Amigos Imaginários

Crítica – Amigos Imaginários

Sinopse (imdb): Uma garota descobre que consegue ver os amigos imaginários de todas as pessoas, mesmo aqueles esquecidos por crianças que já cresceram. Com esse novo superpoder, ela embarca em uma aventura para reconectá-los.

Ah, o head canon… De vez em quando aqui comento que o head canon atrapalha o julgamento de alguns críticos. Head canon é quando a gente imagina alguma coisa antes de ver o filme, e quando vemos algo diferente, rola uma decepção. Não pelo que o filme entregou, e sim pelo que você queria que o filme entregasse.

E, em Amigos Imaginários, reconheço que caí no head canon. Vi o trailer, e pensei que ia ser um filme com “humor Ryan Reynolds”, humor escrachado nível Deadpool. Mas… Amigos Imaginários é um filme infantil. Tem piadas, mas são poucas, e quase todas bem comportadas. E tem muito drama!

Ou seja, não gostei de Amigos Imaginários. Mas, é culpa do filme ou culpa minha? 😉

Vamos ao filme. Amigos Imaginários foi escrito e dirigido por John Krasinski, que é mais conhecido como ator, ele tinha um papel importante em The Office, e depois foi o Jack Ryan. Mas, ele também chamou a atenção quando foi pra cadeira de diretor e dirigiu o bom Um Lugar Silencioso (assim como sua continuação). Agora Krasinski direcionou seu novo filme pra outra faixa etária, e declarou que queria fazer um “live action da Pixar”.

Uma menina descobre que consegue ver amigos imaginários, que foram abandonados quando seus “donos” cresceram. Junto com o Ryan Reynolds, ela resolve procurar novos “donos” para eles. Claro, o Ryan Reynolds é irônico e faz piadas, mas ele pega bem mais leve do que o que heu achei que seria. Além disso, o filme pesa no drama em algumas cenas.

Amigos Imaginários tem algumas boas piadas (não muitas) e pelo menos uma cena belíssima envolvendo balé. Gostei dos efeitos especiais que criam os amigos imaginários, principalmente o Blue, um dos principais – porque quase todos parecem personagens em cgi, iguais ao que a gente está acostumado a ver nos filmes, mas o Blue tem uma textura que às vezes parece ser um bonecão interagindo com os atores. Também curti o local onde eles “moram”.

Por outro lado, o plot twist é muito previsível. Chega a ter um diálogo entre dois personagens indicando o que deveria ser uma surpresa. Talvez o filme consiga enganar uma criança distraída, mas mesmo uma criança atenta vai pescar. Krasinski, veja mais filmes do Shyamalan!

A sessão de imprensa foi dublada. Ok, a dublagem brasileira não é ruim, mas… Em primeiro lugar, achei fraca a dubladora da menina – justamente a personagem principal. Mas, pior que isso é a gente ver o elenco original de vozes e ver que os amigos imaginários são dublados por Steve Carell, Phoebe Waller-Bridge, Emily Blunt, George Clooney, Bradley Cooper, Matt Damon, Bill Hader, Louis Gossett Jr, Richard Jenkins, Keegan-Michael Key, Blake Lively e Awkwafina, entre outros. Perdi todo esse elenco…

Por fim: a melhor piada do filme está nos créditos. Não, não é uma cena pós créditos, são os créditos do elenco. Prestem atenção no nome do Brad Pitt!

Mad God

Crítica – Mad God

Sinopse (imdb): Um campanário de mergulho corroído desce no meio de uma cidade em ruínas e o Assassino emerge dela para explorar um labirinto de paisagens estranhas habitadas por habitantes monstruosos.

