Os Banshees de Inisherin

Crítica – Os Banshees de Inisherin

Sinopse (imdb): Dois amigos de longa data encontram-se em um impasse quando um deles decide abruptamente terminar sua amizade, com consequências alarmantes para ambos.

Saiu a lista dos vencedores do Globo de Ouro. Melhor filme drama ganhou Os Fabelmans, ok até previsível. Melhor filme musical ou comédia foi este Os Banshees de Inisherin, que tinha passado direto pelo meu radar. Opa, bora ver! Mas… comédia???

Vamulá. O Globo de Ouro é dividido em duas categorias: melhor drama e melhor musical ou comédia. Às vezes um estúdio manda um filme que não é comédia para essa categoria, porque teoricamente é mais fácil do que ganhar melhor drama (artifício semelhante é usado de vez em quando no Oscar de melhor ator /ator coadjuvante, quando acham que o candidato tem mais chances na outra categoria). Chequei os ganhadores dos últimos dez anos. Ano passado foi Amor Sublime Amor, musical; ano anterior foi Borat, comédia. Mas, reconheço que tem alguns que não são exatamente comédias, como Era uma vez em Hollywood, que ganhou em 2019; ou Perdido em Marte, que ganhou em 2015.

(Cabia outra discussão sobre esse preconceito com outros estilos. Por que só drama, comédia e musical pode se melhor filme? Senhor dos Anéis O Retorno do Rei, fantasia, ganhou o Oscar de melhor filme em 2004. O Silêncio dos Inocentes, terror, ganhou em 1992. Esses e vários outros estariam “desqualificados” pro Globo de Ouro?)

Voltando ao Os Banshees de Inisherin. Mesmo sabendo que podia não ser exatamente uma comédia, fui ver o filme esperando algo leve e divertido. E Os Banshees de Inisherin pode ser um monte de coisas, mas está bem longe de ser leve e divertido. O filme traz bicho de estimação morrendo porque engasgou com dedos decepados! E olha, isso até podia ser mostrado de forma engraçada, mas não é. O filme te coloca pra baixo.

Segundo o imdb, Colin Farrell resumiu a história como “a desintegração da alegria”. Seu Padraic começa o filme, “Como se ele tivesse acabado de ganhar na loteria; ele está tão feliz, contente e conectado”, mas no final, ele se transforma em “Alguém que acredita que há um lugar para a violência no mundo, e que não nem precisa ser justificado… e ele não consegue encontrar nada da alegria que já teve em sua vida.”

Enfim, só precisei desabafar. Quem ainda não viu, não espere uma comédia!

Depois desta looonga introdução, finalmente vamos ao filme. Os Banshees de Inisherin se passa em 1923, numa ilhazinha pequena na costa da Irlanda, em uma comunidade onde moram pouquíssimas pessoas. Vemos uma amizade se deteriorando: Colm simplesmente não quer mais ser amigo de Padraick porque acha que perde tempo demais batendo papo, e poderia ser mais útil utilizar seu tempo de outras formas.

(Este tema pode levar a uma reflexão sobre perder tempo com inutilidades nos dias de hoje…)

Os Banshees de Inisherin foi escrito e dirigido por Martin McDonagh. Preciso dizer que acho ele um cara superestimado. Seu filme de estreia, Na Mira do Chefe, é um filme super badalado pela crítica, e acho um filme apenas ok. Não é ruim, longe disso. Mas também está longe de ser um grande filme.

Aqui no heuvi tem críticas de dois filmes dele, Na Mira do Chefe e Sete Psicopatas e um Shih-Tzu. Curiosamente, alguns comentários que fiz para esses dois filmes também se encaixam aqui, principalmente quando falo da parte de direção de atores – destaque em ambos os filmes e também destaque aqui em Os Banshees de Inisherin.

O elenco, que é um dos pontos fortes de Os Banshees de Inisherin. Os dois principais, Colin Farrell e Brendan Gleeson, estão ótimos e devem concorrer a vários prêmios. Kerry Condom, o principal papel feminino, também está excelente. Mas, se heu tivesse que escolher um destaque, heu diria que Barry Keoghan, o Druig de Eternos, está ainda melhor do que os outros. Esse garoto vai longe!

Também precisamos falar dos belíssimos cenários. O filme se passa na fictícia ilha Inisherin, foram usadas duas ilhas na costa da Irlanda como locações. O filme é muito bonito.

Os Banshees de Inisherin não é o meu estilo de filme. Reconheço os méritos, não é um filme ruim, mas, não estaria num top 10 meu. Como diria o ditado em inglês, “it’s not my cup of tea”.

