Nefarious

Crítica – Nefarious

Sinopse (imdb): No dia de sua execução, um assassino em série passa por uma avaliação psiquiátrica na qual ele afirma ser um demônio, e ainda alega que antes de seu tempo acabar, o psiquiatra cometerá três assassinatos.

Pouco depois do lançamento do decepcionante O Exorcista: O Devoto, chega um novo filme que usa o tema da possessão demoníaca, mas sob um ponto de vista bem diferente. Sabe quando uma FC é “cientificamente correta”? Então, a proposta aqui é fazer uma possessão “teologicamente correta”.

Dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, Nefarious traz um prisioneiro, no corredor da morte, que precisa ser avaliado psicologicamente para saber se está são ou louco. Se estiver são, será executado; se estiver louco será transferido para outro tipo de presídio. Quase todo o filme se passa em uma sala, onde os dois conversam. Sim, quase todo o filme é um diálogo entre um prisioneiro supostamente possuído e um psiquiatra ateu.

Ou seja, esqueça maquiagens fortes, corpos distorcidos e fluidos corporais coloridos. Aliás, tem gente achando que Nefarious é terror, mas está mais pro suspense. O demônio aqui fica só no papo. E mesmo assim, o filme consegue ser envolvente, mérito de um roteiro bem escrito e de pelo menos um bom ator.

Sean Patrick Flanery é um ator com dezenas de filmes no currículo, mas nenhum grande papel, nunca tinha conseguido chamar a atenção. Mas aqui ele está realmente impressionante, com um vasto repertório de tiques enquanto está possuído, e ainda consegue se mostrar bem diferente quando está “na outra personalidade”. Seu companheiro de tela, Jordan Belfi, não está mal, faz apenas o feijão com arroz.

Nefarious é uma produção assumidamente cristã, então claro que temos mensagens religiosas. Nada contra, mas acho que o filme seria mais rico se tivesse um ponto de vista oposto mais bem elaborado. O psiquiatra se diz ateu mas cai muito fácil no papo religioso.

Não gostei da parte final. Depois de boa parte do filme dentro da cadeia, o filme tem um epílogo, e achei esse epílogo longo demais. Nada que estrague a experiência, mas podia ser bem mais sucinto.

Por fim, um breve comentário sobre a polêmica. Assim como aconteceu com Som da Liberdade, existe uma polêmica em volta de Nefarious. Mas, assim como aconteceu com Som da Liberdade, a polêmica não tem a ver exatamente com o filme, mas com quem o fez. E o meu leitor sabe que prefiro comentar a obra e não o autor da obra. Por isso que não vou comentar. Mas posso dizer que dentro do filme não tem motivo para polêmica.

Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Crítica – Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Sinopse (imdb): Mike Schmidt é um jovem contratado para trabalhar como o vigia noturno do antigo restaurante familiar Freddy Fazbear’s Pizza, um lugar famoso por seus característicos robôs animatrônicos que, quando chega a noite, se transformam em assassinos.

Heu tenho um filho de 14 anos que joga Five Nights at Freddy’s, o “FNAF”. Desde o início do ano ele está empolgado com a adaptação para o cinema. Ele tava tão empolgado que o levei ele na sessão de imprensa. E posso dizer que depois da sessão ele, como fã do jogo, gostou do filme. E heu, como fã de cinema, não gostei.

Antes de tudo, preciso falar que eu nunca joguei o jogo, tudo que são informações que o meu filho falou. Mas sempre defendo que qualquer adaptação, não só de jogos, deveria ser algo independente da obra original. Não gosto de filme que precisa de “manual de instruções”.

A ideia era promissora: um guarda-noturno que tem que enfrentar robôs animatrônicos assombrados por almas de crianças. Isso podia dar um bom filme de terror. Mas… O diretor resolveu focar no problema pessoal do protagonista, que teve o irmão foi sequestrado quando ele era criança. Boa parte do filme fica repetindo a história do sequestro do irmão. Essa história até tem a ver com o fim do filme, só que não é algo tão essencial. Se você tirar essa subtrama do irmão sequestrado, o filme não perde nada. Ou seja, a gente perde um tempão para uma história que não era necessária. E, pra piorar: o espectador entra no cinema pra ver um filme de terror, era melhor dedicar mais tempo com os animatrônicos do mal do que com o drama do protagonista.

