Peacemaker

Crítica – Peacemaker

Sinopse (wikipedia): A série é baseada no personagem Christopher Smith / Pacificador dos quadrinhos da DC Comics. Ambientada após o filme, a série explora as origens do Pacificador, que acredita em alcançar a paz a qualquer custo.

Uma das melhores surpresas cinematográficas do ano passado foi o novo Esquadrão Suicida. James Gunn, que fez um ótimo trabalho na Marvel com os dois Guardiões da Galáxia, foi demitido da Disney por causa de tweets polêmicos no passado, e acabou sendo contratado pela rival DC. Se o primeiro Esquadrão Suicida foi uma bagunça, este segundo parece uma mistura de Guardiões com Deadpool, com muita violência e humor negro e politicamente incorreto. Resultado? O melhor filme do DCEU, e não à toa ficou com o topo da minha lista de melhores filmes de 2021.

Na época do filme anunciaram esta “continuação” com o controverso personagem Peacemaker. Mais uma vez nas mãos de James Gunn, a série foi um grande acerto. A série tem a mesma pegada do filme: violento, politicamente incorreto e muito divertido.

Antes de tudo, precisamos falar da abertura da série. O elenco todo faz coreografias, como se fosse um musical. Mas eles estão com expressões sérias, o que torna tudo mais engraçado. E não são dançarinos, a coreografia não é “certinha”. A abertura é muito muito divertida, uma das melhores aberturas de séries de todos os tempos!

Heu diria que Peacemaker tem dois grandes trunfos. Um é o James Gunn solto, sem a pressão de um grande estúdio por trás, livre pra poder aloprar. Gunn escreveu os oito episódios e dirigiu cinco deles. Segundo o imdb, ele teria escrito tudo em momentos de tédio, quando precisou fazer quarentena por causa da covid, mas sem acreditar que a série seria produzida.

Ah, os nomes dos episódios são ótimos, todos têm trocadilhos! “A Whole New Whirled”, “Best Friends, For Never”, “Better Goff Dead”, “The Choad Less Traveled”, “Monkey Dory”, “Murn After Reading”, “Stop Dragon My Heart Around” e “It’s Cow or Never”.

O outro trunfo é o John Cena, que embarcou 100% no personagem. Assim como Dwayne Johnson, John Cena também veio da luta livre. Não estou dizendo que Cena é um nome tão grande quanto Johnson, longe disso, The Rock é um dos maiores nomes do cinema contemporâneo (é um dos poucos casos onde o nome do ator vem antes do nome do filme no pôster). Mas podemos dizer que Cena está num bom caminho. Não vi seus primeiros filmes, acho que o primeiro filme que vi com ele foi Bumblebee. Mas comecei a prestar atenção a partir de sua boa entrada na franquia Velozes e Furiosos – e logo depois fez O Esquadrão Suicida. Em ambos os casos ele está muito bem, mas ele tinha personagens secundários. Aqui ele é o protagonista – e podemos dizer que ele “passou no vestibular”. O personagem Chris Smith tem um bom desenvolvimento, e Cena se mostra digno de protagonizar uma série deste porte. Além disso, ele tem tiradas geniais, ele foi criado em um ambiente racista, machista, homofóbico e xenofóbico, e precisa se adaptar às mudanças na sociedade – e a série aborda isso, sem deixar as piadas de lado. Além do mais, Cena parece estar se divertindo muito, logo no primeiro episódio tem uma cena divertidíssima dele dançando e cantando de cueca – e logo depois, uma violenta cena de briga.

Aproveito para falar dos personagens e do resto do elenco. Inicialmente, achei a personagem da Adebayo (Danielle Brooks) meio deslocada, mas é outra personagem que tem um bom desenvolvimento ao longo dos episódios, e a gente chega ao final fã dela. Outro personagem ótimo é o Vigilante (Freddie Stroma) – se o Peacemaker fica no meio termo entre o bem e o mal, o Vigilante é um cara completamente alucinado. E o personagem é tão bem construído que a gente torce por ele, mesmo ele sendo completamente fora da caixinha! Robert Patrick, o eterno T1000 de Exterminador do Futuro 2, também está ótimo como o repugnante pai do Peacemaker. Jennifer Holland e Steve Agee volatm aos seus papéis que eram bem secundários em Esquadrão Suicida e aqui ganham muito mais importância e profundidade. Só não curti muito o Murn, interpretado por Chukwudi Iwuji.

Ah, precisamos falar da águia Eagly! Não sei se tinha algum animatronic ou se era sempre cgi, mas a águia é ótima!

