A Hora do Desespero

Crítica – A Hora do Desespero

Sinopse (imdb): Uma mãe corre desesperadamente contra o tempo para salvar seu filho enquanto as autoridades fecham sua pequena cidade.

Pouco tempo atrás falei de um filme minimalista, O Culpado, com Jake Gyllenhal. Este A Hora do Desespero tem um formato bem parecido. Basicamente uma única atriz e um único cenário, e quase toda a interação da personagem é através do telefone.

Dirigido por Phillip Noyce, que fez alguns bons thrillers nos anos 90 (Invasão de Privacidade, Jogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato, O Colecionador de Ossos), mas que não dirige nada digno de nota há anos, A Hora do Desespero tem seus bons momentos, mas me parece que a premissa não dava pra fazer um longa metragem. O filme tem menos de uma hora e meia, mas mesmo assim parece esticado.

A trama começa bem, com a mãe isolada, só ao celular. E teve uma coisa que achei boa: a dúvida sobre se o filho era vítima ou não. Mas, mais pro fim, começam a ter uma situações bem forçadas – tipo ela conseguir falar com quem nunca a atenderia. Isso enfraqueceu o resultado final.

Teve outra coisa que me incomodou, mas talvez seja implicância minha. É que a floresta onde ela corria pareceu grande demais. Vejam bem: ela sai pra sua corrida matinal, não era pra ser num local muito distante de casa. E de repente ela está perdida, tendo que atravessar um rio enorme, pra chegar numa rua e pegar um Uber. Como ela se afastou tanto? Lembrei de quando li O Senhor dos Anéis e precisava ficar vendo o mapa da Terra Média pra entender onde eles estavam. Faltou um mapa no filme!

A Hora do Desespero estreia nos cinemas esta semana. Sei não, para um filme desses, acho que funcionaria melhor num streaming…

Sonic 2 – O Filme

Crítica – Sonic 2: O Filme

Sinopse (imdb): Quando o maníaco Dr. Robotnik retorna à Terra com um novo aliado, Knuckles, Sonic e seu novo amigo Tails são tudo o que se interpõe em seu caminho.

Adaptações de videogame têm um histórico complicado. Quase sempre dá errado. Não sei exatamente por que, afinal muitos dizem “este videogame é um filme completo” – mas, quando chega nas telas, não funciona. Acho que até hoje só acertaram duas vezes: o primeiro Resident Evil e o primeiro Silent Hill.

E em alguns casos, a adaptação é mais complicada. Alguns videogames têm personagens humanos e se passam em ambientes reais – como os recentes Uncharted (fraco) e Resident Evil (ruim) – ou seja, é só filmar a história do game. Mas outros casos como este Sonic são bem mais complicados, afinal o protagonista não faz sentido (no mundo real): é um ouriço azul que corre rápido dando cambalhotas e colecionando anéis. Como trazer isso para um filme com personagens humanos?

Mas, adaptaram e fizeram o primeiro Sonic dois anos atrás – e preciso dizer que nem achei tão ruim. Claro, longe de ser bom, mas era uma boa sessão da tarde.

Agora temos a continuação. E se antes a gente tinha um personagem que não faz sentido, agora temos mais dois: Knuckles, um équidna vermelho muito forte; e Tails, uma raposa amarela com duas caudas que viram hélices de helicóptero. E tudo é coerente com a trama: nada faz sentido.

Antes que me chamem de velho rabugento: nem a proposta do filme é seguida. Determinado momento, Sonic fala que ele é rápido e o Knuckles é forte. Mas quando eles correm, eles têm a mesma velocidade, e todas as vezes que Sonic e Knuckles se batem, fica empatado. Nem o filme segue a lógica inventada pelo próprio filme!

Os efeitos são apenas ok. Nas cenas onde temos interação com humanos, às vezes fica estranho, tem cara de cgi que vai vencer em breve.

No elenco, Jim Carrey está careteiro como em quase toda a sua carreira, mas funciona no papel. Ouvi elogios sobre a dublagem de Idris Elba para o Knuckles, mas vi o filme dublado, então não posso palpitar. De resto no elenco, apenas James Marsden voltando ao papel do primeiro filme.

Estou aqui reclamando, mas a sessão que fui estava cheia de crianças, e aparentemente todas gostaram. Ou seja, Sonic 2: O Filme funciona para o seu propósito. Mas recomendo baixar as expectativas.