Existe outro problema básico: os animatrônicos, a princípio, não são criaturas assustadoras. O filme parte do princípio de que as pessoas têm medo dos robôs, mas, você precisa fazer alguma coisa com esse robô pra ele virar assustador. É que nem um palhaço. Um palhaço não é assustador, mas pode virar assustador dependendo de como você apresentá-lo. Aqui em Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim as pessoas têm medo dos robôs. Mas não, eles não são assustadores.

Dito isso, preciso elogiar o fato de que tinham robôs animatrônicos no set. O mais fácil seria fazer tudo em cgi, mas chamaram a Jim Henson Company para a confecção dos robôs. Não sei se algum robô é cgi (provavelmente é), mas boa parte eram robôs reais. Boa sacada!

Teve uma coisa que me incomodou na parte final, que é não saber se o vilão é algo sobrenatural ou algo humano. Porque existem os animatrônicos sobrenaturais, mas também existe um vilão humano. Péra aí, ou o seu vilão é algo sobrenatural, ou o seu vilão é um cara maluco, humano. Ter os dois ao mesmo tempo não faz muito sentido. Meu filho falou que o jogo tem uma explicação sobre isso. Se a adaptação fosse bem feita, você teria uma linha no roteiro explicando, mas no filme não tem nada disso, ou seja, ficou tosco.

Outro problema é que o filme é direcionado ao público infanto-juvenil, então eles seguraram a mão nas cenas violentas. Entendo a opção comercial, mas precisamos reconhecer que o filme perdeu com isso.

Ainda preciso falar de furos no roteiro. Sem spoilers, prestem atenção na tia do protagonista. Esqueceram dela no fim do filme!!!

O elenco não está bem. Josh Hutcherson faz o protagonista que só pensa no irmão e não nos animatrônicos do mal. Elizabeth Lail faz a “mocinha”, mas, ou ela é bem fraca, ou ela estava passando por uma fase ruim. A menina Piper Rubio não atrapalha, mas é uma criança sem sal. E o filme tem dois nomes “grandes”: Matthew Lillard e Mary Stuart Masterson, que estão no limite da caricatura.

Dito tudo isso, reconheço que a ambientação na pizzaria abandonada é bem legal. E o filme tem alguns jump scares aqui e ali – nenhum muito bom, mas vão divertir a galera. E repito: gostei de ter animatrônicos de verdade no set. Pena que é muito pouco. Five Nights At Freddy’s tem uma hora e cinquenta onde quase tudo decepciona.

Por fim, depois da sessão me falaram de outro filme, Willy’s Wonderland, de 2021, estrelado pelo Nicolas Cage, que seria uma “versão não oficial” do jogo FNAF. Não vi Willy’s Wonderland, vou catar pra ver se é melhor.

Dezesseis Facadas

Crítica – Dezesseis Facadas

Sinopse (imdb): Quando o infame “Sweet Sixteen Killer” retorna 35 anos após sua primeira onda de assassinatos para fazer outra vítima, Jamie, de 17 anos, acidentalmente viaja de volta no tempo para 1987, determinada a deter o assassino.

Sei que estou atrasado. Segundo o imdb, Dezesseis Facadas (Totally Killer, no original) estreou no Amazon Prime no dia 06 de outubro. Mas heu estava focado no Festival do Rio, então deixei esse filme pra depois.

Acabado o Festival, vi Dezesseis Facadas e posso dizer: achei muito divertido!

É um slasher com viagem no tempo. Parece uma mistura de De Volta Para o Futuro com Pânico (ambos os filmes são citados aqui). Aliás, a gente tem que se lembrar que Pânico é slasher mas também tem um “whodunit” na trama, diferente de slashers como Halloween e Sexta Feira 13, onde todos sabem quem e o assassino. Dezesseis Facadas também é slasher com whodunit.

Sim, o clima lembra A Morte te Dá Parabéns, outro slasher que usa viagem no tempo, a diferença é que aqui a personagem volta para o passado e naquele a personagem cai num loop temporal. E olha que curioso, escrevi algumas frases sobre A Morte te Dá Parabéns que servem para Dezesseis Facadas: “Não tem nada de novidade aqui: um pouco de Feitiço do Tempo, um pouco de Pânico, um pouco de Meninas Malvadas, um monte de clichês. Mas a mistura “deu liga”, e o filme consegue o que se propõe: ser uma boa diversão. A Morte te dá Parabéns pega aquele monte de clichês e coloca tudo num formato bem humorado. Em momento algum o filme se leva a sério, e isso é muito bom.” Tirando a citação a Feitiço do Tempo, tudo se encaixa aqui.