Claro, tem exageros. É difícil acreditar em coisas como o laboratório do pai do Peacemaker, que era um portal interdimensional com apetrechos de tecnologia absurda; ou no “poder de cura” do Vigilante, que explode e leva tiro e logo depois está bem. Mas, é série de super herói, então a gente releva isso.

Também precisamos falar da trilha sonora. James Gunn já tinha mostrado que sabe usar bem a trilha. Não é coreografado como um Edgar Wright, mas ele sabe combinar a cena com a trilha, e aqui isso acontece diversas vezes, dava pra gravar um vídeo só comentando as trilhas. São várias boas músicas de “hair metal”, sempre combinando com a cena. Não sei se todas as músicas já existiam ou se teve alguma composta para o filme, mas não importa, a trilha é ótima.

Todos os episódios têm cenas pós créditos. Isso é relativamente comum em filmes de super herói – James Gunn colocou 5 cenas pós créditos em Guardiões da Galáxia! Mas o curioso aqui é que TODAS as cenas são sem graça!

Agora queria fazer alguns comentários, mas antes os avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Uma coisa legal e duas críticas. Primeiro, as críticas. Na batalha final, eles atacam os hospedeiros das borboletas. Mas… as borboletas sairiam dos hospedeiros e atacariam, não seria tão fácil… E a outra crítica é que o final é igual ao Esquadrão Suicida. Várias pessoas viram hospedeiros de uma ameaça alienígena, e tem um grande kaiju que vai ser derrotado com um personagem entrando nele. Me lembrei de Star Wars ep 7, que achei um filme muito bom, mas ter de novo uma estrela da morte me incomodou.

A coisa legal foi aparecer a Liga da Justiça. E mais legal ainda foi como apareceram: não vieram salvar nada, chegaram tarde e foram esculachados! E ainda teve o Jason Momoa e o Ezra Miller!

FIM DOS SPOILERS!

Já anunciaram uma segunda temporada. Que mantenha o bom nível!

A Jaula

Crítica – A Jaula

Sinopse (filmeb): É só mais um carro de luxo sendo roubado numa rua de São Paulo… ou não. Um ladrão entra com facilidade no SUV estacionado numa rua pacata, mas, ao tentar sair, descobre que está preso em uma armadilha, incomunicável, sem água ou comida. Recai somente sobre ele a vingança que um famoso médico planejou depois de sofrer inúmeros assaltos. Quem passa em volta não percebe o embate que se arma entre o sádico vingador e o ladrão prisioneiro dentro do carro.

Dirigido por João Wainer, A Jaula é a refilmagem de 4×4, filme argentino de 2019. Não tinha visto o filme original, e recomendo que você também não o faça. Esta versão brasileira é quase igual ao original hermano. A refilmagem pega quase todos os detalhes, até o grilo que estava dentro do carro!

Dois terços do filme se passam dentro do carro, com apenas um ator. Me lembrei de Enterrado Vivo – que é uma experiência ainda mais radical, já que é o filme todo dentro do caixão. Assim como acontece no filme do Ryan Reynolds, A Jaula tem soluções criativas tanto no roteiro quanto em ângulos de câmera para não cansar o espectador. Já o terço final, quando aparece o médico e eles saem do carro, é mais fraco. Fica parecendo uma versão de programa jornalístico sensacionalista, tipo um Datena da vida.

Teve uma coisa que achei uma falha. O carro tem vidros polarizados e é à prova de som. Quem passa ao lado não pode ver se tem alguém dentro ou não. Mas… Por que o assaltante não balançava o carro? Pessoas em volta veriam que o carro estava balançando e iam desconfiar!

Tenho uma crítica relativa ao posicionamento político. Acho que não precisava disso (o filme argentino não vai por este caminho). O filme levanta uma crítica social interessante: ambos os personagens são escrotos, ambos são mau caráter, nenhum dos dois tem razão. O filme poderia desenvolver esse questionamento – até onde um cidadão pode se defender por conta própria, já que o Estado é falho neste aspecto? Mas quando personagens falam frases e expressões ditas pelo atual presidente (“cidadão de bem”, “Deus acima de tudo”) o filme entra na polarização política que vivemos hoje em dia, e a discussão sobre o problema real fica em segundo plano.

No elenco, preciso confessar que como não vejo novelas, não conhecia nenhum dos dois principais, Chay Suede e Alexandre Nero. Mas li que não só são nomes conhecidos, como ambos já interpretaram o mesmo papel em uma novela, em fases diferentes da vida do personagem. Enfim, ambos estão bem. O único outro nome que merece créditos no elenco é Mariana Lima.

