Um Lugar Silencioso Parte 2

Crítica – Um Lugar Silencioso Parte 2

E vamos para um dos filmes mais aguardados desde o início da pandemia!

Sinopse (imdb): Após os acontecimentos em casa, a família Abbott agora enfrenta os terrores do mundo exterior. Forçados a se aventurar no desconhecido, eles percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças à espreita além do caminho de areia.

Explico a introdução. A sessão de imprensa de Um Lugar Silencioso Parte 2 (A Quiet Place Part 2, no original) estava marcada, em março de 2020. Veio a pandemia, cancelaram a sessão. E, diferente de outros títulos, Um Lugar Silencioso Parte 2 nunca foi para os streamings, estavam guardando para a volta dos cinemas. Ou seja, pelo menos pra mim, esta estreia foi um marco – o cinema está voltando!

Antes de entrar nesta segunda parte, um rápido comentário sobre o primeiro filme. É um bom filme, reconheço suas qualidades, mas… tem uma coisa naquele filme que me incomoda. Me incomoda tanto que não consigo relevar. Vamulá. Eles vivem num mundo onde monstros atacam guiados pelo som, então tudo precisa ser no máximo de silêncio possível. E vai nascer um bebê, não tem como controlar o silêncio com um bebê recém nascido. Mas… Eles descobrem que podem falar alto ao lado da cachoeira. Como a cachoeira faz um barulho constante, as falas ficam “camufladas”.

ENTÃO POR QUE NÃO FAZER UMA CASA AO LADO DA CACHOEIRA???

Achei isso uma atitude tão burra que nem cogitei o primeiro filme no meu top 10 daquele ano…

Mas, vamos ao segundo filme!

Mais uma vez co-escrito e dirigido por John Krasinski, que também co-escreveu e dirigiu o primeiro, Um Lugar Silencioso Parte 2 segue a vida da mesma família, logo depois dos eventos do primeiro filme.

Na verdade, o filme tem uma sequência inicial que é um prólogo, sequência muito boa, diga-se de passagem. Não li em lugar nenhum, é um palpite meu, me parece que John Krasinski queria aparecer como ator, e como o seu personagem morreu no primeiro filme, ele precisava de um flashback. Sei lá se isso é verdade ou não, mas posso dizer que a sequência é boa, mostra o momento que os monstros chegaram e começam a atacar. Os bichos são rápidos e assustadores, e as cenas são extremamente bem filmadas.

Krasinski consegue fazer um bom trabalho na construção da tensão que permeia toda a projeção. O filme é muito tenso, e rolam uns bons jump scares aqui e ali.

Aliás, a parte técnica do filme é primorosa. Pelo lado dos efeitos especiais, desta vez vemos os monstros com muito mais detalhes, e o cgi está perfeito. Mas, não podemos ignorar o minucioso trabalho de som. É um filme que usa muito o silêncio, tanto em cenas onde os personagens precisam ser silenciosos, quanto em cenas onde o som é cortado, para mostrar o ponto de vista de uma personagem que é surda.

No elenco, Cillian Murphy se junta à familia de Emily Blunt, Millicent Simmonds e Noah Jupe, e também temos um Djimon Hounsou num papel menor, quase uma ponta de luxo. Todos estão muito bem. A personagem de Millicent Simmonds ganha uma importância maior e ela quase vira uma protagonista. Nada contra, principalmente se a gente lembrar que, além de boa atriz, ela é surda, então esse papel é perfeito pra ela. Minha única reclamação é mimimi de fã chato, então podem ignorar: sou fã da Emily Blunt, queria vê-la mais tempo na tela.

Ouvi falar de boatos sobre um vindouro terceiro filme. Que mantenha a qualidade!

Censor

Crítica – Censor

Sinopse (imdb): Depois de assistir a um vídeo underground estranhamente familiar, Enid, uma censora de filmes, começa a resolver o mistério do passado do desaparecimento de sua irmã, embarcando em uma busca que dissolve a linha entre ficção e realidade.

Censor é o novo queridinho do cinema de terror alternativo. Vai ter gente que vai adorar, mas também tem gente que vai odiar. É diferente do “terror montanha russa”, estilo que o James Wan domina como poucos. Mas também não tem muita cara do terror cabeça da A24. Censor é diferentão, não tem jump scares e tem visual VHS anos 80 – inclusive na temática.