Warriors Os Selvagens da Noite

Crítica – Warriors Os Selvagens da Noite

Sinopse (imdb): No futuro próximo, um líder carismático chama as gangues de rua de Nova York com a intenção de assumir o controle. Quando ele é morto, os Warriors / Guerreiros são falsamente acusados e devem lutar para voltar para casa.

Walter Hill viria a se tornar um nome importante no cinema de ação nos anos 80, com os dois 48 Horas, Ruas de Fogo, Inferno Vermelho e A Encruzilhada. Warriors Os Selvagens da Noite é o seu terceiro filme.

A trama é simples: o líder da maior gangue de Nova York convocou representantes de todas as gangues da cidade para uma reunião no Central Park, onde ele ia propor que as gangues tomassem conta da cidade, porque eram mais membros de gangue do que policiais. Cada gangue levaria 9 representantes, e sem armas. Mas este líder é assassinado, e os Warriors são erradamente acusados como autores do crime, e passam a ser perseguidos.

A estrutura lembra as fases de um videogame. O grupo precisa percorrer o caminho entre o Central Park e Coney Island. Não entendo de geografia de Nova York, então fui ao google: são 24 km, que dá pra fazer em aproximadamente uma hora de trem. E eles enfrentam vários desafios ao longo disso. Cada gangue poderia ser uma nova fase do videogame. Existiu um videogame inspirado no filme, mas não sei se era assim… Ah, as diferentes fases usam uma narração de uma DJ nos intervalos. Só vemos a boca da DJ, uma solução simples e esteticamente ótima.

A ambientação do filme é bem legal. O diretor de fotografia Andrew Laszlo conseguiu incluir uma cena no início do filme onde chove, o que molhou as ruas e calçadas por todo o resto do filme. E ruas e calçadas molhadas dão um visual muito melhor na tela do que ruas secas. A trilha sonora tem um pé no eletrônico, e me lembrou Fuga de Nova York. E as emendas entre as sequências são feitas usando páginas de quadrinhos, uma boa sacada.

As gangues são caricatas. Mas, o conceito visual, com cada gangue usando um uniforme, ficou bem legal. E aquela gangue do Baseball poderia gerar um spin off de terror!

No elenco, vários nomes que eram desconhecidos na época – e até hoje continuam ligados a apenas este filme, nenhum deles teve uma boa carreira depois, diferente de filmes como Vidas Sem Rumo ou Picardias Estudantis, que tinham elencos de jovens desconhecidos, mas tinham nomes como Tom Cruise, Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forest Whitaker, Rob Lowe, Patrick Swayze, Matt Dillon, Ralph Macchio e Eric Stoltz. Acho que a única exceção é Mercedes Ruehl, que faz um papel pequeno como a policial isca, e que depois faria filmes como O Pescador de Ilusões, De Caso com a Máfia e Quero ser Grande. Curiosidade: este é seu segundo filme, Mercedes fez um filme antes desse: Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Visto hoje, Warriors é muito datado. Ok, mais de 40 anos se passaram, isso é até algo normal. Mas, o filme envelheceu mal. Ainda tem muitos fãs, mas acredito que seja pela nostalgia. Não se a garotada “pós sessão da tarde” iria curtir.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Crítica – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Sinopse (imdb): Katie Mitchell é aceita na escola de cinema dos seus sonhos. Sua família inteira leva Katie para a escola quando seus planos são interrompidos por um levante tecnológico. Os Mitchells terão que trabalhar juntos para salvar o mundo.

Perdi o lançamento deste A Família Mitchel e a Revolta das Máquinas. Pra minha sorte, o filme foi indicado ao Oscar, e alguns amigos recomendaram. Sorte minha, quase perdi!

Escrito e dirigido por Mike Rianda e Jeff Rowe (Gravity Falls), A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é a nova produção da Sony Pictures Animation – o que não é exatamente uma certeza de qualidade, é só a gente lembrar que os dois filmes anteriores do estúdio foram o excelente Homem Aranha no Aranhaverso e o fraco Angry Birds 2. Mas… a produção tem dois nomes que me chamaram a atenção: Phil Lord e Christopher Miller, criadores de Uma Aventura Lego e que ganharam o Oscar por Aranhaverso. Opa, antes vocês tinham a minha curiosidade, agora vocês têm a minha atenção!