A Jaula é curto, segundo o filme B tem uma hora e 41 minutos, mas tive a impressão de ser menos de uma hora e meia. Boa opção para quem quer um filme nacional fora dos clichês de sempre.

Uncharted – Fora do Mapa

Uncharted – Fora do Mapa

Sinopse (imdb): O astuto Nathan Drake é recrutado pelo experiente caçador de tesouros Victor “Sully” Sullivan para recuperar uma fortuna acumulada por Fernão de Magalhães e perdida há 500 anos pela Casa de Moncada.

Nunca joguei, mas já ouço falar deste jogo há tempos. Lembro que, por indicação de um amigo, cheguei a procurar no youtube uns links onde colocam o jogo do início ao fim e é quase um longa metragem de animação – mas nunca vi os “filmes”. Ou seja, sei do que se trata, mas não sou nem um pouco familiarizado com o universo. Assim, fui ao cinema para ver um filme de aventura, mas tendo como referência Lara Croft e Indiana Jones em vez do videogame.

Dirigido por Ruben Fleischer (que fez o ruim Venom), Uncharted – Fora do Mapa (Uncharted, no original) é um bom filme. Temos personagens carismáticos e bons efeitos especiais em cenas de ação muito boas – esta cena que está no pôster é eletrizante! Agora, algumas coisas no roteiro me incomodaram bastante. Mas, relevando essas inconsistências do roteiro, Uncharted – Fora do Mapa é uma boa diversão.

Sei que tem um mimimi na internet porque o Nathan Drake deveria ser mais velho, mas isso não me incomodou. A galera que desligar o head canon não vai se importar com isso.

Sobre o elenco, Tom Holland e Mark Wahlberg fazem o de sempre. Pouca versatilidade (Holland parece que vai pegar o uniforme de Homem Aranha a qualquer momento), mas ambos têm carisma o suficiente para o que o filme pede. Antonio Banderas aparece menos, e também está ok. Já não digo o mesmo sobre as duas principais personagens femininas. Sophia Ali, que seria a “mocinha”, tem uma personagem apática. Mas quem está pior é Tati Gabrielle, que faz a antagonista Braddock, caricata demais. Ah, tem um cameo para quem jogava. Quando eles chegam na praia e encontram um cara que diz que já fez aquilo, é o ator que dubla o videogame.

A história fecha, mas tem uma cena pós créditos com gancho para uma nova aventura. A bilheteria dirá se veremos este novo filme ou não.

10 Filmes de Suspense Psicológico na Netflix

10 Filmes de Suspense Psicológico na Netflix

Hoje não é exatamente um top 10. Não é uma lista dos “melhores filmes de suspense psicológico”, e sim uma lista de boas opções pela Netflix. Ou seja, hoje será uma lista de opções que estão disponíveis na plataforma.

Vanilla Sky (2001)
Vanilla Sky é a refilmagem do espanhol Abre Los Ojos, de Alejandro Almenabar. Rolou uma história na época que não sei se é 100% verídica, mas é uma boa história. Tom Cruise teria visto o filme espanhol, e decidiu fazer uma refilmagem. E, para convencer o Almenabar, o convidou para sua estreia hollywoodiana, Os Outros, onde iria filmar com Nicole Kidman – que na época era esposa de Cruise (que está creditado como produtor executivo). Não sei se é verídica, mas as datas e pessoas se encaixam…
Dirigido por Cameron Crowe, Vanilla Sky conta a história de um cara jovem, bonito e rico, que conhece a mulher de seus sonhos, mas pouco depois se envolve num acidente de carro, fica com o rosto desfigurado e vê sua vida entrar em parafuso, numa trama não linear onde nem tudo é o que parece.

Efeito Borboleta (2004)
Existe uma teoria que diz que algo tão pequeno quanto o vôo de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo. Em Efeito Borboleta, um estudante universitário tem dores de cabeça tão fortes que frequentemente desmaia. Enquanto está inconsciente, ele pode viajar de volta no tempo para alterar momentos de dificuldades de seu passado. É uma boa sacada de viagem no tempo onde nem tudo dá certo. O cara volta pra consertar uma coisa, mas no presente isso causou um problema ainda maior. Aí volta de novo, e as coisas ficam cada vez piores. Filme dirigido pelos pouco conhecidos Eric Bress e J. Mackye Gruber, e estrelado por Ashton Kutcher e Amy Smart.

