Não se preocupe, Querida

Crítica – Não se preocupe, Querida

Sinopse (imdb): Uma dona de casa dos anos 1950 que mora com o marido em uma comunidade experimental utópica começa a se preocupar com a possibilidade de sua empresa estar escondendo segredos perturbadores.

Um tempo atrás me falaram de um filme dirigido pela Olivia Wilde que seria numa onda meio Mulheres Perfeitas, uma sociedade perfeitinha mas com algum mistério por trás. Acabei me esquecendo desse filme, até que veio o email com o convite para a sessão de imprensa de Não se preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, no original). Era esse o filme!

Fui ver sem saber de mais nada. Só depois que descobri que teve um monte de barracos nos bastidores Florence Pugh teria brigado com a Olivia Wilde, Harry Styles teria cuspido no Chris Pine… Mas, esse é um site de cinema e não de fofocas, vou falar do filme, quem quiser bastidores procure em outro lugar.

O complicado de falar sobre um filme destes é que existe um grande mistério por trás de tudo o que acontece. O desafio é fazer uma crítica sem spoilers. Vou me segurar!
Não se preocupe, Querida é o segundo longa dirigido por Olivia Wilde (ela dirigiu alguns curtas e alguns videoclipes). Ela consegue criar um bom clima de tensão e mistério – o que diabos está acontecendo naquele lugar? E o visual meio artificial daquela cidade criada ajuda nessa estranheza.

O elenco está muito bem. Segundo o imdb, Olivia Wilde pretendia estrelar, mas quando viu Midsommar mudou de ideia e convidou a Florence Pugh, que está ótima no papel principal (Olivia ficou com um papel secundário). Também no elenco, Chris Pine, Harry Styles e Gemma Chan – todos estão bem.

(Se a gente lembrar que a Olivia Wilde fez DC Liga dos Super Pets e o Harry Styles estava na cena pós créditos de Eternos, são 3 Marvel contra 2 DC…)

Adorei a trilha sonora, que parece que usa vozes sussurradas como instrumentos musicais. Se o filme é tenso e esquisito, fica ainda mais tenso e esquisito quando usa uma trilha tensa e esquisita. E tem uma cena que ficou engraçada, principalmente para o público brasileiro, envolvendo a música Desafinado, quando um cara dança de modo completamente sem nexo com a música.

O roteiro de Katie Silberman, Carey Van Dyke e Shane Van Dyke não é perfeito, o filme tem algumas facilitações meio forçadas, tipo o médico esquecer uma pasta com documentos confidenciais. Mesmo assim, gostei do ritmo frenético da parte final, e gostei de como terminou o filme.

O filme é um pouco longo, mas mesmo assim gostei do resultado final. Não se preocupe, Querida estreia dia 22 nos cinemas, e já quero rever!

Eternos

Crítica – Eternos

Sinopse (imdb): A saga dos Eternos, uma raça de seres imortais que viveram na Terra e transformaram sua historia e civilização.

Antes de entrar no filme, uma breve contextualização. Ao longo de 11 anos e mais de 20 filmes, a Marvel construiu um sólido universo cinematográfico, que culminou no Vingadores Ultimato, filme que trouxe todos os personagens apresentados anteriormente.

E agora? Agora é hora de olhar pra frente: novos filmes com novos personagens – que devem se unir em breve a personagens antigos em novo grande filme a ser produzido.

Este ano tivemos Shang Chi, dirigido pelo quase desconhecido Destin Daniel Cretton, que é exatamente isso: um filme mostrando um novo universo de personagens e super poderes. Um filme bonito e empolgante, que deixa o espectador com vontade de rever assim que sai do cinema.

E agora temos este Eternos, dirigido pela oscarizada Chloé Zhao, que mostra um novo universo de personagens e super poderes. Um filme bonito, mas nada empolgante, que deixa o espectador sem nenhuma vontade de rever.

(Pra falar a verdade, a primeira coisa que pensei quando terminou a sessão foi “putz, tenho que rever no fim de semana, prometi aos meus filhos).

Ninguém vai discutir o talento da Chloé Zhao. Acho Nomadland um filme superestimado, não acho que merecia o Oscar de melhor filme, mas é um filme inegavelmente bem filmado. Agora, sejamos sinceros, Nomadland não tem nada a ver com filme de super heróis. Não adianta chamar uma boa diretora se a proposta dela é diferente da proposta do filme.

Seria mais ou menos como chamar Quentin Tarantino pra dirigir um drama sério; ou Denis Villeneuve pra dirigir uma comédia romântica, ou ainda Martin Scorsese pra dirigir um terror slasher. Serão filmes competentes, claro, estamos falando de diretores de primeira linha, não iam fazer filmes ruins. Mas dificilmente trariam bons resultados.

Este é o problema de Eternos. Chloé Zhao fez um filme bonito, que enche os olhos com seus detalhes técnicos – mas fez um filme que não empolga. Certamente quero ver mais do Shang Chi, mas não faço questão de ver mais dos Eternos.

Deve ser por isso que tem tanta gente por aí falando mal de Eternos. Mas, como falei, o filme não é ruim. Falta muito pra ser bom, mas está longe de ser ruim. Vamulá.

Eternos é um filme lindo. Várias imagens belíssimas, com cenários deslumbrantes. Os efeitos dos Eternos são criados por linhas, achei uma ideia simples e visualmente muito bonita. Os monstros deviantes também são muito bem feitos. Também gostei das várias ambientações em locais de diversos pontos do planeta, em diversas épocas (só não gostei da galera falando espanhol na Amazônia…)

Eternos brinca com elementos históricos – se os caras são super heróis que estão na Terra há 7 mil anos, muita coisa entra na vibe de Eram os deuses astronautas. Paralelo a isso, temos o uso de elementos da cultura pop – citar Star Wars é corriqueiro, mas não me lembro de outro filme do MCU citando a DC duas vezes (Batman e Superman).

