Aumenta que É Rock’n’roll

Crítica – Aumenta que É Rock’n’roll

Sinopse (imdb): O filme acompanha a história da Rádio Fluminense, primeira rádio rock’n’roll FM do Brasil no início dos anos 1980. Criada por Luis Antonio Mello, a rádio fez história e conquistou muitos ouvintes desde sua criação em 1982.

Vamos a mais um dos filmes da minha lista de expectativas pra 2024!

Antes, uma contextualização pra galera mais nova: a rádio Fluminense foi muito importante para o rock nacional dos anos 80. Era a única rádio rock do Rio de Janeiro, e várias bandas mandavam fitas demo pra lá, antes de terem discos lançados por gravadoras. Bandas então iniciantes, mas que virariam nomes gigantes, como Paralamas do Sucesso e Legião Urbana. A rádio sempre foi alternativa, sempre foi “pequena”, mas foi fundamental para o início daquele que foi um dos maiores movimentos da música brasileira.

Dirigido por Tomas Portella (Isolados, Operações Especiais), Aumenta que é Rock’n’roll conta a história da rádio Fluminense, também chamada de “Maldita”, uma pequena rádio de Niterói que foi muito importante para o rock brasileiro dos anos 80. O filme e baseado no livro “A Onda Maldita”, escrito por Luis Antonio Mello – li o livro na época da faculdade, anos 90, mas não me lembro de quase nada.

Aumenta que é Rock’n’roll é quase uma cinebiografia de Luis Antonio Mello, o criador da rádio. Depois de um prólogo meio desnecessário mostrando o protagonista adolescente, o filme pula pra 1982, época que Luis Antonio criou o projeto de uma rádio com uma proposta diferente e acabou ganhando carta branca em uma antiga rádio caindo aos pedaços. O filme segue até o Rock in Rio, em janeiro de 1985.

Aparecem algumas “participações especiais”. Tem uma cena onde vemos o Cazuza – ele não fala o nome, mas fica claro. Evandro Mesquita é um vulto, de longe, mas reconhecemos a voz (desconfio que a voz seja do próprio Evandro). E temos atores interpretando os Paralamas do Sucesso e a Legião Urbana. Só não entendi por que não citam o Celso Blues Boy, já que sua música aparece duas vezes e dá título ao filme.

Aumenta que é Rock’n’roll é leve e divertido, e tem algumas sequências muito boas, como a promoção das formigas (que realmente aconteceu). A relação entre os dois personagens principais, interpretados por Johnny Massaro e Marina Provenzzano, também é bem construída, assim como a boa reconstituição de época. A trilha sonora, tanto nacional quanto internacional, também é boa. Mas… Quero fazer dois mimimis. Entendo a opção da produção do filme, mas preciso deixar o meu mimimi registrado.

O primeiro é sobre várias liberdades históricas tomadas ao longo do filme, como por exemplo mostrar que já tinha uma fita demo da Legião Urbana na gaveta no dia que ouviram pela primeira vez Você Não Soube me Amar, da Blitz (música que foi lançada num compacto em julho de 1982, enquanto a Legião Urbana começou em agosto); ou a inclusão, na trilha sonora, de músicas lançadas depois do período histórico retratado no filme (como Homem Primata, dos Titãs, que foi lançada em 1986, ou Que que País é Esse, da Legião, lançada em 87, ou uma breve aparição da Plebe Rude, que só lançou disco em 86). Mas, entendo a opção de colocar músicas famosas na trilha, o resultado, apesar de incorreto, ficou empolgante.

(Ainda tem os shows do Rock in Rio na ordem errada. A Blitz não tocou antes do Barão Vermelho em nenhum dos dias!)

O segundo mimimi é mais mimimi que o primeiro, mas esse não perdoo. Vemos a Legião Urbana tocando em um show. Por duas vezes a câmera dá um close no baterista e o que ele está fazendo é completamente diferente do que estamos ouvindo! Entendo alterar algumas datas para o filme fluir melhor, mas, músico tocando fora de sincronia é mais difícil de aceitar.

Mimimis à parte, gostei muito do resultado final. A gente sai do cinema empolgado! Ouvi uma pessoa dizendo que “a gente sai do cinema com vontade de ouvir rock”. Mas, ué, todos os dias tenho vontade de ouvir rock…

Jorge da Capadócia

Crítica – Jorge da Capadócia

Sinopse (Paris Filmes): Em 303 D. C., após ter vencido mais uma grande batalha, Jorge é condecorado como novo capitão do exército, quando o Imperador Diocleciano inicia sua última grande perseguição aos cristãos no império romano. Diante das cruéis ordenações impostas ao povo e a pressão para que se rendam aos deuses cultuados no império, Jorge, um homem acima de tudo, agora se vê diante de seu maior desafio ser fiel à sua fé e as suas convicções ou sucumbir às ordens do imperador Diocleciano.

