Os Caras Malvados

Crítica – Os Caras Malvados

Sinopse (imdb): Vários animais criminosos reformados, mas incompreendidos, tentam se tornar bons, com alguns resultados desastrosos ao longo do caminho.

Admito um problema de head canon com relação a este Os Caras Malvados (The Bad Guys, no original). A primeira vez que ouvi falar foi durante a gravação de um podcast sobre expectativas para 2022. GG, host do meu podcast Podcrastinadores, falou de uma animação que supostamente seria uma versão de Cães de Aluguel com animais – sr Lobo, sr. Cobra, sra. Tarântula, sr. Tubarão e sr. Piranha. Taí, esse filme heu queria ver. Os Caras Malvados estava até na minha lista pessoal de expectativas pra 2022 no heuvi.

Passou um tempo descobri que era Dreamworks, o que, neste caso, era uma má notícia. Um estúdio como a Dreamworks provavelmente faria um filme infantil, e a ideia na minha cabeça funcionaria melhor em uma animação adulta.

Mas, é ainda pior que o meu head canon. Os Caras Malvados é um filme bem infantil. Ingênuo acho que é uma boa palavra para descrevê-lo.

Tudo é muito clichê, tudo é muito previsível neste longa de estreia de Pierre Perifel (que já tinha trabalhado no departamento de animação de vários outros desenhos). Pra começar, nenhum dos personagens é cativante, nenhum dá vontade de rever em outro filme, seja continuação ou spin off (como o Gato de Botas ou os Pinguins de Madagascar, pra citar exemplos dentro da Dreamworks). E assim que começa o filme a gente já adivinha os plot twists. E essa história de colocar os bichos “malvados” é um maniqueísmo poucas vezes visto no cinema recente. Por fim, a mensagem do filme é o cúmulo do tatibitati: “seja bom, é melhor que ser ruim”. Esse roteiro foi escrito por alguém que veio do Backyardigans?

Ok, reconheço que não sou o público alvo. Estamos falando de um filme para crianças. Mas, caramba, o cinema de animação evoluiu, temos tido vários exemplos de filmes que agradam as crianças e também os adultos – inclusive filmes da Dreamworks…

Bem, pelo menos quem se desligar desse “detalhe” vai curtir. A parte técnica da animação é perfeita, e rolam algumas piadas muito boas. O ritmo do filme é bom, as cenas de ação são bem executadas, e a trilha sonora funciona muito bem.

Tem uma coisa que achei curiosa. Tirando os sete personagens principais (os 5 do título, mais a governadora (raposa) e o professor Marmelada (porquinho da Índia)), que são antropomorfos, todos os outros são humanos. Estamos em um mundo onde humanos convivem com animais antropomorfos, isso não é muito comum.

Enfim, quem não se importar feito com roteiro pode curtir. Heu prefiro animações mais bem escritas.

O Projeto Adam

Crítica – O Projeto Adam

Sinopse (imdb): Um piloto que viaja no tempo junta-se a seu eu mais jovem e a seu falecido pai para chegar a um acordo com seu passado e salvar o futuro.

Ano passado a parceria entre Ryan Reynolds e o diretor Shawn Levy gerou um bom filme, Free Guy. Resolveram repetir a parceira no novo lançamento da Netflix.

O Projeto Adam (The Adam Project, no original) é um bom filme família, uma aventura com toques de ficção científica e cara de filmes dos anos 80. Claro, tem suas inconsistências, mas quem embarcar na proposta vai se divertir.

O melhor de O Projeto Adam é a interação entre os dois Adams. Ryan Reynolds faz o de sempre, o engraçadinho irônico que ele se especializou de um tempo pra cá. Se por um lado não tem nada de novo, por outro lado ele faz isso muito bem. E o garoto Walker Scobell é ótimo, e a dupla funciona muito bem junta.

No resto do elenco, ninguém chama a atenção, mas são atores carismáticos, que agradam mesmo fazendo o feijão com arroz – como Zoe Saldana e Jennifer Garner, que são muito secundárias e infelizmente pouco aparecem. Já Mark Ruffalo tem um pouco mais de tempo de tela. Catherine Keener faz a vilã, e o que chama a atenção é que temos duas versões dela uma delas rejuvenescida digitalmente. O que era novidade poucos anos atrás já é algo corriqueiro.

