra. Ruim? Sim, mas é algo comum em filmes assim.)

No elenco, claro, ninguém conhecido – só reconheci um nome, Sydney Craven, que faz a antagonista Brianna, ela estava no terrível Olhos Famintos 4. Claro, as atuações vão de ruim a péssimo – tem uma amiga da protagonista que é tão caricata que passa de qualquer limite aceitável. Mas, dentro da proposta galhofa, as atuações ruins não chegam a atrapalhar.

No fim do filme, claro, uma cena pós créditos com gancho pra continuação. Que espero que tenha mais gore.

Baghead: A Bruxa dos Mortos

Crítica – Baghead: A Bruxa dos Mortos

Sinopse (imdb): Após o falecimento do pai, Iris herda um antigo bar que abriga uma entidade capaz de incorporar os mortos. Tentada a explorar os poderes da criatura e ajudar pessoas desesperadas em troca de dinheiro, Iris mergulha em um terreno perigoso.

Assim como aconteceu com o recente Mergulho Noturno, este Baghead: A Bruxa dos Mortos (Baghead, no original) também era um curta, e o diretor do curta, Alberto Corredor, ganhou a chance de transformá-lo em longa metragem. Até procurei o curta original no youtube, mas não encontrei…

Enfim, Baghead: A Bruxa dos Mortos não é tão ruim quanto Mergulho Noturno, mas infelizmente está longe de ser um bom filme. A ideia era boa, mas o desenvolvimento é ruim, e o filme tem uma das decisões burras mais burras dos últimos tempos.

Sei que boa parte do cinema de terror se baseia em decisões burras dos personagens. Mas a tal decisão burra daqui é difícil de aceitar. A menina não tinha contato com o pai, descobre que ele tem um pub caindo aos pedaços. Aí aparece um cara que quer pagar pra visitar o porão, e fala “dinheiro não é problema”. E ela diz que precisa do dinheiro pra recomeçar a vida. Por que ela não vendeu o pub pro cara? Win win, todos iam sair ganhando!!!

Apesar de ser algo óbvio, essa ideia não surge entre os personagens. Então o filme segue com a dinâmica de sempre. E aí rolou outro problema para mim: a protagonista vê que existe algo sobrenatural e aceita tudo muito rápido. Qualquer pessoa normal se faria um monte de questionamentos ao se deparar com algo sobrenatural “real” daquele jeito, mas para ela parecia apenas mais um dia qualquer.

Ou seja, decisões burras dos personagens, somado a uma protagonista que parece artificial…

Some-se a isso uma entidade / monstro que tinha potencial – é uma bruxa que sai de um buraco na parede para se transformar em um ente próximo falecido! – mas que tem um visual mal construído e não assusta (Em uma única cena, rápida, ela anda no teto. Não que seja novidade, já vimos isso em outros filmes, mas seria algo diferente. Mas não desenvolveram esse “sentido aranha”.)

Ainda rolam algumas tentativas de jump scares baratos. Mas, se tem uma coisa que posso elogiar é o clima da casa / pub. É pouco, mas pelo menos o “espectador de multiplex do fim de semana” pode ter uma hora e meia de distração.

Pena que é pouco. Essa premissa merecia um filme melhor.

Mergulho Noturno

Crítica – Mergulho Noturno

Sinopse (imdb): Um ex-jogador de beisebol se muda com a esposa e os dois filhos para uma nova casa. Ele acredita que a piscina do quintal pode ser uma diversão para as crianças, mas um segredo sombrio do passado da casa vai desencadear uma força malévola.

Hoje vou começar o texto de maneira diferente. Uma vez fui passar um fim de semana com amigos em uma casa na serra onde iríamos filmar um curta. O roteiro dava uns 15 minutos de história, mas, na empolgação, a gente saiu filmando mais um monte de cenas no improviso, e alguém perguntou “será que conseguimos fazer um longa?

Quando reunimos o material pra edição, ficou claro que não dava pra fazer um longa. Jogamos fora várias cenas e fechamos o curta em 15 minutos mesmo.