E vamos para mais um filme nacional de gênero! Um épico bíblico contando a história de Jorge, soldado romano que se insurgiu contra o imperador, e que depois virou um dos santos mais populares – pelo menos aqui no Rio, onde vemos estátuas de São Jorge num cavalo derrotando um dragão em vários lugares.

Pena que, desta vez, infelizmente, a qualidade deixa a desejar.

Jorge da Capadócia foi produzido, dirigido e estrelado por Alexandre Machafer. Na parte da produção, Machafer mandou bem, Jorge da Capadócia tem figurinos bem cuidados e foi filmado em locações na Turquia (onde fica a Capadócia), e ainda tem um imponente dragão em cgi. Mas, as atuações são péssimas!

Nenhum dos atores parece estar atuando. Todos estão declamando textos, passa a impressão de que estamos vendo um teatro de escola. Essas atuações robóticas não me deixaram “entrar” no filme. A princípio achei que poderiam ser atores ruins, mas, como todo o elenco age assim, acredito que foi uma escolha da direção de atores. Na minha humilde opinião, uma escolha errada.

Além disso, rolam alguns defeitos técnicos meio feios. Só pra dar um exemplo: em uma das cenas onde Jorge está sendo torturado, quando mostra seu rosto, a imagem sai de foco e logo volta. Isso é comum em câmeras de foco automático, o foco sai e volta. Em primeiro lugar, uma produção destas não deveria usar foco automático. Mas, se saiu do foco, deveriam refazer a cena. Mas, vamos dizer que não dava pra refilmar, ora, era só consertar na edição: corta o trecho antes da perda do foco, como a tortura tinha acabado, ele poderia “voltar ao foco”.

Sobre o dragão, não é um cgi perfeito, parece um dragão de temporadas antigas de Game Of Thrones. Me parece que esse cgi vai vencer muito em breve. Mas, isso não me incomodou, visualmente, o dragão serve para o seu propósito. O que me incomodou foi outra coisa, mas talvez seja spoiler.

SPOILERS!

Não sou religioso, não conheço detalhes sobre a lenda de São Jorge. O que entendi pelo filme é que o dragão simboliza o Império Romano. Jorge se insurgiu contra o Império, e o dragão mostraria sua luta desigual. Mas, no fim do filme, Jorge se rende e morre. O Império Romano vence. Ora, se o dragão simboliza o Império, na verdade ele deveria ser derrotado por ele…

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com os problemas, mantenho o que sempre digo aqui: o cinema nacional precisa de filmes assim para se desenvolver. Que venham outros! E, de preferência, melhor atuados!

Uma Família Feliz

Crítica – Uma família feliz

Sinopse (imdb): Em um condomínio fechado no Rio de Janeiro, uma mãe é duramente acusada de machucar as filhas gêmeas e o bebê recém-nascido. No entanto, a verdade por trás das cercas pode revelar uma crueldade inesperada.

Olha que legal, semana passada falei de Evidências do Amor, uma comédia romântica nacional. E hoje é dia de falar de Uma Família Feliz, um suspense nacional. Dois filmes nacionais de gênero!

Escrito por Rafael Montes (Bom Dia Verônica) e dirigido por José Eduardo Belmonte (Carcereiros), Uma Família Feliz começa muito bem, somos jogados no meio de uma sequência tensa, onde não entendemos o que está acontecendo, e depois a linha temporal volta e a história realmente começa.

Conhecemos o casal Vicente e Eva. Vicente tem duas filhas do primeiro casamento, e Eva está grávida. Ricos e bonitos, aparentemente é a perfeita “família de comercial de margarina”. Mas, pouco depois, as crianças e o bebê começam a aparecer com machucados, e não sabemos quem é o responsável por isso. Eva está passando por depressão pós parto, e claro que todos começam a desconfiar dela.

Tem um detalhe que ajuda o clima a ficar esquisito: Eva trabalha fazendo bonecas realistas. São umas bonecas assustadoras!

Uma coisa curiosa e bem atual é que Eva é “julgada e condenada” pelos amigos e vizinhos, e sofre uma espécie de “cancelamento”, mesmo sem a gente saber se ela é culpada ou não.

Tecnicamente falando, o filme é muito bem feito. Os dois atores principais, Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera, estão muito bem – principalmente Grazi, que tem mais tempo de tela. O clima de suspense é bem construído. Mas… Achei o filme longo demais. Tem uma hora que cansa. Ok, já entendemos, podemos seguir em frente?