Teve gente comparando Dezesseis Facadas com Terror nos Bastidores. Mas só o pontapé inicial é igual. Dezesseis Facadas é sobre uma adolescente que usa uma máquina do tempo para voltar no tempo e impedir o assassinato de sua mãe, desmascarando o assassino; Terror nos Bastidores é sobre um grupo de amigas que são sugadas para um filme de terror dos anos 1980, estrelado pela mãe de uma delas.

Uma das coisas mais divertidas em Dezesseis Facadas são os choques de comportamento por causa de mudanças na sociedade. Para uma jovem de 17 anos de 2023, muitas coisas de 1987 não são mais aceitáveis, como por exemplo uma camisa com uma piadinha machista (ela fala “essa camisa é completamente inapropriada!”); ou quando ela é colocada no time de queimado na aula de educação física – sim, a educação física era muito mais violenta naquela época.

Ok, a ideia da máquina de viagem no tempo deixa espaço pra forçações no roteiro. Concordo. Não podemos ver Dezesseis Facadas como um filme “cientificamente correto”. Mas, pelo menos precisamos reconhecer que o roteiro consegue deixar a história fluida e sem grandes furos. E gostei de como explicam a viagem no tempo aqui, derrubando a “teoria McFly” de que se seus pais não ficarem juntos você desaparece.

Um parágrafo pra listar algumas referências. A protagonista se chama Jamie Hughes – Jamie é homenagem a Jamie Lee Curtis; Hughes é homenagem a John Hughes, diretor de Gatinhas e Gatões e Clube dos Cinco, ambos estrelados por Molly Ringwald (citada mais de uma vez no filme). Aliás, a escola se chama Vernon High School – Richard Vernon era o professor em Clube dos Cinco. A máscara do assassino é uma mistura de Max Headroom (sem os óculos) e Billy Idol. Jamie usa o sobrenome Lafleur quando volta ao passado; em Lost, Sawyer usou o pseudônimo Jim Lafleur quando voltou no tempo. Por fim, uma referência mais obscura: o grupo das “meninas malvadas” aqui são as “Mollys”. No filme Atração Mortal, de 1988, existe um grupo semelhante, as “Heathers”.

Gostei do elenco. A protagonista é Kiernan Shipka, mais conhecida pela série Sabrina (que heu nunca vi). Julie Bowen, conhecida por Modern Family, faz a mãe dela. O resto do elenco tem vários nomes desconhecidos (pelo menos pra mim), mas uma coisa que preciso reconhecer é que encontraram atores e atrizes bem parecidos pra interpretarem os mesmos personagens nas duas linhas temporais.

“Ah, mas não gosto de filme que recicla ideia repetida”. Ok, passe pro próximo. Já disse aqui antes e repito: se for bem feito, não me incomodo com ideias recicladas.

Não Abra!

Critica – Não Abra!

Sinopse (Festival do Rio): Sam, uma adolescente que lida com os conflitos entre sua origem indiana e a vida nos EUA, acidentalmente liberta uma antiga entidade demoníaca de um jarro que jamais deveria ter sido aberto. À medida que o mal se alimenta dos seus piores medos, Sam precisará desvendar segredos ancestrais para tentar salvar sua vida e a de todos ao seu redor.

Heu espero não soar preconceituoso, mas eu diria que Não Abra! (It Lives Inside, no original) não tem o perfil do Festival do Rio. Por que digo isso? Ao longo dos anos, já vi mais de 150 filmes em diferentes edições do Festival. Normalmente os filmes que passam são filmes que têm perfil de serem lançados depois no circuito Estação. E Não Abra! não tem esse perfil, tem mais o perfil de um terror genérico de multiplex.

Afinal, Não Abra! é mais um “terror de bicho-papão”, como bem definiu meu amigo Cesar Monteiro, do Outcast Ambrosia. A diferença aqui é que é um bicho-papão baseado no folclore indiano.

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Bishal Dutta, Não Abra! tem problemas no desenvolvimento desse monstro. Porque, às vezes ele mata, às vezes ele só machuca, às vezes ele sequestra e guarda a vítima – me pareceu que a limitação do poder do monstro é a limitação que o roteiro pede. Meio tosco, né?

Ainda sobre o monstro, durante dois terços do filme ele não aparece direito, vemos sombras, vemos os olhos no escuro, a gente não sabe o que ele é. Legal, é assustador! Mas depois que ele aparece, perde a graça, ele é até meio mal feito. É muito mais assustador enquanto você não sabe o que que é.