Por que estou falando isso? Porque um curta com uma boa ideia é algo bem diferente de um longa. O Night Swim original é um curta de 3 minutos e 54 segundos, onde um minuto são os créditos. E alguém achou que seria uma boa ideia chamar Bryce McGuire, o diretor e roteirista do curta, pra transformar sua ideia em um longa. Mas… É uma ideia de apenas 3 minutos, é difícil esticar isso em um longa de uma hora e 38 minutos!

Isso gera o primeiro problema: Mergulho Noturno (Night Swim, no original) é um filme chato, com muita encheção de linguiça onde nada acontece e a trama se arrasta.

Mas calma que ainda pode piorar. Uma ideia para se esticar uma trama é explorar a mitologia. No curta, apenas vemos uma mulher nadando numa piscina e desaparecendo. Num longa, podemos explorar o que aconteceu com essa piscina pra transformá-la em uma piscina assassina. E o filme começa a mostrar uma lenda “temagami”, ou algo parecido, que liga a piscina a poços de desejos. Mas apenas apresenta a ideia, o desenvolvimento dessa lenda foi completamente tosco. Um exemplo simples: conversei com alguns críticos depois da sessão de imprensa, ninguém entendeu se a maldição estava no local ou na água.

Ou seja, a gente tem um filme arrastado, com uma ideia mal desenvolvida. O que sobra? Jump scares óbvios. Sério que tem gente que acha que colocar alguns jump scares vai salvar um filme ruim?

E, pra piorar, os “monstros” que aparecem na piscina são muito toscos. Sou da filosofia usada no primeiro Alien: o que você não vê assusta mais do que o que está na sua frente. Se a gente não visse nenhuma criatura, o filme ia ser mais assustador. Do jeito que está, mais fácil provocar risos que sustos.

Pena, porque o elenco é bom. Os papeis principais são de Wyatt Russell, filho do Kurt Russell e da Goldie Hawn e irmão da Kate Hudson, e que foi o novo Capitão América na série do Falcão e o Soldado Invernal; e Kerry Condon, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Os Banshees de Inisherin, filme ruim mas com boas atuações. Mas, num filme tão fraco, tanto faz se o ator é bom ou não.

É, o cinema de terror em 2024 começou mal. Rubber o Pneu Assassino é melhor do que este filme da piscina assassina.

Suitable Flesh

Crítica – Suitable Flesh

Sinopse (imdb): Uma psiquiatra fica obcecada por um jovem cliente com múltiplas personalidades.

Filme novo baseado em HP Lovecraft!

Antes do filme, um breve parágrafo pra contextualizar. HP Lovecraft é um dos grandes nomes da literatura clássica de terror, mas suas histórias devem ser difíceis de se adaptar. Anos atrás fiz aqui no heuvi um top 10 de adaptações de Lovecraft, e constatei que não deve existir material para um top 20. Provavelmente os filmes mais conhecidos baseados na sua obra são Re-Animator (1985) e From Beyond (1986), ambos dirigidos por Stuart Gordon e estrelados por Jeffrey Combs e Barbara Crampton. Este Suitable Flesh é uma espécie de homenagem ao diretor Gordon, falecido em 2020.

(Gordon ainda dirigiu outros dois filmes menos conhecidos baseados em Lovecraft, Dagon, de 2001, e Sonhos na Casa das Bruxas, telefilme que estava na série Mestres do Terror.)

Dirigido pelo desconhecido Joe Lynch, Suitable Flesh parece um filme B dos anos 80 / 90, com toques eróticos, bem no estilo dos filmes dirigidos por Gordon. O roteiro é de Dennis Paoli, também roteirista das quatro adaptações citadas. Mas, um detalhe curioso: tem ar de filme B, mas não é comédia. A galhofa aqui tem um clima mais sério.

Suitable Flesh é a adaptação do conto “The Thing on the Doorstep”, de 1937. O legal aqui é que existe um demônio ou entidade que fica trocando de corpo, então boa parte do elenco tem momentos onde está vivendo outra personalidade. E na parte do gore, tirando uma cena aqui e outra ali, não tem muitas cenas graficamente fortes.

O elenco é melhor do que o esperado, Suitable Flesh tem três nomes “médios”. Heather Graham estrela o filme e, aos cinquenta e três anos de idade, ainda arrisca uma breve cena de nudez parcial. Barbara Crampton, ela mesma, dos filmes do Stuart Gordon, tem um papel importante e ainda é uma das produtoras (e continua linda aos sessenta e seis anos de idade). E Jonathan Schaech, que estava em vários filmes nos anos 90, mas sempre vou me lembrar dele em The Wonders, faz o marido da Heather Graham. Completa o elenco principal Judah Lewis, de A Babá. Só faltou o Jeffrey Combs, não sei qual foi o motivo pra ele não estar aqui.