Filme de estreia da diretora Prano Bailey-Bond, Censor fala dos video nasty. É uma boa saber o que é isso pra entender o contexto do filme. Vou citar um trecho da wikipedia:
Video nasty é um termo coloquial no Reino Unido para se referir a uma série de filmes, normalmente filmes de terror e exploitation de baixo orçamento, distribuídos em videocassete que foram criticados por seu conteúdo violento pela imprensa, comentaristas sociais e várias organizações religiosas. O termo foi popularizado pela National Viewers ‘and Listeners’ Association (NVALA) no Reino Unido no início dos anos 1980. Esses lançamentos de vídeo não foram apresentados ao British Board of Film Classification (BBFC) devido a uma lacuna nas leis de classificação de filmes que permitiam que os vídeos contornassem o processo de revisão.

A protagonista Enid (Niamh Algar) trabalha nesse departamento de censura. E isso me fez pensar como deveria ser o nosso departamento de censura, aqui no Brasil, nos anos 70 e 80 – todos os filmes que eram exibidos no cinema e na tv precisavam antes exibir um certificado de censura. Adolescente, na minha ingenuidade, achava que aquele deveria ser o melhor emprego do mundo, porque o trabalho era ver filmes. Mas, pelo contrário, devia ser terrível trabalhar num ambiente que mutilava e proibia artes. Enfim, parte do nosso passado, que bom que isso não existe mais por aqui.

A ambientação nos anos 80 é bem legal, não só nos cenários, figurinos e fotografia, como em todo o uso do VHS, dentro e fora do filme – o formato de tela e a textura da imagem às vezes mudam para ficarem parecidos com as filmagens antigas.

Censor é curtinho, mas mesmo assim é irregular. A parte final parece um pouco abrupta, talvez a protagonista precisasse desenvolver um pouco mais até chegar naquele ponto. E, para um longa que fala abertamente de filmes exploitation, até que tem pouco gore. Mas mesmo assim, gostei no resultado. Inclusive, a sequência final é genial, com a edição mostrando bem pro espectador a diferença entre a realidade e o que se passa na cabeça da protagonista.

Prano Bailey-Bond começou bem. Aguardemos seu segundo filme.

Possessão (1981)

Crítica – Possessão (1981)

Sinopse (imdb): Uma mulher começa a apresentar um comportamento cada vez mais perturbador depois de pedir o divórcio ao marido. As suspeitas de infidelidade logo dão lugar a algo muito mais sinistro.

Já comentei por aqui que na segunda metade dos anos 80 vi MUITA coisa no Estação Botafogo. Esse Possessão foi um dos mais marcantes dessa época. Heu tinha até uma camisa com essa imagem do pôster!

Mas, antes de entrar no filme, uma informação importante. Existem alguns filmes homônimos – uma vez pesquisei no imdb e achei 18 “Possessão”. Sem me esforçar muito, lembro de outros dois, um de 2002 com Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart; outro de 2012 com Jeffrey Dean Morgan e Kyra Sedgwick. Este é de 1981, com Isabelle Adjani e Sam Neill.

Escrito e dirigido por Andrzej Zulawski, Possessão (Possession, no original) é um filme difícil até de classificar. A classificação óbvia seria terror, mas certamente ia desagradar boa parte do público usual de terror. Tem sangue e gore, mas não só não tem jumpscares como tem muita coisa sem explicação no filme.

Sim, Possessão é daqueles filmes onde a gente não entende boa parte do que está acontecendo. Claro que existe algum simbolismo do “duplo” – tanto a Isabelle Adjani tem uma outra versão na professora (só muda a cor dos olhos); quanto o Sam Neill aparece numa versão rejuvenescida. Mas não existem explicações. Não se explica o que é a criatura no apartamento, nem por que a professora é igual à protagonista. E o fim do filme é uma grande interrogação.

O filme deve ter um monte de coisas subliminares, mas heu, particularmente, nem sempre curto ficar procurando significados ocultos. Possessão é um filme que dá pra relaxar e “entrar na viagem”. Agora, quem gosta de história com início, meio e fim, sugiro passar longe.

O elenco só tem dois nomes conhecidos, e ambos estão muito bem. Isabelle Adjani está sensacional, ela ganhou prêmio duplo de melhor atriz em Cannes em 1981, por esse filme e por Quartet. A cena do metrô fica grudada na memória! Sam Neill não fica atrás, tem uma cena impressionante onde ele tem um ataque aparentemente de epilepsia. Aliás, uma vez o Sam Neill falou que esse é o filme preferido dele.