(E isso porque vou deixar pra lá outras inconsistências do roteiro, como a professora que está sozinha de noite na escola. Por que não filmaram aquelas cenas num apartamento, pra mostrar que ela tem um lugar pra ir quando a escola fecha?)

Apesar dessas falhas de roteiro, Não Abra! não é de todo ruim – afinal, boa parte dos filmes de terror feitos atualmente têm falhas semelhantes. O uso da cultura indiana foi bem feito, a protagonista Megan Suri funciona para o que o papel pede, e o filme ainda tem alguns jump scares divertidos.

Mas, é aquilo. Uma diversão efêmera, você vai esquecer do filme um mês depois.

O Exorcista: O Devoto

Crítica – O Exorcista: O Devoto

Sinopse (imdb): Sequência do filme de 1973 sobre uma menina de 12 anos que é possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, forçando sua mãe a buscar a ajuda de dois padres para salvá-la.

Esse O Exorcista novo é tão ruim que eu nem sei por onde começar. Acho que eu vou começar pelo nome: “O Exorcista: O Devoto”. No primeiro O Exorcista, de 1973, a figura central era a menina Regan e também os padres exorcistas. Aqui não tem nenhum exorcista entre as figuras centrais do filme. O filme não deveria se chamar “O Exorcista”! O exorcista que aparece tem um papel bem secundário. Seguindo: “o devoto”. Quem seria o devoto? Na boa, se alguém souber quem é esse devoto, escreve aqui embaixo e me explica porque eu saí do filme sem saber quem seria.

O Exorcista de 73 é um clássico do cinema, um raro filme de terror que fura a bolha dos críticos – a gente sabe que a galera do tênis verde não curte terror e é difícil encontrar um filme de terror em listas de melhores filmes. Mas O Exorcista está presente nessas listas. Uma continuação dessas é inexplicável, parece que o filme foi feito por haters.

Acredito que boa parte da culpa é do diretor David Gordon Green, que já tinha estragado outra franquia: Halloween. O primeiro Halloween, de 1978, é outro desses filmes que furam a bolha, está em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. E David Gordon Green resolveu fazer uma nova trilogia com Halloween. Seu primeiro Halloween, de 2018, é até razoável. Mas o segundo é ruim e o terceiro é péssimo. Ele afundou com o nome da saga Halloween. E parece que ele agora quer fazer a mesma coisa com O Exorcista. Pelo menos dessa vez ele foi direto ao assunto, porque ele pretende fazer uma trilogia, e o primeiro já é um lixo. Tomara que flope e desistam!

Heu tenho medo do seu próximo projeto. Qual será o próximo filme de terror que ele vai querer estragar?

(Tenho uma teoria sobre o David Gordon Green. O primeiro filme dele que vi foi Segurando As Pontas, de 2008, e em 2011 vi Sua Alteza?. Duas comédias bestas. De repente o cara não curte terror, e resolveu fazer esses filmes só pra estragar o prazer de quem curte.)

O Exorcista: O Devoto tem outro problema básico. É um filme de exorcismo que tem pouco exorcismo. Metade do filme é com uma investigação policial atrás de adolescentes desaparecidas! Aí, quando começa a possessão, tudo é muito corrido. A parte da maquiagem das meninas possuídas é mal desenvolvida.

No texto sobre o penúltimo Pânico, comentei sobre o conceito de “requel”, que é uma mistura de reboot com sequel. Seria um filme novo reaproveitando uma ideia antiga para começar uma nova franquia a partir dali, com novos personagens e novas histórias, mas num universo já existente, utilizando elementos do filme original para dar chancela ao projeto. Esse O Exorcista novo está dentro desse conceito de requel porque usa a personagem da Ellen Burstyn, que estava no primeiro filme. Sim, a atriz do primeiro filme, a mãe da Regan, volta neste filme. Segundo o imdb, ela inicialmente recusou o convite, mas quando ofereceram o dobro do cachê, ela decidiu aceitar o papel e doar o dinheiro. Ela chegou a comentar “senti como se o diabo estivesse perguntando o meu preço”.

Só que ela foi muito mal aproveitada. Tem uma sequência onde ela aparece que não faz o menor sentido. Ela vai visitar a família da menina que está possuída – uma menina doente, num quarto no andar de cima da casa. Ela vai sozinha para o quarto e fica um tempão sozinha com a menina, e a menina berrando! Caramba, quando que pais de uma menina doente vão deixar um estranho entrar no quarto da filha e deixá-la berrando, e ninguém vai ver o que está acontecendo? Trouxeram a atriz de volta para desperdiçar o personagem.

