Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Assassino Por Acaso

Crítica – Assassino por Acaso

Sinopse (imdb): Gary Johnson trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.

Richard Linklater tem vários bons filmes baseados em personagens e diálogos bem construídos. Não são filmes com muitas “pirotecnias” técnicas, mas são filmes gostosos e agradáveis de se acompanhar. Assassino por Acaso (Hit Man, no original) é um desses casos.

Assassino por Acaso supostamente se baseia numa pessoa real (que heu nunca tinha ouvido falar), um professor universitário que tinha um segundo emprego numa equipe da polícia que prendia pessoas interessadas em contratar assassinos de aluguel. Ele cria personagens pra se aproximar dos suspeitos, e isso é a melhor coisa do filme.

Glen Powell é o nome a ser citado. Não só ele é co-roteirista e produtor, como tem um papel onde pode mostrar muita versatilidade. O cara é bonito e muito engraçado. Seu personagem cria várias situações muito divertidas. Assassino por Acaso não tem o perfil de “filme de Oscar”, mas heu não acharia exagero se ele aparecesse com alguma indicação (se bem que acho que o filme foi lançado lá fora no ano passado, então já era). Enfim, Glen Powell é o cara: bom ator, bom personagem.

Adria Arjona (Andor), que faz o principal papel feminino, também está bem e mostra uma boa química com Glen Powell. Sim, em algumas partes, Assassino por Acaso parece uma comédia romântica. Não conhecia mais ninguém no elenco, mas vou te falar que sempre que aparecia o personagem Jasper, heu me lembrava do Ethan Hawke, que já trabalhou em sete filmes do diretor Linklater: Boyhood, Newton Boys, Waking Life, Nação Fast Food, e a trilogia “Before” – Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite (isso porque não estou citando Blaze, dirigido por Ethan Hawke e com Linklater no elenco).

Boa parte do conflito apresentado pelos personagens é porque Gary conheceu Maddison quando estava em um dos personagens que criava para o seu trabalho, então ele precisa continuar esse personagem durante a relação. E isso gera algumas cenas muito boas!

Sem entrar em spoilers, mas o fim tem uma moral meio cinzenta. Quando foi chegando naquela conclusão, fiquei na dúvida de como terminaria. Heu gostei da conclusão, mas entendo quem reclame da “moral da história”.

Leve e divertido, Assassino por Acaso vai agradar a maioria dos espectadores. Só não sei quanto tempo vai ficar em cartaz, porque já está no catálogo da Netflix gringa, não sei quanto tempo até chegar aqui.

Bad Boys: Até o Fim

Crítica – Bad Boys: Até o Fim

Sinopse (imdb): Os Bad Boys favoritos do mundo estão de volta, mas desta vez com uma reviravolta: os melhores de Miami são agora os mais procurados.

Vou copiar um parágrafo que escrevi 4 anos atrás, na época do filme anterior: “O primeiro Bad Boys, de 1995, foi um grande sucesso. Foi o primeiro longa metragem dirigido por Michael Bay, que nos anos seguintes se firmaria como um dos maiores nomes do “blockbuster com mais explosões que roteiro”. E foi o primeiro sucesso cinematográfico de Will Smith, que emplacaria outros sucessos nos dois verões seguintes (Indepedence Day em 96 e MIB em 97). Não era nada demais, apenas um filme divertido e cheio de cenas de ação bem filmadas. Mas um filme que soube fazer a fórmula direitinho.” Quando resolveram retomar a franquia, em 2020, com Bad Boys Para Sempre, mantiveram o mesmo estilo. Nada demais, mas um filme divertido e competente.

Agora, Adil e Bilall, a mesma dupla que dirigiu o filme de 2020 está de volta com o quarto filme da saga, Bad Boys: Até o Fim (Bad Boys: Ride or Die, no original). Fui ao cinema com zero expectativa, e posso dizer que curti o que vi.

