Priscilla

Crítica – Priscilla

Sinopse (Festival do Rio): Quando a adolescente Priscilla Beaulieu conhece Elvis Presley em uma festa, o homem que é uma estrela meteórica do rock se torna alguém totalmente inesperado em momentos íntimos: uma paixão vibrante, um aliado na solidão, um melhor amigo vulnerável. Através dos olhos de Priscilla, Sofia Coppola revela outro lado do grande mito americano no longo namoro e casamento turbulento de Elvis e Priscilla. De uma base do exército na Alemanha à propriedade dos sonhos em Graceland, um retrato profundo e encantadoramente detalhado do amor, fantasia e fama.

Em 2022 vimos um filme do Baz Luhrman sobre o Elvis Presley. E agora, um ano depois, temos um filme da Sofia Coppola sobre a Priscilla Presley. Ok, heu entendo que a proposta da Sofia Coppola é completamente diferente da proposta do Baz Luhrman, um filme não quer competir com o outro. Mas Sofia deu azar porque o filme dela é bem insosso, e o filme do Baz está na memória recente. Todos vão se lembrar, e a comparação será inevitável.

Baseado no livro “Elvis e Eu”, escrito pela própria Priscila Presley, Priscilla tem seus méritos: é um filme bonito, a reconstituição de época é muito bem feita, a protagonista está bem. Mas tem um problema básico: é um filme chato. Heu saí da sala de cinema pensando – a Priscila Presley ficou casada com o Elvis durante anos, será que as melhores histórias que ela tinha para contar são essas? Será que não tinham coisas mais legais para ela apresentar? Ok, eu entendo que o principal objetivo do filme não era contar histórias legais, e sim mostrar como ela vivia uma relação abusiva. Priscilla vivia uma vida de rica, mas não tinha liberdade nenhuma – até seu guarda roupa era controlado pelo Elvis. Mas, mesmo assim, fico me perguntando se não tinha um jeito melhor de se contar essa história.

Priscilla segue então essa rotina de mostrar como a Priscilla Presley levava uma vida infeliz ao lado do Elvis. Um filme correto, mas um filme bobo. Chato e bobo.

Priscilla ainda tem outro problema: eles não conseguiram a liberação para usar as músicas do Elvis Presley. Ou seja, é o filme onde o Elvis é um dos personagens principais, mas não pode usar nenhuma música dele.

Teve um detalhe que me impressionou, que não tem a ver com o filme, mas sim com a história. Heu não sabia que quando o Elvis começou a sair com a Priscilla, ele tinha 24 e ela tinha 14 anos. Talvez isso fosse mais comum na época (Jerry Lee Lewis se casou com a prima de 13 anos), mas hoje em dia, 2023, isso soa muito estranho.

No elenco, Cailee Spaeny (Círculo de Fogo) está muito bem no papel título – é uma das poucas coisas elogiáveis no filme. Já o Elvis de Jacob Elordi dividiu opiniões na sessão de imprensa. Ouvi muitas comparações com o Austin Butler (do filme do Baz Luhrman)…

Por fim, uma curiosidade: Sofia Coppola é prima do Nicolas Cage, que foi casado com Lisa Marie Presley, filha da Priscilla. Tudo em família!

Esse ano vi nove filmes no Festival do Rio. Priscilla é o oitavo texto que publico aqui. Heu não pretendo escrever sobre o nono filme, uma comédia sul-coreana chamada Cobweb, que mostra os bastidores de uma filmagem. O filme é divertido, mas heu acredito que ninguém vai ver esse filme. Acho que talvez seja melhor pular esse e voltar para a programação normal, já tenho essa semana filmes do streaming e do cinema para comentar. Então fica aqui o meu pedido de desculpas para quem viu Cobweb, mas não vou comentar aqui.

A Sociedade da Neve

Crítica – A Sociedade da Neve

Sinopse (Festival do Rio): Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.

Ué, acho que já vi esse filme. Não é aquele Vivos, de 1993, com o Ethan Hawke?

Bem, 30 anos se passaram, cabe uma nova versão da mesma história. E a boa notícia é que esta nova versão é melhor que aquela!

Vivos é um bom filme, mas é muito “sessão da tarde”, tudo é muito “limpinho”. Depois da sessão de A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, no original) fui rever uns trechos do filme de 93. Um exemplo simples e sem spoilers: depois de 70 dias isolados da civilização, os personagens ainda estão “bonitinhos”. Além disso, esse aqui ainda tem uma característica importante: é falado em espanhol. Ora, se todos os personagens são uruguaios, eles têm que falar espanhol e não inglês!