O filme tem algumas ideias que poderiam ter dado certo, mas foram mal desenvolvidas. Teve uma ideia que heu achei que podia ter funcionado, que foi a “Liga da Justiça da Fé”, onde eles pegam representantes de várias religiões para juntos lutarem contra o demônio. Todos os filmes de exorcismo que conheço usam a religião católica. Então você usar um sincretismo religioso e colocar um padre ao lado de outras pessoas de outras religiões, talvez funcionasse, talvez fosse uma ideia legal. Só que os caras não desenvolvem e desperdiçam essa ideia. E pior, eles avacalham com o padre. A gente tem que lembrar que O Exorcista original é baseado na religião católica. Você não pode pegar esse padre católico e colocar ele de escanteio logo de cara.

Outra ideia que podia ter funcionado, e que também não foi aproveitada. Determinado momento são sete adultos tentando fazer o exorcismo, em volta das duas crianças que estão possuídas. Então o demônio fala para um dos adultos “você tentou ser freira e não conseguiu porque você teve que fazer um aborto”. Ou seja, ele consegue atingir um dos sete adultos com um segredo que esse adulto escondia. Seria legal se o demônio atirasse para todos os lados e descobrisse um podre escondido de cada um, ele assim desestabilizaria todos. Mas não, ele atinge uma pessoa e deixa o resto para lá. Se você levantou ideia, por que não desenvolvê-la?

Heu poderia continuar, mas chega, né? Vou encerrar com uma citação ao imdb, uma frase de William Friedkin, diretor do filme de 73, dita a um crítico pouco antes de seu falecimento: “William Friedkin once said to me, ‘Ed, the guy who made those new Halloween sequels is about to make one to my movie, the Exorcist. That’s right, my signature film is about to be extended by the man who made Pineapple Express. I don’t want to be around when that happens. But if there’s a spirit world, and I can come back, I plan to possess David Gordon Green and make his life a living hell.'” (“William Friedkin uma vez me disse: ‘Ed, o cara que fez aquelas novas sequências de Halloween está prestes a fazer uma para o meu filme, O Exorcista. É isso mesmo, meu filme assinatura está prestes a ser estendido pelo homem que fez Segurando as Pontas. Não quero estar por perto quando isso acontecer. Mas se houver um mundo espiritual e eu puder voltar, pretendo possuir David Gordon Green e tornar sua vida um inferno.'”)

Corta!

Crítica – Corta!

Sinopse (Festival do Rio): Em um prédio abandonado, um filme de zumbi de baixo orçamento está ruindo durante as gravações. O diretor abusivo já anda testando os limites do elenco e da equipe com seu comportamento desagradável, quando revela seu plano especial para injetar energia e emoção no projeto: liberar uma maldição zumbi de verdade. Em um frenético plano sequência em que pedaços de corpos e fluidos voam, os atores lutam contra os mortos-vivos e contra o diretor pela sobrevivência — antes que o filme chegue a uma conclusão chocante.

A sinopse deste Corta! (Coupez!, no original) me chamou a atenção. Mas me lembrei de um trash japonês que vi uns anos atrás, One Cut of the Dead, que trazia uma sinopse bem parecida.

E era isso mesmo. Corta! é refilmagem do japonês.

Mas o original era divertido, já faz uns anos que vi, e este novo ainda trazia o oscarizado Michel Hazanavicius (O Artista) na direção. Ok, vale checar a refilmagem.

A boa notícia é que Corta! é divertidissimo. Ok, igualzinho ao original. Não revi o filme japonês, mas tudo que me lembro também está presente aqui. Mas, quantas vezes a gente vê refilmagens e não reclama? Então bora.

O filme é claramente dividido em três partes. Tem uma primeira parte que é muito boa, tem uma segunda parte que é meio fraca e tem uma terceira parte que é a melhor coisa do filme. E como eu já falei em outras ocasiões, quando o filme termina bem, ele ganha pontos, porque a gente sai do cinema feliz.

A primeira parte é o plano sequência em si. É um trecho de pouco mais de meia hora com um plano sequência mostrando um set de filmagens de um filme de zumbis, sendo atacado por zumbis. Segundo o imdb, é um take dividido em dois, e demoraram cinco semanas ensaiando e quatro dias filmando.

A segunda parte mostra os bastidores do projeto, começando um mês antes. Ok, faz parte, pra gente conhecer um pouco mais dos personagens. Mas por outro lado é uma parte meio longa onde nada de legal acontece. Só serve pra gente entender alguns detalhes do que acontece depois, tipo o cara do som ter problemas intestinais, ou um dos atores com problemas com álcool.