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma divertida e amalucada aventura familiar. O filme tem o meu estilo de humor. Passei o filme inteiro rindo como há muito tempo não ria.

E não é só isso. A história tem um ótimo ritmo e os personagens são muito bem construídos. A gente sente a amizade entre os irmãos, assim como a gente o distanciamento entre a Katie e o pai. E os robôs que “entram na família” também são ótimos. E o cachorro é o alívio cômico perfeito!

(Sim, deixei a mãe de fora, de propósito. Mais tarde falo dela, na parte que vou falar mal do filme).

A qualidade da animação é bem legal. Hoje as animações top (Pixar, Disney, Dreamworks, Blue Sky, Illumination) têm uma qualidade absurda de imagem, um espetáculo visual, muitas vezes parece que estamos vendo algo filmado e não desenhado. A Sony, esperta, em vez de querer barrar essa qualidade, pegou um caminho paralelo. Aranhaverso, por exemplo, não tinha nada de realismo – as imagens lembravam a textura de páginas de HQ impressas. Mais: personagens de estilos diferentes usavam técnicas de animação diferentes. Ideia genial: se você não consegue superar a qualidade da imagem, pegue outro caminho. Aqui em A Família Mitchell, a criatividade apontou pra outro caminho. A qualidade dos gráficos é normal, nada aqui parece real. Mas… Ao longo de todo o filme pipocam na tela vários elementos gráficos, desenhos, textos, colagens, o que deu uma dinâmica especial ao filme. Como falei, gostei muito do humor do filme, e esses elementos gráficos foram um toque extra genial!

A boa trilha sonora de Mark Mothersbaugh ajuda nesse ritmo amalucado. Hoje Mothersbaugh é mais lembrado por trilhas sonoras de Thor Ragnarok e Anjos da Lei, além de várias animações. Mas não vou me esquecer que ele era do Devo!

Agora, preciso falar mal de uma coisa. O filme tem uma ideia absurda de que os robôs vão pegar TODOS os humanos e levá-los para outro planeta. É uma ideia absurda, porque o planeta é muito grande e tem muita gente. Se não me engano, eram sete naves, então cada uma delas deveria ter um bilhão de pessoas. Achei forçado, era melhor não dizer números. “Robôs estão capturando humanos”, ponto. Pode ser local, pode ser global, essa informação não é importante para o filme.

Mas… Essa parte nem me incomodou tanto, a gente vê coisas forçadas em quase todos os filmes por aí. Agora, na parte final a gente vê a mãe ganhar super poderes. Isso ficou estranho, porque nada no filme levou a essa transformação. Ficou engraçado? Ficou. Mas, pra que? Claro que não chega a estragar o filme, mas essa parte da super mãe impede o filme de ser um “10”.

Mesmo assim, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas foi a melhor animação que vi em um bom tempo. Pena que vi atrasado, porque certamente entraria no meu top 10 do ano passado.

Morbius

Crítica – Morbius

Sinopse (imdb): O bioquímico Michael Morbius tenta curar-se de uma doença rara no sangue, mas sem perceber, ele fica infectado com uma forma de vampirismo.

Se o MCU é coeso e com mais de 20 longas e algumas séries, e que todos se passam no mesmo universo, o resto da Marvel meio bagunçado. Mas, aqui aparentemente estamos no mesmo universo do Homem Aranha, temos o jornal Clarim Diário / Daily Bugle e uma divertida citação ao Venom. Mas o importante é saber que não precisa ver ou rever nenhum outro filme antes deste Morbius.

Dirigido por Daniel Espinosa (Vida), Morbius tem um roteiro preguiçoso. Existe uma função em grandes produções chamada script doctor, cuja função é analisar inconsistências no roteiro. E era uma função necessária aqui. Vou citar alguns exemplos de como o roteiro melhoraria facilmente. Um é logo no início, na cena do navio – por que as pessoas no navio estavam com as metralhadoras na mão, se os dois cientistas não ofereciam nenhum risco? Outra é a cena do corredor, uma cena cinematograficamente bonita, mas que não faz sentido porque quando ela anda mais rápido, o timer do sensor de movimento também anda mais rápido. Por que? Mais um exemplo: o Morbius faz origamis, e deixa um numa cena de crime. Aí vem o policial e diz “sabemos que você faz origamis!”. Oi? E impressão digital? Ou, ainda mais um: se o Morbius fica tão nervoso com uma única gota de sangue, como ajudou o médico com a barriga aberta se esvaindo em sangue?

