Megatubarão 2

Crítica – Megatubarão 2

Sinopse (imdb): Segue um piloto de submersível e um grupo de cientistas em águas profundas para explorar uma trincheira desconhecida na Fossa das Marianas. No caminho, eles encontrarão o Megalodon, um gigante tubarão pré-histórico.

Antes de comentar o filme, a gente precisa se lembrar de que se trata de um filme chamado “Megatubarão 2”. Ninguém vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” achando que vai encontrar um “filme de Oscar”.

Dito isso, vamulá. Algumas coisas são bem toscas, mas confesso que me diverti em alguns momentos. Então vou comentar primeiro o que não funcionou, depois o que funcionou.

Em primeiro lugar, tenho dúvidas se um animal que vive a 7 mil metros de profundidade consegue viver tranquilamente na superfície da água. Existe a luz e existe a pressão. Mas, como não saco nada de biologia marinha, não vou dizer que isso é uma falha. Além disso, é a premissa do filme. Pode ser algo absurdo, mas, caramba, a premissa de um tubarão pré-histórico nos dias de hoje já é absurda por si só.

Muita gente vai citar outro problema, que são as conveniências de roteiro, mas isso é algo muito comum em filmes assim. São aquelas cenas onde você diz “caramba, forçou a barra!”. E quem vai ao cinema vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” não pode reclamar de algo assim. Mesmo assim, queria citar alguns exemplos de coisas sem lógica no roteiro. Vou citar dois: tem um cara no fundo do mar com uma espécie de armadura que o mantém vivo apesar da pressão. A parada aparentemente é pesada, ele anda no fundo do mar com aquilo. Aí ele se segura numa boia pra subir pra superfície. Quando chega na superfície, larga a boia e tá nadando de boa??? Outra: os mocinhos estão num bote, fugindo, aí dizem “precisamos remar, porque o motor vai atrair o tubarão!”. Aí eles começam a ser perseguidos por outro bote, com vilões, que ligam o motor e são atacados pelo tubarão. O que os mocinhos fazem? Ligam o motor pra fugir! Ué, por que o tubarão não atacou???

Queria falar também sobre um erro grave de continuidade. Erros de continuidade acontecem direto nos filmes, mas normalmente são coisas discretas, ao fundo, fora do foco do espectador. Mas aqui é no objeto principal da cena: Jason Statham tem três lanças, para matar três tubarões. Depois de usar duas, vemos que ainda tem duas nas suas costas! E logo depois, apenas uma!

Heu relevo todos os problemas acima. Agora, pra mim, um problema que não consigo deixar pra lá são os vilões do filme. Em primeiro lugar: não sabemos quem são, qual é a relação deles com o rolê. Simplesmente são vilões que foram jogados para o filme ter antagonistas humanos além dos tubarões. Mas, pior que isso é que são vilões extremamente caricatos, daquele tipo que ri enquanto atira no mocinho. Os anos 80 ligaram e pediram esses vilões de volta!

Agora, dito tudo isso, preciso admitir que me diverti bastante na parte final. A primeira parte do filme tenta mostrar uma trama séria, com espionagem, traições, é uma parte chata. Mas em determinado momento o filme abraça a galhofa, e a partir dai melhora muito. Dei uma sincera gargalhada na cena que mostra um tubarão atacando pessoas, com a câmera dentro da boca do tubarão!

A direção é de Ben Wheatley, que a maioria do pessoal conhece por ter feito uma versão ruim de Rebecca para a Netflix em 2020. Mas, os leitores do heuvi talvez se lembrem de Kill List (2011) e Turistas (2012), que foram comentados aqui – e ainda falei de O ABC da Morte, que também contou com o diretor.

No elenco, o único nome que vale a lembrança é Jason Statham, sempre eficiente. De ponto negativo, achei a menina Meiying (a personagem estava no primeiro filme) péssima. Não sei se por culpa da atriz ou da personagem, mas ela não está bem. Só não posso dizer que é a pior coisa do elenco porque o Pedro Pascal genérico é ainda pior.