A terceira parte é o backstage da filmagem do plano sequência em si. Durante a execução deste plano sequência acontecem algumas falhas meio toscas, e quando revemos a mesma cena sob outro ângulo, vemos o que aconteceu nos bastidores pra justificar essas falhas. Acompanhamos os erros técnicos na produção, e então entendemos todos as tosqueiras que aconteceram. Essa terceira parte é muito bem bolada e muito divertida.

Agora, é divertido, mas sinceramente não entendo um diretor ganhador do Oscar em um projeto desses: uma refilmagem de um trash. Não entendi a proposta do Michel Hazanavicius. Mas, ok, a gente aceita. de repente o cara só queria se divertir com um projeto leve.

O elenco traz alguns nomes conhecidos, como Romain Duris (Os Três Mosqueteiros) , Bérénice Bejo (O Artista)  e Matilda Lutz (Vingança). Todos funcionam, esse é um formato de filme que não pede grandes atuações.

Ah, tem uma cena pós créditos, uma piadinha. Não me lembro se tinha no original japonês.

Ninguém Vai Te Salvar

Crítica – Ninguém Vai te Salvar

Sinopse (imdb): Uma mulher reservada e com transtorno de ansiedade deve lutar contra um alienígena que chegou em sua casa.

Ah, o mercado… Filmes meia boca como Jogos Mortais X vão pro cinema, enquanto filmes muito melhores como este Ninguém Vai te Salvar vão direto pro streaming. Pena…

Ninguém Vai te Salvar é o segundo longa metragem dirigido por Brian Duffield, roteirista de A Babá, Ameaça Profunda e Amor e Monstros. Gostei do cara, vou procurar o primeiro filme que ele dirigiu, Espontânea, que, segundo a sinopse, se passa num mundo onde pessoas simplesmente explodem do nada, sem aviso prévio.

Fiquei na dúvida sobre se seria spoiler comentar sobre os aliens. Mas, falar sobre Ninguém Vai te Salvar e não mencionar os aliens seria um texto muito curto: “não leiam NADA e vejam o filme!” Mas vou comentar o mínimo para não estragar a experiência de ninguém.

Uma característica curiosa de Ninguém Vai te Salvar é ser um filme sem diálogos. Segundo o imdb, apenas oito palavras são ditas ao longo de todo o filme! A protagonista fica quase o filme todo só interagindo com os alienígenas, que falam uma língua incompreensível. E existe algo no passado dela, então nas poucas cenas onde ela tem alguma interação com os habitantes da cidade, essa interação é truncada.

Ninguém Vai te Salvar ainda traz alguns daqueles detalhes bem filmados do jeito que heu gosto. Um exemplo: em uma cena, a protagonista está num ônibus e descobre um alienígena, e ela quer fugir do ônibus. Vemos então o ônibus parado, a câmera se afasta e só então vemos que ela já está correndo. Detalhes que não são essenciais, mas engrandecem a experiência de se assistir um filme.

E isso porque não estou falando da sensacional primeira meia hora de filme, que mostra a casa sendo invadida e a protagonista tentando escapar. Sequência tensa, e com um desfecho onde quase dei um salto da poltrona.

Sobre o cgi dos aliens: em algumas cenas ficou meio falso. Mas por outro lado às vezes os vemos com movimentos propositadamente estranhos. Isso amenizou as falhas. Ah, gostei de ter formatos diferentes de aliens!

Além da aparência dos ets lembrar o clássico “alien grey”, o plano deles também lembra os filmes de invasão alienígena dos tempos da guerra fria, onde humanos são “alterados” para aceitarem a nova situação, em uma metáfora sobre o comunismo. E sim, o clima às vezes lembra a série Twilight Zone.

No elenco, todos os elogios possíveis à Kaitlyn Dever (Ingresso Para o Paraíso), que passa quase o filme inteiro sozinha e sem falar com ninguém. Ela está excelente!

Preciso falar do final do filme, mas sem entrar em spoilers. É um final que vai dividir opiniões, e preciso admitir que estou no grupo que não gostou do rumo tomado. Mas, em defesa do filme, sempre defendi quando filmes pegam caminhos fora do óbvio, então não vou reclamar da decisão do diretor.