(Depois da sessão de imprensa, conversando com alguns críticos, ouvi um outro comentário negativo. O Morbius ganha seus poderes ao misturar seu dna com o dna de um morcego. Isso daria a ele características de um morcego, e não super poderes como super velocidade ou voar sem asas. Mas… Isso é filme de super herói. A gente aceita um monte de suspensões de descrença em filmes de super herói. Então, pra mim, isso é algo aceitável.)

Ouvi reclamações sobre os efeitos especiais, mas, de um modo geral, não me incomodaram. Mas, preciso fazer o comentário “menos é mais”. A caracterização do “monstro”, quando Morbius vira o morcego / vampiro, não me pareceu ser maquiagem, apenas cgi. Quando eram pequenas alterações no rosto, apenas olhos, boca ou nariz, ficava melhor do que quando era o rosto inteiro. Quando aparecia o rosto completo, parecia um cospobre de Evil Dead.

Ainda nos efeitos especiais, preciso dizer que gostei de algumas sequências de movimentação do Morbius, tudo muito rápido, aí a imagem congela no meio, e volta tudo rápido. Nada de muito inovador – inclusive a movimentação lembra o Noturno dos X-Men – mas, ficou bonito na tela. Também gostei da citação a F.W. Murnau, diretor do clássico Nosferatu de 100 anos atrás.

Sobre o elenco, tenho pena do Jared Leto. Ele não está ruim, mas ele escolhe mal os projetos – não podemos esquecer que ele fez aquele Coringa horroroso. Matt Smith abraça a canastrice, e achei engraçado ele fazer um vilão tão caricato. Mas não sei se isso é um elogio. Adria Arjona e Jared Harris estão ok, e Tyrese Gibson e Al Madrigal fazem uma dupla de policiais que até agora não entendi pra que servem no roteiro. E recomendo não ler elenco por aí por causa de spoilers.

Acredito que o Morbius era pra ser um vilão. Mas, pra quem nunca leu os quadrinhos, Morbius é um herói. E aparentemente vão usá-lo em algum filme futuro como vilão do Homem Aranha. Vão precisar mudar alguma coisa aí, porque esse cara apresentado pelo filme não tem nada de vilão.

Por fim, são duas cenas pós créditos, ambas depois dos créditos principais, nenhuma cena no fim de tudo. A primeira é até legal, traz um bom personagem de outro filme que estará numa provável continuação. Já a segunda é péssima, porque não só não acrescenta nada (é o mesmo personagem da primeira cena) como levanta vários furos de roteiro…

Red: Crescer é uma Fera

Crítica – Red: Crescer é uma Fera

Sinopse (imdb): Uma jovem vive um ano de formação na companhia de um enorme panda vermelho.

Outro dia falei do sub título nacional péssimo de Ambulância Dia de Crime. Acho que Red Crescer é uma Fera é ainda pior. Essa frase não faz sentido!

A Pixar deixou a gente mal acostumado. Assim como a Marvel mudou o paradigma do filme de super herói, a Pixar fez o mesmo e elevou para outro patamar o conceito de longa de animação filmes como Toy Story, Monstros S.A., Wall-E, Divertida Mente e Soul.

Aí vem Red e seu sub título horrível. Red Crescer é uma Fera (Turning Red, no original) não é ruim, longe disso, mas está abaixo do melhor que a Pixar pode oferecer. Mas… como falei na crítica de Luca, isso é uma espécie de head canon, o problema não é do filme, e sim da expectativa que criei. Então bora falar de Red como se não fosse Pixar.

Estruturalmente, Luca e Red têm semelhanças. Luca foi dirigido por Enrico Casarosa, que antes tinha dirigido um curta para a Pixar. E o longa traz referências à infância do diretor. Red foi dirigido por Domee Shi, que dirigiu o curta Bao, curta que passou antes de Os Incríveis 2 (e vale lembra que ela ganhou o Oscar pelo curta). Mais: a protagonista Meilin é sino canadense e a história se passa no Canadá; Domee Shi nasceu na China mas se mudou para o Canadá aos 2 anos de idade.