Quando soube que Phil Tippett tinha dirigido um longa metragem em animação stop motion, corri pra ver. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Tippett é um técnico de efeitos especiais que tem um currículo invejável. Ele trabalhou no stop motion de filmes como Guerra nas Estrelas, O Império Contra Ataca e Howard O Super Herói, é o criador do robô Ed 209, de Robocop, e chegou a ganhar o Oscar pelos efeitos de Jurassic Park. Gosto de stop motion, gosto do trabalho do cara, claro que quero ver o filme.

Tippett demorou mais de 30 anos pra terminar o filme – nos créditos diz que ele filmou entre 1987 e 2020, ele juntava alunos que queriam experiência pra trabalhar aos sábados. Só pra citar um exemplo que está no imdb: a montanha de soldados mortos foi feita derretendo milhares de soldados de brinquedo, e seis pessoas levaram três anos para completar a cena.

(Ainda segundo o imdb, ele começou a trabalhar no projeto no fim dos anos 80, mas chegou a desistir depois de Jurassic Park, em 1993, porque achou que o CGI ia substituir o stop motion. Mas ele voltou atrás, fez uma campanha no Kickstarter e retomou o projeto.)

Heu queria gostar de Mad God. Realmente queria. Mas…

O visual é impressionante! Muitas cenas enchem os olhos! Mas, o filme vai rolando, e nada acontece! Quer dizer, muita coisa acontece, mas tudo deve ter algum significado simbólico que não fica explícito. Ou seja, é daqueles filmes pra se ver com “manual de instruções” ao lado, pra explicar cada uma daquelas loucuras que vemos em tela. E o fato de não ter diálogos não ajuda em nada.

Como não consegui entender nada, com meia hora de filme, me cansei. E como Mad God tem uma hora e vinte e três, virou uma experiência torturante chegar ao fim.

(Ainda tem um problema, pelo menos pra mim. Mad God é de 2021, mas só vi agora, depois de ter visto o Pinóquio do Del Toro, lançado um ano depois, mas com um alcance muito maior. E Pinóquio é muito melhor em todos os sentidos, porque além de ter um visual ainda mais embasbacante, traz uma história linda!)

Pena, porque o trabalho é belíssimo. Vemos um personagem (que não entendi muito bem o que é) descendo a um submundo onde vemos monstros bizarros em cenários bizarros, mas tudo muito bem feito. Ainda tem muita violência (muitos bonecos morrem!) e muito gore (incluindo algumas cenas nojentas com fluidos corporais). E quase tudo é em stop motion, tirando algumas poucas sequências com atores humanos no meio do filme (o ator principal é Alex Cox, diretor dos cultuados Repo Man (84) e Sid & Nancy (86)).

Mas o resultado, infelizmente, ficou muito chato. Reconheço o trabalho de Tippett, mas é difícil aguentar Mad God até o fim. Do jeito que ficou, o filme mais parece um catálogo de efeitos especiais. Talvez fosse melhor relançar com uma narração ao fundo situando o espectador.

Bebê Rena

Crítica – Bebê Rena

Sinopse (imdb): Segue o distorcido relacionamento do roteirista e ator Richard Gadd com sua stalker, e o impacto que isso causa quando ele é forçado a enfrentar um trauma profundo e muito sombrio.

Tem tido tanto filme novo que tenho evitado séries. Mas tinha tanta gente falando de Bebê Rena que resolvi ver qual é. (No caso de Bebê Rena ainda tinha outro problema; nome e pôster completamente sem apelo. Rebel Moon, que é um filme ruim, tem nome e pôster atrativos, aqui era o oposto.)

Mas, estranhamente, Bebê Rena é muito bom. Digo estranhamente porque o seu protagonista é um looser com zero carisma. E mesmo assim, acabava o episódio e heu tinha vontade de continuar acompanhando a vida desse cara.

Conhecemos Donny, um cara que é stalkeado por uma mulher que conheceu no pub onde trabalha. E, inacreditavelmente, ele quase não toma atitudes contra ela. Seguimos essa história por três episódios, até que no quarto conhecemos um grande trauma do passado de Donny, o que nos mostra uma razão pra ele querer ser stalkeado.