Ilha do Medo (2010)
Na década de 50, dois agentes federais são mandados a uma ilha onde funciona um hospital psiquiátrico, para investigar o desaparecimento de uma paciente. Uma grande tempestade os impede de sair da ilha, e eles acabam descobrindo que existe algo de estranho com a ilha. Dirigido por Martin Scorsese, Ilha do Medo é um filmão à moda antiga, com bons atores, trama bem elaborada, fotografia bem cuidada e trilha sonora impactante. O roteiro é construído de maneira que o espectador não sabe exatamente o que é mentira e o que é verdade. Estrelado por Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, Elias Koteas, entre outros

Garota Exemplar (2014)
Dirigido por David Fincher, Garota Exemplar conta a história de um homem que vira o principal suspeito quando sua esposa desaparece. Ele precisa provar sua inocência, ao mesmo tempo em que investiga o que realmente aconteceu com a mulher. É um um suspense bem amarrado, com investigações bem construídas e viradas de roteiro nos lugares exatos. Com Ben Affleck, Rosamund Pike e Neil Patrick Harris.

Um Contratempo (2016)
Dirigido por Oriol Paulo, Um Contratempo é um filme espanhol daqueles que você precisa prestar atenção nos detalhes, porque nada é o que parece. Na história, o protagonista desperta em um hotel, e encontra sua amante morta coberta de dinheiro. Ele recorre a melhor advogada de defesa, e eles tentam descobrir o que realmente aconteceu na noite anterior.

Rua Cloverfield 10 (2016)
Uma mulher acorda em um bunker, com um homem que afirma que o mundo exterior foi afetado por um ataque nuclear ou químico. Apesar de ser produzido pelo mesmo JJ Abrams, este não é uma continuação de Cloverfield Monstro, de 2008. O filme foca no suspense em volta do personagem paranoico e seu relacionamento conturbado com os outros personagens. Não gostei do fim, mas não chega a estragar o filme. Estrelado por Mary Elizabeth Winstead e um inspiradíssimo John Goodman.
https://www.heuvi.com.br/rua-cloverfield-10/

Jogo Perigoso (2017)
Dirigido por Mike Flanagan, hoje badalado pelas séries Maldição da Residência Hill, Maldição da Mansão Bly e Missa da Meia Noite, Jogo Perigoso é uma produção modesta: quase todo o filme se passa dentro de um quarto, com apenas dois atores. Na trama, eles querem fazer uma brincadeira para apimentar seu casamento em uma remota casa do lago, mas o marido morre inesperadamente e deixa a esposa algemada na cabeceira da cama. Com Carla Gugino e Bruce Greenwood.

Durante a Tormenta (2018)
Mais um filme de Oriol Paulo, em Durante a Tormenta temos duas histórias, em duas linhas temporais diferentes, separadas por 25 anos. Durante a Tormenta tem um que de Efeito Borboleta, onde atos em uma linha temporal geram consequências na outra. No elenco, Adriana Ugarte, Chino Darín e Álvaro Morte, o Professor de Casa de Papel.

Fuja (2020)
Uma adolescente cadeirante começa a suspeitar que sua mãe está escondendo dela um segredo sombrio. Segundo filme de Aneesh Chaganty, que lançou Buscando… em 2018. Uma produção modesta, com elenco reduzido e poucas locações, consegue fazer um suspense de fazer o espectador se contorcer na poltrona. As referências a Stephen King são explícitas. E as duas atrizes principais estão excelentes, tanto a veterana Sarah Paulson quanto a estreante Kiera Allen.
https://www.heuvi.com.br/run/

A Mulher na Janela (2021)
Amy Adams interpreta uma mulher agorafóbica que mora em Nova Iorque e começa a espiar seus vizinhos pela janela. O clima lembra Hitchcock, e o filme vai muito bem até mais ou menos dois terços, quando tudo se perde e o fim é bem besta. Mas o elenco é muito bom, além da Amy Adams, temos Gary Oldman, Julianne Moore, Jennifer Jason Leigh, Wyatt Russell, Anthony Mackie e Brian Tyree Henry.

Morte no Nilo

Crítica – Morte no Nilo

Sinopse (imdb): Enquanto está de férias no Nilo, Hercule Poirot investiga o assassinato de uma jovem herdeira.

Tecnicamente falando, esta é uma continuação de Assassinato no Expresso Oriente, de 2017. Mas não é exatamente continuação. Este é outro filme também baseado em Agatha Christie, com o mesmo personagem Hercule Poirot, mas um filme não tem nada a ver com o outro.

Antes de entrar no filme, uma coisa pessoal: para mim, este filme teve uma vantagem sobre o outro. No outro, heu me lembrava quem era o assassino. Neste filme, não me lembrava nem quem ia morrer, muito menos o assassino. Não me lembrava do livro, nem do filme de 1978 com Peter Ustinov de Poirot.