Enfim, se alguém me perguntar, não, Megatubarão 2 não é bom. Mas quem entrar na onda da galhofa vai se divertir na parte final.

O Convento

Crítica – O Convento

Sinopse (imdb): Após a misteriosa morte do Padre Michael, sua irmã, Grace, decide viajar até o convento onde ele vivia na Escócia para descobrir o que realmente aconteceu. Sem confiar na versão oficial da Igreja, ela investiga por conta própria.

Confesso que fui ver este O Convento (Consecration, no original), novo lançamento de terror, com a expectativa lá embaixo. Tivemos tantos filmes de terror ruins recentemente que achei que este era mais um pra lista. Mas, olha, a pouca expectativa ajudou. O Convento não é um grande filme, mas é menos ruim do que a média que temos recebido.

A direção é de Christopher Smith, que em 2009 dirigiu o bom Triângulo do Medo, um filme de viagem no tempo que costumo recomendar pra quem está atrás de filmes pouco conhecidos sobre o tema. Curiosamente, nunca vi nenhum outro filme do diretor.

Já comentei aqui outras vezes: quando um filme acaba mal, perde pontos; quando acaba bem, ganha pontos. O Convento é um filme mediano, mas que termina com um plot twist bem legal, e isso melhora a sua nota.

Triângulo do Medo deixava pontas soltas e depois resolvia, e o mesmo acontece em O Convento. Algumas coisas parecem sem sentido, mas rola um plot twist no final onde boa parte dessas coisas passa a ter sentido. (Algumas coisas continuam sem sentido, tipo o policial deixar a protagonista investigar sozinha uma cena de dois possíveis crimes, mas a gente releva.)

Além de ser um filme bem lento, O Convento traz outro problema: é um terror que não assusta. Não tem jump scare, não dá medo – e ainda por cima usa e abusa de todos os clichês do subgênero “terror religioso”. Pelo menos o cenário do convento na Escócia é bonito.

A protagonista é interpretada por Jena Malone (Sucker Punch, Demônio de Neon), que funciona para o que o filme pede. O único outro nome que heu conhecia no elenco é Danny Houston (Mulher-Maravilha, X-Men Origens Wolverine http://www.heuvi.com.br/x-men-origins-wolverine/), que está caricato como sempre – aliás, o personagem também é ruim. Também no elenco, Thoren Ferguson, Janet Suzman, Alexandra Lewis e Eilidh Fisher.

O plot twist deixa espaço para uma continuação, mas espero que não aconteça. Terminou bem, deixa quieto!

Sobrenatural: A Porta Vermelha

Crítica – Sobrenatural: A Porta Vermelha

Sinopse (imdb): Josh Lambert viaja com seu filho Dalton para deixá-lo na faculdade. Mas demônios reprimidos do passado voltam repentinamente para assombrar os dois.

Gosto muito dos dois primeiros Sobrenatural. Mas reconheço que não, não precisava de mais um. Mas, filme de terror tem mercado pra várias continuações. Então, vambora.

Sou fã do James Wan, e vou além: sou fã do estilo do James Wan de se filmar terror. Entre 2010 e 2016 ele dirigiu dois Sobrenatural e dois Invocação do Mal, e a câmera dele é excelente para o que o estilo pede. Os haters não gostam de reconhecer, mas James Wan é o maior nome do cinema contemporâneo nesta subgênero de terror usando jump scares.

O problema é que os filmes fazem sucesso, aí aparecem continuações e spin offs, e outras pessoas menos talentosas assumem a direção. E infelizmente quase todas as continuações e spin offs são bem inferiores.