Assim como os antecessores, Bad Boys: Até o Fim não é um grande filme, não vai entrar em listas de melhores do ano. Mas, vou repetir a máxima do Luis Severiano Ribeiro: “cinema é a maior diversão”. E Bad Boys: Até o Fim é divertidíssimo! São várias cenas de ação muito bem filmadas, e sabe equilibrar o humor. O filme não é comédia, mas tem cenas engraçadíssimas.

Queria falar da dupla de diretores Adil e Bilall. Gostei da câmera deles, o filme inteiro fica com a câmera em movimento e mostrando ângulos fora do óbvio. E tem algumas cenas daquelas tão bem filmadas que dá vontade de rever. Tem uma briga num elevador que achei bem legal, é um elevador panorâmico com paredes de vidro, a câmera fica rodando em volta e não vemos quando passa por uma laje, foi uma cena “inventiva”. Outra sequência criativa é quando estamos vendo através de uma câmera de segurança, e o que vemos na tela fica alternando entre a câmera de segurança e a casa “real”. E na parte final tem um “momento videogame”, um tiroteio com a câmera no ponto de vista do atirador – incluindo armas trocando de mãos!

E, claro, tem o humor. O Marcus ter restrições alimentares traz algumas boas piadas. E a participação do Khaby Lame foi sensacional! Além disso, gostei do roteiro explorar uma fraqueza do Mike.

No elenco, Will Smith e Martin Lawrence têm uma boa química e carregam o filme com tranquilidade. Eles estão muito à vontade, parecem que estão se divertindo – e isso passa uma sensação boa para o público. Também no elenco, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Paola Núñez, Eric Dane, Ioan Gruffudd, Jacob Scipio e Joe Pantoliano.

Como falei no início, Bad Boys: Até o Fim não vai mudar a vida de ninguém. Mas quem for ao cinema não vai sair decepcionado. Cinema é a maior diversão!

Garotas em Fuga

Crítica – Garotas em Fuga

Sinopse (imdb): Em busca de um recomeço, Jamie, que lamenta o término com mais uma namorada, e sua amiga Marian, que precisa aprender a se soltar, embarcam em uma viagem improvisada para Tallahassee, que logo sai dos trilhos.

Sou fã dos irmãos Coen desde sempre. Eles começaram a carreira em 1984, mais ou menos na mesma época que comecei a ir ao cinema, acho que vi todos os filmes da dupla, sempre perto da época do lançamento, desde seu segundo filme, Arizona Nunca Mais, de 1987. (O primeiro, Gosto de Sangue, de 84, vi em VHS).

Uma curiosidade: até o filme O Amor Custa Caro (2003), Joel era creditado como diretor e Ethan como produtor, mas diziam que os dois faziam tudo juntos. A partir do filme seguinte, Matadores de Velhinha (2004) eles passaram a dividir os créditos. Provavelmente alguém deve ter avisado que se eles ganhassem um prêmio de direção, como aconteceria em 2008 por Onde Os Fracos Não Têm Vez, seria apenas um prêmio e não dois. (Em 97, eles foram indicados a 4 Oscars por Fargo: ganharam juntos por roteiro, e foram indicados juntos por edição. Mas Ethan foi indicado sozinho como produtor e Joel, sozinho, como diretor. Foi a única indicação “solitária” de cada um, todas as outras 14 indicações ao Oscar foram compartilhadas).

Aí, depois de quase 4 décadas, sei lá por que, eles pararam de filmar juntos. Catei pelo Google mas não achei qual foi a razão. Joel Coen, sozinho, fez A Tragédia de Macbeth, com Denzel Washington, filme que achei tão chato que nem terminei de ver. Achei que a “instituição Irmãos Coen” havia acabado. Pena.

Mas, ano passado vi o trailer deste Garotas em Fuga (Drive-Away Dolls, no original), que me lembrou o clima amalucado de alguns filmes dos Coen dos anos 80, como Arizona Nunca Mais, ou ainda Crimewave, dirigido por Sam Raimi mas com roteiro dos Coen. Gostei tanto do trailer que Garotas em Fuga entrou na minha lista de expectativas para 2024.

E então? Garotas em Fuga presta?