Assim como Free Guy, O Projeto Adam tem referências à cultura pop. Algumas são discretas, como a perseguição na floresta que lembra muito O Retorno do Jedi, outras são explícitas, como a arma que parece um sabre de luz (o pequeno Adam inclusive chama de sabre de luz). Ah, a caixa onde o Mark Ruffalo guarda as bolas e luvas tem um adesivo do Hulk e outro do Deadpool. E a minha cena favorita é quando o garoto pega e usa o “sabre de luz”, cena que inclusive cita o “super hero landing” de Deadpool.

Li críticas sobre os efeitos especiais, mas não teve nenhum que me incomodou.

Claro, nem tudo é perfeito. O roteiro é cheio de conveniências e algumas coisas sem lógica – tipo se o guarda fica invisível até se aproximar, por que não ficar invisível por mais um ou dois segundos? Só pra dar tempo de reação? Além disso, por duas vezes o protagonista está em uma situação sem saída e ele é ajudado por uma solução deus ex machina.

Mas, como falei, quem embarcar na proposta vai se divertir.

Immanence

Crítica – Immanence

Sinopse (imdb): Radioastrônomos descobrem um sinal misterioso no mar profundo que pode ser um contato alienígena. Após várias manifestações aterradoras ameaçarem suas crenças, a equipe deve lutar para sobreviver ao mal supremo.

Gosto de filmes que misturam terror e ficção científica – fiz um top 10 sobre o assunto. Mas confesso que, por não ter ninguém conhecido no elenco nem na produção, fui ver Immanence com o pé atrás.

A palavra “imanência” existe na língua portuguesa, fui catar na wikipedia a definição: “Na teologia e metafísica, sustenta que o divino ou Absoluto abrange ou se manifesta no mundo material, e imanentismo é o termo usado para se referir à noção de que Deus ou uma mente ou espírito abstrato pervade o mundo. É sustentado por algumas teorias filosóficas e metafísicas da presença divina e providência. A imanência é geralmente aplicada nas crenças religiosas (…) para sugerir que o mundo espiritual permeia o mundano, sendo frequentemente contrastada com as teorias da transcendência divina, nas quais o divino é visto como estando fora do mundo material.”

Preciso admitir, Immanence começa bem. Produção pequena, quase o filme inteiro se passa dentro de um barco com meia dúzia de atores, mas alguns dos pontos levantados até geram curiosidade, ao confrontar ciência vs religião. E o filme começa a desenvolver subtramas individuais sobre casos particulares de cada um dos personagens.

Uma parte do filme me lembrou Coherence, outro filme alternativo com pouco elenco e locação reduzida. O grupo encontra um outro barco, como se fosse uma realidade paralela. Essa foi uma boa sacada. Pena que o desenvolvimento dessa ideia não funcionou. Porque o final… Caramba, que final tosco… Sem entrar em muitos spoilers, mas aparece um grande antagonista, e o plano dele não faz o menor sentido! Cada vez que a gente pensa mais, vê que a parada não tem lógica. E, pra piorar, aquelas subtramas são abandonadas, e a discussão religiosa desanda e vira uma lenga-lenga chata.

No elenco, ninguém conhecido, e se for depender deste filme, continuarão desconhecidos – as atuações vão de maomeno para péssimo.

Enfim, mais um exemplo de “filme de Schrodinger”. É melhor não ver a parte final e imaginar que talvez termine bem.

Agente das Sombras

Crítica – Agente das Sombras

Sinopse (imdb): Travis Block é um agente do governo que aceita o seu passado sombrio. Quando descobre uma conspiração dirigida aos cidadãos americanos, Block encontra-se na mira do director do FBI que uma vez ajudou a proteger.