Dirigido por J.A. Bayona (O Orfanato, O Impossível), A Sociedade da Neve é mais “pé no chão”. As cenas violentas são mais duras, mais reais – nesse aspecto lembra O Impossível. O acidente de avião aqui é sensacional. Não me lembro de um acidente de avião melhor filmado do que este. (Não é spoiler falar do acidente de avião, né? Afinal, o filme existe por causa do acidente!)

O acidente não é o único momento tenso do filme. Não vou entrar em spoilers, mas alguns outros momentos também geraram desconforto na sala do cinema. Também preciso falar da maquiagem, tanto pela parte dos ferimentos quanto pela falta de higiene, a gente vê aos poucos a degradação daqueles caras isolados na neve.

Outro trunfo de A Sociedade da Neve é a construção dos personagens e as relações entre eles, que precisam encarar dilemas morais e éticos em busca da sobrevivência. Não tem nenhum ator conhecido, mas todos convencem. A gente sente o companheirismo daquele grupo.

Alguns comentários sobre a história real. A primeira coisa que a gente pensa é “por que diabos os caras não tentaram descer a montanha?” Sou carioca, a geografia aqui é mais simples: “desça a montanha, procure um rio, siga o curso do rio até encontrar uma cidade”. Mas, a cordilheira dos Andes não é apenas uma montanha. Lembro que em 1991 fui pra Santiago, no Chile, e lembro que o avião passa precisa de vários minutos pra atravessar a cordilheira.

Mesmo assim, penso que se heu estivesse lá, não esperaria tanto tempo pra tentar sair a pé. A cada dia que passava, eles estavam mais fracos. O ideal seria tentar andar o quanto antes. Lembro que quando heu tinha meus 12 ou 13 anos, meu avô tinha um sítio perto da divisa entre RJ e MG, e tinha um morro perto, e heu sempre tinha curiosidade de saber o que tinha atrás do morro. Um dia peguei uma garrafa de água na geladeira, coloquei numa mochila, e subi o morro – só pra descobrir que depois tinham outros morros iguais. Ok, sei que um morrinho no meio do “mar de morros” não é nada perto da cordilheira dos Andes, mas, penso que, se heu estivesse lá, tentaria sair.

Ontem falei de Pobres Criaturas, que é um filme que ainda vai demorar pra estrear. Como A Sociedade da Neve tem o nome “Netflix” no cartaz, achei que já ia estrear. Mas fui no site da Netflix, só em 4 de janeiro…. Mas, fica a recomendação: vejam quando tiverem oportunidade!

Pobres Criaturas

Crítica – Pobres Criaturas

Sinopse (Festival do Rio): A fantástica evolução de Bella Baxter, uma jovem que é trazida de volta à vida pelo brilhante e pouco ortodoxo cientista Dr. Godwin Baxter. Sob a proteção de Baxter, Bella está ansiosa para aprender. Desejando conhecer mais sobre o mundo, Bella foge com Duncan Wedderburn, um advogado astuto e debochado, para uma aventura por vários continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella se firma em seu propósito de defender a igualdade e a libertação.

Heu lembro de quando eu fui ver O Lagosta no Festival do Rio de 2015. Era um filme maluco com uma ideia maluca – uma sociedade onde se você chega a uma certa idade e não casou, você tem que ser transformado em um bicho. Não faz o menor sentido, mas dentro da lógica do filme funciona redondinho. A partir daí guardei o nome do diretor, Yorgos Lanthimos. E parece que não fui só heu, porque esse filme abriu as portas do cinema internacional pra ele, que então fez O Sacrifício do Cervo Sagrado e A Favorita – que concorreu a dez Oscars, incluindo melhor filme, melhor direção e melhor roteiro, e deu o Oscar de melhor atriz pra Olivia Colman.

E agora chega Pobres Criaturas (Poor Things, no original). Na minha humilde opinião, o seu melhor filme.

Pobres Criaturas não é um filme fácil. Não é fácil na forma, porque ele tem um visual esquisito, tem atuações esquisitas, tem personagens esquisitos, e também tem uma trilha sonora esquisita. Tudo no filme é esquisito! Além disso, não é fácil pela temática, porque a gente vê tabus sexuais sendo abordados de uma maneira nada convencional.

A história aqui é bem esquisita: um médico que é uma espécie de doutor Frankenstein, que faz experiências fora do convencional (por exemplo, ele tem bichos na casa dele que são misturados, como uma galinha com cabeça de porco ou um cachorro com cabeça de pato), faz uma experiência onde ele coloca o cérebro de um bebê na cabeça de uma mulher adulta.