Bem, não é um grande filme. Na verdade, parece uma cópia meio tosca de filmes dos irmãos Coen. Mas é divertidíssimo!

Garotas em Fuga é um road movie com alguns elementos que eram frequentes em filmes dos irmãos, como personagens secundários bizarros e caricatos, e humor negro misturado com violência. E gostei do filme ter apenas uma hora e vinte e quatro minutos (os créditos começam com uma hora e dezessete!), é um filme bobinho, se fosse muito longo ia ser cansativo.

É um filme de lésbicas, então boa parte das piadas é dentro deste assunto. Mas achei que faltou um cuidado maior na hora de selecionar as piadas – algumas são boas, mas outras soam forçadas, me pareceu que estão lá só pra chocar. Além disso, Garotas em Fuga tem algumas vinhetas psicodélicas meio sem sentido, não entendi o que o Ethan Coen queria dizer com aquilo

No elenco, a dupla principal é interpretada por Margaret Qualley e Geraldine Viswanathan. As duas funcionam bem juntas, é aquela dupla clichê de uma certinha que precisa se dar bem com uma maluquinha. Nos papéis secundários, temos algumas surpresas. Pedro Pascal e Matt Damon têm papéis importantes, mas quase não aparecem. E a Miley Cyrus tem um papel chave, que, se bobear, aparece menos que os dois citados.

No fim, apesar de ser nitidamente um filme “menor”, fiquei feliz de ver um dos irmãos Coen voltando às origens e entregando um filme divertido. Mesmo “menor”, prefiro muito mais este Garotas em Fuga do que aquele Macbeth.

Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Grande Sertão

Crítica – Grande Sertão

Sinopse (imdb): Em uma grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”, onde uma luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra, Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas nunca tem a coragem de revelar sua paixão.

Heu sempre gosto de defender o cinema nacional. Mas às vezes isso é uma tarefa difícil.

Grande Sertão tem seus méritos, mas tem dois problemas bem complicados. O primeiro é que adaptaram o visual da história e trouxeram para os dias de hoje, mas o texto continua fiel ao original de Guimarães Rosa. Ou seja, os diálogos são rebuscados, parecendo um teatro. Pior, um teatro amador. Todos os diálogos são extremamente artificiais. Entendo a opção da produção de querer usar o texto original, mas, pelo menos pra mim, não funcionou.

(Me lembrei do Romeu + Julieta, de 1995, dirigido por Baz Luhrmann e estrelado por Leonardo DiCaprio e Claire Danes. Era um filme com visual contemporâneo mas com os diálogos em inglês shakespeariano. Mas, talvez por inglês não ser a minha língua nativa, não me lembro de ter ficado tão incomodado com aquela versão.)

E esse problema tem um agravante. Além das cenas normais, o filme tem uma narração, feita por Riobaldo, o personagem principal, mais velho (ele está de barba e cabelos grandes, com um visual diferente do resto do filme). Riobaldo faz uma narração que parece um monólogo teatral. Na minha humilde opinião, todas as cenas com a narração do Riobaldo poderiam ser cortadas do filme. Ficou artificial e arrastado, e ainda reforçou o ar de peça de teatro mal adaptada.

O outro problema é na caracterização do personagem Diadorim. Na história original, Diadorim nasceu mulher, mas se porta como homem para fazer parte do bando de Joca Ramiro (spoiler!). O problema é que Diadorim, interpretado por Luisa Arraes, se porta como mulher, se veste como mulher, tem um corte de cabelo feminino, em nenhum momento se parece com um homem. Diadorim parece um personagem da Michelle Rodriguez, ou da Ronda Rousey, ou da Gina Carano, ou da Ruby Rose, mulheres “porradeiras”, mas mesmo assim, mulheres.

Houve uma adaptação feita pela Globo em 1985 onde Bruna Lombardi interpretou Diadorim. Não vi ou não me lembro de ter visto, mas amigos críticos disseram que Bruna conseguiu criar um personagem que enganava. Aqui, Luisa Arraes não engana ninguém!