Mais um filme de ação genérico do Liam Neeson. O diretor é o mesmo Mark Williams que dirigiu Legado Explosivo. Os dois filmes são bem parecidos, então vou repetir aqui um parágrafo que escrevi naquela ocasião: “Liam Neeson é um grande ator, não há dúvidas. Concorreu ao Oscar por A Lista de Schindler, concorreu 3 vezes ao Globo de Ouro (Schindler, Michael Collins e Kinsey). E depois de “velho”, investiu nos filmes de ação blockbuster, fez Star Wars, fez Batman, Esquadrão Classe A, Fúria de Titãs, entrou numa onda de filmes de vingança, e assumiu a carreira de action hero da terceira idade. Ele faz isso muito bem, pena que a maioria dos filmes que ele faz hoje são parecidos. Agente das Sombras (Black Light, no original) segue essa onda, de filme genérico com o Liam Neeson coroa badass.”

Mas, preciso dizer que o resultado final deste Agente das Sombras é inferior ao Legado Explosivo. As cenas de ação são mal filmadas, e o vilão é péééssimo!

Agente das Sombras traz um homem ligado ao FBI, que traz mistérios misteriosos, que se vê num grande complô conspiratório. Nada de muito criativo, mas talvez rendesse um filme maomeno se tivesse mais cuidado no roteiro e direção.

São duas cenas de perseguição de carro. Uma delas é até ok, com um carro perseguindo um caminhão de lixo – o filme foi filmado na Austrália, o que justifica o caminhão com o volante “do lado errado” (mas que ficou bem estranho, porque os carros são com o volante igual ao nosso). A segunda cena me pareceu estranha, porque o carro perseguido é um carro esporte que – segundo as minhas cartas de Super Trunfo – era pra correr mais rápido que o carro que estava perseguindo.

Mas Agente das Sombras guarda o pior para a parte final. O vilão malvadão cede todos os seus segredos sem reagir, e foge dando passinhos de Pantera Cor de Rosa. A partir daí, nada se salva na sequência final.

No elenco, o único outro nome digno de nota além do Liam Neeson é Aidan Quinn, que era um protótipo de galã nos anos 80 e 90, e estava sumido. Mas ele está tão mal que era melhor ter continuado sumido.

Liam Neeson ainda não desceu ao patamar atual do Bruce Willis – que faz filmes ruins onde só aparece por alguns minutos (tanto que Willis ganhou uma categoria exclusiva na premiação Framboesa de Ouro!). Pelo menos Neeson realmente protagoniza o filme, e ele ainda tem carisma suficiente para levar espectadores ao cinema. Mas seria uma boa ele repensar a carreira, porque não sei quanto tempo vai durar a paciência do público

Licorice Pizza

Crítica – Licorice Pizza

Sinopse (imdb): Licorice Pizza é a história de Alana Kane e Gary Valentine crescendo, correndo e se apaixonando em San Fernando Valley, na Califórnia, em 1973.

Finalmente chegou ao circuito o badalado novo filme de Paul Thomas Anderson. O filme teve lançamento limitado no fim do ano passado, e já aparecia em algumas listas de melhores de 2021. Claro que gerou curiosidade.

Licorice Pizza (idem, no original) é bom, mas… Teve uma coisa que me tirou do filme. O protagonista Gary tem 15 anos de idade, mas se porta como um adulto experiente. Ok, a gente já sabe logo desde o início do filme que ele é um ator, então por isso seria mais esperto que a maioria dos garotos da sua idade. Mas achei exagero: o garoto primeiro é um grande empresário no ramo de colchões de água, e depois abre uma grande e badalada loja de fliperama – e ainda trabalha como câmera nas horas vagas. Mais: ele nunca tem adultos por perto, só garotos da idade dele ou ainda mais novos. Ele é tão descolado que frequenta o mesmo restaurante que poderosos produtores de Hollywood. Além disso, é um um homem maduro em relacionamentos. E ainda tem costeletas!

Lembrei de Quase Famosos, cujo protagonista William Miller é um adolescente que se mete em assuntos de adultos – ele se passa por um repórter da Rolling Stone e acaba acompanhando uma banda na estrada. Mas o garoto William é introvertido e inseguro, e tem problemas com a mãe e com a escola. Muito mais fácil de “comprar”.