Sobre este novo filme, nem tudo é de se jogar fora. Vamos primeiro aos pontos positivos. Um deles é que esta é a estreia na direção do ator Patrick Wilson, que revela que tem boa mão pra construir cenas de tensão, tipo naquela cena bem no início do filme onde vemos um personagem no carro, e lááá ao fundo, desfocado, começa a aparecer um vulto misterioso. E o filme ainda tem alguns bons jump scares (confesso que o da porta de vidro me pegou). E a trilha sonora do sempre eficiente Joseph Bishara

(Uma coisa que dá raiva no cinema de terror é quando não sabem fazer jump scares, e toda a cena prepara o espectador para o que vai acontecer. Perde todo o propósito, o objetivo era dar um susto. Se você avisa, não vai dar nenhum susto!)

Uma outra coisa legal é manter o elenco. Rever Patrick Wilson e Rose Byrne já era algo previsível. Mas os dois garotos do filme de 2010, Ty Simpkins e Andrew Astor, também voltam aos mesmos personagens. Vários anos se passaram, era fácil trocar o ator. Mas mantiveram, e Ty Simpkins, que está com 21 anos, virou o protagonista do filme. Também temos participações especiais de Lin Shaye, Leigh Whannell e Angus Sampson, enquanto Barbara Hershey só aparece em fotos. De novidade temos Sinclair Daniel, que faz um alívio cômico que talvez esteja um ponto acima do ideal.

Agora, o roteiro não é bom. Várias coisas não fazem sentido, a começar pela premissa inicial do filme. Logo na cena inicial, vemos que Josh e Dalton passaram por uma terapia de hipnose para esquecer do que aconteceu no filme anterior. Nove anos se passam sem nada acontecer. Aí Dalton vai pra faculdade de artes e uma professora diz pra ele procurar no seu mais íntimo interior, e ele acaba libertando os tais demônios. Até aí, ok. Mas qual é o sentido dos demônios do pai começarem a aparecer só agora, ao mesmo tempo? Josh não fez nada que pudesse servir para despertar os demônios!

Aí a gente começa a ver os furos de roteiro. Tipo, vemos um flashback onde Josh estava possuído no passado, e ele tinha a mesma cara de sempre. Corta pro Dalton possuído nos dias de hoje e ele tem uma maquiagem que lembra os deadites de Evil Dead. Por que os possuídos ficam diferentes? Ou… Entidades estão presas atrás de uma porta, precisa segurar a porta, mas, como é que já estão no quarto do Dalton? A porta não estava fechada naquele momento? Ou ainda: como é que eles são expulsos de uma fraternidade e no dia seguinte voltam lá pra xeretar e tá todo mundo de boa com isso? E por aí vai…

Pena. Agora vou torcer pra ver o Patrick Wilson dirigindo um roteiro melhor.

A Praga

Crítica – A Praga

Sinopse (imdb): Em um passeio pelo campo, Marina e Juvenal param para tirar fotos em frente à casa de uma idosa. Irritada, a velha revela-se uma bruxa e lança uma maldição sobre o jovem casal.

Hoje vou falar de um filme que quase ninguém viu. Vou além: quase ninguém ouviu falar! A Praga, filme “novo” de José Mojica Marins, o Zé do Caixão!

Antes de A Praga rola um pequeno documentário de uns 17 ou 18 minutos contando a história do filme. Filmado em 1980, eles perderam os negativos. Anos depois, no meio de um material separado para descarte, encontraram os arquivos. E então veio o cuidadoso trabalho executado pelo produtor Eugênio Puppo, que restaurou o material, filmou novas cenas, dublou o filme e incluiu trilha sonora (o material encontrado estava sem som).

(Se esse breve documentário tem um problema, é que vemos cenas do filme que vai começar em breve. Ou seja, temos spoilers…)

Dirigido por Mojica e com roteiro de Rubens Francisco Lucchetti (o maior autor de terror e literatura pulp do Brasil), A Praga foi originalmente feito para um programa de TV chamado Além, Muito Além, exibido na rede Bandeirantes entre setembro de 1967 e julho de 1968. Infelizmente, depois do cancelamento do programa, as fitas onde eram gravados os programas foram reaproveitadas pela Bandeirantes para outras atrações, sendo assim não existem mais registros em vídeo do programa (prática que infelizmente era comum na TV).