E assim como o outro problema, este também tem um “segundo degrau”. Sec XXI, 2024, fica estranho uma história que se passa nos dias de hoje com um protagonista assumidamente homofóbico. Se fosse uma história de época, dois jagunços, no meio do sertão, décadas atrás, era mais fácil de aceitar. Mas hoje, numa cidade grande? Ver uma mulher masculinizada trabalhando no meio de homens não espanta mais ninguém. Já que adaptaram o visual, trazendo do sertão pra uma favela, podiam ter adaptado o dilema moral de Diadorim.

Pena, porque tecnicamente falando, Grande Sertão é muito bem feito. A direção é de Guel Arraes, que tem um grande currículo, não só na TV (o cara estava em Armação Ilimitada e TV Pirata, nos anos 80!), como também no cinema (Arraes dirigiu O Auto da Compadecida, de 2000, um dos filmes nacionais mais populares de todos os tempos). Grande Sertão tem algumas cenas muito bem filmadas. Tem duas sequências, não sei se foram planos sequência, mas são planos longos, uma com Diadorim num corredor enfrentando vários policiais em movimentos que parecem um balé, na outra a câmera passeia entre Riobaldo, Diadorim e Zé Bebelo no meio de um grande tiroteio. Algumas das cenas de briga e de tiros também funcionam bem, o cinema nacional costuma ser deficiente nesse aspecto, e Grande Sertão não decepciona. O elenco também é bom: Caio Blat, Luisa Arraes, Rodrigo Lombardi, Luis Miranda, Eduardo Sterblitch, Luellem de Castro.

Pena, a boa parte técnica e o bom elenco não foram o suficiente, pelo menos pra mim. Porque os diálogos rebuscados e as atuações caricatas me tiravam da experiência cinematográfica, e Diadorim não engana ninguém. Grande decepção.

Magnatas do Crime (2024)

Crítica – Magnatas do Crime

Sinopse (imdb): Eddie Horniman herda a grande propriedade de seu pai, um aristocrata inglês, e se torna o novo duque de Halstead, apenas para descobrir que ele está na maior fazenda de ervas da Europa, de propriedade do lendário Mickey Pearson.

Magnatas do Crime é um longa dirigido por Guy Ritchie e lançado em 2019. E agora em 2024 veio uma série homônima, dirigida pelo mesmo Guy Ritchie. Como assim?

O filme mostrava um traficante de maconha que tinha plantações escondidas no subsolo de mansões de famílias aristocratas falidas. A série não repete nenhum personagem do filme, mas traz o mesmo conceito: a família de um duque, sem dinheiro, é sustentada pelo tráfico de maconha.

São quatro diretores diferentes – os dois primeiros episódios são dirigidos por Ritchie, e os seguintes, a cada dois, são dirigidos por Nima Nourizadeh (Gangs of London), Eran Creevy e David Caffrey. A boa notícia é que todos mantém o estilo do Guy Ritchie, com personagens marginais mas charmosos, situações bizarras, edição estilosa com uso de elementos gráficos na tela, e muita violência estilizada misturada com humor negro. Ou seja, mudou de diretor, mas continua tudo com a mesma cara.

(Aliás, Ritchie está num frenético ritmo de trabalho, deve ser por isso que delegou episódios pra outros diretores. De 2019 pra cá, ele dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios dessa série, e já tem filme novo dele lançado lá fora que ainda não chegou no Brasil, The Ministry of Ungentlemanly Warfare. Pensa num cara que trabalha muito!)

Os dois personagens centrais são muito bons. Theo James e Kaya Scodelario estão ótimos, tanto individualmente quanto juntos – detalhe que rola uma boa química mas eles nunca confirmam se são ou se serão um casal (tem uma cena com imagens de um flashback onde todos estavam alcoolizados que dá a entender alguma intimidade, mas parou aí).