Tem outro ator que heu queria citar, Heinz Bennet, que faz o amante. Que personagem sensacional! Ele aparece pouco, mas todas as vezes ele está ótimo. A cena dele dançando enquanto fala muito boa!

(Na mesma pegada tem a sequência do detetive particular perseguindo a Isabelle Adjani, com direito a um cara no trem comendo uma banana!)

Ah, tem a criatura. Sim, Possessão é filme cabeça, mas, sim, Possessão também é filme de monstro. A criatura foi criada por Carlo Rambaldi, famoso por ter criado o ET e movimentos na cabeça do Alien – ganhou um Oscar por cada um dos dois. Rambaldi tem uma frase que heu gosto: “[on computerized special effects] The mystery’s gone. It’s as if a magician had revealed all of his tricks.”

(Aliás alguém mais reparou a semelhança com Hellraiser no lance da mulher trazer homens e matá-los pra alimentar o monstro?)

Enfim, gostei. Mesmo sem entender muita coisa.

Espiral – O Legado de Jogos Mortais

Crítica – Espiral – O Legado de Jogos Mortais

Sinopse (imdb): Um gênio do crime desencadeia uma forma distorcida de justiça em Espiral, o novo capítulo aterrorizante do livro de Jogos Mortais.

Olha que curioso, anteontem falei de Invocação do Mal 3, filme novo de uma franquia inaugurada por James Wan. E hoje é dia de Espiral – O Legado de Jogos Mortais (Spiral, no original), filme novo de outra franquia inaugurada pelo mesmo James Wan. Pena que a qualidade não é a mesma…

Um tempo atrás li sobre um novo filme, que seria baseado em Jogos Mortais, e com Chris Rock e Samuel L Jackson no elenco. Taí, isso talvez desse um novo fôlego pra franquia, depois de 8 filmes onde a qualidade sempre foi ladeira abaixo.

Gosto muito do primeiro Jogos Mortais, um filme tenso, bem filmado, e com um dos melhores plot twists do cinema recente. Mas o segundo é pior que o primeiro, o terceiro é pior que o segundo, o quarto é pior que o terceiro, e por aí vai.

Ok, reconheço que Chris Rock hoje não é tem um star power muito grande. Mas se a gente lembrar bem, o maior nome do penúltimo filme era Callum Keith Rennie; e o maior nome do filme anterior era Costas Mandylor. Ou seja, ter Chris Rock e Samuel L Jackson é um upgrade.

Mas parece que foi tudo em vão. Espiral segue exatamente o mesmo formato dos outros filmes da saga. Algumas armadilhas criativas, umas boas cenas de torture porn, um final agitado e com som alto, e só. Não diria que é ruim, mas diria que é igual aos anteriores. Nem precisava mudar de nome.

Ah, sobre a expressão torture porn: não tem nada a ver com pornografia, é um termo usado pra cenas cujo único propósito é mostrar sangue e gore.

Sobre o elenco, Samuel L Jackson aparece pouco, o filme é do Chris Rock – que mostra que é um péssimo ator fora da comédia. Sim, ele até consegue não fazer piadas e ser sério, mas não convence no papel.

Preciso falar que, como fã de Tarantino, gostei de ver duas referências a Pulp Fiction (o nome do cofre “Jules & Vincent”, e um personagem Ezequiel).

Mas, no geral, é isso. Previsível, e desnecessário. Só pros fãs da franquia.

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

Critica – Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

Sinopse (imbd): Os Warren investigam um assassinato que pode estar ligado a uma possessão demoníaca.

James Wan é “o cara” do cinema de terror recente. O problema é que nem sempre a qualidade se mantém quando colocam outro diretor. Os dois primeiros Sobrenatural, dirigidos por Wan, foram excelentes; já o 3 e o 4, com outros diretores, não foram tão bons assim. O mesmo com Invocação do Mal: os dois primeiros, dirigidos por ele, foram excelentes; os spin offs Annabelle (todos os 3), A Freira e A Maldição da Chorona não foram tão bons.

E agora? Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio também não é do James Wan, foi dirigido por Michael Chaves, o mesmo de A Maldição da Chorona. Mas… Aqui Chaves fez um trabalho melhor, e não faz feio na cadeira de diretor. Aliás, tem um take que achei bem legal, pouco depois da introdução, quando conhecemos o canil – o take começa aéreo, chega na porta da casa, entra e vira um breve plano sequência apresentando o local.
Aliás 2, a sequência inicial é muito boa. Um exorcismo tenso e muito bem filmado!