(Considerado “o papa do pulp no Brasil”, Rubens Francisco Lucchetti não é um nome muito conhecido, mas tem um currículo impressionante. O cara lançou dezenas de livros e HQs de teor fantástico, e, no assunto que nos interessa, ele escreveu o roteiro de alguns filmes do Zé do Caixão e do Ivan Cardoso (incluindo As Sete Vampiras, um dos meus guilty pleasures favoritos).)

Finalmente, falemos do filme. A história em si não tem nada de excepcional, lembra aqueles filmetes no estilo Tales From the Crypt. O Zé do Caixão narra uma história onde um cara discute com a velha e é amaldiçoado.

O resultado final é estranho. O estilo do Mojica não é pra qualquer um, os ângulos de câmera são estranhos, com closes igualmente estranhos. As atuações estão bem longe do convencional. Mas essa tosqueira faz parte do estilo do diretor. Como diz o crítico Mario Abbade: “O que pode parecer algo de mau gosto e/ou tosco, por causa do baixíssimo orçamento, é na verdade uma pequena pérola do terror feito no Brasil, com o intuito provocar desconforto, repulsa ou risos nervosos. Um estilo de cinema que foi reverenciado e reconhecido mundialmente, pelo uso de alegorias visuais e narrativas.

Sobre o elenco, claro, nenhum ator conhecido. Mas, existe um detalhe curioso: cada personagem tem dois créditos de ator, um para o “corpo’, que é quem aparece na tela; e outro para a voz, que é quem dublou. Os diálogos tiveram que ser recriados do zero, usando uma pessoa com prática em leitura labial e os quadrinhos de Lucchetti como base.

Agora, ver um filme desses lançado no cinema é uma experiência ótima. Pena que temos poucas oportunidades, e pena que pouca gente valoriza – eram duas sessões por dia no Rio de Janeiro inteiro, e na minha sessão eram só 3 espectadores. Pena…

Candy Land

Crítica – Candy Land

Sinopse (imdb): Uma jovem aparentemente ingênua e devota encontra seu caminho no mundo subterrâneo dos trabalhadores do sexo de parada de caminhões, também conhecidos como “lagartos de lote”.

De vez em quando aparecem alguns filmes que parecem meio perdidos no tempo. Candy Land não tem cara de filme atual. Lembra filmes dos tempos do VHS nas locadoras, lá nos anos 80, tanto no conteúdo (o filme se passa em 1996) quanto na forma – as cenas de sexo e nudez não parecem filmadas em 2022. Até o pôster do filme é um pouco apelativo e lembra produções exploitation dos anos 70.

Escrito e dirigido pelo pouco conhecido John Swab, Candy Land é uma produção pequena. Poucos cenários, poucos atores, com uma proposta bem básica: uma jovem abandonada pelo seu grupo religioso é acolhida por um grupo de prostitutas de beira de estrada, e mortes começam a acontecer. Candy Land consegue criar uma boa trama envolvendo prostituição e fanatismo religioso. E ainda tem muita violência e umas boas cenas de gore.

O roteiro tem suas conveniências. Começam a acontecer assassinatos no motel e parece que ninguém dá muita bola. Ficou muito fácil para a assassina! Pelo menos a sequência final explica a postura aparentemente inconsequente da Remy.

O elenco principal é de nomes desconhecidos. Olivia Luccardi tem o equilíbrio ideal entre beleza e esquisitice que sua personagem pede. Candy Land também traz dois nomes “famosos lado B”. Um é William Baldwin, um dos irmãos menos conhecidos do Alec Baldwin (eram quatro irmãos, ainda tinha o Stephen e o Daniel), que deve ter gravado todas as suas cenas no mesmo dia. O outro nome é um pouco menos conhecido, Guinevere Turner, mas, minha memória é bizarra, lembro dela em filmes independentes nos anos 90, como O Par Perfeito e O Clube do Fetiche. Também no elenco, Sam Quartin, Eden Brolin, Owen Campbell e Virginia Rand.