Não vou entrar em spoilers, mas não gostei do final. A sequência é bem filmada, bem conduzida, mas não entendi a motivação do personagem para agir daquele jeito. Mesmo assim, ainda recomendo o filme. Sempre defendo filme de gênero nacional!

Evidências do Amor

Crítica – Evidências do Amor

Sinopse (imdb): Marco e Laura se conhecem em um karaokê e cantam juntos “Evidências”. Desde então, eles se apaixonam e formam um casal que parecia perfeito, até o destino ter outros planos.

Uma comédia nacional, baseada numa música sertaneja / brega, estrelada pela Sandy. E sim, é um dos melhores filmes que vi no cinema nas últimas semanas!

Vamos por partes. Primeiro queria falar da minha relação com a música Evidências. Vi na wikipedia que a música é de 1990, e fez muito sucesso em 90 e 91. Estranho, nessa época heu estava entrando na UFRJ, heu frequentava várias festas universitárias, heu deveria conhecer a música. Mas, não. Não tenhi nenhuma recordação de ter ouvido. Até que, já na década de 2010, minha banda Perdidos na Selva ia tocar num casamento, e os noivos pediram Evidências. Achei estranho, um show de rock nacional alguém pedir Chitãozinho e Xororó, mas achei que o casal poderia ter alguma história com a música. Fui estudar, a música é boa, tem acorde sus, diminuto, quinta aumentada, é uma música gostosa de tocar. No show, o salão inteiro perdeu a linha na hora da música. Fiquei impressionado, “como assim todos conhecem essa música que heu nunca tinha ouvido falar?”. É, heu estava realmente por fora.

Anos depois, entrei pra banda de karaokê da Érika Martins, o Chuveiro in Concert. E posso afirmar: temos um repertório com 70 músicas, e a única música que toquei em TODOS os shows é Evidências. E sempre a galera perde a linha. Não sei qual é o feitiço que existe nessa música, mas é real. Evidências altera o comportamento das pessoas!

Agora vamos ao filme. Mas, antes, queria repetir um parágrafo que escrevi no texto sobre O Sequestro do Voo 375, que se encaixa perfeitamente aqui: “o cinema nacional é composto, basicamente, de dois tipos de filme: a comédia besta com cara de Globo Filmes, e o filme hermético feito para passar em festivais. E heu não falo mal de nenhum dos dois tipos de filme. Porque a comédia é besta, mas muita gente curte e muita gente vai ao cinema por causa disso, e heu sempre defendi um filme que leva público para o cinema. Por outro lado, o filme hermético leva o cinema nacional para festivais importantes como Cannes e Veneza. Defendo que existam esses tipos de filme. O que não defendo é que quase todos os filmes lançados no circuito sejam desses dois tipos. Heu acho que a gente deveria ter vários estilos de filmes, como ação, terror, suspense, ficção científica, aventura…”

Sim, Evidências do Amor é comédia. Mas não é “comédia de bordão”, não tem cara de Globo Filmes. Parece mais uma cópia das comédias românticas hollywoodianas. Sim, não é original, mas é diferente do “de sempre”. Então, acho que podemos classificá-lo como “filme de gênero”.

A proposta lembra Eduardo e Mônica, outra comédia romântica brasileira baseada em uma música muito popular. Ambos são muito muito bons, mas são filmes com propostas bem diferentes, Eduardo e Mônica se baseia mais na letra da música, Evidências do Amor usa a música apenas como pano de fundo.

Dirigido por Pedro Antônio (que já dirigiu outras comédias que heu, por preconceito, escolhi não ver), Evidências do Amor traz uma história engraçada e emocionante sobre um casal que se conheceu cantando Evidências num karaokê, mas se separaram às vésperas do casamento. Um ano depois, toda vez que ele ouve a música, ele tem um apagão e é levado para uma lembrança ruim do relacionamento.

A edição é muito boa. Heu vi no relógio: a introdução do filme tem 11 minutos, e nesses 11 minutos conta um resumo de toda a história do casal, desde o momento que se conheceram até a traumática separação, e ainda tem várias versões da música Evidências ao fundo. E aproveito pra elogiar a edição musical: são muitas versões da música, e todas soam bem no filme!

O elenco está bem. Fabio Porchat é um cara muito engraçado, às vezes ele exagera um pouco, mas aqui os exageros dele cabem no personagem. Já a Sandy não é engraçada, e às vezes me parecia que o casal não tinha muita química, não sei o quanto disso é porque a gente tem uma certa dificuldade em separá-la do seu passado – não tem como vê-la em tela e não lembrar de “Sandy & Jr”. Mesmo assim, funciona pro que o filme pede. No elenco secundário, preciso citar a Evelyn Castro, que protagoniza algumas cenas hilárias ao lado do Fábio Porchat (apesar de até agora heu não ter entendido muito bem a amizade dela com o personagem do Fábio, se ela é a zeladora do prédio, se é a síndica, se é a dona, sei lá).