Ninguém Vai te Salvar está no Star+, ou seja, pouca gente vai ver. Ah, o mercado…

Jogos Mortais X

Crítica – Jogos Mortais X

Sinopse (imdb): John Kramer, doente e desesperado, viaja para o México para um procedimento médico experimental, na esperança de uma cura milagrosa para seu câncer, apenas para descobrir que toda a operação é uma farsa para fraudar os mais vulneráveis.

Sim, Jogos Mortais X. Dez! Muita preguiça, mas, vamulá.

Já comentei aqui outras vezes, vou trazer um trecho do que escrevi sobre o nono filme “Gosto muito do primeiro Jogos Mortais, um filme tenso, bem filmado, e com um dos melhores plot twists do cinema recente. Mas o segundo é pior que o primeiro, o terceiro é pior que o segundo, o quarto é pior que o terceiro, e por aí vai.”

Ou seja, fui ao décimo filme com expectativa zero. E, vendo sob este ângulo, Jogos Mortais X nem é tão ruim. Não, não é bom, mas tem coisa pior por aí.

Jogos Mortais X (Saw X, no original) se passa entre o primeiro e o segundo filmes. Pra quem não acompanhou a saga, ou pra quem se esqueceu: John Kramer, o Jigsaw, foi diagnosticado com câncer terminal e resolveu criar as armadilhas, sempre com a ideia torta de que ele está ajudando os outros a serem pessoas melhores. Neste décimo filme ele está enfrentando sua doença, e resolve “ajudar” pessoas que oferecem falsas curas.

Se por um lado é legal ver a motivação do Jigsaw para alcançar suas vítimas, por outro lado Jogos Mortais X perde tempo demais nesse setup. Quase meia hora onde quase nada acontece, só com o tratamento do cara. Essa parte do filme é bem chata. E depois o espectador ainda precisa de muita boa vontade pra acreditar que ele ia conseguir construir todas as armadilhas, em poucos dias, em um país estrangeiro.

Agora, se o espectador comprar essa ideia, aí sim a gente tem o que todo fã da franquia quer ver: armadilhas criativas e sádicas, com muito “torture porn”.

Não tem mais muito o que se falar. Achei que o plano do John Kramer tinha muitas variáveis e por isso tinha uma grande chance de dar errado, mas, isso também acontece em muitos outros filmes. Tem uma espécie de “plot twist” relativo a um novo personagem no ambiente das armadilhas, mas era algo bem óbvio.

No elenco, o mesmo Tobin Bell que fez o Jigsaw nos outros filmes aqui tem uma participação maior, o filme quer que o espectador o veja como vitima e não como vilão. Shawnee Smith, que estava em alguns filmes (não vou lembrar quais) também tem um papel importante. E tem uma cena pós créditos que também traz outro nome que já esteve presente na franquia. O resto do elenco é de desconhecidos.

Enfim, como falei lá em cima, Jogos Mortais X nem é tão ruim. Mas é medíocre. E dá pena saber que existem filmes melhores indo direto pro streaming, como Ninguém Vai te Salvar, filme que comentarei em breve.

A Freira 2

Crítica – A Freira 2

Sinopse (imdb): França, 1956. Um padre é assassinado. Um mal está se espalhando. A sequência de A Freira (2018) segue a irmã Irene quando ela mais uma vez fica cara a cara com a força demoníaca Valak, a Freira.

James Wan é um dos maiores nomes do terror contemporâneo. O cara fez quatro filmes excelentes, os dois primeiros Sobrenatural e os dois primeiros Invocação do Mal. O único problema é que os filmes fizeram sucesso e geraram continuações e spin-offs – todos de qualidade inferior.

A Feira 2 (The Nun II, no original) é continuação do spin-off A Freira, que por sua vez veio de Invocação do Mal 2. Ou seja, quem for ao cinema com expectativa alta já começou errado!

Quando acabou a sessão de imprensa, alguns críticos amigos estavam revoltados, dizendo que A Freira 2 é um dos piores filmes do ano. Não achei tanto. Está bem longe de ser um grande filme, mas até que tem uma coisa boa aqui e outra ali. Vamulá.

Começo pelo roteiro, que é uma bagunça. Um exemplo simples: tem uma cena no início do filme onde aparece um entregador, que entra numa casa para deixar compras de mercado. E aparece a Freira e o mata. Ok. Agora, quem era esse entregador? Onde ele estava? Pra que mostrar um evento que não vai ligar a nada mais dentro do filme?