Provavelmente num futuro próximo vou rever Licorice Pizza e vou curtir mais. Porque é um filmão. Paul Thomas Anderson filma em película, e parece realmente que estamos vendo um filme feito nos anos 70. A reconstituição de época é perfeita, e a boa trilha sonora ajuda. Ainda temos uma boa edição e a câmera sempre bem posicionada – rolam alguns plano sequências, curtos, nada de extraordinário, mas sempre bem bolados. Tecnicamente falando, o filme é impecável.

Já o roteiro… Bem, tem que entender que Paul Thomas Anderson nem sempre usa a “formula Syd Field”. Aqui em Licorice Pizza o roteiro é meio solto, as coisas simplesmente vão acontecendo, não existe uma linha que liga tudo. Tem gente que curte filme assim, mas tem gente que não curte.

O casal protagonista é estreante. Cooper Hoffman é filho do Philip Seymour Hoffman – que fez cinco filmes com Paul Thomas Anderson. O garoto tem futuro, mas aqui não me convenceu – ele não tem cara de 15 anos! Já Alana Haim está ótima, aguardo ansiosamente pelo seu próximo filme. A química entre os dois é boa, rola uma paixão platônica e ela freia essa paixão por causa da diferença de idade.

(Eduardo e Mônica também tem protagonistas com a mesma diferença de idade, e o casal funciona melhor – e o Eduardo ainda está preocupado com o vestibular!)

Uma curiosidade: Alana Haim é de uma família de músicos, e suas irmãs e seus pais no filme também o são na vida real.

Ainda no elenco, três participações especiais que vão dividir opiniões. Bradley Cooper interpreta o cabeleireiro e maquiador John Peters, que era namorado da Barbara Streisand na época. Não conhecia Peters, não sei se ele era assim, mas Cooper está exagerado demais, me pareceu um degrau acima do que deveria estar. E Sean Penn e Tom Waits estão em uma cena que pode até ser divertida, mas é meio desnecessária para o resto do filme.

Por fim, o nome. “Licorice Pizza” é uma gíria pra disco de vinil – não só as iniciais “LP”, como também um vinil preto poderia ser uma “pizza de alcaçuz”. Inclusive existia uma rede de lojas de discos chamada Licorice Pizza. Mas… No filme não tem nem pizza, nem alcaçuz, nem discos de vinil. Por que o nome? Sei lá…

Batman

Crítica – Batman

Sinopse (imdb): Quando o Charada, um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, Batman é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o envolvimento de sua família.

Tinha uma galera reclamando “nas internetes’ sobre este novo Batman. As críticas sempre eram quase sempre relacionadas ao novo protagonista, Robert Pattinson, que parece que sempre será lembrado como o “vampiro purpurina” da saga Crepúsculo. Heu não tenho nada contra ele, sei que é um bom ator. Minha dúvida com este filme era “mas será que a gente já precisa de um novo Batman?” Afinal, “anteontem” ainda era o Ben Affleck, que, na minha humilde opinião, fez um bom trabalho como o homem morcego, e ano passado teve filme com ele no papel.

Mas, Hollywood é assim, eles vão fazer novos filmes não importa se é a hora certa ou não. Pelo menos, a boa notícia: este novo Batman é muito bom!

Ok, quase 3 horas, não precisava de tanto, podia cortar algumas gordurinhas aqui e ali e fazer um filme mais enxuto. Mas algumas cenas são tão boas que entrariam facilmente numa lista de momentos mais icônicos de todos os filmes do Batman, como a cena no corredor escuro onde só vemos alguma coisa quando os vilões atiram; ou a cena de cabeça para baixo do Batman vindo até o carro capotado, na chuva e com a explosão ao fundo.

Dirigido por Matt Reeves, que já tinha mostrado competência na franquia Planeta dos Macacos, Batman (The Batman, no original) é um belo espetáculo visual. A fotografia de Greig Fraser (que está concorrendo ao Oscar por Duna) é um espetáculo, muitas cenas escuras, muitas cenas com chuva, muito contra luz. E não é só isso, a cenografia também enche os olhos – Gotham é uma cidade suja e decadente. Também gostei de como os vilões aparecem mais reais – o Pinguim parece mais um líder mafioso do que um freak (como era o Danny De Vito do filme de 1992); e o Charada é um louco com seguidores pela internet.