Evidências do Amor não é um grande filme, não vai ganhar prêmios. Mas, na minha humilde opinião, é o que o cinema nacional precisa: filme de gênero de qualidade. Porque, assim como aconteceu ano passado com O Sequestro do Voo 375, o espectador que entrar num multiplex no fim de semana para ver o filme, vai sair feliz e satisfeito com o que viu. Viva o cinema nacional de gênero!

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo

Crítica – Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo

Sinopse (imdb): Quando Mônica, Cebola, Magali, Cascão e Milena descobrem que o Museu do Limoeiro será leiloado, decidem se unir para salvá-lo. Enquanto investigam o que está acontecendo, eles se deparam com segredos assustadores do bairro do Limoeiro.

E vamos pra primeira grande decepção do ano…

A recente adaptação cinematográfica da Turma da Mônica dirigida por Daniel Rezende é muito boa, com os filmes Turma da Mônica Laços (2019) e Turma da Mônica Lições  (2021), e a série de 2022. Foi um feliz caso onde tudo dá certo, a escolha do elenco foi excelente e os roteiros são envolventes. Tudo funciona redondinho!

Ok, entendo que a produção deste Turma da Mônica Jovem não tem nada a ver com a outra produção (assim como acontece nos gibis). Mas como a qualidade daquele foi tão boa, claro que gerou expectativas!

E Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é tão fraco…

Se no anterior tudo deu certo, parece que aqui tudo deu errado. Começo pelo roteiro preguiçoso. Vou dar um exemplo só. Determinada cena a Mônica e a Magali estão vasculhando um baú, e chega a tia da Magali e diz que elas terão que fazer um ritual de feitiçaria (ou algo parecido). Corta, vemos a Mônica sozinha fazendo o ritual. Ué, a tia não deveria estar por perto pra auxiliar no ritual? Mas, calma que piora. Algumas cenas depois a Mônica está com o mesmo livro, e a tia da Magali diz “você não pode pegar esse livro sozinha!” Ué?

A edição também tem falhas. Não só algumas cenas parecem desconexas, como tive a impressão de ter cenas de dia e de noite na mesma sequência. E os efeitos especiais me lembraram Shark Boy e Lava Girl. E, em 2024, não é uma boa referência você lembrar de Shark Boy e Lava Girl.

As atuações não são boas. E ainda pioram com a inevitável comparação: os quatro principais da outra versão da Turma da Mônica atuam melhor e, principalmente, são muito mais carismáticos. Naquela versão, acaba o filme e quero ver mais da turminha. Nesta versão, que eles fiquem presos no espelho, ninguém se importa!

Se o desenvolvimento do filme já estava mal, quando chega na parte final tudo piora. Várias coisas não fazem o menor sentido na conclusão, a ponto de, na cena chave onde as pessoas são salvas, aparece um personagem que ainda não tinha aparecido antes! E, pra piorar, o filme acaba com um gancho desnecessário. E ainda tem uma cena pós créditos péssima.

Depois da sessão, conversei com alguns críticos, alguém disse que o filme podia fazer que nem Scott Pillgrim e usar elementos de mangá – como acontece nas HQs. Podia ser uma saída. Mas, do jeito que ficou, parece uma produção pobre feita pra TV.

Ouvi algumas pessoas comentando como se fosse negativo o fato de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo flertar com terror e ao mesmo tempo ser direcionado ao público infantojuvenil. Mas não vejo problemas nisso, a gente tem alguns filmes pra garotada que fazem isso e funcionam. O problema aqui é que o filme, infelizmente, é ruim.

Torço muito pra sair o filme do Chico Bento. Feito pela mesma galera da outra Turma da Mônica. E não faço questão da continuação deste Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo.

O Sequestro do Voo 375

Crítica – O Sequestro do Voo 375

Sinopse (imdb): Um tratorista desempregado sequestra o voo 375 da VASP e ordena ao comandante Murilo que derrube o avião no Palácio do Planalto para matar o presidente – que ele considera culpado pela devastadora crise econômica do país.

Heu sempre defendi que a gente precisa ter mais filmes de gênero feitos no Brasil. E a notícia é boa quando a gente vê um filme de gênero nacional sendo lançado no circuito, e é melhor ainda quando o filme é bom.