Agora, precisa entrar na onda do filme. Porque é um filme divertido, mas ao mesmo tempo é exagerado, e tem um pé no trash. Quem curtia o estilo dos filmes do Gordon vai se divertir. Mas acho que boa parte do público de hoje em dia vai torcer o nariz.

A Maldição do Queen Mary

Crítica – A Maldição do Queen Mary

Sinopse (imdb): Quando Anne, seu marido e o filho Lukas embarcam no icônico Queen Mary, uma série de eventos aterrorizantes entrelaçam a família com o passado sombrio do navio.

Tem tanta coisa errada com esse A Maldição do Queen Mary que nem sei por onde começar. Acho que posso começar dizendo que esta é uma história de um navio real, e que só descobri isso quando fui pesquisar sobre o filme, depois de ter assistido.

A Maldição do Queen Mary conta duas histórias, em duas linhas temporais. Um delas é no passado, sobre uma família, onde um cara surta e sai matando todo mundo. Não sei se existe algum motivo pro cara surtar, me parece que foi algo aleatório, se foi explicado, heu não captei. A outra história se passa nos dias atuais, onde uma mulher quer criar um tour virtual para conhecer o navio, e quando ela visita a embarcação o filho dela some. O problema de ter duas linhas temporais se alternando é que você fica imaginando quando elas vão se conectar – e não, as histórias não se conectam em momento nenhum. Se existe alguma conexão é outra falha da narrativa porque heu também não pesquei isso.

Pra piorar, nenhuma das duas histórias é boa. São histórias chatas, que se arrastam. Comentei aqui outro dia sobre Isolamento Mortal, que coloquei na TV pra ver a cara do filme, e a trama me pegou de maneira que heu não quis pausar o filme. Aqui, rola o efeito oposto…

Nada faz sentido. Por exemplo, tem um número musical de sapateado, que não só não tem nada a ver com o resto do filme, como não agrega nada à história. Ou uma cena onde quebram uma parede e parece que o capitão do navio sente como se estivesse sendo atacado. Ou uma criança deficiente de 8 anos de idade que sai sozinha tirando fotos no navio. Ou uma mãe cujo filho desapareceu, por que ela iria querer passar uma noite no navio? A lista é grande…

Mas, pior do que não fazer sentido, é ser um filme chato e confuso com mais de duas horas. Chegar ao fim de A Maldição do Queen Mary é uma tarefa difícil!

Pra não dizer que achei tudo ruim, gostei da cena cena do cara surtado atacando com o machado. Também gostei da parte final com a personagem andando pelos corredores e a luz alternando pra gente saber que a linha temporal mudou, foi uma boa sacada. Mas, a essa altura, A Maldição do Queen Mary já tinha perdido o espectador.

Desnecessário.

Feriado Sangrento

Crítica – Feriado Sangrento

Sinopse (imdb): Depois que um tumulto em uma liquidação acaba em tragédia, um assassino misterioso fantasiado de peregrino aterroriza a cidade de Plymouth em Massachusetts, cidade berço do feriado americano de Ação de Graças.

Antes de falar sobre o filme, aquele comentário que infelizmente tem sido mais recorrente do que deveria ser. A crítica está atrasada porque Feriado Sangrento não teve sessão de imprensa. Cheguei a entrar em contato com a assessoria, disseram que ia ser exibido na CCXP, ou seja, quem não foi pra CCXP não viu antes da estreia…

Enfim, vamos ao filme. Feriado Sangrento, ou Thanksgiving, no original, na verdade era um trailer fake do projeto Grindhouse. Pra quem não se lembra, em 2007 Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um projeto que emularia sessões de cinemas vagabundos dos anos 70. Tarantino fez À Prova de Morte; Rodriguez, Planeta Terror, e a ideia era exibir uma sessão dupla com alguns trailers de filmes que não existem.