Vamos ao elenco. Robert Pattinson já mostrou que é um bom ator, e ele está muito bem como o Batman. Mas… Não curti muito ele como Bruce Wayne. Enquanto o novo Batman me convenceu, o Bruce Wayne do Christian Bale vinha à minha cabeça cada vez que aquele jovem emo aparecia na tela. Zoë Kravitz está ótima como a Selina Kyle, e a relação dela com o Batman é perfeita. Paul Dano está impressionante como o Charada, e Colin Farrell, irreconhecível como o Pinguim. Também no elenco, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis e Jeffrey Wright.

Tem uma perseguição de carro que me causou sensações opostas. Por um lado, é uma cena plasticamente muito bonita. Muitas luzes, muita água, a cena eleva a adrenalina lá no alto. Mas, por outro lado, as imagens são muito entrecortadas. Nem consegui ver a cara do novo Batmóvel. Vão me xingar, mas deu saudade de Velozes e Furiosos

Tenho um comentário negativo sobre a trilha sonora de Michael Giacchino. O tema que fica tocando repetidamente é muito igual à marcha imperial de Guerra nas Estrelas. Ok, boa trilha, mas preferia um tema diferente.

A sessão de imprensa foi na segunda de carnaval, não fui porque estava viajando com a família, e o filme ia estrear no dia seguinte. Fui então terça em uma sessão dublada com meus filhos. Dois comentários, um geral e um pessoal. O primeiro comentário é que não só a dublagem é muito boa, como o filme tem várias coisas escritas na tela, e quase tudo estava em português – conseguiram alterar os textos! O comentário pessoal é que o Charada foi dublado pelo meu amigo Philippe Maia, que fez um trabalho excelente!
Claro que o filme tem espaço para continuações. Que mantenham a qualidade!

Ah, tem uma cena pós créditos com uma piada bem cretina. Ri alto na sala de cinema, não pela piada, e sim pela quantidade de gente que ficou esperando para ver aquilo!

Caveat

Crítica – Caveat

Sinopse (imdb): Um vagabundo solitário que sofre de perda parcial da memória aceita um emprego cuidando de uma mulher com problemas psicológicos em uma casa abandonada em uma ilha isolada.

Vejo muitos filmes estranhos e desconhecidos. E de vez em quando aparece um que é um pouco mais fora da curva. É o caso deste Caveat, escrito e dirigido pelo estreante Damian Mc Carthy.

Pela história a gente já sabe que é um filme maluco. Um cara precisa ir para uma casa isolada para cuidar de uma jovem, mas ele precisa ficar preso numa corrente para não ter acesso ao quarto dela. A casa está toda caindo aos pedaços, e ainda tem um coelhinho sinistro de brinquedo!

Vou destacar um ponto positivo e um negativo. De positivo, gostei da ambientação. A casa é um bom cenário, e gostei da ideia do cara preso naquela roupa de couro que fica presa na corrente. São só três atores, que funcionam bem (Ben Caplan, Jonathan French e Leila Sykes).

Agora, não gostei da parte final. Não acho que um filme precisa explicar tudo, aceito quando deixa lacunas para o espectador completar conforme a sua interpretação. Exemplo: não tenho ideia do que era o coelhinho, mas gostei dele. Mas aqui, a parte final é tão sem sentido que me tirou do filme. Acho que o roteiro falhou nessa parte.

Mas Caveat não é de todo mau. Aguardemos o segundo filme de Damian Mc Carthy.

O Massacre da Serra Elétrica (2022)

Crítica – O Massacre da Serra Elétrica

Sinopse (imdb): Depois de quase 50 anos escondido, Leatherface volta a aterrorizar um grupo de jovens amigos idealistas que acidentalmente perturbam seu mundo cuidadosamente protegido em uma remota cidade do Texas.