O panda vermelho é uma metáfora à puberdade e todas as transformações físicas e emocionais que acontecem na adolescência, principalmente com as meninas (coisa que estou falando sem muita propriedade porque não passei exatamente por isso, mas, como pai de menina, acompanhei uma adolescente de perto). Nessa parte da metáfora, o filme é perfeito. Mas… Teve uma coisa que me incomodou: nenhum adulto sabe da existência do panda gigante!

A história se passa em 2002, o que ajuda, porque, se fosse hoje, cada adolescente teria um celular na mão e o panda estaria em várias redes sociais logo no primeiro dia. Não me lembro se em 2002 já existiam smartphones, mas, se existiam, não eram usados por todos no dia a dia. Mas, mesmo assim, quando o panda vira um evento entre todas as crianças da escola, algum professor ou pai acabaria descobrindo.

A protagonista Meilin é um personagem muito bem construído. Ela é uma menina exemplar e bem comportada diante dos olhos da mãe e ao mesmo tempo é uma adolescente normal entre suas amigas, e é legal ver como ela quer assumir o panda – diferente das mulheres mais velhas da sua família que precisavam reprimir seus pandas internos. As amigas são personagens mais rasos, cada uma só tem uma característica, mas servem para o que o filme pede. As tias e a avó são boas personagens, mas pouco exploradas. Acho que o único personagem bom além da protagonista é o pai.

A parte técnica é impecável, como era de se esperar. E Red ainda traz uma pequena diferença ao padrão Pixar, que são expressões faciais exageradas dos personagens em algumas cenas, lembrando estilo de anime – tudo a ver com a proposta do filme.

Por fim, fico me perguntando quando a Pixar vai voltar aos cinemas. Assim como Soul e Luca, Red Crescer é uma Fera foi direto para o streaming. E – modo velho saudosista on – prefiro muito mais ver um filme desses numa sala de cinema do que na TV de casa.

Divertido e tecnicamente muito bem feito, Red Crescer é uma Fera não é um “novo clássico da Pixar”, mas vai divertir quem estiver na vibe certa.

Ambulância – Um Dia de Crime

Crítica – Ambulância – Um Dia de Crime

Sinopse (imdb): Dois assaltantes roubam uma ambulância depois do assalto deles ter corrido mal.

Filme novo do Michael Bay, a gente já sabe mais ou menos o que vai encontrar. Bay é um cara intenso. Muito close, muita câmera lenta, muita cena ao pôr do sol, muita música dramática. E ao mesmo tempo, muita correria e muita explosão.

Agora, goste ou não, a gente tem que reconhecer que o cara sabe filmar. São muitas cenas bem filmadas. Teve um detalhe de uma câmera aérea – provavelmente um drone – que sobe, desce, corre entre as pessoas, corre entre os carros, gostei bastante desses takes.

Sobre as cenas de perseguição – são muitas! – parte funciona, parte não funciona. Algumas são muito boas – teve uma em particular onde a câmera está vindo em velocidade perto do chão, um carro pula por cima dela e depois ela voa por cima de outro carro – se heu estivesse vendo em casa, certamente iria voltar pra rever. Mas às vezes as cenas parecem confusas e com falhas de continuidade.

Agora, o roteiro… Ah, o roteiro… Não só é cheio de coisas forçadas, como tem pelo menos três pontos que me deram raiva. Um deles vou falar agora, porque é uma das primeiras cenas do filme e uma das coisas que faz o filme acontecer: Will está precisando de dinheiro para uma cirurgia da sua esposa, então ele vai até Danny para pedir emprestado. Chegando lá, ele Danny está saindo para um grande e sofisticado assalto a banco, e precisa da participação de Will, porque está faltando uma pessoa no seu time. Ora, nunca assaltei um banco, mas já vi diversos filmes com o assunto, e os planos sempre são planejados cuidadosamente. Como assim o cara que chegou agora “entra aí que está faltando uma pessoa”?!?!? (Os outros dois pontos falo depois de um aviso de spoilers).

Além do roteiro forçado, o filme é longo demais. São duas horas e dezesseis minutos onde mais da metade é essa longa perseguição. O filme seria melhor se fosse mais enxuto, talvez devessem cortar uns quarenta minutos de perseguições.

Mesmo assim, achei o filme divertidíssimo. Alguns diálogos são bem divertidos, como toda a relação entre o chefe de polícia e sua assistente Dzaghig. E ainda temos citações a outros filmes do próprio Michael Bay, A Rocha e Bad Boys, além de uma referência a Coração Valente.