Uma coisa que ajuda tudo a ficar estranho é que o diretor fica alternando a lente que ele usa para filmar. Às vezes ele usa lentes normais, outra vezes, lentes que distorcem a imagem (ele fez isso em A Favorita, com aquela lente “olho de peixe” que deixa as beiradas arredondadas). E ele ainda alterna entre colorido e preto e branco. Deve existir algum significado por trás dessas alterações todas, mas heu não captei.

Alguns cenários do filme tem um que de steampunk – ao mesmo tempo futurista e retrô. As cenas em Lisboa mostram um teleférico bem diferente do que estamos acostumados, e Alexandria tem um cenário impressionante. Também preciso dizer que curti muito a trilha sonora de Jerskin Fendrix – segundo o imdbd, é a sua primeira trilha!

O elenco todo está muito bem. William Dafoe está ótimo como sempre, Mark Ruffalo também está bem. Mas preciso falar da Emma Stone, que provavelmente vai concorrer ao Oscar por causa deste papel (ela já tem um por La La Land). Ela está sensacional, sua personagem tem uma evolução – ela começa agindo como se fosse uma criança e vai evoluindo ao longo do filme. E sim, o filme tem muitas cenas de nudez e muitas cenas de sexo.

O filme ainda aproveita pra levantar questões sobre determinados comportamentos sociais, como sexo, masturbação e a posição da mulher na sociedade. É daquele tipo de filme que fica martelando ideias na cabeça pelos dias posteriores.

Pobres Criaturas é sem dúvida um dos melhores filmes do ano. Pena que não dá pra recomendar pra qualquer um.

A notícia ruim é que, segundo o Filme B, Pobres Criaturas só estreia dia 01 de fevereiro do ano que vem. Vai demorar pra conseguir trocar ideias com alguém, assim como vai demorar pra conseguir rever o filme.

Não Abra!

Critica – Não Abra!

Sinopse (Festival do Rio): Sam, uma adolescente que lida com os conflitos entre sua origem indiana e a vida nos EUA, acidentalmente liberta uma antiga entidade demoníaca de um jarro que jamais deveria ter sido aberto. À medida que o mal se alimenta dos seus piores medos, Sam precisará desvendar segredos ancestrais para tentar salvar sua vida e a de todos ao seu redor.

Heu espero não soar preconceituoso, mas eu diria que Não Abra! (It Lives Inside, no original) não tem o perfil do Festival do Rio. Por que digo isso? Ao longo dos anos, já vi mais de 150 filmes em diferentes edições do Festival. Normalmente os filmes que passam são filmes que têm perfil de serem lançados depois no circuito Estação. E Não Abra! não tem esse perfil, tem mais o perfil de um terror genérico de multiplex.

Afinal, Não Abra! é mais um “terror de bicho-papão”, como bem definiu meu amigo Cesar Monteiro, do Outcast Ambrosia. A diferença aqui é que é um bicho-papão baseado no folclore indiano.

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Bishal Dutta, Não Abra! tem problemas no desenvolvimento desse monstro. Porque, às vezes ele mata, às vezes ele só machuca, às vezes ele sequestra e guarda a vítima – me pareceu que a limitação do poder do monstro é a limitação que o roteiro pede. Meio tosco, né?

Ainda sobre o monstro, durante dois terços do filme ele não aparece direito, vemos sombras, vemos os olhos no escuro, a gente não sabe o que ele é. Legal, é assustador! Mas depois que ele aparece, perde a graça, ele é até meio mal feito. É muito mais assustador enquanto você não sabe o que que é.

(E isso porque vou deixar pra lá outras inconsistências do roteiro, como a professora que está sozinha de noite na escola. Por que não filmaram aquelas cenas num apartamento, pra mostrar que ela tem um lugar pra ir quando a escola fecha?)

Apesar dessas falhas de roteiro, Não Abra! não é de todo ruim – afinal, boa parte dos filmes de terror feitos atualmente têm falhas semelhantes. O uso da cultura indiana foi bem feito, a protagonista Megan Suri funciona para o que o papel pede, e o filme ainda tem alguns jump scares divertidos.

Mas, é aquilo. Uma diversão efêmera, você vai esquecer do filme um mês depois.

Kubi

Crítica – Kubi

Sinopse (Festival do Rio): Com o objetivo de controlar o Japão, o Lorde Nobunaga Oda se envolve em duras batalhas contra os exércitos Mouri, Takeda e Uesugi, encarando ainda as forças dos templos e santuários em Kyoto. Enquanto isso, seu vassalo Araki Murashige incita uma rebelião e desaparece. Nobunaga reúne os outros vassalos e ordena que procurem Murashige em troca de sua herança. Hideyoshi, junto com o irmão Hidenaga e o estrategista militar Kanbei Kuroda, elabora um plano e pretende aproveitar a desordem para tomar o poder.