Diferente dos dois filmes anteriores, aqui o clima não é casa mal assombrada, e sim possessão demoníaca. Invocação do Mal 3 é um filme tenso e sério (só me lembro de uma única piada, que faz referência à Annabelle), com alguns bons jump scares.

Se posso falar mal de uma coisa, vou falar mal da parte final. Sem entrar em spoilers, mas, a trama se divide em dois locais diferentes, e um dos locais era muito mais interessante que o outro. Na minha humilde opinião, a sequência do exorcismo na prisão enfraquece o filme (principalmente se a gente lembrar que aquilo era uma prisão, por que um padre estaria lá?), era melhor ignorar isso e focar só na outra coisa que acontece simultaneamente. Mas, Invocação do Mal 3 é baseado no casal Warren, o caso do preso possuído está registrado na história deles, e o outro acontecimento não. Pena, porque cinematograficamente falando, o outro é bem melhor.

Sobre o elenco, Patrick Wilson e Vera Farmiga são ótimos juntos, já perdi a conta de quantas vezes os vimos interpretando Ed e Lorraine Warren, e eles sempre funcionam bem, são a melhor coisa do elenco. Gostei de ver John Noble, da série Fringe. Já o garoto Julian Hilliard não está muito bem, ele estavava melhor como o moleque de óculos de A Maldição da Residência Hill. Também no elenco, Ruairi O’Connor, Sarah Catherine Hook, Eugenie Bondurant e Shannon Kook.

Invocação do Mal 3 estreia nos cinemas amanhã, dia 02 de junho. Lembre-se que os cinemas já reabriram, mas sempre com distanciamento e de máscaras!

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Crítica – Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Sinopse (imdb): Após um surto de zumbis em Las Vegas, um grupo de mercenários faz a aposta final, aventurando-se na zona de quarentena para realizar o maior assalto já tentado.

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas é apenas mais um filme meia boca de zumbis. Mas, muita gente está falando dele. São dois os motivos. Um deles é que é um filme da Netflix, que virou “a nova Globo”, tudo o que vem de lá vira hype. O outro é que é o novo filme do Zack Snyder, que movimentou a nerdaiada poucos meses atrás com sua versão do Liga da Justiça, o tal Snydervese.

Snyder fazer filmes de zumbi não é novidade. Ele começou fazendo videoclipes, mas seu primeiro longa metragem foi a refilmagem de Madrugada dos Mortos, de 2004 (olha que irônico, um cara que hoje é famoso por fazer câmera lenta foi um dos primeiros a usar zumbis rápidos…). Há anos que não revejo Madrugada dos Mortos, mas lembro que gostei na época. Agora, naquela época, um lançamento de um novo filme dele não tinha o hype que tem hoje, depois de Watchman, Homem de Aço, Batman v Superman e Liga da Justiça. Zack Snyder hoje é um nome do primeiro time, não tem mais como fazer um filme meia boca de zumbis, o público vai querer algo a mais.

Pra piorar, hoje, em 2021, é difícil se pensar em alguma novidade quando o tema é zumbi. Parece que tudo já foi feito. Tirando o primeiro Invasão Zumbi, coreano, dispenso todos os filmes de zumbi lançados nos últimos anos.

(E, olha outra ironia: a sinopse de Army of the Dead é igual à sinopse de Invasão Zumbi 2, quando pessoas entram numa área limitada, dominada por zumbis, para roubar o que ficou por lá.)

Army of the Dead até começa bem. Depois de uma breve introdução mostrando qualé a do perigo a ser enfrentado no filme, temos créditos iniciais sensacionais. Ao som de uma versão de Viva Las Vegas cantada pelo Richard Cheese, temos takes em câmera lenta (claro) mostrando os personagens e como eles agem, e mostrando também os famosos cenários de Las Vegas devastados no apocalipse zumbi. Digo mais: os créditos iniciais têm o momento mais dramático de todo o filme!

Mas aí depois é tudo clichê. A gente tem o time de pessoas com personalidades diferentes, onde a gente precisa ter uma boa quantidade de gente pra morrer um de cada vez. A gente tem os zumbis que não têm nenhuma lógica – como assim, um zumbi “dormindo” em pé com os braços levantados??? A gente tem atitudes burras dos personagens. E, claro, no fim a gente tem um gancho pra continuação.