E teve uma cena em particular que achei o momento mais engraçado do ano no cinema até agora. É uma cena que envolve a música Sailing, do Christopher Cross. Não, a música não é engraçada. Mas a música foi usada de uma maneira tão imprevisível, tão esdrúxula, que a cena ficou tão engraçada quanto a piada do Michael Jordan no novo Space Jam.

Sobre o elenco, achei o trio principal ok. Não são personagens muito complexos, mas Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul Mateen II e Eiza Gonzalez funcionam para o que o filme pede. E gostei da relação entre os irmãos. Também no elenco, Garret Dillahunt, Keir O’Donnell, Jackson White e Olivia Stambouliah.

Vamos aos problemas do roteiro?

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Duas cenas me incomodaram muito. Entendo que boa parte do cinema é feita de decisões burras de personagens, mas duas das cenas daqui foram além da burrice normal.
– Está rolando a perseguição. Dezenas de carros de polícia atrás da ambulância. Mas precisam realizar uma cirurgia, então a ambulância reduz a velocidade pra 30 km/h. Ué, por que os carros de polícia também reduziram? Por que não aproveitaram pra abordar?
– Will dá uma ideia que é até boa, eles pedem para parceiros roubarem outras ambulâncias, e vão para debaixo de um viaduto, para saírem várias ambulâncias iguais e distraírem os policiais. Ok, boa ideia. Mas… Eles resolvem pintar a ambulância onde eles estão, para disfarçá-la. Caramba! Por que não trocar de carro??? Pra que pintar uma ambulância e continuar nela???
Este segundo ponto é necessário para a conclusão do filme, teriam que mudar o final. Mas o primeiro era só cortar esse sub-plot da cirurgia. Fácil fácil.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esses problemas, me diverti muito na sala de cinema. E, pra mim, “cinema é a maior diversão”. Entendo quem não gostar, mas, quem entrar no clima vai ter um bom entretenimento por duas horas.

A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti

Crítica – A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti

Sinopse (imdb): Em 1959, uma mulher sedutora contrata um detetive e se encontra em uma trama densa com vampiros, monstros e um médico louco.

A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti é a adaptação da peça de teatro homônima, escrita e dirigida por Paulo Biscaia Filho, e baseada na obra de R F Lucchetti. Foi lançada como websérie, com 10 capítulos entre 5 e 16 minutos cada, e com a promessa de ser reeditada como um longa metragem a ser lançado ainda este ano.

Considerado “o papa do pulp no Brasil”, Rubens Francisco Lucchetti não é um nome muito conhecido, mas tem um currículo impressionante. O cara lançou dezenas de livros e HQs de teor fantástico, e, no assunto que nos interessa, ele escreveu o roteiro de alguns filmes do Zé do Caixão e do Ivan Cardoso (incluindo As Sete Vampiras, um dos meus guilty pleasures favoritos).

A história contada em A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti não tem nada demais. O legal aqui é a forma e não o conteúdo. O visual lembra Sin City – preto e branco com alguns detalhes coloridos, com muita coisa filmada em fundo verde (não sei sobre Sin City, mas pelo que entendi, toda a série A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti foi filmada em fundo verde).

Confesso que não conheço muito a obra de Lucchetti, então fui ao Boca do Inferno para catar informações: “Helen Zola (Michelle Rodrigues) é baseada na femme-fatale do livro Os Amantes da Senhora Powers. O detetive John Clayton (Ed Canedo) vem de Museu dos Horrores, assim como a misteriosa Vonetta (Caroline Roehrig). Kenni Rogers interpreta o perverso cientista Anton Zola, o vilão de O Abominável Dr. Zola. Os personagens se encontram em uma história concebida pelo diretor e roteirista Paulo Biscaia Filho com ação central na Curitiba de 1959, mas com acontecimentos que atravessam séculos.

Claro, este estilo não vai agradar a todos. O visual camp às vezes beira a tosqueira (não podemos nos esquecer que toda a obra de Biscaia tem um pé no trash) – teve uma luta no episódio 9 que foi mais tosca que as lutas do seriado do Batman barrigudo! Por outro lado, a maquiagem é muito boa. Aparece um monstro tipo Frankenstein no terceiro episódio, que teve alguns segundos de tela, mas provavelmente levou horas pra maquiar. A maquiagem do lobisomem também é bem feita. Também gostei muito da trilha sonora de Demian Garcia, que lembra o theremin de Dr Who.

