Mergulho Noturno

Crítica – Mergulho Noturno

Sinopse (imdb): Um ex-jogador de beisebol se muda com a esposa e os dois filhos para uma nova casa. Ele acredita que a piscina do quintal pode ser uma diversão para as crianças, mas um segredo sombrio do passado da casa vai desencadear uma força malévola.

Hoje vou começar o texto de maneira diferente. Uma vez fui passar um fim de semana com amigos em uma casa na serra onde iríamos filmar um curta. O roteiro dava uns 15 minutos de história, mas, na empolgação, a gente saiu filmando mais um monte de cenas no improviso, e alguém perguntou “será que conseguimos fazer um longa?

Quando reunimos o material pra edição, ficou claro que não dava pra fazer um longa. Jogamos fora várias cenas e fechamos o curta em 15 minutos mesmo.

Por que estou falando isso? Porque um curta com uma boa ideia é algo bem diferente de um longa. O Night Swim original é um curta de 3 minutos e 54 segundos, onde um minuto são os créditos. E alguém achou que seria uma boa ideia chamar Bryce McGuire, o diretor e roteirista do curta, pra transformar sua ideia em um longa. Mas… É uma ideia de apenas 3 minutos, é difícil esticar isso em um longa de uma hora e 38 minutos!

Isso gera o primeiro problema: Mergulho Noturno (Night Swim, no original) é um filme chato, com muita encheção de linguiça onde nada acontece e a trama se arrasta.

Mas calma que ainda pode piorar. Uma ideia para se esticar uma trama é explorar a mitologia. No curta, apenas vemos uma mulher nadando numa piscina e desaparecendo. Num longa, podemos explorar o que aconteceu com essa piscina pra transformá-la em uma piscina assassina. E o filme começa a mostrar uma lenda “temagami”, ou algo parecido, que liga a piscina a poços de desejos. Mas apenas apresenta a ideia, o desenvolvimento dessa lenda foi completamente tosco. Um exemplo simples: conversei com alguns críticos depois da sessão de imprensa, ninguém entendeu se a maldição estava no local ou na água.

Ou seja, a gente tem um filme arrastado, com uma ideia mal desenvolvida. O que sobra? Jump scares óbvios. Sério que tem gente que acha que colocar alguns jump scares vai salvar um filme ruim?

E, pra piorar, os “monstros” que aparecem na piscina são muito toscos. Sou da filosofia usada no primeiro Alien: o que você não vê assusta mais do que o que está na sua frente. Se a gente não visse nenhuma criatura, o filme ia ser mais assustador. Do jeito que está, mais fácil provocar risos que sustos.

Pena, porque o elenco é bom. Os papeis principais são de Wyatt Russell, filho do Kurt Russell e da Goldie Hawn e irmão da Kate Hudson, e que foi o novo Capitão América na série do Falcão e o Soldado Invernal; e Kerry Condon, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Os Banshees de Inisherin, filme ruim mas com boas atuações. Mas, num filme tão fraco, tanto faz se o ator é bom ou não.

É, o cinema de terror em 2024 começou mal. Rubber o Pneu Assassino é melhor do que este filme da piscina assassina.

Os Banshees de Inisherin

Crítica – Os Banshees de Inisherin

Sinopse (imdb): Dois amigos de longa data encontram-se em um impasse quando um deles decide abruptamente terminar sua amizade, com consequências alarmantes para ambos.

Saiu a lista dos vencedores do Globo de Ouro. Melhor filme drama ganhou Os Fabelmans, ok até previsível. Melhor filme musical ou comédia foi este Os Banshees de Inisherin, que tinha passado direto pelo meu radar. Opa, bora ver! Mas… comédia???

Vamulá. O Globo de Ouro é dividido em duas categorias: melhor drama e melhor musical ou comédia. Às vezes um estúdio manda um filme que não é comédia para essa categoria, porque teoricamente é mais fácil do que ganhar melhor drama (artifício semelhante é usado de vez em quando no Oscar de melhor ator /ator coadjuvante, quando acham que o candidato tem mais chances na outra categoria). Chequei os ganhadores dos últimos dez anos. Ano passado foi Amor Sublime Amor, musical; ano anterior foi Borat, comédia. Mas, reconheço que tem alguns que não são exatamente comédias, como Era uma vez em Hollywood, que ganhou em 2019; ou Perdido em Marte, que ganhou em 2015.

(Cabia outra discussão sobre esse preconceito com outros estilos. Por que só drama, comédia e musical pode se melhor filme? Senhor dos Anéis O Retorno do Rei, fantasia, ganhou o Oscar de melhor filme em 2004. O Silêncio dos Inocentes, terror, ganhou em 1992. Esses e vários outros estariam “desqualificados” pro Globo de Ouro?)

Voltando ao Os Banshees de Inisherin. Mesmo sabendo que podia não ser exatamente uma comédia, fui ver o filme esperando algo leve e divertido. E Os Banshees de Inisherin pode ser um monte de coisas, mas está bem longe de ser leve e divertido. O filme traz bicho de estimação morrendo porque engasgou com dedos decepados! E olha, isso até podia ser mostrado de forma engraçada, mas não é. O filme te coloca pra baixo.