Antes de entrar no filme, heu queria falar um pouquinho sobre cinema nacional, que é composto, basicamente, de dois tipos de filme: a comédia besta com cara de Globo Filmes, e o filme hermético feito para passar em festivais. E heu não falo mal de nenhum dos dois tipos de filme. Porque a comédia é besta, mas muita gente curte e muita gente vai ao cinema por causa disso, e heu sempre defendi um filme que leva público para o cinema. Por outro lado, o filme hermético leva o cinema nacional para festivais importantes como Cannes e Veneza. Defendo que existam esses tipos de filme. O que não defendo é que quase todos os filmes lançados no circuito sejam desses dois tipos. Heu acho que a gente deveria ter vários estilos de filmes, como ação, terror, suspense, ficção científica, aventura…

Por isso fico feliz quando eu vejo um filme como O Sequestro do Voo 375, que não tem cara de nenhum dos dois tipos citados, e é um filme que pode levar público para o cinema, e vai agradar o “espectador de multiplex”.

A história é muito boa. Em setembro de 1988, o Brasil passava por uma crise econômica muito severa e um cara, desesperado, resolveu sequestrar um avião e levá-lo até Brasília com o objetivo de jogar o avião em cima do Palácio Planalto para matar o presidente Sarney. Nessa época não existia raio X em voos domésticos, por isso o cara conseguiu embarcar com uma arma.

Por uma sorte minha, heu não lembrava de quase nada da história real – quem conhece a história, na verdade, está tomando um spoiler. Se você não se lembra, vai ter uma experiência melhor vendo o filme.

A princípio achei que não tinha história suficiente pra sustentar um longa metragem (o filme tem aproximadamente uma hora e quarenta, não sei exatamente qual é a duração e não achei nem no imdb, nem no filmeb, nem na wikipedia). Achei que o filme podia ficar chato no meio do caminho. Mas não, o diretor Marcus Baldini consegue segurar a tensão do espectador durante o filme inteiro, e a parte final é alucinante.

Heu preciso elogiar a reconstituição de época. O filme se passa em 1988 – ok não faz muito tempo, mas a gente vê várias roupas, penteados e apetrechos que não são mais comuns nos dias de hoje. Além disso, o avião da Vasp é quase um personagem, e a gente tem que lembrar que a Vasp é uma companhia que fechou há décadas. Segundo li em algum lugar, conseguiram um avião da Vasp cedido por um colecionador.

Um parágrafo para falar dos efeitos especiais. Por um lado os efeitos especiais são muito bons, vemos várias cenas aéreas com o avião da Vasp, além de várias cenas aéreas com o avião da Vasp acompanhado de um caça da Força Aérea Brasileira. Todas essas imagens aéreas são bem feitas, não sei se é computação gráfica, não sei se é algum modelo, não sei se pegaram um avião real e pintaram. Não sei qual foi o efeito, mas reconheço que essa parte ficou realmente muito boa. Por outro lado, na parte que o avião vai pousar, a sensação que deu é que acabou o dinheiro dos efeitos especiais e tiveram que contratar um estagiário qualquer. Os efeitos especiais do avião pousando sao um CGI muito vagabundo!

No elenco, nenhum grande nome. Danilo Grangheia está bem como o piloto. Já Jorge Paz às vezes é um pouco exagerado como o sequestrador, mas nada grave (a gente tem que lembrar que era uma pessoa fora do seu normal). Agora, achei estranha uma decisão da produção. No fim do filme, vemos imagens das pessoas reais, e todos os atores são bem diferentes. Não entendi por que não tentaram uma caracterização mais próxima da realidade.

O Sequestro do Voo 375 estreia no circuito dia 7 de dezembro.

A Praga

Crítica – A Praga

Sinopse (imdb): Em um passeio pelo campo, Marina e Juvenal param para tirar fotos em frente à casa de uma idosa. Irritada, a velha revela-se uma bruxa e lança uma maldição sobre o jovem casal.

Hoje vou falar de um filme que quase ninguém viu. Vou além: quase ninguém ouviu falar! A Praga, filme “novo” de José Mojica Marins, o Zé do Caixão!

Antes de A Praga rola um pequeno documentário de uns 17 ou 18 minutos contando a história do filme. Filmado em 1980, eles perderam os negativos. Anos depois, no meio de um material separado para descarte, encontraram os arquivos. E então veio o cuidadoso trabalho executado pelo produtor Eugênio Puppo, que restaurou o material, filmou novas cenas, dublou o filme e incluiu trilha sonora (o material encontrado estava sem som).

(Se esse breve documentário tem um problema, é que vemos cenas do filme que vai começar em breve. Ou seja, temos spoilers…)

Dirigido por Mojica e com roteiro de Rubens Francisco Lucchetti (o maior autor de terror e literatura pulp do Brasil), A Praga foi originalmente feito para um programa de TV chamado Além, Muito Além, exibido na rede Bandeirantes entre setembro de 1967 e julho de 1968. Infelizmente, depois do cancelamento do programa, as fitas onde eram gravados os programas foram reaproveitadas pela Bandeirantes para outras atrações, sendo assim não existem mais registros em vídeo do programa (prática que infelizmente era comum na TV).