Filme japonês mostrando samurais brigando entre si atrás de poder. Ok, parecia ser uma boa.

Mas, Kubi tem um problema: são muitos personagens, e muitas traições entre eles. Fica difícil de acompanhar todos os detalhes, a história é muito enrolada. E não fui o único a achar isso, depois fui catar informações e achei um texto de um cara que viu o filme no Festival de Cannes e ele comentou a mesma coisa: são muitos personagens e a história é quase impossível de se acompanhar.

E o que heu faço quando não consigo acompanhar a história quando estou vendo um filme no cinema? Simplesmente relaxo e “deixo o filme me levar”. E, pra minha sorte, tecnicamente falando Kubi é um belo espetáculo visual. Tudo, figurinos, maquiagem, cenários, tudo é bonito e bem cuidado. E são várias batalhas, cheias de detalhes violentos. Sim, tem muita violência gráfica, cheias de detalhes que muitas vezes beiram o gore.

Um breve parágrafo para falar das legendas eletrônicas. Em alguns filmes, colocam um painel debaixo da tela onde passam legendas, acionadas manualmente ao longo do filme. Antigamente isso fazia mais sentido porque eram rolos de filmes, rolos físicos. Para você trazer um filme para cá e legendá-lo, às vezes você tinha que fazer uma cópia – em rolo – de um filme que talvez não fosse exibido depois. Existia um custo para fazer uma cópia, para exibir três, quatro vezes no Festival, e depois nunca mais. (Anos atrás, heu usava isso como norte em Festivais do Rio. Se o filme já tinha cópia legendada, significava que ele ia entrar no circuito. Se eram legendas eletrônicas, ele talvez não entrasse, esse era o filme que heu escolhia.) Hoje em dia, acho que não existe mais o rolo de filme, são só cópias digitais. Não sei se pra cópia digital ainda faz sentido você ter um arquivo com uma pessoa lá botando a legenda na hora, durante a exibição, talvez fosse mais fácil você fazer uma cópia digital já com as legendas.

E por que estou dizendo isso? Porque a cópia de Kubi era com o áudio em japonês e com legendas na tela em inglês, e com legendas em português embaixo da tela. Nossos olhos estão acostumados a irem direto nas legendas, e, em um filme bastante enrolado, ler em inglês e ao mesmo tempo em português, dificultou ainda mais. Será que não era mais fácil procurar uma cópia digital sem legendas em inglês?

A direção é de Takeshi Kitano, veterano, com mais de 4 décadas como ator e diretor. Mas, falha minha, nunca tinha visto nenhum filme dirigido por ele, não tenho como comparar. (Vi alguns filmes dele como ator, mas preciso reconhecer que não me lembro dele: Ghost in the Shell, Battle Royale, Johnny Mnemonic e Furyo Em Nome da Honra.)

Sobre o elenco, heu não conhecia ninguém. Atuações em filmes orientais muitas vezes são exageradas. Aqui, gostei de quase todo o elenco, menos do personagem Nobunaga. Esse está muito mais exagerado do que o normal. Duas curiosidades sobre o elenco: o diretor Takeshi Kitano tem um papel, ele é o samurai Hideyoshi. E um dos personagens é Hattori Hanzo, sim, o mesmo de Kill Bill.

Por causa das legendas eletrônicas, acho difícil Kubi chegar ao circuito…

Doente de Mim Mesma

Crítica – Doente de Mim Mesma

Sinopse (Festival do Rio): Signe e Thomas têm um relacionamento competitivo e pouco saudável, que toma um rumo perigoso quando Signe se sente ofuscada pela ascensão do namorado à fama como artista contemporâneo. Em resposta, ela cria um plano doentio e perverso para recuperar a atenção que acredita merecer dentro da elite cultural e social da Noruega.

Escrito e dirigido por Kristoffer Borgli, Doente de Mim Mesma (Syk Pike, no original) é um estudo de comportamento: mostra uma pessoa narcisista e mitômana. Ela necessita ser o centro das atenções, e mente para conseguir este objetivo.

É interessante ver um filme desses nos dias de hoje e pensar que tem pessoas em volta da gente que são parecidas. Não necessariamente igual a ela, claro, estamos falando de um personagem exagerado, mas pessoas que se comportam desse jeito. Pessoas que são carentes e que querem atenção, e são capazes de mentir para conseguir essa atenção.

O filme vai num crescente em cima do problema da protagonista. E o roteiro ainda tem umas escapadas bem sacadas, mostrando em rápidos flashs possibilidades de como a história poderia rumar para um caminho diferente.