Uma das cenas que mais gostei do Pânico recente foi quando falaram do conceito de “requel”, que seria uma espécie de mistura de reboot com sequel, e deu exemplos como Halloween, Caça Fantasmas e o próprio Pânico. Achei que este aqui seria algo no mesmo estilo, porque traz a mesma personagem Sally, sobrevivente do primeiro filme, de 1974. Mas, se a personagem é a mesma, diferente dos outros exemplos citados, trocaram a atriz, já que Marilyn Burns, a Sally de 74, faleceu em 2014. Nem para isso serve este novo Massacre da Serra Elétrica. Não tenho curtido os Halloween recentes, mas reconheço que pelo menos são filmes que respeitam o filme original – este novo Massacre da Serra Elétrica é apenas mais um caça níqueis usando um clássico do terror.

A gente precisa reconhecer o valor do primeiro Massacre da Serra Elétrica, dirigido por Tobe Hooper e lançado em 1974. Visto hoje, o filme é até meio tosco, mas, naquela época ainda nem existia direito o conceito de slasher – Halloween começou em 1978, Sexta Feira 13, em 1980. Hooper entregou um filme cru, violento e assustador, que entrou para a história do cinema pelo seu pioneirismo.

Mas, como a maioria dos filmes de terror de sucesso, vieram as continuações, cada uma pior que a anterior. Fui catar agora na wikipedia, parece que foram sete continuações (este novo seria o nono filme), e nenhum deles é bom. Curiosamente, muitos bons atores já passaram pela franquia, como Matthew McConaughey, Renée Zellweger, Jessica Biel, Jordana Brewster e Alexandra Daddario.

Infelizmente, este novo filme mantém a tradição: é bem fraco.

A direção é do quase desconhecido David Blue Garcia, mas O Massacre da Serra Elétrica tem nomes mais conhecidos no roteiro e produção: a dupla Fede Alvarez e Rodo Sayagues, responsáveis pela refilmagem de Evil Dead e pelos dois filmes Homem nas Trevas. Olha, não sou fã do trabalho da dupla, mas esses três filmes são melhores do que a refilmagem de Massacre da Serra Elétrica.

Se a gente pode elogiar uma coisa, são os efeitos de gore. Algumas cenas de morte são muito bem feitas. Mas é pouco, não?

O filme é curto – se tirar os créditos, tem 1h14min. Mas, também, tem pouca história para contar. É tudo muito básico: um grupo de pessoas vai para uma pequena cidade quase abandonada com objetivo de revitalizá-la, aí aparece o Leatherface e mata geral. Só.

Aí resolveram trazer de volta a personagem da Sally, uma senhorinha que está há 50 anos procurando vingança. Legal, né? Não! Não é legal! Se você coloca uma personagem procurando um inimigo há 50 anos e o cara é um dos poucos habitantes de uma cidadezinha pequena, esta personagem é a investigadora mais incompetente da história! Sem contar com o fato de ser uma senhorinha frágil que não demonstra que pode derrotá-lo – mais uma vez, a gente lembra de Halloween, que transformou a final girl Laurie Strode em uma vovó badass. Lá a gente acredita que a senhorinha se preparou; aqui não.

Mas a Sally não é a única coisa ruim. A gente sabe que a maior parte dos filmes de terror por aí tem personagens com atitudes burras. O Massacre da Serra Elétrica também tem isso aos montes. Só vou citar um exemplo: a cena do ônibus. Uma galera dentro de um ônibus, Leatherface entra e começa a matar geral. Eram umas 20 ou 30 pessoas, acredito que alguns tentariam reagir pulando em cima dele, mas ok, aceito que ninguém reagiu. Só que não dá pra aceitar que a última pessoa que ele mata ABRE A JANELA DO ÔNIBUS pra tentar fugir. Caramba, se dava pra abrir a janela, por que ninguém fugiu???
Não quero citar spoilers, mas preciso mencionar isso. Outra atitude burra – talvez a atitude mais burra do cinema recente – foi quando Sally encontrou o Leatherface, apontou uma arma para a sua cara, e desistiu de atirar. Vem cá, você não estava há 50 anos atrás dele, querendo se vingar? Por que desistiu?