A ideia não deu certo, quase nenhum cinema exibiu a sessão dupla, e os dois filmes acabaram sendo lançados individualmente. Mas os trailers estão por aí, inclusive o trailer de Thanksgiving está no youtube.

(Outros dois trailers fakes também viraram longas metragens, Machete e Hobo With a Shotgun.)

Anos se passaram, e agora Eli Roth, que tinha feito aquele trailer, agora finalmente apresenta o longa!

Algumas das cenas do trailer estão no longa, mas a proposta é um pouco diferente. No trailer tudo tinha cara de anos 70, e Feriado Sangrento não só se passa nos dias de hoje, como lives de redes sociais são parte intrínseca da trama.

Feriado Sangrento não é um grande filme, é apenas um slasher eficiente. Mas, em tempos de lançamentos ruins no circuito como O Jogo da Invocação e A Maldição do Queen Mary, ser “apenas um slasher eficiente” num cenário desses é uma boa notícia. Temos boas mortes, um clima tenso até o fim do filme, e um whodunit que funciona.

Talvez Eli Roth seja mais conhecido por ter sido um dos atores principais de Bastardos Inglórios, mas a gente não pode esquecer que um dos seus primeiros filmes como diretor foi O Albergue. Ou seja, o cara manja dos paranauês de filmar um bom gore. E isso tem aqui em uma quantidade razoável: são algumas mortes bem criativas – apesar de algumas delas estarem no trailer fake.

E preciso falar do whodunit. Assim como Pânico, este é um slasher com whodunit – a gente tem alguns personagens suspeitos, precisamos descobrir qual deles é o assassino e qual foi o motivo. E, admito: não pesquei quem era.

No elenco, pouca gente conhecida. Patrick Dempsey tem um papel importante, mas secundário; Gina Gershon faz quase uma ponta. A final girl da vez é Nell Verlaque, não conhecia, ela funciona pro que o filme pede.

Como falei antes, Feriado Sangrento não é um grande filme, mas é bem feito, divertido, e serve ao seu propósito: um bom slasher que vai agradar o público que for ao cinema.

Agora, dos cinco trailers fakes do Grindhouse, faltam dois. Será que veremos os longas Don’t, do Edgar Wright, ou Werewolf Women of the S.S., do Rob Zombie?

O Malvado: Horror no Natal

Crítica – O Malvado: Horror no Natal

Sinopse (imdb): Em uma pacata cidade montanhosa, Cindy tem seus pais assassinados e seu Natal roubado por uma figura verde sedenta de sangue em um traje de Papai Noel. Mas quando a criatura começa a aterrorizar a cidade, Cindy procura matar o monstro.

E se o Grinch fosse uma história de terror?

Dirigido pelo desconhecido Steven LaMorte, O Malvado: Horror no Natal (The Mean One, no original) tem um pé fortemente fincado no trash. Muita coisa não tem muita lógica – como por exemplo a cidade passar 20 anos sem nenhuma visita de forasteiros com espírito natalino. Mas, no clima certo, o espectador pode se divertir.

A proposta aqui é: num flashback, Cindy, a menina da história original, encontra e abraça o Grinch. Sua mãe, assustada, o ataca, mas acaba tropeçando e morrendo na queda. Cindy fica traumatizada e se muda da cidade. Anos depois ela volta decidida e dar um encerramento para essa história e seguir em frente, mas acaba reencontrando o monstro. E, claro, ninguém na cidade dá ouvidos a ela.

Falei que tem um pé no trash porque todo o clima do filme é na galhofa. Nenhuma aparição do Grinch vai causar medo, e as mortes geram mais gargalhadas do que repulsa. É terror, mas vai gerar mais risadas do que assustar.

O Malvado: Horror no Natal mostra muitas mortes, e a maior parte usa efeitos de maquiagem e props. Mas, em pelo menos três momentos, temos sangue em cgi (duas vezes por causa de tiros, uma vez quando uma pessoa é triturada num moedor de carne). Ficou muito claro que um efeito prático tosco funciona muito melhor que um cgi tosco! Ainda nesse assunto, a maquiagem do Grinch é bem feita.

Pra quem não sabe, o Grinch é um personagem criado pelo Dr. Seuss. Ao longo do filme rolam algumas referências, como um cartaz escrito “Horton” ou um personagem que se chama “Zeus”, mas fala que chamam ele de “Doctor”. Outra coisa legal é ter uma narração em off em rimas, como acontece na história original.