Morte no Nilo (Death on the Nile, no original) segue o clássico formato whodoneit, um o estilo de história onde a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado. Ou seja, a gente já sabe o que vai acontecer: um crime será cometido, todos serão suspeitos, e o Poirot vai fazer uma investigação para descobrir o culpado.

Este formato cabe na clássica fórmula que o escritor Syd Field apresentou no seu livro “Manual do Roteiro” (e que cabe em mais de 90% dos filmes que a gente vê por aí): meia hora de introdução, aí tem um ponto de virada, a trama segue por outro(s) caminho(s), até que, meia hora antes do fim, outro ponto de virada direciona a trama para a conclusão. E por que estou falando sobre Syd Field? Porque, neste filme, achei que a primeira parte demorou tempo demais. Entendo que o espectador precise conhecer os personagens, não dá pra começar direto pela “morte no Nilo”. Mas todo esse setup demora uma hora de filme. Chega a cansar.

(Tem uma breve introdução com um Poirot jovem na primeira Guerra Mundial. Mas é um trecho meio besta, se tirar esse trecho o filme não perde nada.)

Teve uma coisa que achei ruim: diferente de um Sherlock Holmes, que apresenta ao espectador todas as pistas e todo o seu raciocínio, Poirot não explica a sua dedução. Na hora que ele fala de uma pessoa que teria jogado uma pedra em uma tentativa de assassinato, ele não fala como chegou a essa conclusão. Prefiro quando o detetive compartilha o raciocínio com o espectador.

A fotografia é boa, temos várias cenas em paisagens no Egito. Pena que algumas vezes parece tudo artificial – todo aquele cenário deve ser digital, e em alguns takes isso fica claro.

Como aconteceu no outro filme, o elenco é muito bom, afinal não é qualquer dia que a gente tem Kenneth Branagh, Letitia Wright, Sophie Okonedo, Emma Mackey, Armie Hammer, Gal Gadot, Tom Bateman, Annette Bening, Rose Leslie e Russell Brand – este último, irreconhecível.

No fim, temos um filme apenas correto.

Exorcismo Sagrado

Crítica – Exorcismo Sagrado

Sinopse (imdb): Um padre americano que trabalha no México, está possuído por um demônio que estava tentando expulsar e acaba cometendo o mais terrível dos sacrilégios. Dezoito anos depois, as consequências de seu pecado voltam.

Não costumo ver trailers. Mas, quando fui ao cinema ver Pânico 5, vi o trailer deste Exorcismo Sagrado, e achei que seria tão ruim que até pensei em não ver. Mas, como costumava dizer um amigo meu que trabalhava em videolocadora, “terror é o melhor gênero que existe, porque mesmo quando o filme é ruim, é divertido”. Assim, com expectativa zero, fui ver o filme.

E não é que a expectativa zero ajudou? Exorcismo Sagrado está longe de ser um grande filme, mas não é tão ruim quanto achei que seria.

Exorcismo Sagrado (The Exorcism of God, no original) é o novo filme de Alejandro Hidalgo, que dirigiu A Casa do Fim dos Tempos, o primeiro filme de terror da história do cinema venezuelano. Mas não vi seu filme anterior, pra mim ele era um desconhecido.

Exorcismo Sagrado tem alguns pontos positivos. Alguns jump scares são bem construídos, e gostei de alguns cenários, como a prisão suja e decadente. E logo no início tem uma cena homenageando o clássico O Exorcista.

Vou fazer um comentário que é ao mesmo tempo positivo e negativo. A maquiagem é muito bem feita. São dois casos de pessoas possuídas, um logo no início do filme, outro a partir do meio. Em ambos, a maquiagem é muito boa. Agora, existem outros personagens possuídos, e a maquiagem me lembrava Evil Dead. Não só a maquiagem como também a movimentação e os efeitos sonoros. Muito legal ter uma referência a Evil Dead. Só que, se o objetivo era assustar, falharam. Porque esses personagens eram engraçados, não assustadores.

Tem uma estátua de Virgem que cria vida, achei meio tosco, mas aceitei. Agora, tem um “Jesus possuído” que foi péssimo. Não tinha sentido na trama, a maquiagem era mal feita, e os efeitos especiais eram péssimos – e quando o cara anda pela parede, céus, o que foi aquilo?

Exorcismo Sagrado dá umas cutucadas na Igreja Católica, quem for muito religioso talvez se sinta ofendido.

O filme tem muitos clichês, mas tem uma coisa que gostei. A parte final não é óbvia. E gosto quando o filme sai do óbvio.

O fim abre espaço para uma possível continuação, que por mim nem precisa ser feita.