Bebê Rena tem uma característica curiosa: é baseado numa história real, vivida pelo ator e roteirista Richard Gadd. Ele alterou nomes e criou um monólogo teatral contando sua história, até que virou uma mini série da Netflix. Ou seja, o próprio ator viveu aquela história (ou pelo menos é a versão dele). E Richard Gadd mostra ser um bom ator, no final da série tem um longo monólogo onde ele desabafa tudo no palco, aquela cena deve render a ele alguma indicação a prêmio de melhor ator.

O roteiro também é muito bem estruturado. Bebê Rena é uma série curta, são 7 episódios de pouco mais de meia hora cada. Cada episódio flui bem, e, importante pra uma série, cada episódio te deixa com vontade de ver logo o seguinte.

No fim, não sei se posso dizer que fiquei com pena de Donny. Ok, entendo que ele passou por problemas complicados, mas, na minha humilde opinião, vendo de fora, entendo que parte da culpa também é dele, que deveria ter tomado atitudes mais enérgicas em ambos os casos apresentados na série (e digo o mesmo sobre o seu relacionamento com a Teri). Mas, apoiando o personagem ou não, pelo menos reconheço que a série cumpre seu propósito: envolve e faz o espectador pensar.

Planeta dos Macacos: O Reinado

Crítica – Planeta dos Macacos: O Reinado

Sinopse (imdb): Muitos anos após o reinado de César, um jovem macaco embarca em uma jornada que o levará a questionar tudo o que lhe foi ensinado sobre o passado e a fazer escolhas que definirão o futuro de macacos e humanos.

E vamos para mais uma franquia que aparentemente não sabe a hora de parar. Bem, a boa notícia é que é uma franquia que consegue manter alguma qualidade.

Tivemos cinco filmes “clássicos”, entre 1968 e 1973. E teve a tentativa fracassada do Tim Burton em 2001. Em 2013, 14 e 17, tivemos a trilogia que era centrada no macaco Cesar, e agora começa uma nova história que se passa gerações depois de sua morte (segundo o imdb, são 300 anos depois). Conhecemos uma pequena comunidade que vive isolada dos humanos e de outros macacos, até que um novo vilão captura quase todo o clã. Noa, nosso novo protagonista, escapa, e com ajuda de um orangotango e uma humana inteligente, vai tentar libertar os seus.

O roteiro do filme dirigido por Wes Ball (que até hoje só tinha feito longas dentro da franquia Maze Runner) tem algumas escorregadas aqui e ali, tipo um macaco consegue cheirar de longe um cobertor que foi tocado por um humano, mas quando este mesmo humano está escondido na cabana do macaco, ele não sente o cheiro. Mas, de um modo geral, o roteiro flui bem na dinâmica entre os personagens, que precisam se unir por um objetivo em comum. Só achei que não precisava de quase duas horas e meia, o filme podia ser um pouco mais curto.

Um parágrafo à parte pra falar dos efeitos especiais. Sabe quando a gente vê um cgi e pensa “acho que esse cgi não sobrevive a alguns anos?” Aqui passa a impressão oposta. Os macacos são absolutamente perfeitos. Digo mais: tem uma sequência debaixo d’água, os macacos estão com os pelos molhados, e tudo parece muito real. A impressão que passa é que chegamos à perfeição.

Também gostei da ambientação, vemos florestas, praias e parte de cidades tomadas pela natureza, incluindo um grande navio encalhado e enferrujado. Aliás, as construções humanas cobertas de vegetação são bem legais, queria ver mais cenas neles, pena que são poucas.

Planeta dos Macacos: O Reinado traz algumas referências ao primeiro filme, de 1968, como a boneca que fala, ou a cena da praia, ou ainda citações na trilha sonora. Referências inteligentes, porque quem não viu o filme original não vai ficar perdido, mas quem viu vai abrir um sorriso.