E, pra piorar, são clichês empilhados num filme que dura duas horas e meia…

Existem elementos escondidos, que se aparecessem mais talvez tornassem Army of the Dead mais interessante. Logo nos primeiros segundos de filme dá pra ver dois OVNIs; e Snyder admitiu que tem zumbis que são robôs. Me parece que quiseram guardar isso pra uma continuação. Na minha humilde opinião, se explorassem mais esses elementos, Army of the Dead podia ser bem melhor. Sem isso, virou mais um igual a tantos por aí. Algumas cenas legais, algumas cenas ruins, o previsível pra um filme meia boca de zumbis.

O nome mais conhecido no elenco é Dave Bautista, o Drax de Guardiões da Galáxia. Não é um grande protagonista, mas serve pro que precisa. Também no elenco, Ella Purnell, Omari Hardwick, Ana de la Reguera, Theo Rossi, Matthias Schweighöfer, Nora Arnezeder, Hiroyuki Sanada, Garret Dillahunt e Raúl Castillo.

Ainda sobre o elenco, uma coisa impressionante. O piloto de helicóptero seria Chris D’Elia, ele filmou todas as cenas com o resto do elenco. Mas o nome dele apareceu em escândalos sexuais, aí tiraram-no do filme e apagaram digitalmente, e refilmaram todas as cenas com a Tig Notaro em fundo verde. Vou te falar que vi o filme sem saber disso. Ficou muito bem feito!

No geral, é isso. Apenas um filme meia boca de zumbis. Vai agradar quem curte o gênero, mas quem quiser filme bom, tem coisa melhor.

E aguardem continuações. Parece que já tem confirmada uma série animada.

Cidade Invisível

Crítica – Cidade Invisível

Oba! Folclore nacional!

Sinopse da Netflix: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para o seu passado misterioso.

Sempre fui fã do folclore nacional. E sempre defendi que isso geraria boas histórias fantásticas pro cinema. Pra provar que falo isso há tempos, vou deixar aqui o link de um curta de metragem de terror que fiz com o Boitatá. O curta não é muito bom não, fiz coisa melhor depois, mas, vale o registro!

(Ainda dentro do tema, recomendo o filme Fábulas Negras, organizado pelo Rodrigo Aragão. São 5 curtas, dirigidos pelo próprio Aragão, além de Zé do Caixão, Joel Caetano e Peter Baiestorf, e mostrando Monstro do Esgoto, Loira do Banheiro, Iara, Saci e Lobisomem. Dá pra fazer uma sessão com o meu curta e depois esse filme! 🙂 )

Vamos à série. Produção Netflix, Cidade Invisível é uma criação do Carlos Saldanha. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Carlos Saldanha é um dos brasileiros mais bem sucedidos em Hollywood. Ele dirigiu os três primeiros A Era do Gelo, Touro Ferdinando e os dois Rio – todos, longas de animação da Blue Sky. Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, por Touro Ferdinando e por um curta do esquilinho Scratch. E agora ele estampa o nome na abertura de Cidade Invisível – não sei o quanto ele esteve envolvido na produção. São sete episódios, dirigidos por Luis Carone e Julia Jordão. A série é baseada na história desenvolvida pelos roteiristas e autores de best-sellers Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

E, olha, como é legal ver uma produção bem feita, usando as nossas lendas!
Várias gerações de brasileiros cresceram lendo livros e vendo adaptações na TV do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ok, sei que existe uma polêmica hoje em dia envolvendo o Monteiro Lobato, mas não quero falar do homem, e sim da sua obra. Se hoje a gente fala sobre Saci, Cuca, Boitatá, Caipora e afins, muito se deve ao Monteiro Lobato e aos livros do Sítio. E heu sempre achei que essas lendas poderiam gerar histórias fantásticas pra adultos (tanto que fiz o curta do Boitatá e tinha um projeto pra fazer da Iara). E fiquei muito satisfeito com o resultado de Cidade Invisível. O clima é sério, é uma série de investigação policial, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem (um problema que Fábulas Negras teve foi a caracterização do Saci, ficou tão tosco que provocava risadas em vez de dar medo).

A trama foi adaptada pra se passar nos dias de hoje, em uma cidade grande – no caso, o Rio de Janeiro. Decisão arriscada, mas gostei – o mais fácil seria se passar no interior, em um tempo indeterminado, sempre que alguém fala em Saci ou Iara a gente logo pensa em fazendas e florestas. Colocar essas entidades na Lapa foi uma ótima sacada! Quem frequenta a Lapa sabe que, se tem gente estranha e diferente no Rio, é lá que eles vão se encontrar!