(Considerado “o papa do pulp no Brasil”, Rubens Francisco Lucchetti não é um nome muito conhecido, mas tem um currículo impressionante. O cara lançou dezenas de livros e HQs de teor fantástico, e, no assunto que nos interessa, ele escreveu o roteiro de alguns filmes do Zé do Caixão e do Ivan Cardoso (incluindo As Sete Vampiras, um dos meus guilty pleasures favoritos).)

Finalmente, falemos do filme. A história em si não tem nada de excepcional, lembra aqueles filmetes no estilo Tales From the Crypt. O Zé do Caixão narra uma história onde um cara discute com a velha e é amaldiçoado.

O resultado final é estranho. O estilo do Mojica não é pra qualquer um, os ângulos de câmera são estranhos, com closes igualmente estranhos. As atuações estão bem longe do convencional. Mas essa tosqueira faz parte do estilo do diretor. Como diz o crítico Mario Abbade: “O que pode parecer algo de mau gosto e/ou tosco, por causa do baixíssimo orçamento, é na verdade uma pequena pérola do terror feito no Brasil, com o intuito provocar desconforto, repulsa ou risos nervosos. Um estilo de cinema que foi reverenciado e reconhecido mundialmente, pelo uso de alegorias visuais e narrativas.

Sobre o elenco, claro, nenhum ator conhecido. Mas, existe um detalhe curioso: cada personagem tem dois créditos de ator, um para o “corpo’, que é quem aparece na tela; e outro para a voz, que é quem dublou. Os diálogos tiveram que ser recriados do zero, usando uma pessoa com prática em leitura labial e os quadrinhos de Lucchetti como base.

Agora, ver um filme desses lançado no cinema é uma experiência ótima. Pena que temos poucas oportunidades, e pena que pouca gente valoriza – eram duas sessões por dia no Rio de Janeiro inteiro, e na minha sessão eram só 3 espectadores. Pena…

Cidade Invisível – segunda temporada

Crítica – Cidade Invisível – segunda temporada

Sinopse (wikipedia): Após um bom tempo ausente, Eric aparece em um santuário natural protegido por indígenas e procurado por garimpeiros, perto de Belém do Pará. Ele descobre que sua filha, Luna, e a Cuca estavam morando na região com o objetivo de trazê-lo de volta à vida. Embora queira retornar imediatamente para o Rio de Janeiro com Luna, Eric percebe que a menina tem uma missão maior a cumprir na região. Ao mesmo tempo, ao tentar protegê-la, ele se torna uma ameaça para o delicado balanço entre natureza e as entidades.

Não escondo de ninguém que sou fã de folclore nacional, inclusive fiz um curta de câmera encontrada com o Boitatá em 2012. Claro que gostei de Fábulas Negras, e claro que gostei da primeira temporada de Cidade Invisível. E agora temos a segunda temporada, em um lugar diferente, e com entidades diferentes!

Comecei a temporada empolgado, cheguei a gravar uma dica pro Instagram do Podcrastinadores, mas, preciso reconhecer que não gostei da conclusão da temporada. Mas, vamos por partes, vou trazer os elogios e depois falo por alto do que não gostei (pra não dar spoilers).

Uma coisa que achei bem legal foi trocarem a ambientação da série. Se a primeira temporada se passava no Rio de Janeiro, agora a trama está no Pará, onde uma entidade misteriosa quer achar uma reserva de ouro escondida por mágica. E se antes a gente tinha o Saci, a Iara, o Boto e o Curupira, agora temos contato com outros seres fantásticos do folclore brasileiro, como um lobisomem, a Matinta Pereira, e tem até uma mula sem cabeça!

Um parágrafo à parte pra falar da Matinta Pereira, interpretada pela Letícia Spiller. A Matinta é uma personagem misteriosa e assustadora; e a Letícia Spiller, irreconhecível, está ótima! E os efeitos especiais do personagem são discretos e eficientes.

Já que entrei no elenco… São poucos os nomes da primeira temporada que voltam aqui. Marco Pigossi e Alessandra Negrini estão de volta como Eric e a Cuca; Luna, a filha do Eric, trocou a atriz, agora é interpretada por Manu Diegues. Julia Konrad também reaparece aqui, mas só em poucas cenas. Além da Letícia Spiller, temos outra atriz conhecida, Simone Spoladore. Não gostei do ator mirim Tomás de França, que faz o Bento, achei ele bem ruim. Também no elenco, Zahy Guajajara, Tatsu Carvalho, Mestre Sebá e Rodrigo dos Santos.

