Beau Tem Medo

Crítica – Beau Tem Medo

Sinopse (imdb): Após a morte repentina de sua mãe, um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica e Kafkeana de volta para casa.

Escrevo críticas há mais de dez anos. Normalmente, quando acaba uma sessão, já começo a pensar no que vou comentar aqui. Mas, quando acabou Beau Tem Medo, travei. Não tenho ideia do que vou falar.

Beau Tem Medo (Beau is Afraid, no original), é o novo filme escrito e dirigido por Ari Aster, diretor de Hereditário e Midsommar, dois filmes que heu gosto muito – e por isso, estava na minha lista de expectativas para 2023. Terror psicológico, clima tenso, sem jump scares, mas com cenas fortes e extremamente bem filmadas, Ari Aster conquistou meu respeito e minha admiração, claro que quero ver seu(s) novo(s) projeto(s).

Mas, preciso dizer que desta vez não rolou. Não curti Beau Tem Medo. E, diferente dos dois anteriores, não tem nada de terror aqui.

Existem filmes onde tudo é explicado, e existem filmes que deixam lacunas abertas para interpretação do espectador. Um tipo não é melhor nem pior do que o outro, são apenas estilos diferentes. Gosto de Buñuel, gosto de alguns filmes do David Lynch, muitas vezes curto a experiência sem entender o que o filme queria me dizer.

Mas, na minha humilde opinião, o problema de Beau Tem Medo não é ser um filme sem explicações, e sim ser um filme chato. Tem uma parte no meio, onde entra uma animação no meio da peça de teatro, onde quase dormi. Achei chaaaato… Depois olhei no relógio, ainda tinha mais de uma hora de filme!

Pena, porque algumas partes do filme são bem instigantes. Gostei da parte inicial, que mostra a vizinhança maluca onde o Beau mora – camelô vende armas de fogo, tem cadáver apodrecendo no meio da rua, e ao mesmo tempo tem um cara dançando na esquina. Heu veria um filme inteiro nesse cenário!

Sobre a parte técnica, não há o que falar. Aster sabe o que fazer com a câmera, temos algumas boas sacadas, como por exemplo um close no olho onde vemos o que acontece através do reflexo.

No elenco, Joaquin Phoenix mais uma vez manda muito bem, não será surpresa se ganhar outra indicação ao Oscar. Não há destaques no resto do elenco, o filme é só do Joaquin Phoenix. Também no elenco, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Kylie Rogers, Denis Ménochet, Parker Posey, Zoe Lister-Jones, Richard Kind e Stephen McKinley Henderson. Ah, temos os jovens Armen Nahapetian e Julia Antonelli, interpretando versões adolescentes do Joaquin Phoenix e da Parker Posey. Se o garoto Armen é parecido com Joaquin, achei a Julia IGUAL à Parker!

Com intermináveis quase 3 horas de duração (são 2 horas e 59 minutos!), acredito que Beau Tem Medo vai desagradar a maior parte do público. Vou torcer para Ari Aster voltar mais inspirado no seu próximo projeto, lembro que não gostei de O Farol, dirigido por Robert Eggers, mas gostei muito do filme seguinte do diretor, O Homem do Norte. Aguardemos.

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite

Crítica – Midsommar: O Mal Não Espera a Noite

Sinopse (imdb): Um grupo de amigos viaja para a Suécia para visitar o famoso festival de meados de verão da cidade natal. O que começa como um retiro idílico rapidamente se transforma em uma competição cada vez mais violenta e bizarra nas mãos de um culto pagão.

Escrito e dirigido pelo estreante Ari Aster, Hereditário foi uma agradável surpresa. Claro que o seu filme seguinte seria aguardado.

E veio rápido, logo no ano seguinte. Segundo longa escrito e dirigido por Aster, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, no original) tem um estilo parecido com Hereditário. Um terror lento e tenso, onde o desconforto vale mais do que o susto. Não tem nenhum jump scare, apesar de ter algumas cenas bem gore.

Aster vai construindo a tensão em cima dos bizarros hábitos da comunidade nórdica. Bizarros pra gente, mas que parecem ter lógica lá entre eles (aliás, aqui tem uma cena de sexo digna de constar em rankings de cenas mais bizarras). Intencional ou não, o clima lembra O Homem de Palha, de 1973 (que teve uma refilmagem meia boca em 2006), que também traz um forasteiro para uma comunidade isolada que pratica rituais pagãos.

Uma coisa curiosa é que quase todo o filme se passa de dia. Quem está acostumado com filmes de terror escuros pode achar estranho. Mas sim, temos um ensolarado e florido conto negro… Um cgi discreto em detalhes do cenário (como flores abrindo e fechando) ajuda a ambientação.

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite é bem longo (duas horas e vinte e sete minutos), mas não achei cansativo. Mas sei que esse ritmo e essa duração vão afastar parte do público. Principalmente por ser um terror fora do “clichê James Wan”.

No elenco, pouca gente conhecida. Gostei da protagonista Florence Pugh, quero ver mais filmes com ela. Os únicos do elenco que heu reconheci são Jack Reynor e Will Poulter, que inclusive estavam juntos em Detroit em Rebelião. Também no elenco, Vilhelm Blomgren e William Jackson Harper.

Independente de você gostar ou não do filme, é preciso reconhecer o talento de Aster para filmar. Vários planos são pensados nos detalhes, a câmera sempre está bem posicionada e bem movimentada. Quem gosta de cinema bem filmado vai curtir.

Hereditário

HereditarioCrítica – Hereditário

Sinopse (imdb): Depois que a matriarca da família morre, uma família em luto é assombrada por acontecimentos trágicos e perturbadores, e começa a desvendar segredos obscuros.

Alguém aí gosta de terror sério?

Mais uma vez, a produtora A24 (A Bruxa, Ao Cair da Noite) nos traz um filme de “pós terror”: Hereditário (Hereditary, no original).

(Não gosto muito de rótulos, mas estou pensando em adotar este “pós terror”, que acho que surgiu com It Follows e Babadook. Serve para diferenciar o estilo do terror, são filmes lentos, sérios e sem jump scares – bem diferente do “terror montanha russa” do James Wan – que, diga-se de passagem, também sou fã).

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Ari Aster, Hereditário vai por este caminho. Um filme lento e desconfortável, que deixa o espectador angustiado quando acaba a sessão.

Algumas cenas são simplesmente geniais. A cena do acidente é primorosa, capaz de embrulhar o estômago do espectador sem mostrar quase nada. E Aster sabe muito bem explorar as maquetes e miniaturas que a personagem de Toni Collette faz.

Parágrafo à parte para falar da Toni Collette. Que interpretação! Arrisco a dizer que ela ganhará uma indicação ao Oscar por este papel, tem até um “clipe de Oscar” pronto na cena do jantar – lembrando que Kathy Bates levou o Oscar por um filme de terror, Louca Obsessão. Alex Wolff (que estava no novo Jumanji) também está muito bem – a cena do acidente tem um longo close em seu rosto. Também no elenco, Gabriel Byrne e Milly Shapiro.

Assim como aconteceu com A Bruxa dois anos atrás, vai ter gente insatisfeita, reclamando ao fim da sessão. Mas, para quem souber apreciar, temos aqui um dos melhores filmes do ano.