O clima às vezes lembra o sueco Triângulo da Tristeza, não só por ser um filme nórdico, mas principalmente pelo estilo de humor. Doente de Mim Mesma é uma comédia, mas diferente do padrão hollywoodiano. Algumas cenas são engraçadas, mas são baseadas na ironia, não são piadas pro público dar gargalhadas.

Por fim, preciso falar da maquiagem. Boa parte de Doente de Mim Mesma tem uma maquiagem forte e muito bem feita por consequência do comportamento da personagem.

Doente de Mim Mesma ainda não tem previsão de lançamento aqui no Brasil…

O Exorcista: O Devoto

Crítica – O Exorcista: O Devoto

Sinopse (imdb): Sequência do filme de 1973 sobre uma menina de 12 anos que é possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, forçando sua mãe a buscar a ajuda de dois padres para salvá-la.

Esse O Exorcista novo é tão ruim que eu nem sei por onde começar. Acho que eu vou começar pelo nome: “O Exorcista: O Devoto”. No primeiro O Exorcista, de 1973, a figura central era a menina Regan e também os padres exorcistas. Aqui não tem nenhum exorcista entre as figuras centrais do filme. O filme não deveria se chamar “O Exorcista”! O exorcista que aparece tem um papel bem secundário. Seguindo: “o devoto”. Quem seria o devoto? Na boa, se alguém souber quem é esse devoto, escreve aqui embaixo e me explica porque eu saí do filme sem saber quem seria.

O Exorcista de 73 é um clássico do cinema, um raro filme de terror que fura a bolha dos críticos – a gente sabe que a galera do tênis verde não curte terror e é difícil encontrar um filme de terror em listas de melhores filmes. Mas O Exorcista está presente nessas listas. Uma continuação dessas é inexplicável, parece que o filme foi feito por haters.

Acredito que boa parte da culpa é do diretor David Gordon Green, que já tinha estragado outra franquia: Halloween. O primeiro Halloween, de 1978, é outro desses filmes que furam a bolha, está em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. E David Gordon Green resolveu fazer uma nova trilogia com Halloween. Seu primeiro Halloween, de 2018, é até razoável. Mas o segundo é ruim e o terceiro é péssimo. Ele afundou com o nome da saga Halloween. E parece que ele agora quer fazer a mesma coisa com O Exorcista. Pelo menos dessa vez ele foi direto ao assunto, porque ele pretende fazer uma trilogia, e o primeiro já é um lixo. Tomara que flope e desistam!

Heu tenho medo do seu próximo projeto. Qual será o próximo filme de terror que ele vai querer estragar?

(Tenho uma teoria sobre o David Gordon Green. O primeiro filme dele que vi foi Segurando As Pontas, de 2008, e em 2011 vi Sua Alteza?. Duas comédias bestas. De repente o cara não curte terror, e resolveu fazer esses filmes só pra estragar o prazer de quem curte.)

O Exorcista: O Devoto tem outro problema básico. É um filme de exorcismo que tem pouco exorcismo. Metade do filme é com uma investigação policial atrás de adolescentes desaparecidas! Aí, quando começa a possessão, tudo é muito corrido. A parte da maquiagem das meninas possuídas é mal desenvolvida.

No texto sobre o penúltimo Pânico, comentei sobre o conceito de “requel”, que é uma mistura de reboot com sequel. Seria um filme novo reaproveitando uma ideia antiga para começar uma nova franquia a partir dali, com novos personagens e novas histórias, mas num universo já existente, utilizando elementos do filme original para dar chancela ao projeto. Esse O Exorcista novo está dentro desse conceito de requel porque usa a personagem da Ellen Burstyn, que estava no primeiro filme. Sim, a atriz do primeiro filme, a mãe da Regan, volta neste filme. Segundo o imdb, ela inicialmente recusou o convite, mas quando ofereceram o dobro do cachê, ela decidiu aceitar o papel e doar o dinheiro. Ela chegou a comentar “senti como se o diabo estivesse perguntando o meu preço”.

Só que ela foi muito mal aproveitada. Tem uma sequência onde ela aparece que não faz o menor sentido. Ela vai visitar a família da menina que está possuída – uma menina doente, num quarto no andar de cima da casa. Ela vai sozinha para o quarto e fica um tempão sozinha com a menina, e a menina berrando! Caramba, quando que pais de uma menina doente vão deixar um estranho entrar no quarto da filha e deixá-la berrando, e ninguém vai ver o que está acontecendo? Trouxeram a atriz de volta para desperdiçar o personagem.