Por fim, nome. Inisherin é um lugar, não tem tradução. Banshee é uma palavra de origem irlandesa, seria uma fada do folclore irlandês, que anuncia a morte de um membro da família, geralmente gritando ou lamentando. Ou seja, também não tem uma tradução exata. Este era um filme para usar o título original, “The Banshees of Inisherin”. Pra que traduzir para “Os Banshees de Inisherin”? Pior: se banshee é feminino, por que “os banshees”?

Na Mira do Chefe

Crítica – Na Mira do Chefe

Há tempos ouço boas recomendações sobre este Na Mira do Chefe, filme de estreia do diretor e roteirista Martin McDonagh. Depois de ter visto Sete Psicopatas e um Shih-Tzu, seu segundo filme, fui atrás do primeiro.

Depois de um trabalho que dá errado, dois assassinos profissionais são mandados pelo seu chefe para passar um tempo na pacata cidade de Bruges, esperando novas ordens.

Na Mira do Chefe (In Bruges, no original) é um filme “correto”. Bons atores, bons diálogos, uma bela locação europeia… Mas, sabe quando falta algo? Acaba o filme, e fica aquela sensação de que ainda faltava algo pro filme ser bom.

Vamos ao que funciona. O elenco está muito bem. Colin Farrell, Brendan Gleeson e Ralph Fiennes estão ótimos, assim como os coadjuvantes menos conhecidos Clémence Poésy, Jordan Prentice e Zeljko Ivanek. Os diálogos fluem bem entre o elenco. As locações, em Bruges, na Bélgica, também foram bem escolhidas.

Mas é pouco, pelo menos para um filme tão badalado. Mais: o filme foi vendido como “comédia de humor negro”. Olha, até tem algum humor negro, mas muito pouco para transformar o filme em uma comédia. E, pra piorar, o ritmo da metade inicial é muito lento. Depois, quando aparece o personagem de Ralph Fiennes, o ritmo melhora, mas já é tarde demais, já comprometeu o resultado final do filme.

Muita gente compara este filme ao estilo de Quentin Tarantino. Discordo. Diferente de Sete Psicopatas e um Shih-Tzu, Na Mira do Chefe traz poucos elementos “tarantinescos” – não tem nenhum personagem esquisito, a trilha sonora é careta, a edição é convencional… As únicas coisas que se aproximam do universo Tarantino são algumas citações à cultura pop. Mas é tão próximo aos filmes do Tarantino quanto um Mercenários da vida.

Sinceramente, não consegui entender o hype da crítica – e não só da crítica especializada, o filme tem nota 8,0 no imdb! Na Mira do Chefe está longe de ser ruim, mas, na minha humilde opinião, falta comer muito arroz com feijão antes de ser bom…

Sete Psicopatas e um Shih Tzu

Crítica – Sete Psicopatas e um Shih-Tzu

Um roteirista com bloqueio criativo se envolve com o mundo do crime quando seus amigos sequestram o cachorro de um gangster.

Não vi Na Mira do Chefe (In Bruges, de 2008), o elogiado filme de estreia do escritor e roteirista britânico Martin McDonagh, então não tenho como comparar. Mas pelo que li por aí, este seu segundo filme é mais fraco… Não que Sete Psicopatas e um Shih-Tzu (Seven Psychopaths, no original) seja ruim, longe disso. Mas o roteiro “viaja” demais, e o filme se perde.

Vamos primeiro ao que funciona: Sete Psicopatas e um Shih-Tzu tem algumas coisas boas, como um roteiro que foge do previsível, apesar de, à primeira vista, parecer um pastiche de Tarantino com Guy Ritchie. Os personagens são interessantes, alguns diálogos são geniais e os atores estão todos muito bem.

Mas… O roteiro resolve brincar com metalinguagem. Isso é legal, quando bem feito. O problema é que aqui a metalinguagem é exagerada, e na parte final do filme a gente não sabe se aquilo está acontecendo ou se é imaginação dentro da cabeça do roteirista. E, pra piorar, o roteiro ainda tem umas piadas internas que, na minha humilde opinião, não funcionaram – como, por exemplo, reduzir a importância de todos os personagens femininos.

O elenco todo está fenomenal. Além dos sete que estão no poster – Collin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson, Tom Waits, Olga Kurilenko e Abbie Cornish (detalhe importante: nem todos esses são psicopatas, como o cartaz dá a entender!) – o filme ainda conta com Harry Dean Stanton, Helena Mattsson, Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Kevin Corrigan e Gabourey Sidibe. Todos inspirados, sem exceção. Que elenco, hein?

No fim, fica aquela impressão de que poderia ter sido melhor. Acho que vou procurar o Na Mira do Chefe