(Causos curiosos: lembro de ter encontrado o Jimmy London, o Tutu, em um show do Canastra, na Lapa. Me senti em casa vendo a série.)

Ouvi críticas com relação a isso, que Cidade Invisível deveria se passar no interior, que o boto é uma lenda da região Norte e não deveria ser encontrado em uma praia no Rio, etc. Ok, entendo as críticas, realmente folclore tem mais cara de interior rústico do que cidade grande cosmopolita. Mas, por outro lado, acho que os realizadores quiseram aproveitar o potencial turístico pra fazer um produto mais fácil de vender. Vamulá, a gente sabe que o Rio é uma das coisas mais famosas do Brasil. Deve ficar mais fácil vender um produto brasileiro se tiver paisagens conhecidas mundialmente, não? E, disse antes, repito: achei a adaptação muito boa.

(Heu mesmo, nos meus curtas, já usei paisagens turísticas. Pô, se moro aqui, por que não usar os cenários que estão disponíveis na minha cidade?)

Agora, gostei da adaptação, mas também tenho um mimimi, cabe aqui? Achei que a Iara tinha que ser uma índia! Adorei a personagem adorei a atriz, mas, pra mim, Iara tinha que ser índia. E queria ver a Cuca em versão “jacaré”!

Aproveitando que falei da Iara, preciso dizer: que cena maravilhosa aquela onde a gente descobre quem ela é, e como ela hipnotiza com seu canto e leva para a água! A cena ficou fantástica!

Aliás, não só a Iara. Uma coisa legal de Cidade Invisível é esse jogo de tentar entender quem é cada entidade. Não sei se gostei de ver a origem de cada uma (prefiro uma entidade que sempre foi aquilo, em vez de uma pessoa que virou entidade), mas isso não chega a atrapalhar.

Já que falei das entidades, vou me aprofundar um pouco. Queria ter visto a Cuca “jacaré”, mas, mesmo assim, achei que todas estão muito bem representadas na tela. Adorei o Curupira! Quero ver um spin-off com esse Curupira! E o Saci ter uma perna mecânica foi uma sacada de gênio!

Vamos aproveitar pra falar do elenco. Acho que heu só conhecia a Alessandra Negrini (e o Jimmy London como músico, nem sabia que ele atuava). Não conhecia o resto, gostei de todos, mas não vou entrar em detalhes aqui, porque não quero falar quem faz cada entidade. Mas, se fosse escolher um pra ganhar o prêmio de melhor atuação, com certeza seria o que faz o Curupira. Vamos aos nomes, sem especificar quem é quem: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Áurea Maranhão, Fábio Lago, Jéssica Córes, Wesley Guimarães, José Dumont, Jimmy London e Victor Sparapane.

A história fecha no fim do último episódio, mas deixa um gancho para continuar. Que venha a segunda temporada!

What Lies Below

Crítica – What Lies Below

Sinopse (imdb): Uma menina de 16 anos volta para casa de um acampamento e descobre que sua mãe tem um novo namorado, com quem pretende se casar; um homem cujo charme, inteligência e beleza o fazem parecer que não é humano.

Pensa numa boa ideia, mas mal desenvolvida, e com um final bem ruim. Poizé…

A ideia inicial é boa. O clima é bem construído, elementos estranhos são colocados aqui e ali. Existe algo de estranho com o cara novo, mas não sabemos o que é.

O elenco se baseia basicamente em três personagens: a adolescente, a mãe e o namorado da mãe. Mena Suvari, que chamou a atenção do mundo uns vinte anos atrás com Beleza Americana e American Pie e depois sumiu, faz a mãe. Ema Horvath e Troy Iwata são os outros atores. Funcionam bem pros papeis, mas nada demais.

Mas quando vai chegando na parte final, parece que esqueceram de terminar o roteiro. Não só temos algumas cenas que parecem incompletas – tipo a amiga que sobe as escadas pra conversar com a mãe e a protagonista vai dormir; como o fim abre várias portas e não fecha nenhuma delas. Vejam bem, não acho que um filme precisa explicar tudo, curto finais abertos. Mas aqui não é exatamente um final aberto, são várias mudanças de rumo no roteiro, e logo sobem os créditos. A gente nem sabe o que é a ameaça, se é um monstro, se é algo sobrenatural, se é alienígena… Parece que os realizadores queriam continuar a história e deixaram cliffhangers no ar, pra uma continuação. Mas, do jeito que isso ficou, nem quero ver essa continuação.