Mas, além dos protagonistas, outra coisa que merece destaque são os personagens secundários. Magnatas do Crime tem uma vasta galeria de personagens esquisitões (começando pelo alucinado irmão do protagonista, Freddie). Outra característica dos filmes do Guy Ritchie: personagens secundários exóticos. No elenco, além dos já citados Theo James e Kaya Scodelario, Magnatas do Crime conta com Giancarlo Esposito, Vinnie Jones, Joely Richardson e Ray Winstone

Respondendo à pergunta óbvia: filme ou série? Na minha humilde opinião, o filme é melhor. Reconheço que na série dá pra desenvolver melhor algumas situações e personagens, mas sempre prefiro um produto final mais enxuto.

São oito episódios que variam entre 41 e 67 minutos. Existe um gancho pra uma segunda temporada. Que mantenham a qualidade!

Furiosa: Uma Saga Mad Max

Crítica – Furiosa: Uma Saga Mad Max

Sinopse (imdb): Após ser sequestrada do Vale Verde de Muitas Mães, enquanto os tiranos Dementos e Immortan Joe lutam por poder e controle, a jovem Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar e trilhar o caminho de volta para casa.

Bora pro quinto filme da saga Mad Max, desta vez sem o Max!

Antes, uma pequena recapitulação. Tivemos três Mad Max, todos dirigidos por George Miller e estrelados por Mel Gibson. O primeiro, de 1979, é bom; o segundo, de 1981, é muito bom; o terceiro, de 1985, é muito ruim. Trinta anos se passaram e Miller fez um novo filme, Mad Max Estrada da Fúria, com Tom Hardy no lugar de Mel Gibson. Este quarto filme tinha uma personagem secundária, Furiosa, que era melhor que o protagonista Max. E acho que não fui o único a pensar assim, porque agora temos um prequel contando a história da Furiosa.

Mais uma vez dirigido por George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, no original) começa com a Furiosa ainda criança morando no Vale Verde, até que é sequestrada por um novo vilão, Dementos.

(Sabe quando a gente vê nomes como “lord Sifo Dyas” ou “conde Dooku” e acha que tem algum brasileiro de sacanagem na Lucas Film? Poizé, os nomes aqui fazem a gente pensar algo parecido. Furiosa, Dementos, Scrotus, Erectus…)

Assim como fez nove anos atrás em Estrada da Fúria, mais uma vez George Miller entrega um espetáculo visual impressionante. O cara acabou de completar 80 anos de idade, dois meses atrás, e dirige um filme com muitas cenas de tirar o fôlego. São diversas cenas de perseguições de carros, todas muito bem filmadas, a câmera sempre bem posicionada. Não sei o que foi efeito pratico e o que foi cgi, mas digo que, pelo menos pra mim, os efeitos funcionaram muito bem.

George Miller é tão detalhista que uma das cenas de ação, que dura 15 minutos na tela, demorou 78 dias para ser filmada, envolvendo perto de 200 profissionais diariamente, com Miller apresentando storyboards sobre cada detalhe a ser filmado!

A fotografia é um espetáculo. Quase todo o filme se passa no deserto, e temos inúmeras cenas belíssimas, daquelas que dá pra tirar um frame e fazer um quadro. A cenografia e os figurinos também enchem os olhos. Mad Max sempre teve personagens exóticos e veículos exóticos. Aqui continua com a tradição – inclusive alguns dos veículos dá até pena de aparecerem tão pouco, como uma “Kombi com carreta” que só aparece por poucos segundos. E vemos cenários com riqueza de detalhes, tanto na Citadel quanto nos outros dois locais que não lembro se aparecem no filme de nove anos atrás, a Bullet Farm e o Gas Town (além de vermos algo do Verde Vale). Também gostei da trilha sonora que usa o didgeridoo, instrumento aborígene.

Uma coisa curiosa sobre o elenco. O filme é da Furiosa, a atriz principal é a Anya Taylor-Joy, mas ela só aparece em cena com 61 minutos de filme. A primeira hora de filme mostra Furiosa criança, interpretada por Alyla Browne, ótima atriz mirim que heu não conhecia (apesar de ver no imdb que ela estava em Era uma vez um Gênio, último filme dirigido por George Miller antes de Furiosa). Alyla Browne manda bem, Anya Taylor-Joy idem. Detalhe: Anya quase não fala no filme, segundo o imdb são apenas 30 linhas de diálogo.