O Malvado: Horror no Natal não é bom. Mas, como falei, pode agradar se você estiver com amigos que entrarem no espírito da galhofa.

Isolamento Mortal / Sick

Crítica – Isolamento Mortal / Sick

Sinopse (imdb): Durante o mês de abril de 2020, no meio da pandemia da COVID, Parker e sua melhor amiga decidem colocar-se em quarentena na casa do lago da família, onde ficarão isoladas do mundo – ou pelo menos é o que elas pensam.

Dois dias atrás falei aqui sobre O Jogo da Invocação, filme bem ruim, mas com distribuição no circuitão. Hoje vou comentar sobre Isolamento Mortal (Sick, no original), filme do ano passado, que não passou nos cinemas e foi mal lançado no streaming.

Isolamento Mortal não é um grande filme. Na verdade, é apenas um slasher simples. Mas, é curto, bem filmado, tem um bom ritmo, e um roteiro com algumas boas sacadas. Ou seja, é aquele feijão com arroz gostoso que vai agradar a qualquer fã de terror.

O diretor John Hyams é desconhecido, mas todo fã de terror vai se lembrar do nome do roteirista Kevin Williamson, o mesmo de Pânico, Prova Final e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Isolamento Mortal traz algumas semelhanças com Pânico, a começar pela cena inicial: uma sequência com um personagem isolado do resto do filme, sequência que a princípio poderia ser extraída do filme, mas que serve para mostrar qual é o modus operandi deste novo vilão slasher.

Não conhecia o diretor John Hyams, não vi nenhum outro filme dele – mas reconheci o sobrenome, ele é filho de Peter Hyams (2010, Timecop, Outland Comando Titanio). Preciso dizer que gostei de como John conduz o filme. Logo na sequência inicial, vemos um plano sequência muito bem construído. Ok, entendo que aquele tipo de plano sequência cheio de emendas, mas de qualquer maneira, heu valorizo mesmo quando é “plano sequência fake”. Outra boa sacada do diretor foi colocar o vilão slasher em várias sequências lá no fundo da tela. O espectador vê, mas os personagens não. Isso ajuda a criar um clima tenso.

Assim como acontece nos filmes da franquia Pânico, aqui também rolam muitas referências, como ter personagens Jason e Pamela, referências a Sexta-Feira 13. E, além de filmes de terror, aqui também tem várias referências à Covid-19. Foi uma boa sacada do roteiro.

Isolamento Mortal foi lançado no ano passado, em 2022, na plataforma Peacock, streaming que não existe aqui no Brasil. Hoje está disponível em alguns streamings por aqui, mas precisa procurar. E dá raiva de saber que você precisa cavar os streamings pra ver Isolamento Mortal, enquanto O Jogo da Invocação está nas salas de cinema…

O Jogo da Invocação

Crítica – O Jogo da Invocação

Sinopse (imdb): Os irmãos Marcus, Billie e Jo são atraídos para um jogo demoníaco em que a única regra é: se você perde, você morre.

É lá vamos nós para mais um terror ruim com espaço no circuito, enquanto a gente sabe que outros bem melhores não têm espaço na grade.

Escrito e dirigido por Eren Celeboglu e Ari Costa, estreantes em longas, O Jogo da Invocação (All Fun and Games, no original) poderia ser mais um slasher besta com roteiro preguiçoso. Já vimos vários, esse seria apenas mais um. Poderia ser um filme fraco normal se não fosse algo que acontece perto do fim e tira vários pontos do resultado final, e faz o filme brigar por uma vaga entre os piores do ano.

E olha que esse filme tem um elenco muito melhor que outros títulos de roteiros igualmente ruins. Os dois nomes principais são bons: Natalia Dyer, badalada por Stranger Things; e Asa Butterfield, de A Invenção de Hugo Cabret e Ender’s Game (dentre vários, o garoto já fez bastante coisa relevante). E ainda tem Annabeth Gish (A Maldição da Residência Hill, Missa da Meia Noite, A Queda da Casa de Usher) num papel menor. Isso porque não falei que conta com os irmãos Russo (Vingadores) na produção!