Moonfall: Ameaça Lunar

Crítica – Moonfall: Ameaça Lunar

Sinopse (imdb): Uma força misteriosa tira a Lua de sua órbita ao redor da Terra e a coloca em rota de colisão com a vida como a conhecemos. Com poucas semanas antes do impacto e o mundo à beira da aniquilação, uma executiva da NASA e ex-astronauta está convencida de que ela tem a chave para salvar a todos nós – mas apenas um astronauta de seu passado e um teórico da conspiração acreditam nela. Esses heróis improváveis montarão uma missão impossível de última hora no espaço, deixando para trás todos que amam, apenas para descobrir que podem ter se preparado para a missão errada.

Às vezes penso em criar o site com as críticas mais curtas da Internet. Assim: “Moonfall – o novo filme de Roland Emmerich é um típico filme de Roland Emmerich”. Precisa de mais? Afinal, Moonfall: Ameaça Lunar (Moonfall, no original) é um filme do Roland Emmerich, com tudo de bom e de ruim que isso pode trazer.

Emmerich é um cara exagerado. Depois da sessão de imprensa, meu amigo Eduardo Miranda, do canal Projeto Cinevisão, exemplificou bem o seu modus operandi: “Caramba, sr. Emmerich, isso ficou exagerado, não?” “Você acha exagerado? Espere, vou exagerar ainda mais!” “Mas, não, ficou muito agora!” “Você acha muito? Aguarde, ainda tem mais!” ” Sr. Emmerich, isso está saindo do controle!” “Saindo do controle? Mas ainda vou além!”.
Moonfall é assim. A ideia inicial é muito boa: a lua saiu de órbita e está se aproximando da Terra. Caramba, só isso já daria um excelente filme catástrofe: como os humanos tentariam recolocar o satélite em órbita, o que aconteceria com a gravidade de um corpo celeste se aproximando, como seria a destruição causada pelo choque – não seria um bom filme?

Mas, Emmerich vai além. Não vou entrar em detalhes por causa de spoilers, mas o motivo pelo qual a lua saiu da órbita é absurdo. Mas o absurdo não pára aí, a história entra numa espiral de absurdos que chega um ponto do filme onde ou o espectador vai achar que está vendo uma comédia escrachada ou vai embora da sala de cinema. Não tem como levar a sério.

(Teve uma cena onde dei uma gargalhada alta. Sem spoilers, a cena envolve ter que levantar uma árvore.)

Pelo lado bom, Emmerich é um cara que sabe fazer filmes assim. O cara dirigiu Independence Day, 2012, O Dia Depois de Amanhã, GodzillaSe tem alguém na Hollywood atual para fazer um filme catástrofe competente pelo lado técnico, Emmerich é o cara. E os efeitos especiais são excelentes (heu queria ver mais destruição, mas pelo menos o que foi apresentado foi muito bem feito). Se você compra a ideia e entra no clima do filme, pode curtir a sessão.

Moonfall é aquele tipo de filme que não tem muito espaço pra grandes atuações. Patrick Wilson está ok, a gente entende os dilemas do seu personagem. Por outro lado, Halle Berry está no piloto automático e parece que só está esperando acabarem as filmagens pra pegar seu cachê. Como ponto positivo, gostei do John Bradley, que tem a função de alívio cômico, mas mesmo assim consegue ter um bom desenvolvimento de personagem.

Agora é esperar algum estúdio pensar na ideia de uma lua caindo na Terra. Queria ver este filme…

As Agentes 355

Crítica – As Agentes 355

Sinopse (imdb): Um grupo de mulheres compõe uma das mais prestigiosas unidades de espionagem do mundo. As agentes devem enfrentar uma ameaça assustadora.

Gosto muito de filmes de ação estrelados por mulheres. Sempre gostei, lembro de ir ao cinema ainda novo pra ver Aliens O Resgate, Exterminador do Futuro e Nikita – e não podemos nos esquecer da Princesa Leia! E temos tido vários filmes de ação girl power recentemente. Pena que a qualidade tem sido fraca na maioria dos casos.

Este As Agentes 355 (The 355, no original) pelo menos tinha um diferencial: um elenco acima da média. Não é qualquer filme de ação que conta com quatro nomes como Jessica Chastain, Diane Kruger, Lupita Nyong’o e Penélope Cruz (sim, sei que são cinco, não me esqueci da Bingbing Fan, mais tarde volto ao assunto).

Mas a impressão que fica é que gastaram demais no elenco, então pegaram um diretor qualquer. Simon Kinberg tem um bom currículo como produtor, mas este é seu segundo longa como diretor, e o primeiro foi o fraco X-Men Fênix Negra. Nuff said.