O filme tem algumas ideias que poderiam ter dado certo, mas foram mal desenvolvidas. Teve uma ideia que heu achei que podia ter funcionado, que foi a “Liga da Justiça da Fé”, onde eles pegam representantes de várias religiões para juntos lutarem contra o demônio. Todos os filmes de exorcismo que conheço usam a religião católica. Então você usar um sincretismo religioso e colocar um padre ao lado de outras pessoas de outras religiões, talvez funcionasse, talvez fosse uma ideia legal. Só que os caras não desenvolvem e desperdiçam essa ideia. E pior, eles avacalham com o padre. A gente tem que lembrar que O Exorcista original é baseado na religião católica. Você não pode pegar esse padre católico e colocar ele de escanteio logo de cara.

Outra ideia que podia ter funcionado, e que também não foi aproveitada. Determinado momento são sete adultos tentando fazer o exorcismo, em volta das duas crianças que estão possuídas. Então o demônio fala para um dos adultos “você tentou ser freira e não conseguiu porque você teve que fazer um aborto”. Ou seja, ele consegue atingir um dos sete adultos com um segredo que esse adulto escondia. Seria legal se o demônio atirasse para todos os lados e descobrisse um podre escondido de cada um, ele assim desestabilizaria todos. Mas não, ele atinge uma pessoa e deixa o resto para lá. Se você levantou ideia, por que não desenvolvê-la?

Heu poderia continuar, mas chega, né? Vou encerrar com uma citação ao imdb, uma frase de William Friedkin, diretor do filme de 73, dita a um crítico pouco antes de seu falecimento: “William Friedkin once said to me, ‘Ed, the guy who made those new Halloween sequels is about to make one to my movie, the Exorcist. That’s right, my signature film is about to be extended by the man who made Pineapple Express. I don’t want to be around when that happens. But if there’s a spirit world, and I can come back, I plan to possess David Gordon Green and make his life a living hell.'” (“William Friedkin uma vez me disse: ‘Ed, o cara que fez aquelas novas sequências de Halloween está prestes a fazer uma para o meu filme, O Exorcista. É isso mesmo, meu filme assinatura está prestes a ser estendido pelo homem que fez Segurando as Pontas. Não quero estar por perto quando isso acontecer. Mas se houver um mundo espiritual e eu puder voltar, pretendo possuir David Gordon Green e tornar sua vida um inferno.'”)

Corta!

Crítica – Corta!

Sinopse (Festival do Rio): Em um prédio abandonado, um filme de zumbi de baixo orçamento está ruindo durante as gravações. O diretor abusivo já anda testando os limites do elenco e da equipe com seu comportamento desagradável, quando revela seu plano especial para injetar energia e emoção no projeto: liberar uma maldição zumbi de verdade. Em um frenético plano sequência em que pedaços de corpos e fluidos voam, os atores lutam contra os mortos-vivos e contra o diretor pela sobrevivência — antes que o filme chegue a uma conclusão chocante.

A sinopse deste Corta! (Coupez!, no original) me chamou a atenção. Mas me lembrei de um trash japonês que vi uns anos atrás, One Cut of the Dead, que trazia uma sinopse bem parecida.

E era isso mesmo. Corta! é refilmagem do japonês.

Mas o original era divertido, já faz uns anos que vi, e este novo ainda trazia o oscarizado Michel Hazanavicius (O Artista) na direção. Ok, vale checar a refilmagem.

A boa notícia é que Corta! é divertidissimo. Ok, igualzinho ao original. Não revi o filme japonês, mas tudo que me lembro também está presente aqui. Mas, quantas vezes a gente vê refilmagens e não reclama? Então bora.

O filme é claramente dividido em três partes. Tem uma primeira parte que é muito boa, tem uma segunda parte que é meio fraca e tem uma terceira parte que é a melhor coisa do filme. E como eu já falei em outras ocasiões, quando o filme termina bem, ele ganha pontos, porque a gente sai do cinema feliz.

A primeira parte é o plano sequência em si. É um trecho de pouco mais de meia hora com um plano sequência mostrando um set de filmagens de um filme de zumbis, sendo atacado por zumbis. Segundo o imdb, é um take dividido em dois, e demoraram cinco semanas ensaiando e quatro dias filmando.

A segunda parte mostra os bastidores do projeto, começando um mês antes. Ok, faz parte, pra gente conhecer um pouco mais dos personagens. Mas por outro lado é uma parte meio longa onde nada de legal acontece. Só serve pra gente entender alguns detalhes do que acontece depois, tipo o cara do som ter problemas intestinais, ou um dos atores com problemas com álcool.

A terceira parte é o backstage da filmagem do plano sequência em si. Durante a execução deste plano sequência acontecem algumas falhas meio toscas, e quando revemos a mesma cena sob outro ângulo, vemos o que aconteceu nos bastidores pra justificar essas falhas. Acompanhamos os erros técnicos na produção, e então entendemos todos as tosqueiras que aconteceram. Essa terceira parte é muito bem bolada e muito divertida.