Freaky – No Corpo de um Assassino

Crítica – Freaky – No Corpo de um Assassino

Sinopse (imdb): Depois de trocar de corpo com um assassino em série louco, uma jovem no colégio descobre que tem menos de 24 horas antes que a mudança se torne permanente.

Quem me acompanha sabe que não acho ruim quando um filme usa uma ideia reciclada, desde que seja um bom filme. E é o que temos aqui, com Freaky – No Corpo de um Assassino.

Freaky – No Corpo de um Assassino (Freaky, no original) é o filme novo do Christopher Landon, que já mostrou que sabe reciclar ideias. Em A Morte Te Dá Parabéns, ele pegou o conceito do Feitiço do Tempo, uma pessoa revivendo o mesmo dia todos os dias, e transformou em filme de terror slasher – e ainda desenvolveu a ideia pra outro caminho na continuação! (Aliás, pra quem curte esse conceito “dia da marmota”, falei de um filme assim outro dia, Palm Springs).

Agora ele pega o conceito de Sexta-Feira Muito Louca, aquela comédia onde a Jamie Lee Curtis e a Lindsay Lohan trocam de corpo, e transforma em um terror slasher. E ele não quer enganar ninguém, afinal o nome original do outro filme é Freaky Friday.

Falei que a ideia era válida desde que o filme fosse bom, né? E Christopher Landon nos entrega um filme divertido, com momentos cheios de gore e também momentos engraçadíssimos, boas atuações, e um monte de referências. Sim, é comédia e também é terror. Ou seja, Freaky é uma ótima pedida.

Não dá pra falar do filme sem falar das atuações. Vince Vaughn é um cara legal, mas até hoje sua atuação não tinha chamado a minha atenção, ele sempre parecia fazer o mesmo personagem. E aqui ele está hilário! Claro que este filme não tem o perfil de prêmios, mas, olha, a atuação dele merece indicações para melhor ator! A menina Kathryn Newton também está ótima – vi no imdb que já vi outros 5 filmes com ela, e ela nunca tinha me chamado a atenção (Pokémon – Detetive Pikachu, Três Anúncios para um Crime, Lady Bird, Atividade Paranormal 4 e Professora Sem Classe). O resto do elenco é de desconhecidos, exceto Alan Ruck, o eterno Cameron de Curtindo a Vida Adoidado, aqui fazendo um professor mal humorado.

Ah, as referências, quem me conhece sabe que gosto disso. O filme originalmente se chamaria “Freaky Friday the 13th” – além da referência ao Freaky Friday, o assassino no início usa uma máscara parecida com o Jason Vorhees em Sexta Feira 13. Mas tem mais: o sobrenome de um dos personagens é Strode, mesmo sobrenome da Jamie Lee Curtis em Halloween. E vi uma cabeça cheia de pregos, igual ao Pinhead. E deve ter mais, vou procurar quando rever.

Claro, vai ter gente reclamando que o filme é cheio de clichês, e que o roteiro é cheio de conveniências. É isso mesmo. Mas, não era esse o propósito do filme? Uma hora e quarenta de diversão, brincando com clichês? Quem não curtir é porque não comprou a ideia.

É comum um “epílogo” em filme de terror, com um novo perigo / susto. Gosto disso, mas aqui ficou forçado. Parece que a produção quis fazer um empoderamento feminino. Gosto de ver cenas com mulheres empoderadas, mas quando são bem feitas. Aqui ficou forçado. Não estraga o filme, mas seria melhor sem esses últimos minutos.

Christopher Landon disse que queria fazer uma franquia “Freaky Death Day”. Taí, quero ver mais!

A Maldição da Mansão Bly

Crítica – A Maldição da Mansão Bly

Sinopse do imdb: Após a trágica morte de uma au pair, Henry contrata uma jovem babá americana para cuidar de sua sobrinha e sobrinho órfãos que moram na Mansão Bly com o chef Owen, a zeladora Jamie e a governanta Sra. Grose.

A Maldição da Mansão Bly é a segunda temporada de uma série, mas é uma segunda temporada atípica, porque não tem nada a ver com a primeira, que é A Maldição da Residência Hill. Por isso, antes de falar de Mansão Bly, vou falar um pouco de Residência Hill. E antes de falar da Residência Hill, preciso falar do seu criador, Mike Flanagan.