O novo vilão é interpretado por Chris Hemsworth, com uma maquiagem que deixou ele mais parecido com o Charlie Hunnam do que com ele próprio. Conversei com alguns amigos que não gostaram dele, mas heu discordo, gostei de ter um vilão fanfarrão e caricato. Só achei que alguns elementos de cenografia deveriam ser pensados, porque é impossível não lembrar do Thor quando vemos Chris Hemsworth com uma capa, ao lado de um cara com chifres.

Cabe um mimimi? Charlize Theron tinha 40 anos quando Estrada da Fúria foi lançado; Anya Taylor-Joy tem 28 agora, no lançamento de Furiosa. Ok, é uma Furiosa mais nova, coerente ter uma atriz mais nova. Mas… O fim do filme conecta diretamente ao outro filme. É que nem Rogue One, que termina momentos antes de começar Guerra nas Estrelas. Furiosa termina momentos antes de começar Mad Max Estrada da Fúria. Precisava de uns anos pra personagem envelhecer…

Alguns dos atores do filme de nove anos atrás reaparecem aqui, então tem espaço pra outro mimimi. O filme se passa antes, os personagens estão mais novos. Nathan Jones, que faz Rictus Erectus, não parece mais novo… Mais uma curiosidade sobre o elenco: Angus Sampson, que está nos dois filmes como “Organic Mechanic”, tem um papel recorrente na franquia Sobrenatural.

São duas horas e vinte e oito minutos de filme, mas achei um ritmo ótimo, não cansou. Se tenho uma única crítica é que no finzinho tem uma cena entre a Furiosa e o Dementos que se estende demais. É um diálogo que achei desnecessário. Na minha humilde opinião, se tirasse aquele longo diálogo, seria melhor.

Claro, temos referências ao filme de 2015. Max aparece rapidinho,numa cena que se você piscar, perde – mas dá pra ver claramente que é ele. E durante os créditos vemos cenas do filme anterior.

Furiosa: Uma Saga Mad Max estreia esta semana nos cinemas, e é daqueles filmes que vale ser visto no cinema, com uma tela grande e um som alto.

Meu Sangue Ferve Por Você

Crítica – Meu Sangue Ferve Por Você

Sinopse (imdb): Em 1979, Magal, um dos artistas mais populares do Brasil, conhece a deslumbrante Magali e se apaixona. Para conquistá-la, ele precisará vencer a resistência do empresário, além da desconfiança da família, dos amigos e da própria amada.

Antes de tudo, preciso falar que não curto as músicas do Sidney Magal. Nada contra, mas não é o meu estilo. Só conheço duas, uma delas conheço porque toco numa banda de karaokê; a outra só conheço o refrão. Mas, nada contra ver um filme sobre o cara.

Dirigido por Paulo Machline, Meu Sangue Ferve Por Você tem duas coisas que o tiram do lugar comum. Uma delas é um formato que é um musical, mas ao mesmo tempo não é um musical. Explico: não é um musical clássico daqueles que o roteiro usa diálogos cantados. Mas por outro lado, o filme tem vários números musicais com coreografias, usando as músicas do Sidney Magal. Ou seja, tem elementos de um musical, mas não é exatamente um.

A outra coisa é que não é uma “biografia do Sidney Magal”. Antes de começar o filme, aparece na tela que esta e uma “fabula magalesca”. Ou seja, o filme não tem nenhuma obrigação de ser fiel à realidade. Sabe quando vemos uma cinebiografia e ficamos na dúvida se aquilo realmente aconteceu? Bem, aqui, aquilo não necessariamente aconteceu, o filme já avisa logo de cara.

Digo mais: o filme não fala sobre a carreira do Sidney Magal, e sim sobre o relacionamento do casal Magal e Magali (que segundo o texto pós filme, realmente se conheceram em 1979, se casaram e estão juntos até hoje). Não sabemos como foi o início da carreira de Magal, e qual foi sua trajetória até o sucesso. O filme só mostra o recorte de como o casal se conheceu e ficou junto.