Tem mais coisa pra falar mal, mas vou parar por aqui. Fiquem com o original de 1974.

Ah, por fim, só uma rabugice: não tem nenhuma serra elétrica em nenhum dos filmes da franquia. Aquilo é uma motosserra!

Reacher

Crítica – Reacher

Sinopse (imdb): Jack Reacher foi preso por assassinato e agora a polícia precisa de sua ajuda. Baseado nos livros de Lee Child.

O personagem é o mesmo dos filmes Jack Reacher de 2012 e 2016, estrelados por Tom Cruise – o primeiro é um bom filme; o segundo é maomeno. Lembro que na época criticaram a escolha de Cruise, que seria muito mais baixo que o personagem no livro (Cruise tem 1,70m; Reacher teria 1,90m). Bem, este problema foi resolvido: agora temos Alan Ritchson, que realmente tem o porte físico que o personagem pede.

Pena que ele é um ator péssimo! Mas, vamos por partes.

Reacher tem a mesma pegada de filmes de ação de segunda linha dos anos 80 e 90. São 8 episódios de aproximadamente 50 minutos cada com algumas boas cenas de “tiro porrada e bomba”, mas com dois problemas básicos. Vamulá.

O primeiro problema é que o roteiro é bem fraco. Os personagens são rasos e unidimensionais (personagem de desenho animado com a mesma roupa), e as situações por onde eles passam são forçadas e são caricatas. Hoje, em 2022, fica difícil de aceitar cenas tipo aquela onde os vilões sequestram e prendem crianças numa fábrica, no meio de funcionários. Acredito que o cinema de ação evoluiu, esse tipo de cena ficou ultrapassada.

O outro problema é o ator Alan Ritchson. Sim, ele tem o “physique du rôle” que o papel pede. Mas ele parece que frequentou a “escola de atuação Cigano Igor”, o cara não consegue ter expressões faciais diferentes! A mesma cara para “meu irmão morreu”, “estou com fome” ou “vamos fazer sexo”. Me lembrou o Schwarzenegger, mas quando o Schwarza interpreta o Exterminador: um robô duro e sem emoções.

O resto do elenco, cheio de nomes desconhecidos, também é ruim, mas nada tão ruim quanto o protagonista.

Se você conseguir se desligar desses dois “detalhes”, pode até curtir a série. Como falei antes, a série tem a pegada de filmes de ação dos anos 80 e 90, mais pancadaria do que lógica. E o protagonista é bom nessas cenas, além de ser uma espécie de Sherlock Holmes quando investiga.

Parece que anunciaram uma segunda temporada. Será que dá pra trocar de ator?

Clean

Crítica – Clean

Sinopse (imdb): Assombrado pelo seu passado, um homem sujo chamado Clean tenta uma vida calma de redenção. Mas logo se vê obrigado a aceitar a violência do seu passado.

Clean é um filme difícil de classificar. É muito violento para um drama, e ao mesmo tempo muito lento para um filme de ação. Me lembrei dos filmes do Nicolas Winding Refn (Drive, Apenas Deus Perdoa) – com o agravante de não ter o visual elaborado dos filmes do diretor dinamarquês (não curto os filmes dele, mas reconheço que são filmes com visual caprichado).

Conheço pouco da obra do diretor Paul Solet (só vi O Mistério de Grace), mas Clean me pareceu ser um projeto do ator Adrian Brody, que além de protagonizar, produziu, escreveu o roteiro e ainda colaborou com a trilha sonora. A sensação que fica é que Brody queria fazer o seu John Wick. Pena que o resultado final ficou devendo.

Revendo minhas anotações de mais de dez anos atrás sobre O Mistério de Grace, constatei um problema semelhante: um filme lento, com pouca história para contar. E Clean ainda tem outro problema; o roteiro usa uma fórmula extremamente previsível. A gente já sabe como vai ser o desfecho do filme.

Se salvam a atuação de Brody e algumas coreografias de luta. Mas é pouco.