Por outro lado, existe um problema comum no cinema pipoca de hoje em dia: a necessidade de continuações. Um exemplo é a cena do telescópio. Se o telescópio volta em uma segunda cena, é algo importante; mas como não mostram nada, é porque devem ter guardado para a provável continuação.

Agora temos que esperar a continuação. Rumores falam que será uma nova trilogia, que vai ligar ao filme de 1968 no fim. Aguardemos.

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Crítica – Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Sinopse (imdb): A solitária gerente de academia Lou se apaixona pela ambiciosa fisiculturista Jackie, que está de passagem em direção a Las Vegas, em busca do seu sonho. Mas essa história de amor fulminante as envolve na rede criminosa da família de Lou.

Novo filme de Rose Glass, diretora do bom (e quase desconhecido) Saint Maud, Love Lies Bleeding traz uma história meio cliché, de uma pessoa que chega numa cidade, se relaciona com uma local, e acaba que muda os rumos da vida das pessoas em volta.

Acho que o melhor aqui em Love Lies Bleeding são as interpretações. Kristen Stewart já mostrou em outras ocasiões que é uma boa atriz, apesar do passado em Crepúsculo. E Katy O’Brian, apesar de pouco conhecida, também está muito bem, e, principalmente, tem o physique du role para o papel. Mas o melhor é Ed Harris, que faz um cara esquisito com um cabelo esquisito (que inicialmente era pra ser uma piada mas a diretora gostou e decidiu manter no personagem). Também no elenco, Dave Franco, Jena Malone e Anna Baryshnikov (sim, filha do Mikhail).

Love Lies Bleeding tem uma boa ambientação nos anos 80 – acho que essa trama não funcionaria nos dias de hoje, com câmeras de segurança e celulares. E o filme traz algumas cenas de violência gráfica bem fortes. Não são muitas, mas o gore deixa muito filme de terror pra trás.

Love Lies Bleeding tem um final em aberto. Daqueles finais que não fazem sentido, é cada espectador que interprete como achar melhor. Depois da sessão conversei com dois críticos amigos, cada um de nós três teve uma interpretação diferente. Heu não tenho problemas com finais em aberto, mas acredito que isso vai repelir parte da plateia. Na minha humilde opinião, a diretora Rose Glass foi mais eficiente em Saint Maud, que constrói um final em aberto, mas, no último frame, mostra o que realmente estava acontecendo, ou seja, abre espaço para interpretações, mas depois mostra a versão dela. Love Lies Bleeding não tem isso, terminamos o filme sem saber o que a diretora queria dizer.

Imaculada

Crítica – Imaculada

Sinopse (imdb): Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Há poucas semanas tivemos A Primeiro Profecia, um filme de terror onde uma jovem americana ia pra Itália para virar freira e acabava ficando grávida numa trama que envolvia uma grande conspiração. E agora a gente tem Imaculada, um filme de terror onde uma jovem americana vai pra Itália para virar freira e acaba ficando grávida numa trama que envolve uma grande conspiração. Sim, mais um caso de “filmes gêmeos”, como Vida de Inseto e Formiguinhaz, Volcano e Inferno de Dante, Armageddon e Impacto Profundo, Matrix e 13º Andar, etc (falei sobre isso num podcrastinadores anos atrás)

Apesar de parecidos, A Primeira Profecia e Imaculada são diferentes na motivação das suas conspirações, e, principalmente, no final. Porque o final de Imaculada é MUITO bom. Volto a ele no fim do texto, pode deixar, sem spoilers.

Imaculada tem uma história curiosa nos bastidores. Sydney Sweeney fez uma audição para este filme em 2014, mas não passou no teste, e acabou que o projeto nunca saiu do papel. Anos mais tarde, Sweeney, agora como produtora, procurou o roteirista, adquiriu os direitos, contratou um diretor (Michael Mohan, que já tinha trabalhado com ela em The Voyeurs), conseguiu investidores, levou o filme para a produtora Neon, e finalmente conseguiu o papel.

