Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Sinopse (Netflix): O famoso detetive Benoit Blanc vai à Grécia para desvendar um mistério que envolve um bilionário e seu eclético círculo de amizades.

Em 2019, fomos apresentados a Entre Facas e Segredos, um divertido “whodoneit”, com elenco estelar e algumas boas reviravoltas no roteiro. Pra quem curtiu, temos agora outro filme com o mesmo detetive, o Benoit Blanc de Daniel Craig. Não é uma continuação, é apenas outra história com o mesmo personagem.

(Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.)

Escrito e dirigido pelo mesmo Rian Johnson do primeiro filme, Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery, no original) leva Benoit Blanc para uma festa particular onde deveria acontecer um jogo, mas uma pessoa acaba morrendo e o espectador então precisa descobrir quem é culpado e qual é o motivo. E, assim como acontece no filme anterior, o roteiro (muito bem escrito, precisamos reconhecer) dá um monte de voltas, e nem sempre o que parece que estamos vendo é o que realmente estamos vendo.

(Gostei muito do roteiro de Glass Onion, mas preciso reconhecer que algumas coisas soam meio forçadas. Só vi o filme uma vez, mas desconfio que ao rever a gente deve encontrar algumas inconsistências aqui e ali. Nada grave, felizmente.)

Sim, o espectador vai pensar no jogo Detetive. E isso é citado no filme, vira uma piada no roteiro. Aliás, outra coisa boa a se falar do roteiro é que achei o humor muito bem dosado. Glass Onion não é uma comédia escrachada, mas tem algumas cenas bem engraçadas. E aquele personagem aleatório que está passeando pela ilha cria algumas cenas hilárias!

Ainda queria falar dos cenários. Glass Onion foi filmado num hotel chique na Grécia. O hotel é tão caro que os atores não puderam ficar hospedados lá! E o visual é muito bonito, coerente com uma casa de um bilionário com dinheiro sobrando. Ah, a cebola de vidro no topo da construção é cgi.

Como acontece no primeiro filme, o elenco também é muito bom. Além do já citado Daniel Craig, o elenco conta com Edward Norton, Kate Hudson, Dave Bautista, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Jessica Henwick, Leslie Odom Jor. e Madelyn Cline, e rápidas participações de Ethan Hawke e Hugh Grant. Além deles, vemos Stephen Sondheim, Angela Lansbury, Natasha Lyonne e Kareem Abdul-Jabbar num jogo de Among Us online. E a voz do “relógio” é do Joseph Gordon Levitt.

Por fim, queria falar do nome do filme. O primeiro filme se chama “Knives Out”, e foi traduzido com o nome galhofa “Entre Facas e Segredos”. Ok, estamos acostumados com nomes galhofa, tipo “Loucademia de Polícia” ou “Todo Mundo Quase Morto”, isso é algo comum no cinema aqui no Brasil. Aí lançaram um segundo filme “Glass Onion: A Knives Out Mystery”. Por que? Glass Onion, ok, mas aqui não tem nada de Knives Out – as facas são algo importante no primeiro filme, não são aqui. Mas, ok, fizeram essa lambança no título original. Aí vão traduzir aqui, e deveria ser “Cebola de Vidro: Entre Facas e Segredos 2”, ou algo parecido. Mas não, mantiveram partes do nome em inglês: “Glass Onion: um Mistério Knives Out”. Caramba, por que??? Era pra avisar ao público que esse filme tem a ver com aquele? Mas aqui no Brasil o primeiro filme não se chama “Knives Out”!!!

WandaVision

Crítica – WandaVision

(CONTÉM SPOILERS DA SÉRIE WANDAVISION!!!)

Comentei no Podcrastinadores e repito aqui: A Marvel está mudando a forma como consumimos o audiovisual. Este momento vai entrar pra história. E não estou falando da qualidade dos filmes. Heu particularmente gosto dos filmes do Marvel Cinematic Universe, o MCU, mas o que estou falando aqui não é questão de gostar ou não. Não me lembro de outro caso na história do cinema onde um universo cinematográfico sólido e coeso foi criado deste modo – lá atrás em 2008, na cena pós créditos do primeiro Homem de Ferro, aparecia o Nick Fury falando em Vingadores. E, ao longo de 11 anos e mais de 20 filmes, a gente viu o desenvolvimento e o encerramento de uma complexa saga com esses heróis, até então pouco conhecidos.

Aí anunciaram que teríamos seriados. Logo de cara não gostei. Lembrei de Agents of Shield, série que comecei a ver e larguei porque é chata – aquele formato antigo, de mais de 20 episódios por temporada, hoje acho esse formato muito cansativo. Pensei “que droga, vou deixar parte do MCU de lado”.