Preciso falar que não curti muito as atuações com cara de teatro, mas entendo que é a proposta. A Macabra Biblioteca do Dr Lucchetti era uma peça de teatro, e as pessoas que trabalharam na peça também estão na adaptação.

Paulo Biscaia disse que é uma batalha conseguir colocar um longa de pé, ainda mais nos tempos de hoje, e que isso só é possível com fé e dedicação da equipe inteira. Parabéns, queremos mais filmes / séries nacionais assim!

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola

Crítica – Como se Tornar o Pior Aluno da Escola

Sinopse (google): Os estudantes Bernardo e Pedro têm dificuldades para cumprir todas as regras de uma escola que adota medidas politicamente corretas graças ao diretor Ademar. No banheiro do colégio, Pedro encontra um diário com dicas para instaurar o caos na escola sem ser notado.

Lançado em 2017, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola virou “o assunto da semana” por causa de uma polêmica sem sentido. Mas, antes de falar da polêmica, vamos falar sobre o filme?

Não tinha visto Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, mas vi Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro, que é um divertido trash movie brasileiro, também dirigido pelo mesmo Fabrício Bittar. O humor tem qualidade duvidosa e às vezes resvala na grosseria gratuita. Mas o filme é engraçadíssimo! E, vou além: acho importante um filme desses, que quebra o estilo padrão de quase 100% do cinema nacional. Sempre gosto de ver filmes com propostas diferentes.

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola tem algumas semelhanças com Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro. O humor também resvala na grosseria. Mas, pelo menos na minha opinião, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola tem um problema bem mais grave: as piadas são sem graça. Dei umas duas ou três risadas leves ao longo de todo o filme. Pouco não?

Existe uma outra crítica que pode ser feita com relação ao humor apresentado no filme, mas aí seria uma crítica ao estilo. É que heu, particularmente, não curto muito piadas escatológicas. Piada com xixi, cocô e pum tem que ser genial pra ter graça – porque mostrar alguém fazendo som de pum com as axilas não é engraçado. Mas, esse tipo de humor vende, tem parte do público que gosta de humor escatológico, então entendo que o filme opte por este caminho.

Mas não é só o humor grosseiro. Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é repleto de cenas que não fazem o menor sentido, começando com o ponto de partida do filme: por que um adulto ajudaria dois adolescentes daquele jeito? E a partir daí, várias situações ilógicas, como o cara levando adolescentes numa boate onde não entram menores de idade. Detalhe:o carro foi roubado na frente do dono e dos motoristas do hotel e ninguém fala nada!

Se isso tudo viesse com boas piadas, heu até relevava o roteiro esdrúxulo. Mas se é piada de xixi cocô e pum, a tolerância diminui…

Pelo lado bom, a edição do filme é muito boa. O filme usa os rabiscos do “livro” para emendar as cenas, isso deu agilidade. A trilha sonora rock’n’roll também combina bem com a proposta. E, perto do fim, tem uma cena – uma única cena – onde Danilo Gentili e Carlos Villagrán conversam, onde a metalinguagem rola solta. A cena é muito boa, eles sacaneiam as carreiras de ambos os atores, e ainda tem quebra da quarta parede. Ah, se todo o filme fosse nessa pegada…

Sobre o elenco, nenhuma boa atuação. O garoto principal Bruno Munhoz não é ruim, mas não faço questão de revê-lo em novas produções. Daniel Pimentel, o amigo gordinho, é ruim, mas não sei se é culpa do ator ou do roteiro, que transformou o personagem em um alívio cômico sem graça. Danilo Gentili não é um bom ator, ele funciona muito melhor como apresentador. Talvez com um bom diretor de atores ele estivesse melhor aqui. Fábio Porchat tem uma ponta, aparece em duas cenas, no papel desconfortável. Nem dá pra julgar a sua atuação. Aliás, se a gente parar pra pensar, essas duas cenas poderiam ser cortadas e o filme não perderia nada. Carlos Villagrán, o Quico do Chaves, faz o diretor da escola, uma presença interessante, mas um papel caricato e sem nenhuma profundidade. Ah, achei engraçado ver Rogério Skylab entre os professores. Também no elenco, Joana Fomm, Moacir Franco e Raul Gazolla.