Despretensioso, Candy Land vai agradar quem curte um slasher / exploitation com cara de vintage.

Boogeyman – Seu Medo é Real

Crítica – Boogeyman – Seu Medo é Real

Sinopse (imdb): Ainda se recuperando da trágica morte de sua mãe, uma adolescente e sua irmã mais nova se veem atormentados por uma presença sádica em sua casa e lutam para fazer com que seu pai de luto preste atenção antes que seja tarde demais.

Gosto de filmes de terror. Vejo muitos. E por ver muitos, reconheço que tem muito filme ruim. E o pior: tem muito filme de terror que não dá medo. Comentei isso semana passada, com O Exorcista do Papa, filme que traz mais risadas do que medo. Por causa disso, Boogeyman – Seu Medo é Real (The Boogeyman, no original) foi uma agradável surpresa. Não, o filme não é perfeito, tem seus problemas, mas é um filme eficiente na proposta de criar tensão.

Dirigido pelo pouco conhecido Rob Savage (vou guardar o nome desse cara!), Boogeyman – Seu Medo é Real é a adaptação do conto “O Bicho Papão”, de 1973, publicado originalmente na revista Cavalier, e depois no livro coletânea Sombras da Noite, de 1978. Em 1982 virou um média metragem de 28 minutos, The Boogeyman, mas não tenho ideia de onde encontrar esse filme. Existe uma franquia quase homônima, Boogeyman, que aqui no Brasil ganhou o nome O Pesadelo, com três filmes lançados em 2005, 07 e 08, mas essa franquia até onde sei não tem nada a ver com o conto do Stephen King.

O grande mérito de Boogeyman – Seu Medo é Real é criar um clima de medo ao longo de todo o filme. O monstro / entidade / criatura é muito bem apresentado – quase não o vemos, e algo que não sabemos o que é dá mais medo do que algo que estamos vendo na nossa frente. Gosto deste conceito desde o primeiro Alien – um monstro misterioso é muito mais assustador! E, além disso, quando aparece, o design do monstro é bem legal.

Você pode ver Boogeyman – Seu Medo é Real é como apenas um “filme de monstro”, mas também tem espaço para interpretações mais profundas. O monstro pode ser a personificação do luto, afinal a família perdeu uma pessoa, e precisa encarar essa perda, por mais dolorosa que seja.

Como falei, o filme não é perfeito, o roteiro tem lá suas inconsistências, como por exemplo uma menina que tem tanto medo de escuro que dorme abraçada com uma luminária redonda – mas vai jogar videogame num quarto escuro. Mas, nada grave, felizmente.

No elenco, nenhum nome muito conhecido. David Dastmalchian, o Bolinha de O Esquadrão Suicida, tem um papel pequeno mas muito importante. E uma coisa curiosa: as duas irmãs estavam em séries de Star Wars – a mais nova, Vivien Lyra Blair, era a jovem Leia na serie Obi Wan; a mais velha, Sophie Thatcher, teve um papel secundário em The Book Of Boba Fett. Também no elenco, Chris Messina, Marin Ireland e LisaGay Hamilton.

Que venham mais filmes de terror assustadores!

O Exorcista do Papa

O Exorcista do Papa

Sinopse (imdb): Baseado nos arquivos reais do padre Gabriele Amorth, conhecido como o exorcista chefe do Vaticano, que enquanto investigava a possessão de um jovem, descobre que durante séculos no Vaticano tentaram a todo custo manter a verdade escondida.

Às vezes me pergunto se ainda existe espaço para certos subgêneros. A gente vê um monte de filmes de exorcismo sendo lançados a cada ano, mas a gente dificilmente se lembra de um bom filme de exorcismo (acho que o último foi O Exorcismo de Emily Rose, de 2005).