O resultado foi um filme genérico, que parece que não se decide entre um filme sério de espionagem ou abraça a galhofa como um Velozes e Furiosos – tem algumas cenas tão exageradas que lembram o exagero da franquia do Vin Diesel, tipo quando a Jessica Chastain está correndo, de vestidinho leve, sem bolsa, sem casaco, só com o vestidinho, e de repente saca uma arma enorme, guardada sei lá onde.

As Agentes 355 tem algumas coisas boas. Gostei de como criaram o grupo, com uma de cada país, uma de cada agência – e atritos precisam ser resolvidos para elas trabalharem juntas. Também temos algumas boas cenas de ação, mas a gente precisa desligar o cérebro em alguns trechos. Tipo, se elas estão trabalhando sem o apoio de suas agências, como elas conseguem todo aquele equipamento? Isso sem contar com o fato de que precisamos de muita suspensão de descrença pra acreditar naquele aparelhinho mágico que hackeia qualquer coisa no mundo. Além disso, o vilão é péssimo, e o terço final traz uma virada de roteiro já prevista ao fim da primeira sequência.

Sobre o elenco, tenho coisas boas e coisas ruins para falar. Jessica Chastain (também produtora) está bem, assim como Diane Kruger. São personagens parecidas – solitárias, habilidosas e eficiência – e ambas funcionam bem para o que o filme pede. Aliás, logo no início do filme tem uma boa sequência de perseguição com as duas. Penélope Cruz está bem, mas a motivação de sua personagem é meio forçada. Sem nenhum preparo de agente de campo, no meio do filme ela já abandonaria o grupo. Mas, ok, ela continuou lá de repente pra mostrar que uma mulher sem treinamento poderia estar no rolê. Agora, não gostei da personagem da Lupita Nyong’o. Ela é uma ninja em hackear facilmente qualquer coisa, e ao mesmo tempo dá palestras para auditórios cheios, e ao mesmo tempo sabe brigar e atirar, e ao mesmo tempo fala diferentes línguas aparentemente sem sotaque. Achei meio exagerado, ela faz tudo, e tudo é fácil pra ela. E a Bingbing Fan não só é um nome menos conhecido, como a sua personagem só entra no time bem depois das outras. Sei que ela é uma das principais, mas tem bem menos importância que as outras quatro. Também no elenco, Sebastian Stan, Edgar Ramírez e Jason Flemyng.

(Comentário sobre línguas: Diane Kruger aparece falando em inglês, francês e alemão, enquanto Jessica Chastain só fala inglês. Diferença entre uma americana e uma europeia…).

Mais um filme girl power, As Agentes 355 serve pra quem não for muito exigente.

Boba Fett e o mimimi nerd

Boba Fett e o mimimi nerd

Heu estava esperando o fim da série The Book Of Boba Fett pra fazer um texto sobre toda a temporada. Mas essa semana os nerds chatos estão tão chatos que resolvi antecipar e fazer um post só pra falar do mimimi nerd.

Está rolando um hate geral pela série, e não consigo entender por que. Parece que é hate só pelo prazer de hate – tipo o que rolou com o filme do Han Solo, uma divertida aventura espacial, cheia de fan services, mas que tem muito fã que gosta de dizer que é ruim só pelo prazer de ser chato.

Me mandaram um link de um cara que escreveu pro uol – não é um blog pessoal, é o uol! O cara escreveu falando mal, mas parece que o cara não viu a série. Por exemplo, ele fala que determinado momento do episódio tem uma luta onde duas pessoas estão cercadas por seis oponentes, e que os oponentes “começam a cair no chão”. Caramba, chegaram reforços, dois gamorreanos entraram na luta! Amigo, larga o celular e presta atenção no que tá na tela!

O carinha do uol reclama que uma série do Boba Fett já começa errado porque o personagem morreu. Ué, a gente vê logo no início do primeiro episódio como ele se salvou. Por outro lado, o Imperador Palpatine morreu no Retorno do Jedi e volta no episódio 9, e ninguém falou nada. Pior ainda: Darth Maul morreu, a gente viu o cara cortado no meio, e ele volta  em Clone Wars e em Han Solo. E em nenhum desses dois casos explicaram como é que os personagens voltaram à vida.

Cheguei a ler o absurdo de gente criticando The Book of Boba Fett porque alguns personagens têm motos coloridas. Seriously? Se as motos power rangers forem a pior crítica que vocês conseguem achar, a média tá boa.