Não é um grande filme. Mesmo assim, defendo a existência de um filme nacional assim, com humor grosseiro. Assim como Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é um filme diferente do rótulo “cinema nacional”.

Agora, vamos à polêmica. Danilo Gentili é um cara que sempre se envolveu em polêmicas em sua carreira. Claro que ele coleciona inimigos com este comportamento. Aparentemente um desses inimigos resolveu espalhar uma fake news, e recortou uma cena onde aparece um pedófilo. Só que é desonesto você mostrar parte da cena sem mostrar o conceito onde ela está inserida. Porque os protagonistas têm contato com o pedófilo, e isso é mostrado como algo extremamente negativo. Em momento algum o pedófilo é exaltado.

E o pior foi acusar o ator Fábio Porchat, que apenas interpreta um papel. Sim, acusaram um ator por atuar. Seriously?

E como tem muita gente preguiçosa por aí, a galera saiu compartilhando como se fosse verdade. Como se Como se Tornar o Pior Aluno da Escola realmente fizesse apologia à pedofilia. A cena é ruim, é desconfortável, é desnecessária, mas não é apologia. Se qualquer um quiser falar mal do filme, é fácil. O filme não é lá grandes coisas, tem um monte de coisas reais pra se falar contra o filme.

Mas, espalhar fake news aparentemente é mais fácil.

Bem, acho que o tiro saiu pela culatra. Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é de 2017, ninguém mais se lembrava da existência do filme. Danilo Gentili deve estar feliz com a divulgação retardatária.

No Ritmo do Coração

Crítica – No Ritmo do Coração

Sinopse (imdb): Ruby é a única pessoa ouvinte em sua família surda. Quando o negócio de pesca da família é ameaçado, Ruby fica dividida entre o amor pela música e o medo de abandonar seus pais.

Não me lembro por que, mas perdi esse No Ritmo do Coração quando passou nos cinemas. Pra minha sorte, o filme está indicado ao Oscar de melhor filme, então procurei pra ver. E preciso dizer: que filme gostoso!

Escrito e dirigido por Sian Heder, No Ritmo do Coração é a refilmagem do francês A Família Bélier – que ainda não vi, então não posso comparar. Mas pelo que li, a história é semelhante.

O nome original do filme é “Coda”, que é um símbolo musical colocado em partituras, que é para marcar o fim da música – e também um disco coletânea do Led Zeppelin. Mas descobri que tem outro significado, mais a ver com o tema do filme: “Child of Deaf Adults”, ou “Filho de Adultos Surdos” – esse significado tem tudo a ver com o filme.

Li no imdb que o original francês teve problemas com a comunidade dos surdos por usar atores não surdos. Isso não acontece aqui, em No Ritmo do Coração os três personagens são realmente surdos na vida real. Inclusive a mãe é interpretada por Marlee Matlin, que ganhou o Oscar de melhor atriz em 1987 por Os Filhos do Silêncio.

Já que falamos do elenco, precisamos citar a protagonista Emilia Jones, que está ótima. Ela passou 9 meses tendo aulas de sinais de linguagem, de canto, e de pesca. E ela realmente convence. O resto do elenco era de desconhecidos para mim, com uma única exceção: Ferdia Walsh-Peelo, que era o protagonista de outro “feel good movie”: Sing Street.

No Ritmo do Coração é daquele tipo de filme que a gente vê com um sorriso no rosto e sai feliz da sessão. É um filme leve, divertido e agradável. Os personagens são ótimos, e a família dos surdos tem algumas tiradas engraçadíssimas.

Não é um musical, é um “filme de música” – a música faz parte da trama, mas não tem personagens que de repente começam a cantar e dançar no meio de um diálogo. E o filme tem pelo menos dois momentos musicais muito bons. Um deles é quando a protagonista finalmente vai cantar a música que ela passa boa parte do filme ensaiando, e de repente vemos a cena pelo ponto de vista da sua família: sem som! E a música da parte final é deliciosa! Quando ela canta e faz os sinais de linguagem ao mesmo tempo, essa cena arrepia!

No Ritmo do Coração está concorrendo a 3 Oscars: melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur (o pai). Não sei se tem o perfil de ganhar Oscars, mas achei bem legal o filme ser lembrado pela academia!