O filme falha miseravelmente em toda e qualquer possibilidade de tentar assustar, ou pelo menos criar um clima tenso. Tem uma cena onde vemos as fantasminhas cercando os personagens e gritando “read the book!” que é uma cena onde dei uma boa gargalhada. Mas “desconfio” que o objetivo do filme não era ser engraçado…

É terror, né? Basicamente um cara matando os amiguinhos. Tem alguma morte graficamente bem filmada? Não! Parece filme de sessão da tarde!

Mais: o filme tem uma hora e dezessete minutos. Boa duração pra um slasher vagabundo. E mesmo assim, tudo é tão mal conduzido que o filme se arrasta…

Agora, o que mais me deixou com raiva foi uma parte no final onde o filme propõe uma regra e logo depois desrespeita a própria regra. Mas antes de comentar isso, um aviso de spoilers.

SPOILERS!

O garoto fala a maldição, aí o fantasma possui ele. O cara fala a maldição, o fantasma sai do menino e troca de corpo. Ok, é assim que funciona. A menina fala a maldição pra salvar o cara – mas, do nada, ela consegue “recusar” a possessão! Então era só enfiar o dedo no olho do fantasma (!) que tudo bem???

Não achei O Jogo da Invocação tão ruim quanto O Exorcista O Devoto, mas essa cena me deu uma raiva semelhante!

FIM DOS SPOILERS!

A boa notícia é que a história fecha e não precisa de continuação. A má notícia é que tem uma cena extra com o único objetivo de criar uma continuação.

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

Sinopse (imdb): Em uma cidade remota, dois irmãos encontram um homem infectado pelo diabo prestes a dar à luz a própria doença. Eles decidem se livrar do homem, mas só conseguem espalhar o caos.

O mercado cinematográfico é injusto. Tivemos um grande lançamento nos cinemas, O Exorcista: O Devoto, que é um filme bem ruim. Pouco depois a gente teve um outro lançamento, mais discreto, Nefarious, que é um filme ok, mas não é nada demais. E agora a gente tem um terceiro filme que usa o tema “possessão demoníaca”, mais uma vez sob um ponto de vista diferente, When Evil Lurks ou Cuando Acecha la Maldad, muito melhor do que os outros dois, mas sem previsão de chegar às salas de cinema.

Filme argentino, When Evil Lurks é uma produção da Shudder, serviço de streaming focado em títulos de terror. O roteiro e a direção são de Demián Rugna, que uns anos atrás fez Aterrorizados, filme que nem sabia que existia e agora preciso ver.

When Evil Lurks fala de possessão demoníaca, mas de um jeito diferente, a possessão aqui se mistura com uma espécie de contágio. O filme se passa num universo diferente do nosso, onde existem possessões e também existem regras para lidar com isso. O filme é tenso, bem filmado, bem atuado, traz gore na quantidade certa, e tem algumas cenas realmente perturbadoras. Não é perfeito, mas é um dos melhores filmes de terror do ano.

Um pequeno parágrafo para falar de jump scares. A tradução literal seria um “susto que te faz dar um pulo”. Isso acontece muito em filmes de terror, mas normalmente são feitos de um modo meio previsível, você já consegue imaginar como é que aquele susto vai aparecer – ou seja, tem o susto, mas não faz pular o espectador experiente. O jump scare bem feito é aquele que você não consegue prever, e isso acontece aqui algumas vezes. Claro, não vou dizer quando acontecem, mas, tem duas cenas envolvendo animais que realmente me fizeram dar um pulo na poltrona.

Tem uma sequência no meio do filme, quando o cara vai encontrar sua ex-mulher, que é uma sequência muito boa com um jump scare sensacional (talvez o melhor jump scare do ano até agora). Mas é uma sequência que acho que fugiu um pouco a regra proposta pelo filme. Como talvez seja spoiler, vamos aos avisos de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

O filme deixa claro que este é um mundo onde existem possessões, existem até regras que devem ser seguidas quando se encontra um possuído. Mas quando o protagonista vai até a casa da ex, as pessoas (incluindo policiais) não levam a sério essas regras, agem como se fosse um mundo normal.

FIM DOS SPOILERS!

Não sei se curti muito a parte final, mas mesmo assim recomendo When Evil Lurks para qualquer um que goste de um bom filme de terror diferente do óbvio.