E Sydney Sweeney está muito bem aqui. Já ouvi elogios sobre sua atuação na serie Euphoria, mas como não vi a série, minhas referências são filmes onde ela não entrega nada demais, tipo The Voyeurs e Madame Teia. Já em Imaculada ela mostra que tem potencial pra ser do primeiro time. Ainda sobre o elenco, um dos papéis principais é de Álvaro Morte, de La Casa de PapeI. É curioso ver o Professor falando em inglês…

Imaculada é curto, menos de uma hora e meia, o que acho perfeito pra filmes de terror. Gostei muito do clima esquisitão dentro do convento. Aparentemente as pessoas aceitam facilmente as coisas estranhas, mas tudo faz sentido no final. E preciso fazer um elogio aos jump scares aqui em Imaculada. Não é “filme de sustinho” à la James Wan, mas tem um ou outro aqui e ali, e são bem construídos. Preciso admitir que um deles me pegou! Ah, e é bom avisar que Imaculada é graficamente muito violento. Tem umas cenas onde o gore lembra os giallos – os personagens falando em italiano ajudam nessa lembrança.

Sobre o final. Já comentei outras vezes que um bom final eleva a nota do filme, assim como um final ruim abaixa a nota. E achei o final aqui muito bom. Sem spoilers, mas é um final que traz três coisas que admiro no cinema. Primeiro, é um final tecnicamente bem feito, é um take longo, quase três minutos sem corte. Segundo, é uma cena que exige muito da atriz, e a Sydney Sweeney não decepciona e entrega uma cena visceral, é quase um “clipe de Oscar”. Por fim, é um final simbolicamente incômodo. Muita gente não vai gostar, por ser um tema delicado, mas, independente de gostar ou não, acho difícil alguém sair do cinema indiferente depois de uma cena dessas.

Não vou comentar mais porque não quero entrar em spoilers. Mas posso dizer que Imaculada vai dar o que falar, principalmente por causa desse final.

Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.

Fúria Primitiva

Crítica – Fúria Primitiva

Sinopse (imdb): Um jovem indiano inicia uma jornada de vingança contra os líderes corruptos que assassinaram a sua mãe e continuam a vitimar sistematicamente os mais pobres.

Continuamos com a boa safra de filmes de ação! Depois de Contra o Mundo e O Dublê, vamos para o “John Wick indiano”: Fúria Primitiva!

Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Dev Patel, Fúria Primitiva (Monkey Man, no original) é menos galhofa que os dois filmes citados anteriormente. Estreante como diretor, Patel fez uma jornada de vingança séria e muito, muito violenta. E, principalmente, muito bem filmada!

Fúria Primitiva teve problemas antes do lançamento. As filmagens seriam na Índia em 2020, mas as filmagens foram canceladas por causa da Covid. Ele acabou filmando em 2021 na Indonésia. E, durante as filmagens, houve atrasos porque o diretor / protagonista sofreu alguns acidentes, incluindo uma fratura na mão. Mais: Fúria Primitiva seria lançado pela Netflix, mas, segundo o imdb, Jordan Peele viu antes do lançamento e comprou os direitos para um lançamento nos cinemas.

As cenas de ação são muito bem filmadas. Mas Fúria Primitiva não é só violência desenfreada. Acho que podemos dividir o filme em três partes. Temos uma primeira parte com uma escalada louca de violência, depois uma segunda parte mais tranquila, e uma terceira parte insana que é o tal “John Wick indiano”.

Esta parte mais calma trouxe um respiro para o filme. Porque afinal estamos lidando com o mesmo clichê de Contra o Mundo, “um garoto vê um tirano matando sua mãe e resolve se vingar quando mais velho”. Agora, se temos uma parte no meio do filme onde vemos que o protagonista ainda não estava pronto, e ainda precisava praticar, isso tira o filme da “linha reta”. E ainda traz uma das melhores cenas do filme, aquela o personagem está treinando golpes em um saco de areia, acompanhado por um percussionista (não tenho ideia de qual é o nome daquele instrumento).