São só cinco episódios, e assim como acontece na primeira temporada, a história fecha mas abre uma porta para uma possível nova temporada. Não gostei do fim, não entendi por que todo mundo precisava ir para o Marangatu, achei tudo muito forçado. Não chegou a estragar a boa experiência que a série proporcionava até então, mas quando um filme / série termina mal, perde pontos na avaliação.

Sobre o gancho: um dos últimos frames da temporada traz de volta um personagem da primeira temporada. Por que? Como? Bem, este é aquele tipo de gancho que, se tiver uma terceira temporada, será explicado. Mas se deixarem pra lá, ok, não atrapalha.

Turma da Mônica – A série

Crítica – Turma da Mônica – A Série

Sinopse (Globoplay): Quando a festa da popular Carminha Frufru é misteriosamente sabotada, Mônica e seus amigos se tornam os principais suspeitos, e vão precisar superar suas inseguranças e revelar seus segredos para decifrar o mistério.

Antes de tudo, vou fazer uma crítica que não tem nada a ver com a série, mas com o formato adotado. Tivemos dois filmes longa metragem com a Turma da Mônica, e agora anunciaram uma série de oito episódios. E ouvi um boato de que Fernando Caruso interpretaria o Capitão Feio na série. Sou fã do Caruso, sou fã do Capitão Feio, fui logo catar qual episódio seria. Tem um episódio chamado “Lama”, opa, vamos ver esse logo!
Só então descobri que a série segue o formato “filme dividido em capítulos”. Ok, entendo que atualmente todas as séries seguem esse formato, falei aqui de Reacher, The Boys, Peacemaker, Pam & Tommy, gravei Podcrastinadores sobre Ruptura e Stranger Things, todos são no mesmo formato, Turma da Mônica não faz nada diferente. Aquele formato de séries com episódios independentes foi deixado de lado, acho que ninguém mais faz séries assim. Mas, sei lá por que, achei que seria naquele formato.

E aí fica minha bronca: se é pra ter esse formato, por que não um filme longa metragem?

Ok, passado o meu mimimi, vamos à série!

Curti muito o segundo filme da Turma da Mônica, Lições, que passou nos cinemas no iniciozinho do ano. Vimos um problema: o elenco está crescendo, um elenco infantil muda muito ao longo dos anos (um ator adulto pode voltar a um papel de anos atrás e continuar com a mesma aparência, tipo o Tom Hiddleston que filmou a série Loki em 2021, dando continuidade ao papel feito nove anos antes em Vingadores.) Kevin Vechiatto, o Cebolinha (o mais velho dos 4 principais), nasceu em 2006. Tinha 13 anos no lançamento do primeiro filme e hoje tem 16. Dos 13 aos 16 um jovem muda muito…

Essa era uma preocupação que tive ao fim do filme Turma da Mônica – Lições: como vão lidar com esse elenco para o terceiro filme? (Os filmes foram baseados em uma série de 3 graphic novels, teoricamente teremos um terceiro filme, acho que o nome é Lembranças.) E não tem como mudar o elenco agora, todo o elenco infanto-juvenil é excelente, são bons atores, são carismáticos. O filme admite esse problema, e mostra que eles agora não podem mais ir ao parquinho porque estão crescendo! A solução foi começar a entrar no clima do outro gibi, Turma da Mônica Jovem. O Cebolinha fala o “R”, só troca pelo “L” quando está nervoso; já começa a rolar um clima entre Mônica e Cebolinha…

Aliás, é bom avisar: Turma da Mônica – A Série não perde tempo explicando nada. A série parte do princípio que todo mundo conhece os personagens e suas características. Achei uma decisão acertada, afinal duvido que alguém fique perdido sem reconhecer ninguém.

Daniel Rezende foi o diretor dos dois filmes, aqui ele é o show runner e dirige alguns episódios. Mais uma vez ele faz um excelente trabalho: não existe nada a ser criticado na parte técnica da série. E vou além: Rezende criou um mundo mágico – assim como existe nos gibis. Ninguém precisa dizer onde se passa, quando se passa, as histórias se passam naquele mundinho e todos os elementos presentes em tela funcionam redondinho.

A história aqui é bem construída. Temos um “whodunit”, aquele formato onde temos vários suspeitos e uma investigação para descobrir quem é o culpado, como nos livros da Agatha Christie ou no filme Entre Facas e Segredos. Isso ficou muito legal, porque revemos várias cenas sob outros pontos de vista, o que gera alguns plot twists bem bolados. Só não digo que ficou perfeito porque foram muitos flashbacks, cansa um pouco, talvez fosse melhor um pouquinho menos (e aproveitar pra transformar num longa metragem… 😉 ). E esses plot twists acabam trazendo umas lições de moral bem encaixadas na trama – a gente tem que se lembrar que o público alvo é infantil!