Vi quase todos os filmes do Mike Flanagan (só falta Ouija a Origem do Mal, preciso consertar isso). Pra ninguém dizer que sou modinha, olhem o que escrevi no heuvi em maio de 2012, quando vi Absentia: “Mike Flanagan, o tal diretor / roteirista / editor, conseguiu um resultado impressionante com o seu Absentia. Fiquemos de olho no nome de Mike Flanagan!”.

Mike Flanagan é um cara legal, talentoso, todos os filmes dele são legais, mas nenhum é “obrigatório”. Doutor Sono, continuação d’O Iluminado, é um filme legal, mas, caramba, não dá pra comparar com o filme do Kubrik! E gosto de Jogo Perigoso, O Espelho e Hush A Morte Ouve, mas são filmes “menores” (de todos os filmes dele, acho que só não gostei de O Sono da Morte). O Mike Flanagan é tipo um aluno que nunca tira 10, mas tá sempre tirando 7 e 8 – você sabe que vai ver algo de qualidade, mas falta um pouco pro cara ser um dos “grandes”.

Até que ele fez a Residência Hill, e finalmente ele tem um “dez”.

A Maldição da Residência Hill é simplesmente fantástico. A ambientação da casa, os personagens, o elenco, a trilha sonora, tudo funciona direitinho. Foi um dos melhores filmes (minissérie?) que vi ano passado. Digo mais: sou burro velho com relação a filmes de terror, e teve um jump scare que me pegou – o do carro. Digo mais de novo – tem um episódio em plano sequência!

Claro que fiquei empolgado com a “continuação”. As aspas são porque sim, é uma nova temporada, mas é uma história completamente diferente.

Residência Hill foi baseado no livro homônimo escrito por Shirley Jackson (que teve uma adaptação meia bomba em 99, chamada A Casa Amaldiçoada, do Jan de Bont e com a Catherine Zeta Jones, Liam Neeson, Lili Taylor e Owen Wilson) (Residência Hill é baseado, mas é uma história diferente da que tá no livro). A história fechou, não tem como continuar. Então, a A Maldição da Mansão Bly é outra adaptação, de outro livro, A Volta do Parafuso, de Henry James (que curiosamente teve outra adaptação, pros cinemas, lançada no início deste ano, o filme Os Orfãos – que é beeem fraco, e tem um final péééssimo).

Mansão Bly é uma história completamente diferente, mas tem pontos em comum com Residência Hill. Não só parte do elenco está de volta, como a produção consegue ter todo um clima parecido, apesar de serem mansões diferentes. Até a trilha sonora se repete!

Assim como Residência Hill, a linha temporal não é linear. E aqui tem um detalhe que achei bem legal – tem um flashback dentro de um flashback que é colocado no ponto certo da trama, e só naquele episódio, não precisa ficar indo e voltando.

O elenco traz 5 dos 8 nomes principais da Residência Hill. Victoria Pedretti, Oliver Jackson-Cohen e Henry Thomas estão entre os personagens principais; Carla Gugino é a narradora; Kate Siegel tem um papel menor, mas importante. (Pra quem não ligou o nome à pessoa, Henry Thomas é o garotinho do ET). De novidade, gostei muito da Amelia Eve, tanto da atriz quanto da personagem. Rahul Kohli, T’Nia Miller e Tahirah Sharif também estão bem. E ainda preciso falar das duas crianças, Amelie Bea Smith e Benjamin Evan Ainsworth. Os dois são muito bons. O garoto tem mudanças na personalidade (que são explicadas no roteiro), e o ator convence. E a menininha… Olha, vou te falar que se tem uma coisa que acho assustadora em filme de terror, é garotinha com sotaque britânico. Perfectly Splendid!

Agora, o fato de Mansão Bly ser continuação de Residência Hill é um problema. Porque achei Residência Hill bem melhor. Mansão Bly tem alguns momentos sonolentos. Li uma crítica que disse que Mansão Bly perde pontos por ser “menos terror”. Não gosto de me fechar em rótulos, pode ser terror, drama, comédia, aventura, desde que seja bom. E parece que o Mike Flanagan voltou pra média 7 ou 8.

Mesmo assim, é uma boa minissérie. E agora aguardemos a terceira temporada. Qual será o livro que vai ser adaptado?