E o terceiro ato é de tirar o fôlego. Lutas bem coreografadas e bem filmadas, tiro porrada e bomba em quantidade, qualquer fã do gênero vai se refestelar. Heu não sabia que o Dev Patel lutava tão bem!

O roteiro tem umas falhas estranhas. Por exemplo, o personagem Alphonso descobre que está sendo perseguido por ter se associado ao protagonista. Mas, se ele vai continuar vivendo normalmente, pra que aquela cena onde mostra sua ligação com o protagonista? E não entendi a motivação da galera que ajuda o protagonista na segunda parte do filme.

(Tem uma coisa estranha aqui, mas e exatamente a mesma critica a The Raid, outro filme oriental de ação: cadê as armas de fogo? Tem algumas cenas onde os adversários provavelmente usariam armas de fogo contra o protagonista!)

No elenco, só conhecia um nome além de Dev Patel: Sharlto Copley, que, coincidência, também estava em Contra o Mundo.

Mesmo com esses problemas no roteiro, Fúria Primitiva ainda é um grande filme. Dei sorte, três bons filmes de ação seguidos!

O Dublê

Crítica – O Dublê

Sinopse (imdb): Após um acidente que quase acabou com sua carreira, um dublê precisa descobrir o paradeiro de um astro de cinema desaparecido, desmascarar uma conspiração e tentar reconquistar o amor de sua vida enquanto ainda faz seu trabalho diário.

E vamos para mais um filme da minha lista de expectativas pra 2024!

Mas, antes de entrar no filme, quero reclamar do título nacional. O Dublê é uma versão do seriado Duro na Queda, do produtor Glen A Larson (o mesmo de Battlestar Galactica), sucesso na TV brasileira nos anos 80, que passou na Globo entre 1983 e 89. Heu descobri isso porque, como já comentei, minha memória guarda detalhes bizarros e inúteis relacionados a cinema, e me lembrava do nome do protagonista da série, Colt Seavers. Mas, fica a pergunta: por que não usar “Duro na Queda”? Se fosse pra repetir o nome gringo “Fall Guy”, até entendia, mas ter um nome brasileiro diferente???

Enfim, vamos ao filme. Achei perfeito uma nova versão de Duro na Queda ser feita por David Leitch e sua produtora 87North. Leitch era dublê, virou diretor, e fundou uma produtora que faz filmes onde as cenas que exigem dublês são valorizadas. A 87North é responsável por alguns dos melhores filmes de ação recentes, como Atômica, Trem Bala (ambos dirigidos por Leitch), Anônimo, Kate, Noite Infeliz e toda a franquia John Wick. Se tem alguém certo pra fazer um filme sobre os bastidores dos dublês, esse alguém é David Leitch! (Inclusive vemos o logo da 87North algumas vezes ao longo do filme).

(Na minha sessão, antes do filme, tem um videozinho com o David Leitch e o Ryan Gosling pra falar que não é pra usar celular durante o fime, e Leitch explica que foi dublê.)

O Dublê (Fall Guy, no original) mostra um dublê, que era um dos melhores do ramo, mas que se acidenta e se afasta da profissão, até que é chamado pra voltar, pra trabalhar no set do primeiro filme dirigido por sua ex namorada. E claro que existe uma trama maior de mistério por trás de tudo.

Tecnicamente, o filme é um deslumbre. A cena inicial, quando conhecemos os dois personagens principais e vemos o acidente, é em plano sequência! Assim como a sequência aonde conhecemos o set de filmagem da Emily Blunt! E são várias sequências bem coreografada e bem filmadas. Inclusive, na introdução vemos bastidores de sequências de dublês de outros filmes da 87North (uma sequência tão rápida que deu vontade de pausar e voltar); e durante os créditos vemos bastidores das filmagens deste filme. O cinema de hoje em dia muitas vezes prefere usar o cgi do que os dublês, inclusive essa discussão está presente no filme.