Agora, é divertido, mas sinceramente não entendo um diretor ganhador do Oscar em um projeto desses: uma refilmagem de um trash. Não entendi a proposta do Michel Hazanavicius. Mas, ok, a gente aceita. de repente o cara só queria se divertir com um projeto leve.

O elenco traz alguns nomes conhecidos, como Romain Duris (Os Três Mosqueteiros) , Bérénice Bejo (O Artista)  e Matilda Lutz (Vingança). Todos funcionam, esse é um formato de filme que não pede grandes atuações.

Ah, tem uma cena pós créditos, uma piadinha. Não me lembro se tinha no original japonês.

Atiraram no Pianista

Critica – Atiraram no Pianista

Sinopse (Festival do Rio): Um jornalista musical de Nova York embarca em uma missão para desvendar a verdade por trás do desaparecimento do jovem pianista prodígio Tenório Jr. Uma história comemorativa sobre a origem do icônico movimento musical da Bossa Nova, Atiraram no Pianista captura um tempo fugaz repleto de liberdade criativa em um ponto de virada da história latino-americana nas décadas de 60 e 70, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.

E vai começar o Festival do Rio 2023! Heu acompanho o Festival do Rio desde sempre, desde antes de chamar Festival do Rio, desde a época que era Mostra Banco Nacional (antes disso era o Festrio, mas esse só peguei uma edição). É uma época que gosto muito porque tem muitos filmes diferentes e heu gosto de ver filmes diferentes. Então é pra gente ficar de olho na programação e escolher alguns filmes no risco – já vi muitos filmes muito legais no Festival que depois nunca mais teria oportunidade de ver; mas também já vi muito filme ruim – faz parte da proposta.

Nos últimos anos, minha relação com o Festival do Rio não foi boa por vários motivos que não interessam no momento, então vi pouca coisa. Mas parece que esse ano vou conseguir ver alguns filmes. Então vamos começar hoje falando de Atiraram no Pianista (They Shot the Piano Player, título internacional), filme de abertura do Festival do Rio, que é uma animação espanhola, dirigida por Fernando Trueba e Javier Mariscal (Chico & Rita), com as vozes principais de Jeff Goldblum e Tony Ramos, e que conta a história de um pianista de bossa nova.

O filme traz um jornalista americano (voz do Jeff Goldblum) que está pesquisando sobre música brasileira, sobre o início da bossa nova e o samba jazz. Ao ouvir um solo de piano, ele resolve procurar quem é o músico, e descobre que o pianista é o Tenório Jr, um cara que sumiu. Ele então vem para o Rio de Janeiro para pesquisar sobre o pianista, e acaba descobrindo que ele foi uma provável vítima da ditadura argentina.

Antes de tudo, é bom avisar que, tecnicamente falando, a qualidade da animação não é lá grandes coisas. O objetivo aqui não é ter uma animação realista. Então quem for ao cinema esperando alguma coisa tipo os Pixar, Disney e Dreamworks da vida, ou quem for ao cinema esperando alguma animação revolucionária, como o Aranhaverso ou Tartarugas Ninja, vai se decepcionar. A animação aqui é bem simples.

Por outro lado, o filme traz depoimentos de vários ícones da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Toquinho, João Gilberto, etc (além de pessoas ligadas ao Tenório Jr) – tem até um depoimento do Vinicius de Moraes, retirado de um documentário. E é curioso porque a voz original da pessoa está lá, mas a pessoa é desenhada, o filme continua sendo desenho animado. Ou seja, é um desenho animado que mistura uma história fictícia com um documentário.

Heu sou músico e heu sou chato, então eu vou fazer uma reclamação, mas que sei que não é nada importante, sei que é uma bobagem. Tem um momento do filme que o jornalista acha uma partitura que seria uma música do Tenório Jr, e ele leva a um pianista cubano pra ele tocar. O problema é que dá pra ver claramente que nessa partitura não tem nenhuma melodia, só tem os acordes. O pianista não conseguiria tocar a melodia composta pelo Tenório Jr, só conseguiria tocar a sequência de acordes que ele escreveu. Mas ok, eu aceito, porque isso não é uma animação realista. Quando você vê o cara tocando piano, não é um piano de verdade, não é que nem Soul, onde você via as teclas e os dedos do cara. Não, Atiraram no Pianista não quer ser realista. Mas, sou chato e preciso falar que aquela folha que ele entregou pro pianista cubano, não, ele não conseguiria ler a melodia com aquilo.

Por outro lado, é um filme gringo, mas que respeita a geografia do Rio de Janeiro. Provavelmente filmaram ou fotografaram as paisagens e desenharam os cenários baseados nesses registros. Por exemplo, o Beco das Garrafas que aparece no filme é exatamente igual ao Beco das Garrafas da vida real. Gosto disso, quando um filme estrangeiro faz a pesquisa da maneira correta.