Segundo o imdb, Colin Farrell resumiu a história como “a desintegração da alegria”. Seu Padraic começa o filme, “Como se ele tivesse acabado de ganhar na loteria; ele está tão feliz, contente e conectado”, mas no final, ele se transforma em “Alguém que acredita que há um lugar para a violência no mundo, e que não nem precisa ser justificado… e ele não consegue encontrar nada da alegria que já teve em sua vida.”

Enfim, só precisei desabafar. Quem ainda não viu, não espere uma comédia!

Depois desta looonga introdução, finalmente vamos ao filme. Os Banshees de Inisherin se passa em 1923, numa ilhazinha pequena na costa da Irlanda, em uma comunidade onde moram pouquíssimas pessoas. Vemos uma amizade se deteriorando: Colm simplesmente não quer mais ser amigo de Padraick porque acha que perde tempo demais batendo papo, e poderia ser mais útil utilizar seu tempo de outras formas.

(Este tema pode levar a uma reflexão sobre perder tempo com inutilidades nos dias de hoje…)

Os Banshees de Inisherin foi escrito e dirigido por Martin McDonagh. Preciso dizer que acho ele um cara superestimado. Seu filme de estreia, Na Mira do Chefe, é um filme super badalado pela crítica, e acho um filme apenas ok. Não é ruim, longe disso. Mas também está longe de ser um grande filme.

Aqui no heuvi tem críticas de dois filmes dele, Na Mira do Chefe e Sete Psicopatas e um Shih-Tzu. Curiosamente, alguns comentários que fiz para esses dois filmes também se encaixam aqui, principalmente quando falo da parte de direção de atores – destaque em ambos os filmes e também destaque aqui em Os Banshees de Inisherin.

O elenco, que é um dos pontos fortes de Os Banshees de Inisherin. Os dois principais, Colin Farrell e Brendan Gleeson, estão ótimos e devem concorrer a vários prêmios. Kerry Condom, o principal papel feminino, também está excelente. Mas, se heu tivesse que escolher um destaque, heu diria que Barry Keoghan, o Druig de Eternos, está ainda melhor do que os outros. Esse garoto vai longe!

Também precisamos falar dos belíssimos cenários. O filme se passa na fictícia ilha Inisherin, foram usadas duas ilhas na costa da Irlanda como locações. O filme é muito bonito.

Os Banshees de Inisherin não é o meu estilo de filme. Reconheço os méritos, não é um filme ruim, mas, não estaria num top 10 meu. Como diria o ditado em inglês, “it’s not my cup of tea”.

Por fim, nome. Inisherin é um lugar, não tem tradução. Banshee é uma palavra de origem irlandesa, seria uma fada do folclore irlandês, que anuncia a morte de um membro da família, geralmente gritando ou lamentando. Ou seja, também não tem uma tradução exata. Este era um filme para usar o título original, “The Banshees of Inisherin”. Pra que traduzir para “Os Banshees de Inisherin”? Pior: se banshee é feminino, por que “os banshees”?

A Recompensa

0-a-recompensaCrítica – A Recompensa

Depois de passar 12 anos preso sem dedurar nenhum comparsa, o famoso arrombador de cofres Dom Hemingway está de volta às ruas para cobrar o que lhe devem.

É complicado falar de A Recompensa (Dom Hemingway, no original). Em primeiro lugar, é um filme difícil de rotular, fica numa área cinza mais ou menos entre a ação, a comédia e o drama – e falha em todos os estilos. Além disso, alterna bons momentos com algumas partes sem sal. Na verdade, parece que o diretor e roteirista Richard Shepard quis dar uma de Guy Ritchie no início da carreira, época de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, mas faltou algo na mistura.

O que A Recompensa tem de bom é o trabalho do protagonista. Jude Law sempre teve papeis de galã – lembro dele em Gattaca fazendo o cara dos genes perfeitos, e alguns anos depois em A.I., interpretando um “robô amante” de beleza perfeita. Agora quarentão, barrigudo e com entradas de calvície, Law mostra versatilidade com um papel que não só é o oposto da beleza de outros tempos, como ainda prima por ser um sujeito grosseiro.

Mas a falta de ritmo prejudica muito o andamento do filme. A Recompensa tem seus bons momentos, como a reação over de Dom quando encontra o chefão russo, o arrombamento do cofre, ou a sensacional cena do acidente de carro. Pena que alguns bons momentos não salvam o resultado final.

Sobre o elenco, como falei anteriormente, este é um filme do Jude Law. O resto está lá de “escada”. Não sei se os fãs da Emilia Clarke, a Daenerys Targaryen de Game Of Thrones, vão gostar de vê-la em um papel pequeno mas importante – pelo menos aqui ela mostra um novo talento: quando sua personagem canta, a voz é a própria atriz. Ainda no elenco, Richard E. Grant, Demian Bichir, Madalina Ghenea e Kerry Condon.

Mesmo com seus bons momentos, só recomendo A Recompensa aos fãs do Jude Law.