Até o episódio quatro, estava rolando um mandela effect sobre a direção dos episódios. Recebi comentários vindo de três fontes diferentes a informação de que Robert Rodriguez seria o diretor de todos os episódios. Galera, vocês não leem os créditos? O nome do Robert Rodriguez aparece no primeiro e no terceiro episódios. O segundo foi dirigido por Steph Green, e o quarto, por Kevin Tancharoen. Rodriguez ainda vai dirigir pelo menos mais um, mas não é tudo dele!

O quinto episódio (dirigido pela Bryce Dallas Howard) é bem diferente dos anteriores (e concordo que é bem melhor). Os haters aproveitaram pra dizer “é melhor porque tem o Mandaloriano em vez do Boba Fett!”. Gente, vocês precisam entender que o Mandaloriano existe POR CAUSA do Boba Fett. Fett foi um personagem secundário que apareceu no fim de Império Contra Ataca e início de Retorno do Jedi, e que caiu na graça dos fãs. Os fãs começaram a criar um culto ao personagem – tanto que ele ganhou importância na trilogia prequel. Se a gente teve a excelente série The Mandalorian, precisamos agradecer à existência do Boba Fett. Sem ele, não teria Baby Yoda!

(E, lembrando que a primeira aparição do Boba Fett foi no Star Wars Holiday Special, a gente chega à conclusão que quem gosta do Grogu precisa respeitar o Holiday Special!)

Alguns haters sob o efeito do mandela effect disseram que o quinto episódio foi melhor porque a Bruce Dallas Howard dirigiu episódios de The Mandalorian. Verdade. Mas Robert Rodriguez também dirigiu! Galera, se esforcem mais nos argumentos hater!

Detesto usar o argumento do “nerd velho”, que é quando uma pessoa argumenta que é mais fã porque viu a trilogia clássica no cinema. Acho que todo mundo tem direito de ser fã, seja o cara que estava lá no cinema em 1978, seja o cara que só conheceu tudo depois do streaming. Todo mundo é fã, ponto. Dito isso… Preciso usar a carta do nerd velho. Heu vi O Retorno do Jedi no cinema em 1983, e esperei 16 anos por um novo filme da saga. A gente viu Caravana da Coragem no cinema achando que era continuação do Retorno do Jedi! E, depois de esperar 16 anos, a gente viu um filme com o Jar Jar Binks! E viu mais de uma vez, e depois comprou o DVD!!! O “nerd novo” tá mal acostumado, desde que a Disney comprou Star Wars em 2012, foram cinco filmes nos cinemas e três temporadas de séries – e não estou contando as animações. Pô, galera, tem material pra caramba, dá pra todo mundo ser feliz, se você não quiser ver um deles, é só não ver.

Quem não quiser gostar de The Book of Boba Fett, não goste. Gosto é pessoal, goste do que você quiser.
Mas não encha o saco!

Saint Maud

Crítica – Saint Maud

Sinopse (imdb): Uma enfermeira piedosa se torna perigosamente obcecada em salvar a alma de sua paciente moribunda.

Sei lá por que, Saint Maud não entrou no meu radar. Sorte que um amigo recomendou.

Saint Maud foi mais um dos diversos filmes que tiveram seu lançamento prejudicado pela pandemia. Pelo que li, o filme estava pronto e com data para ser lançado, mas foi adiado algumas vezes e agora acho que dificilmente verá o circuito – pelo menos aqui no Brasil.

Se o filme fosse lançado nos cinemas, acho que ia gerar um certo buzz entre os apreciadores do controverso termo pós terror. Saint Maud tem muito a ver com filmes como Hereditário e A Bruxa, é um terror psicológico e sem jump scares. Ou seja, ia ser mais um daqueles filmes que dividem opiniões.

A protagonista é uma enfermeira que trabalha como cuidadora e vai cuidar de uma paciente terminal com câncer. Muito religiosa, ela acredita que precisa salvar a alma de sua paciente moribunda. E o filme se aprofunda nesse fanatismo religioso.

Longa metragem de estreia da diretora e roteirista Rose Glass, Saint Maud é uma produção pequena. Poucos atores, poucas locações, efeitos especiais discretos. Também gostei da fotografia e da trilha sonora. E nem tudo é explicado, o filme deixa algumas coisas para o espectador concluir (teve uma cena em particular que me deixou curioso: vemos um close nos olhos da protagonista, e vemos que são de cores diferentes. E não lembro de ter visto olhos diferentes no resto do filme…)

O papel principal é da pouco conhecida Morfydd Clark, que manda bem com sua fanática religiosa. No resto do diminuto elenco, o único nome conhecido é Jennifer Ehle.

O fim do filme é muito bom. Se alguns filmes perdem pontos com finais ruins, Saint Maud fica ainda melhor com a cena final!