O roteiro segue tropeçando até o bode. Acho que alguém viu A Bruxa e gostou da ideia de ter um bode “do mal” – o bode Black Phillip é realmente assustador. Mas aí criaram um bode meio demônio, que aparece do nada, corre corre corre e some da mesma maneira que apareceu. Sabe a piada “tira o bode da sala”? Poizé, tira o bode do filme que tudo melhora.

A direção é de Michael Chaves (A Maldição da Chorona, Invocação do Mal 3), que é um bom discípulo do James Wan, mas ainda falta comer muito arroz com feijão pra alcançar o mestre. Mas, em defesa de Chaves, ele consegue criar um bom clima em algumas cenas, e, pra quem gosta de jump scares óbvios, o filme tem um monte.

Um parágrafo à parte pra falar daquela que provavelmente é a melhor cena do filme: a protagonista está diante de uma banca de revistas, e o vento começa a virar páginas de várias revistas. A cena é criativa, e o resultado ficou muito bom.

No elenco, temos a volta de Taissa Farmiga, irmã da Vera Farmiga (protagonista da série Invocação do Mal). Storm Reid, de Desaparecida, está num papel completamente desnecessário – mais uma vez: tire o personagem e o filme não perde nada. Também no elenco, Jonas Bloquet, Anna Popplewell e Bonnie Aarons (repetindo o papel de Valak – a freira do título).

Como falei antes, A Freira 2 não é um grande filme. Mas acredito que vai agradar aqueles que vão ao Multiplex atrás de jump scares genéricos.

Drácula: A Última Viagem do Demeter

Crítica – Drácula: A Última Viagem do Demeter

Sinopse (imdb): Baseado no livro “Drácula” de Bram Stoker, a história se passa a bordo do navio Demeter, onde uma tripulação condenada enfrenta eventos estranhos e aterrorizantes durante a viagem.

Antes de falar do filme, queria comentar o título nacional. O título original é “A Última Viagem do Demeter”, e acho um nome muito melhor. Mas, lembro que já tinha comentado que queria ver este filme, e mais de uma pessoa veio me perguntar “afinal, quem é Demeter?”. Ou seja, por mais que colocar “Drácula” no título seja ruim, pelo menos deve ajudar a vender o filme.

É o filme novo do norueguês André Øvredal, o mesmo de Caçador de Trolls e Autópsia de Jane Doe. Gosto do estilo de Øvredal, e a informação de que é um norueguês é importante, porque o filme toma certas atitudes corajosas que não são muito comuns em Hollywood, que costuma proteger alguns tipos de personagens.

É um filme do Drácula, como diz o título. Mas não vemos o Drácula charmoso e estilos de sempre, A Última Viagem do Demeter está mais pra “filme de monstro”. E preciso dizer que curti muito esse Drácula monstro.

O diretor falou que queria fazer um novo Alien, um filme que tinha 7 passageiros em uma grande nave onde um monstro assassino estava escondido, matando um a um, e as pessoas não sabiam onde estava o monstro e nem colo enfrentá-lo. Aqui o formato é o mesmo, só que são dez pessoas dentro de um navio em alto mar.

O clima de terror dentro do barco é muito bom. Não tem momento light, não tem alívio cômico, a parada é séria e tensa. A boa trilha sonora de Bear McCreary ajuda a criar o clima.

Tenho um elogio e uma crítica ao Drácula monstro. Gostei muito da caracterização e da maquiagem – usaram o mesmo Javier Botet que já fez vários monstros em filmes de terror. Sempre que precisam de uma criatura alta e magra, ele é chamado – ele foi a Menina Medeiros de REC, o personagem título de Mama, o Homem Torto de Invocação do Mal, o Demônio das Chaves do último Sobrenatural, e o personagem título de Slenderman. Botet ficou perfeito. Agora, em alguns momentos os efeitos práticos são substituídos por cgi, e esse cgi é meio tosco.

Nem tudo funciona. Ok, a gente sabe que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas, caramba, por que ninguém pensou em abrir as caixas? Por que não faziam as coisas de dia? Mas, como falei, decisões burras de personagens. Temos que relevar.

O elenco está bem. Ok, alguns personagens são um pouco rasos, mas o formato de “filme de terror onde morre um de cada vez” não tem espaço pra construção de muitos personagens complexos. Nenhum nome muito conhecido, os principais são Corey Hawkins, Liam Cunningham, Aisling Franciosi e David Dastmalchian. E, olha lá, comentei aqui outro dia sobre Toc Toc Toc Ecos do Além, o menino Woody Norman também está aqui.

A história fecha, mas o fim do filme traz um gancho para uma possível continuação. Será que veremos um Demeter 2?