Uma coisa que funciona bem aqui é a representatividade. Os Eternos chegaram no planeta 7 mil anos atrás, então tem tudo a ver o grupo ter várias etnias. Claro, é Hollywood, então é normal ter mais caucasianos. Dentre os homens, temos um um americano negro (Brian Tyree Henry), um escocês (Richard Madden), um irlandês (Barry Keoghan), um paquistanês (Kumail Nanjiani) e um sul coreano (Ma Dong-seok). E dentre as mulheres, tem uma filha de chineses (Gemma Chan), uma mexicana (Salma Hayek), e, se as outras três são três americanas, uma é adolescente (Lia McHugh) e outra é surda muda (Lauren Ridloff) – completa o time mais uma americana (Angelina Jolie).

(Tive sentimentos opostos relativos à Lauren Ridloff. Por um lado, é muito legal ter uma surda muda dentre os heróis da Marvel. Mas por outro lado fiquei pensando se um ser tão poderoso, um quase deus, teria uma deficiência como surdez. Pelo menos a atriz manda bem e sua personagem é ótima.)

Ah, em tempos de polêmica sobre o beijo gay do filho do Superman, Eternos mostra o primeiro beijo gay da história do MCU!

Gostei dos personagens, cada um tem poderes diferentes e a gente consegue entender como eles funcionam sem precisar de muita explicação. Agora, tem um problema: como são muitos, temos pouco tempo para nos aproximar de cada um. Assim o espectador não se importa se alguma coisa acontecer com algum personagem.

Li críticas ao personagem Kingo por ser um alívio cômico. Discordo, achei o humor do personagem no ponto certo. Ah, claro é Marvel, então tem humor. Mas aqui é pouco, são poucas piadas.

Ainda sobre o elenco: achei uma falha do roteiro quando o personagem do Kit Harrington some e depois volta do nada. Mas, pior do que isso é na parte final, quando um dos personagens simplesmente some logo antes do clímax do filme. Como assim? Será que essa era a melhor solução?

(Tem uma personagem chamada Sersi e tem o Jon Snow e o Rob Stark. Ainda não vi as piadas de Game of Thrones…)

Agora, não precisava de duas horas e trinta e sete minutos. Várias cenas são arrastadas, em vários momentos a gente sente que faltou uma edição mais enxuta. É um filme bonito, mas, diferente do comum na Marvel, nada empolgante.

Conversando com críticos amigos depois da sessão, ouvi comentários de que o filme cansa porque a narrativa não é linear. Discordo. Gostei da narrativa não linear, repleta de flashbacks pra mostrar histórias do passado deles.

O filme se passa no universo do MCU, personagens e eventos do MCU são citados algumas vezes, mas este é um filme independente dos outros. Não precisa (re) ver nenhum outro para entender.

Claro, tem duas cenas pós créditos, com ganchos para continuações. Que a gente espera que tenha outro diretor.

Dunkirk

DunkirkCrítica – Dunkirk

História real do resgate de soldados aliados, que foram encurralados pelos alemães na cidade de Dunquerque, na França.

Filme novo do Christopher Nolan sempre me deixa com o pé atrás. Se por um lado o cara é indubitavelmente talentoso e sabe filmar como poucos, por outro lado, muitas vezes seus filmes são chatos. É só a gente se lembrar do seu último filme, Interestelar – filmaço, mas longo e arrastado, IMHO.

Logo de cara vi que este Dunkirk (idem, no original) tinha uma vantagem: a duração. Menos de duas horas? Taí uma boa notícia quando falamos de um diretor que às vezes se estende demais.

A narrativa é dividida em três linhas temporais. A ação na terra se passa ao longo de uma semana; na água, em um dia; no ar, em uma hora. Essas linhas são misturadas, mas a edição ficou um pouco confusa. Nolan fez isso melhor em A Origem.

Por outro lado, o visual do filme é fantástico. Nolan usou câmeras Imax e lentes de 70 MM, e evitou o cgi (como costuma fazer). Boa parte do que vemos na tela estava realmente lá. A produção conseguiu um avião Spifire original, e uma das cenas no mar contou com 62 barcos. O filme teve 1.500 figurantes, e nas cenas onde aparecia ainda mais gente, usaram figuras de papelão lá no fundo. O resultado visual é incrível!

A onipresente trilha sonora de Hans Zimmer ajuda a manter o clima pesado e desconfortável. E aqui, mais uma boa notícia ligada à duração do filme. Se a metragem fosse maior, ia cansar.

Dunkirk não tem um protagonista, os personagens principais são vários. Aliás, também não tem exatamente um antagonista, o inimigo são os alemães, que nem aparecem. No meio de vários jovens desconhecidos, temos alguns nomes familiares, como Mark Rylance, Tom Hardy, Kenneth Brannagh e Cillian Murphy. Uma curiosidade: um dos atores novos é Harry Styles, ídolo adolescente, ex membro da banda teen One Direction. Li em algum lugar que Nolan não sabia disso, e teria se espantado quando, em uma pré estreia, várias fãs foram tietar o cantor.

Boa opção para os fãs de filmes de guerra. Também boa opção para quem gosta de um belo espetáculo visual. E a boa notícia é que o Imax não está em 3D!

p.s.: Por que o nome do filme não foi traduzido? Os livros de história falam da Batalha de Dunquerque, a cidade francesa tem nome em português. É que nem se traduzissem “London has Fallen” por “Invasão a London”…