E aí veio WandaVision, no mesmo formato de Mandalorian, poucos episódios de pouco mais de meia hora cada. E num ritmo que, se você gosta do MCU, não tem como não embarcar.

A série começa num formato sitcom anos 50, depois 60 e depois 70. Olha, vou te dizer que se fosse só isso – uma sitcom com super heróis vivendo como pessoas normais, heu já ia gostar. Ainda por cima estrelada por dois dos atores principais dos filmes, a Elizabeth Olsen e o Paul Bettany. Mas, ao longo desses 3 primeiros episódios, a gente vê alguns elementos aqui e ali que mostram que a série não vai ficar só nisso.

Ainda nos formatos sitcoms antigas: uma coisa bem legal foi que filmaram como se fosse na respectiva época. Não só o formato da tela é outro, como até os efeitos especiais são os que eram usados na época.

Mais um comentário legal sobre o formato: cada episódio tem um título que tem a ver com a história: Ep 1 – “Gravado Ao Vivo Com Plateia”; Ep 2 – “Não Mude de Canal”; Ep 3 – “Agora em Cores”; Ep 4 – “Interrompemos Este Programa”; Ep 5 – “Em um Episódio Muito Especial…”; Ep 6 – “Um Halloween Assustadoramente Inédito!”; Ep 7 – “Derrubando a Quarta Parede”; Ep 8 – “Nos Capítulos Anteriores”; e Ep 9 – “O Grande Final”

No quarto episódio a gente já sabe que WandaVision é “full MCU”. Inclusive temos a inclusão no elenco de dois personagens secundários de outros filmes, a Darcy, de Thor, e o Jimmy Woo, de Homem Formiga.

(Tem uma personagem que aparece no segundo episódio, a Monica, que depois a gente descobre que é muito importante, e provavelmente vai ser ainda mais importante no futuro do MCU.)

Se o quarto episódio largou o formato sitcom, o quinto volta, e agora estamos nos anos 80. Mas, o grande lance deste episódio foi a última cena, quando aparece o Pietro, irmão da Wanda. Mas, o que explodiu a cabeça dos fãs foi que apareceu o Pietro dos X-Men, não o irmão da Wanda. Dezenas de teorias surgiram na Internet pra tentar justificar o Pietro “errado”. Fãs dos quadrinhos ficaram em polvorosa, e a Marvel deu uma boa trollada neles (porque a série acabou e não explicaram nada).

Aqui cabe um aviso pra aqueles que não me conhecem. Primeiro, que não leio quadrinhos, nada contra, mas, quadrinhos de super herói prefiro esses da Disney. Segundo que sempre defendi que um filme (ou série) tem que ser autossuficiente. Em uma adaptação de HQ, livro, videogame ou seja lá qual for a origem, o espectador tem que curtir sem precisar de “manual de instruções”, sem precisar conhecer o material original. O filme (ou série) pode até ter alguns elementos colocados para os fãs, mas isso não pode ser algo essencial. Felizmente, nesse aspecto a Marvel costuma funcionar.
Um bom exemplo disso que falei é quando a Wanda fala pro Pietro “Kick Ass”. O filme Kick Ass tem o Evan Peters e o Aaron Taylor Johnson, os dois atores que fizeram o Pietro. Quem entendeu a referência curtiu; quem não pescou, não atrapalhou em nada.

No fim do sétimo episódio a gente descobre que a Agnes na verdade é Agatha (está nos quadrinhos, mas pouco importa), e ela estava por trás de boa parte do que acontecia. Ah, esqueci de falar, ela é interpretada pela Kathryn Hann, ótima atriz.

E aí nos dois últimos episódios, o formato sitcom é abandonado de vez. No oitavo temos flasbacks explicando a Agatha e a Wanda (em um deles, o pai da Wanda abre uma caixa com dvds, e vemos vários dvds de sitcoms que foram recriadas ao longo da temporada, em mais uma sacada genial).

E no último episódio, vemos a luta final da Wanda com a Agatha, e a luta do Visão com um Visão branco (que apareceu na cena pós créditos do episódio anterior. Duas boas lutas, que não seguem os clichês de lutas de super heróis em filmes só explosões. Os Visões param pra conversar e filosofar sobre os seus propósitos, o que é a cara do personagem. E a Wanda usa as runas que já tinham aparecido antes pra derrotar a Agatha, uma saída que nenhum espectador com quem conversei tinha antecipado. Ah, temos a confirmação de que o Pietro realmente não era ninguém.

O final da série é triste, mas tinha que ser deste jeito – se inventassem um final feliz, ia estragar todo o desenvolvimento da história. São duas cenas pós créditos, ambas abrindo portas pra outras histórias vindouras. WandaVision não deve ter segunda temporada, a história fechou aqui.