Além disso, temos inúmeras referências, algumas bem explícitas (como Miami Vice) e outras mais discretas (como o efeito sonoro de O Homem de Seis Milhões de Dólares, outra série estrelada pelo mesmo ator de Duro na Queda). Também temos citações a diálogos de filmes famosos, entre os personagens do Ryan Gosling e do Winston Duke, e uma cena de ação onde os dois repetem ações de dublês em cenas famosas de filmes de ação.

Queria falar de uma sequência que achei sensacional, a sequência do karaoke intercalada com a perseguição no caminhão. Enquanto estamos na perseguição, toda a edição da cena é sincronizada com I Was Made For Lovig You, do Kiss, e sempre quando alterna pro karaoke, não perde a sincronia. Aí a Emily Blunt começa a cantar Against All Odds, do Phil Collins, e enquanto está no karaoke é a voz dela, quando intercala com a perseguição muda pro Phil Collins, e tudo continua sincronizado com a música. Toda a sequência é muito boa!

(Só achei que faltaram legendas na letra da música, quem não entende inglês ou não conhece a música vai perder parte do significado.)

Aproveito pra falar da trilha sonora. I Was Made for Loving You abre o filme e volta algumas vezes durante o filme, mas O Dublê ainda tem outras músicas pop boas ao longo da projeção, incidindo ACDC, The Darkness e uma cena engraçadíssima com uma música da Taylor Swift – além do já citado ótimo momento com Phil Collins.

Ah, O Dublê é um filme de ação, mas tem um pé na comédia romântica. Tem uma cena com uma DR usando metáforas do roteiro que está sendo filmado, na frente de toda a equipe, que é típica de comédias românticas!

Se tem uma crítica que posso fazer é que algumas coisas funcionavam décadas atrás, mas hoje não funcionam mais. Por exemplo: se criminosos armados entram num set de filmagem, “brincar de dublê” em volta deles fica forçado. Pior: os criminosos entram no set procurando por um personagem, e na cena seguinte este personagem está passeando em volta de todos, alegre e faceiro, e nada acontece. Essas paradas funcionavam nos anos 80, hoje em dia fica estranho. Mas, como o filme “quer ser anos 80”, a gente pode relevar.

Sobre o elenco, achei curioso ver Ryan Gosling e Emily Blunt juntos pouco depois do Oscar, onde os dois apresentaram um prêmio se alfinetando porque estavam “em lados opostos” (ele estava em Barbie, ela em Oppenheimer). Ambos estão muito bem juntos. Também no elenco, Aaron Taylor-Johnson, Hannah Waddingham, Winston Duke, Teresa Palmer, Stephanie Hsu, e uma divertida participação especial de Jason Momoa. Ah, na cena final, Lee Majors, que era o Colt Seavers na série, aparece como um policial, ao lado de Heather Thomas, sua parceira na série!

(E, depois de Anatomia de uma Queda, temos um novo cachorro ator: o Jean Claude é ótimo!)

Filmão. Estava na lista de Expectativas, boas chances de voltar na lista de Melhores do Ano.

Contra o Mundo

Crítica – Contra o Mundo

Sinopse (imdb): Acompanha Boy, um surdo-mudo com uma imaginação vibrante. Quando sua família é assassinada, ele é treinado por um misterioso xamã para reprimir sua imaginação infantil e se tornar um instrumento da morte.