Dirigido por Julius Avery (Operação Overlord, Samaritano), O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist, no original) é mais um filme genérico e cheio de clichês usando o subgênero “filme de exorcismo”. Não é ruim, mas tá bem longe de ser bom. A gente segue o padre Gabrielle Amorth, que era o exorcista oficial do Vaticano, em uma missão na Espanha. O padre Amorth realmente existiu, mas o Papa que aparece no filme é inventado, era a época do João Paulo II.

(Curiosidades que você só vê aqui no heuvi: existe um documentário filmado pelo William Friedkin (O Exorcista) mostrando o que seria um exorcismo real do padre Amorth: O Diabo e o Padre Amorth. Heu vi no Festival do Rio de 2017, infelizmente o documentário é bem chatinho.)

O Exorcista do Papa tem um problema básico: é um filme de terror que não assusta. Nada. Nenhum jump scare, nenhuma tensão. Durante as cenas de exorcismo, muito barulho e efeitos de luz, mas zero clima de medo. Talvez ele seja mais engraçado do que aterrorizante, não por ser uma comédia, mas sim porque o padre Amorth dizia que o demônio odeia humor, então ele passa o filme inteiro fazendo piadinhas.

Era pra ter uma subtrama por trás envolvendo o passado do Vaticano, mas isso é deixado de lado. Outra coisa que é deixada de lado é o aprofundamento nas personalidades dos personagens, todos rasos. Mas pra não dizer que achei tudo ruim, curti a maquiagem do garoto possuído. Nada de inovador, mas pelo menos é uma maquiagem bem feita.

Acaba que a atuação e o carisma do Russell são a única coisa que faz a gente chegar até o final do filme. O cara é bom, então por causa dele o filme ganha alguns pontos. Do resto do elenco, o único comentário é que o Franco Nero está desperdiçado como um Papa que pouco aparece.

O Exorcista do Papa é fraco, mas o fim deixa espaço para começar uma nova franquia. O que espero que não aconteça.

O Chamado 4: Samara Ressurge

Crítica – O Chamado 4: Samara Ressurge

Sinopse (Paris Filmes): Pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem. Essas mortes ocorrem em todo o Japão. Ayaka Ichijo é uma estudante de pós-graduação extremamente inteligente e com um QI acima de 200. Sua irmã mais nova assiste a um vídeo amaldiçoado por diversão. Ayaka Ichijo tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

Tenho muitas coisa pra falar mal aqui. Preciso começar falando da divulgação brasileira. Porque, infelizmente, o nome do filme no Brasil é uma enganação. Este não é o quarto filme da Samara, e sim o oitavo filme da Sadako!

Voltemos um pouco no tempo. Em 2002 foi lançado O Chamado (The Ring), com a Naomi Watts. Era uma refilmagem de um terror japonês, Ringu, de 1998, que chegou no mercado de home vídeo pra aproveitar a onda. Com o sucesso da franquia, tivemos uma continuação americana em 2005, e me lembro que algumas continuações japonesas que chegavam aqui pelas locadoras (se não me engano, também teve um prequel). Passei uns anos sem ouvir falar da franquia, até que em 2017 foi lançado o terceiro filme americano, O Chamado 3. Nessa época vi pela internet que a franquia japonesa continuou lançando filmes, mas não vi nenhum desses. Mas agora com o lançamento deste novo filme, achei um link na wikipedia que fala de toda a franquia. São 13 longas no total: 8 filmes japoneses, 3 americanos, um sul coreano, e um crossover com a franquia Ju-On (que aqui no Brasil foi chamada de O Grito).

Resumindo: O Chamado 4, ou Sadako DX no original, é o oitavo filme da franquia japonesa! Não tem nada a ver com a franquia americana! Não tem Samara, é a Sadako! Chamar de “4” é querer enganar o espectador!