Como falei na crítica sobre o filme Lições, o elenco é ótimo. Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo e Gabriel Moreira voltam aos seus papeis, e os quatro são ótimos e muito carismáticos, a gente acaba o filme com vontade de ver mais dessa turminha. Dentre os secundários, o roteiro foca mais na Carminha Frufru, na Denise e na Milena. E o roteiro consegue equilibrar bem a importância de vários outros personagens secundários, como Marina, Quinzinho, Humberto, Titi, Jeremias… E, mais uma vez, as melhores piadas estão com o Do Contra, que é um excelente alívio cômico.

De novidade no elenco temos Mariana Ximenes como a mãe da Carminha Frufru, e Fernando Caruso como Feitoso, o tio do Cascão. Ambos estão caricatos, claro, uma série dessas vai ter adultos caricatos, é inevitável. Achei o personagem do Caruso mais bem desenvolvido, porque ele começa como um nerd que sofria bullying, pra depois se apresentar como um vilão vingativo. Mas posso ter achado isso porque sou fã do Caruso e porque ele é meu amigo, então, sim, estou sendo parcial.

O filme Lições me impactou mais do que esta série, mas podemos dizer que a qualidade se mantém no alto. Parabéns à produção, e que venham mais filmes e séries!

Areias Escaldantes

Crítica – Areias Escaldantes

Sinopse (wikipedia): Num futuro próximo (1990), no país fictício de Kali, um grupo de jovens terroristas executa roubos, sequestros e assassinatos sob as ordens de um misterioso chefão conhecido como “Entidade” e são perseguidos pela pomposa e ineficiente Polícia Especial.

Às vezes é melhor deixar as memórias lá no passado. Lembro que este Areias Escaldantes foi um filme marcante na minha vida, e nunca tinha revisto. Devia ter continuado sem rever…

Escrito e dirigido por Francisco de Paula, Areias Escaldantes parece um videoclipe. Imagens desconexas, atuações caricatas, tudo meio nonsense. Agora, o problema é que temos um videoclipe longa metragem. Cansa.

O roteiro é um lixo. Vou citar só dois exemplos pra mostrar como é um roteiro tosco. Um é que o filme deveria se passar na fictícia província de Kali. Mas tem um momento onde o personagem precisa ir até o Maracanã, num jogo Flamengo x Vasco! Se é pra termos um local fictício, qual é o sentido de usar um clássico no estádio mais famoso do Brasil? O outro exemplo é o Lobão, que tem um personagem policial, e que de repente aparece cantando e tocando guitarra. A gente entende ter um momento musical do Lobão (que era produtor musical do filme), mas não desse jeito à moda bangu!

Emendando os momentos musicais, a gente tem umas esquetes bem bobinhas. E como o elenco tem Luis Fernando Guimarães, Diogo Vilela e Regina Casé, impossível não lembrar de TV Pirata. Só que um TV Pirata bem mais bobo que o que a gente conhece. Também no elenco, Cristina Aché, Lobão, Jards Macaé, Guará Rodrigues, Eduardo Poly, Sérgio Bezerra e o Neville De Almeida fazendo um espião que é um dos papéis mais desperdiçados da história do cinema – ele aparece ao longo do filme como um cara misterioso, mas que não era ninguém importante no final, e ainda fala ao elenco e ao espectador que não está entendendo nada.

Pensando no personagem do Neville, a gente vê que o roteiro tinha potencial para ir longe. Existe uma tentativa de se criar um futuro distópico com uma espécie de polícia totalitária (apesar do filme se passar em 1990, apenas 5 anos no futuro). Mas essa tentativa falha miseravelmente. Areias Escaldantes é ruim como comédia, e é ainda pior como ficção científica. O filme se basta em uma trama sonolenta e sem graça de terroristas bonzinhos. Areias Escaldantes não serve nem pra criticar a ditadura militar que estava na reta final (no mesmo ano de 1985 o país teria o primeiro presidente não militar desde a década de 60).

Agora, a trilha sonora é fantástica. Músicas do Ultraje a Rigor, Titãs, Lobão, Gang 90, Ira!, Metrô, Capital Inicial e Lulu Santos. E ainda temos videoclipes inteiros, um dos Titãs e um do Lobão.

Também gostei de um detalhe aqui e outro ali, como uma corrida de táxi onde o carro se movimenta para frente e para trás ao mesmo tempo (não tem sentido, é um gag visual). Mas é pouco.

Vale pela nostalgia e pela trilha sonora. Mas parecia melhor na minha memória.