Sabe quando um filme é uma agradável surpresa? Heu nunca tinha ouvido falar de Contra o Mundo, até que veio o convite para a cabine e resolvi arriscar. Gostei tanto que já quero rever! Já comentei aqui em outras ocasiões: gosto muito do slogan da Luis Severiano Ribeiro, “cinema é a maior diversão”. Contra o Mundo é uma ação / comédia, com bons personagens, cenas de ação bem coreografada e bem filmadas e várias sacadas muito muito engraçadas. E, principalmente, muito divertido!

(Só um breve mimimi antes de entrar no filme: “Contra o Mundo” não é um bom nome, porque lembra “Scott Pillgrim Contra o Mundo”. Seria melhor uma tradução literal, “Garoto Mata o Mundo”.)

Contra o Mundo é o longa metragem de estreia de Moritz Mohr, e parece uma mistura de história em quadrinhos com videogame. A trama se passa num local e numa época indeterminados, o que foi uma boa sacada, pro filme se afastar um pouco do realismo. E desde o início a gente vê que não é pra levar o filme a sério. São muitas situações absurdas, além de muito humor negro.

Reconheço que a história é meio clichê: um jovem vê sua família morrendo nas mãos de um tirano e passa anos treinando para se vingar (inclusive é parecida com O Homem do Norte, estrelado pelo irmão do protagonista daqui). Outro clichê: o filme usa o “formato videogame”, onde o personagem passa por diversas “fases” até chegar ao “boss”, o vilão final. Sim, clichês – mas bem utilizados.

Semana passada vi Rebel Moon Parte 2, é um filme tão insosso que acaba o filme e não guardamos nada do que vimos. Já Contra o Mundo é o contrário, o filme tem tantas ideias criativas que a gente sai do cinema com vontade de rever. Só pra dar um exemplo: tem uma cena de luta em uma cozinha. Os oponentes pegam facas para lutar, normal, já vimos diversas boas lutas com facas. Mas o protagonista pega um ralador de metal! Sim, um ralador de queijo! Claro que ele não vão matar ninguém com o ralador, mas pensa só, deve doer pra caramba alguém ralar o seu rosto no meio de uma luta!

Preciso falar que adorei o humor do filme. Algumas cenas são graficamente bem violentas, e mesmo assim causam risos em vez de repulsa. E os momentos mais engraçados do filme estão nas falas do personagem Benny. O protagonista é surdo, ele entende as pessoas usando leitura labial. Mas ele não consegue entender o que o Benny está falando, e como estamos no ponto de vista do protagonista, todas as falas do Benny soam frases completamente aleatórias. Na cena onde vemos um robô tocando violão heu perdi a linha, não me lembro a última vez que ri tanto numa sala de cinema.

Também queria elogiar a trilha sonora. De vez em quando cito trilhas que usam músicas pop conhecidas, outro dia um ouvinte do youtube me criticou porque as músicas conhecidas nos trazem boas memórias e talvez por isso a gente passe a curtir mais o filme, e isso pode ser verdade. Mas aqui não, as músicas são boas, e heu não conhecia nenhuma!

Se tenho uma coisa pra criticar é que achei o roteiro meio forçado em algumas cenas. Por exemplo, não entendi muito a mudança de atitude da personagem June 27. E, na luta final contra o “boss”, aquele “boss” não estaria naquele local, como é que ele chegou lá?

O elenco é bom. Ok, este formato de filme não tem muito espaço pra grandes atuações, mas, para o que filme pede, o elenco está bem. Bill Skarsgård – sim, o Pennywise de It – está ótimo, parece tão forte quanto o irmão Alexander Skarsgård, e ainda faz várias coreografias de cenas de luta (o personagem dele não tem nome). Também no elenco, Famke Janssen, Jessica Rothe, Michelle Dockery, Yayan Ruhian, Sharlto Copley, Brett Gelman, Isaiah Mustafa e Andrew Koji.

Ah, tem cena pós créditos. No finzinho dos créditos tem uma cena, bem besta.

Boa época pra filmes de ação. Em breve falarei aqui de O Dublê e Fúria Primitiva!