Dito isso, a boa notícia é que a história contada aqui não é continuação direta de nenhum outro filme. É uma história independente, que se passa no mesmo universo dos filmes anteriores. Ou seja, não precisa rever nada antes.

Pena que é a única boa notícia de hoje. Porque O Chamado 4 é bem ruim.

Pra começar, é um filme de terror que não assusta. Acho que eles tentaram criar jump scares com toques de celular! E só me lembro de duas mortes, as duas bem toscas – a vítima dá uma cambalhota e cai morta de olho aberto. Só.

Mas o pior é o roteiro, que é péssimo. Em todos os outros filmes quem vê o vídeo depois recebe uma ligação. Cadê a ligação? Por que não ligam mais? Ninguém se importa.

Em todos os outros filmes quem vê o vídeo morre sete dias depois. Aqui o tempo cai pra 24 horas. Qual é o motivo? Ninguém se importa.

A maioria das pessoas morre exatamente quando batem as 24 horas – nem um minuto a mais, nem a menos. Mas se você correr, a Sadako não te alcança. Como assim? Ninguém se importa!

Calma que piora. As pessoas morrem em 24 horas, a não ser que sejam importantes pro roteiro. Porque se forem importantes, o tempo conta diferente. Ah, ninguém se importa!

O roteiro é um lixo, mas tem uma coisa que poderia ter dado certo. A protagonista, inteligente, que quer ciência no lugar de negacionismo, quer dizer, no lugar de maldição, quer provar que tudo tem uma explicação dentro da ciência, e começa a comparar a disseminação da maldição com a disseminação de um vírus. Ok, poderia ter dado certo, se soubessem desenvolver. Mas não souberam.

Mas calma, que ainda pode ficar pior. A Samara / Sadako aparece como pessoas conhecidas da vítima (mais um ninguém se importa, porque não tem nenhuma lógica). A maquiagem é bem tosca, um camisolão branco e a cara pintada de branco, e tá bom. Mas, claro que pode piorar ainda mais um pouco, aí o cabelo começa a crescer. Céus, acho que nunca vi um efeito digital tão ruim quanto esse cabelo crescendo!

Ainda posso reclamar de uma coisa? Era pra ser um filme de terror. Terror ruim, mas terror. Aí chega nos créditos, o filme continua, e vira uma comédia! Piadinhas rolando junto com os créditos! De onde surgiu essa ideia???

Se heu precisar salvar uma única coisa desse filme, gostei da última cena, pós créditos. Ok, foi uma boa sacada. Mas não vale ver o filme só por causa disso.

A Morte do Demônio: A Ascensão

Crítica – A Morte do Demônio: A Ascensão

Sinopse (imdb): Beth visita sua irmã mais velha, Ellie, que está criando 3 filhos em um apartamento apertado em Los Angeles. Sua reunião é curta quando eles encontram um livro demoníaco, The Necronomicon Ex-Mortis.

Antes de falar do filme, posso faltar um pouco sobre o mercado cinematográfico? Evil Dead é uma marca muito forte. O primeiro filme, de 1981, é um clássico incontestável e revolucionário. Foram duas continuações, um remake, e três temporadas de uma série de TV (isso porque não vou entrar em outras mídias). Resumindo: Evil Dead é uma franquia importante.

Fazer parte de uma franquia dessas tem um ponto positivo, que é trazer público. Mas também tem um ponto negativo: A Morte do Demônio: A Ascensão não é exatamente ruim, mas é bem inferior ao outro A Morte do Demônio. E, por fazer parte da franquia, a comparação é inevitável.

Escrito e dirigido por Lee Cronin, A Morte do Demônio: A Ascensão tem seus pontos positivos. Para manter o espírito da franquia, rolam travellings de câmera, muito gore e litros de sangue, e ainda tem uma motosserra e um olho voando (e também tem uma referência a O Iluminado). Além disso, a trilha sonora é boa e a vilã é excelente.