No elenco, Filipe Bragança manda bem como Sidney Magal. Li na wikipedia que ele é mais conhecido por ter feito Chiquititas, mas me lembro dele em Dom. Giovana Cordeiro faz a Magali (que, se bobear, tem mais tempo de tela que o próprio Magal). Também no elenco, Caco Ciocler, Emanuelle Araújo e Sidney Santiago.

Por fim, tem uma cena no meio dos créditos, onde a Emanuelle Araújo, que interpreta a mãe da Magali, canta “Meu Sangue Ferve por Você” em versão piano e voz. Ok, mas… Pra que essa cena? Ela não se conecta com nada no filme! O que ficou parecendo é que, como Emanuelle é cantora, quiseram colocá-la pra cantar uma música, mas não combinava com a personagem, então improvisaram algo pros créditos. Não ficou ruim, mas ficou esquisito.

Back to Black

Crítica – Back to Black

Sinopse (imdb): O filme narra a vida e a música de Amy Winehouse, através da jornada da adolescência até a idade adulta e a criação de um dos álbuns mais vendidos do nosso tempo.

Nunca fui fã da Amy Winehouse. Vozeirão, mas não sou fã do estilo dela. Tanto que só conhecia três músicas, e uma delas (Valerie) conheci através de uma versão violão e voz, só depois soube que era Amy.

Opa, devo ser o público certo pra esse filme. Vou conhecer a carreira da Amy Winehouse!

Mais ou menos. Dirigido por Sam Taylor-Johnson (50 Tons de Cinza), Back to Black (idem, no original) parece mais uma história sobre o relacionamento tóxico de um casal do que uma cinebiografia musical. O foco principal é o relacionamento, a música está em segundo plano.

Back to Black mostra pouco da carreira da Amy. São cenas isoladas, tipo uma gravação aqui, um show ali, no meio de muitas cenas do casal. Vemos mais tatuagens do que bastidores de composições, ensaios e gravações.

Quem não conhece a história dela (meu caso) vai ficar meio perdido. Tipo ela está fazendo um show num pubzinho pra umas 50 pessoas, logo depois está num estádio cantando pra milhares. O filme não se importa em situar fases da cantora. Por outro lado, conhecemos bem o relacionamento do casal…

Claro, um filme sobre Amy Winehouse não pode ignorar o álcool e as drogas. Aparecem no filme. Mas, me deu a impressão de que suavizaram um pouco. Afinal, alguém que morreu aos 27 anos em consequência de excesso de álcool e drogas, deve ter tido um consumo maior do que vemos no filme…

Tem um outro problema que heu não sabia, mas um amigo crítico me contou. O pai de Amy, Mitch, não era um cara bonzinho como o filme mostra. Dizem que ele sempre explorou a filha, e chegou a montar uma turnê mundial explorando a morte da filha. Quem só conhece pelo filme acha que ele é um pai super legal.

Gostei da interpretação da Marisa Abela. Ok, não sou um grande conhecedor de Amy Winehouse, mas, pra mim, ficou parecida. E, segundo os créditos, é ela que canta as músicas. Mais uma vez, não sou um grande conhecedor, pra mim a voz ficou igual.

Também queria elogiar a edição musical. Música diegética e não diegética se misturam em vários momentos do filme, ela começa cantando e a música passa para a gravação, e essas transições acontecem organicamente. Diria que isso, ao lado da interpretação da Marisa Abela, é o melhor de Back to Black.

Gostei da cena que mostra a música título, Black to Black. Heu tenho um problema particular em prestar atenção em letras de música, normalmente presto mais atenção na harmonia e no instrumental e acabo me distraindo na letra. Aqui, com as legendas, deu pra ver que a música conta uma história. Essa cena ficou boa, pena que o filme usou pouco esse recurso.

Entre erros e acertos, acho que Back to Black talvez agrade aos fãs da Amy Winehouse. Mas para os “não fãs” era melhor um filme mais bem construído.