Além disso, a parte musical é muito bem feita. Reconheço que não sou um grande apreciador de bossa nova e samba jazz, mas reconheço a qualidade das músicas. E a seleção musical é muito boa.

Atiraram no Pianista ainda aproveita para denunciar barbaridades que aconteceram nas ditaduras sul americanas entre nos anos 60 e 70. Temos depoimentos de pessoas que até hoje não tiveram uma conclusão para um familiar desaparecido na época. Curioso um filme estrangeiro vir cutucar essa nossa ferida.

Atiraram no Pianista tem previsão de estrear no circuito no fim do mês.

O Protetor: Capitulo Final

Crítica – O Protetor: Capitulo Final

Sinopse (imdb): Robert McCall se sente em casa no sul da Itália, mas descobre que seus amigos estão sob o controle do crime local. À medida que os eventos se tornam mortais, McCall sabe que deve tornar-se o protetor de seus amigos enfrentando a máfia.

Vamos ao terceiro filme da franquia O Protetor, os três estrelados por Denzel Washington, os três dirigidos por Antoine Fuqua (que aliás já fez outros dois filmes com Denzel, Dia de Treinamento e Sete Homens e um Destino).

O Protetor: Capítulo Final (The Equalizer 3, no original) tem uma característica que é ao mesmo tempo um ponto positivo e um ponto negativo. O ponto negativo é que a fórmula é a mesma usada nos outros dois filmes. O cara chega no lugar e quer tentar ajudar alguém. Ele é um cara muito habilidoso, e quando vai ajudar essa pessoa, acaba cutucando algum vilão ou grupo de vilões. E esse vilão ou grupo de vilões está apoiado por um grupo maior de vilões, mais perigosos ainda, e aí ele tem que enfrentar sozinho o grupo mais perigoso de vilões. Ou seja, a gente já viu essa história antes.

Por outro lado, é que nem quando você vai num restaurante novo e come um prato muito gostoso, e você pensa, “quero voltar a esse restaurante para repetir este prato”. Se por um lado a história é repetida e você já viu isso antes, por outro lado é muito bem feito e muito bem filmado.

Eu não lembro de detalhes dos outros dois filmes. Vi quando lançaram e nunca revi. Relendo meus textos vi que não curti tanto assim, mas é porque o personagem não tinha me convencido. Curioso, agora me convenceu. Provavelmente é porque o Denzel Washington convence a gente, como sempre. Só que precisamos de uma grande suspensão de descrença, afinal, o ator está com quase 70 anos, e enfrenta, sozinho, vários adversários mais novos e mais fortes. Comentei outro dia, na crítica sobre Resistência, sobre a falta de carisma de John David Washington – filho do Denzel. E agora, logo depois, estreia o filme com o pai, e a gente vê a diferença. Mesmo velho, Denzel convence como um ex-agente da CIA extremamente habilidoso.

Não me lembro se os outros filmes têm muitas sequências de ação. Achei que aqui foram poucas. Pelo menos podemos reconhecer que são muito bem filmadas. E a gente entende como é que o personagem Robert McCall age e como é que ele enfrenta os adversários. A sequência inicial já mostra isso, primeiro vemos vários inimigos mortos, pra depois vê-lo em ação contra uns quatro ou cinco. Ah, a trilha sonora alta e agressiva nesses momentos ajuda a criar o clima.

Ah, quase esqueço. Ok, o cara é muito bom, mas, lembrem-se: precisa de suspensão de descrença. Tem uma cena onde a máfia chega e ele se entrega, e que dificilmente ele sairia ileso. Mas, ok, a gente aceita.

Heu não conhecia quase ninguém do elenco – aparentemente são todos italianos, já que o filme se passa na Itália. O único nome conhecido é Dakota Fanning, num papel de agente da CIA. A gente lembra que ela já tinha trabalhado com Denzel em Chamas da Vingança, quando tinha apenas dez anos, em 2004, é bacana vê-los trabalhando juntos de novo. Mas a personagem dela meio que não acrescenta nada. Heu só não digo que é um personagem completamente inútil porque a cena onde eles conversam ao vivo pela primeira vez é uma cena bem divertida – é uma cena onde ele mostra como ele é bom no que faz, além de ser irônico. Agora, se a personagem dela não tem muita importância durante o filme ela, pelo menos tem relevância na trama, no fim do filme explicam a conexão dela com os outros filmes.

Pra quem curte ação bem filmada e com um bom ator, O Protetor: Capitulo Final estreia quinta agora.