Uma das minhas críticas à versão de 2013 era que tinham feito um filme sério. Se você quer fazer parte de uma franquia, tem que respeitar as características dessa franquia. E a galhofa é uma das características mais marcantes dos três filmes dirigidos por Sam Raimi. Este novo A Morte do Demônio: A Ascensão não é tão galhofa quanto a trilogia original, mas tem uma boa dose de humor negro.

O humor negro ajuda a amenizar a quantidade de gore e de sangue. Neste aspecto, A Morte do Demônio: A Ascensão não decepciona: tem MUITO sangue, principalmente na parte final (segundo o imdb, foram usados 6.500 litros de sangue artificial). Ah, outra coisa: gostei de algumas sacadas criativas sobre o posicionamento da câmera, como por exemplo uma cena mostrada através do olho mágico.

Não conhecia ninguém do elenco, mas diria que todos estão bem. Vou além: gostei muito da Alyssa Sutherland, que faz a mãe. Ela é assustadora! Também no elenco, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher.

Falemos sobre o livro. A sinopse do imdb fala que é o Necronomicon, mas acho que não é o mesmo livro. E durante o filme falam que são três livros diferentes. Me parece que este é um livro semelhante, mas não é o mesmo dos outros filmes. Além disso, a gente precisa lembrar que a palavra “Necronomicon” é de autoria do H.P. Lovecraft, e não tenho ideia de como são os direitos autorais sobre isso, talvez tenham mudado por causa dos direitos.

Agora, na minha humilde opinião, o filme seria melhor se tirasse do título a parte “A Morte do Demônio”. Exatamente a mesma história: um garoto encontra um livro e um disco, e isso libera uma entidade que possui as pessoas. Ia vender menos ingressos, sei disso. Mas não ia ser comparado com o filme clássico, então ia ser um produto final melhor. Pena que no mercado de hoje em dia coisas assim são necessárias.

A Primeira Comunhão

Crítica – A Primeira Comunhão

Sinopse (imdb): Sara tenta se encaixar com os outros adolescentes na pequena cidade na província de /. Eles saem uma noite para uma boate, a caminho de casa se deparam com uma menina segurando uma boneca, vestida para sua primeira comunhão.

Bora pra outro terror espanhol?

Comentei no texto sobre 13 Exorcismos que curto o cinema fantástico espanhol, que nos trouxe alguns filmes muito bons nas últimas décadas. Dirigido por Víctor Garcia, este A Primeira Comunhão (La niña de la comunión, no original) não entra nessa lista de “muito bons”, mas pelo menos não faz feio como alguns recentes títulos de terror lançados nos cinemas.

O filme se passa nos fim dos anos 80 (não me lembro se isso é dito no filme, peguei a informação no imdb). A ambientação de época é boa, e isso faz diferença no filme (porque se as pessoas tivessem celulares e internet como hoje em dia, não sei se a história funcionaria).

A Primeira Comunhão é cheio de jump scares. Mas, por outro lado, falha na criação da tensão. Um filme de terror precisa causar medo e tensão no espectador, e isso não acontece aqui.

Gostei de uma coisa, que foi o modo como A Primeira Comunhão mostrou o ponto de vista das pessoas atacadas pela entidade – elas ficam paralisadas no “mundo real”, mas dentro de suas cabeças são levadas a um local assustador. Ok, provavelmente isso já foi feito em outros filmes (não me lembro), mas, ideia nova ou não, funcionou aqui.

Por outro lado, algumas coisas do filme ficaram mal desenvolvidas, como por exemplo o padre, que dá a entender que ele já sabia há anos sobre o que estava acontecendo. Mas o padre sai do filme e não volta para concluir seu arco.

O elenco é ok. Carla Campra e Aina Quiñones funcionam bem como as amigas que enfrentam um mal desconhecido.

No finzinho tem um plot twist desnecessário, que me pareceu ser uma porta aberta para continuações, coisa comum no cinema de terror.

No fim, fica um gosto de filme genérico. Não é um grande filme, mas vai agradar os menos exigentes.