Bailarina

Crítica – Bailarina

Sinopse (imdb): Uma assassina treinada nas tradições da organização Ruska Roma sai em busca de vingança após a morte do pai.

Não escondo de ninguém que sou fã dos filmes do John Wick. Vou além: gosto de quase todos os filmes feitos pela galera da 87North, produtora fundada por David Leitch, um dos nomes por trás do primeiro John Wick. Leitch é ex dublê, e hoje dirige e produz filmes de ação que valorizam o trabalho dos dublês, filmes como Atômica, Anônimo, Trem Bala e O Dublê.

E Bailarina ainda tinha outro atrativo: Ana de Armas. Lembro que ela teve uma breve participação no último James Bond, e que foi a melhor coisa daquele filme. Depois disso, fiquei na torcida pra um filme de ação com ela protagonista.

Tive um certo receio quando li quem era o diretor. Bailarina foi dirigido por Len Wiseman, que não tem um currículo muito bom (Anjos da Noite, Duro de Matar 4, a refilmagem de Vingador do Futuro…). Mas, segundo o imdb, Chad Stahelski – diretor dos quatro filmes do John Wick – reprovou o corte original e ficou entre dois e três meses em Praga refilmando boa parte do material feito por Wiseman.

E o resultado ficou muito bom. Bailarina não é um filme perfeito, mas é bem acima da média: é empolgante, bem coreografado, bem filmado, e Ana de Armas está excelente.

Bailarina se passa entre John Wick 3 e 4. Eve é resgatada, ainda criança, e levada para ser uma Ruska Roma e virar uma assassina. Acompanhamos seu treinamento e depois a vemos em ação. Até que resolve sair numa jornada de vingança.

Heu tive um problema que é parte minha incompetência, parte erro de casting. O filme começa com um flashback com a protagonista criança. Aparece o líder dos vilões, interpretado pelo Gabriel Byrne com muita maquiagem. Tanta maquiagem que achei que era o Ian McShane, gerente do Hotel Continental, presente em todos os filmes da franquia. O filme segue, ela vai embora com esse cara, e tempos depois diz que quer se vingar. Pensei, “ué, mas não foi ele que estava lá?” Aí mostra o personagem do Gabriel Byrne, e reparei que eram duas pessoas diferentes. Mas passei boa parte do filme confuso, achando que era o mesmo ator. Ok, parte da culpa é minha, sou um péssimo fisionomista. Mas, poxa, podiam ter colocado atores mais diferentes! Não só eles são parecidos como ainda têm postura semelhante.

Além disso, outra coisa me incomodou. Aprendemos nos outros filmes que o Hotel Continental está em trégua permanente. Se um cara com a cabeça a prêmio por 2 milhões está dentro do hotel, não pode ser assassinado. Mas aí aumentam pra 4 milhões e as pessoas resolvem ir matá-lo. Oi? Por que diabos aquelas pessoas foram até o quarto do cara e começaram a atirar???

Por fim, um mimimi. No treinamento da Eve, a treinadora fala que ela pode trapacear pra ganhar. Aí ela ganha de um cara com um chute no saco dele. Sério que querem dizer que o melhor que ela consegue é um truque sujo? Não seria bem melhor mostrar que ela venceu a luta porque é habilidosa, em vez de ter que apelar pra golpes baixos?

Relatei alguns problemas, mas achei o resultado de Bailarina bem acima da média. Como acontece nos quatro John Wick, são diversas sequências de lutas, e todas elas muito bem coreografadas. Dá gosto de ver cenas de luta assim!

Não acredito que vou falar agora seja spoiler, porque está no trailer e até no cartaz. Mas sim, aparece o próprio John Wick. E preciso dizer que tive sensações dúbias sobre a participação do Keanu Reeves. Porque por um lado é sempre legal vê-lo em ação; mas por outro, não precisava. Se você tirá-lo, o filme não perde nada. Seria um filme legal sem o “dono da franquia”.

No elenco, Ana de Armas está sensacional. Linda linda linda, e convence nas cenas de tiro porrada e bomba. Keanu Reeves, Ian McShane, Lance Reddick e Anjelica Huston voltam aos papéis que já tinham feito nos filmes da franquia. De novidade, temos Norman Reedus, Catalina Sandino Moreno e Gabriel Byrne (que não está mal, mas, como falei, deveria ser outro ator). E, prestem atenção, a concierge do hotel em Praga é Anne Parillaud, sim, a Nikita do filme de 1990!

Bailarina estreia esta semana nos cinemas. Boa opção pra quem gosta de filmes de ação. Claro que o filme termina com um gancho pra continuação. Que mantenham a qualidade e venham outros!

O Esquema Fenício

Crítica – O Esquema Fenício

Sinopse (imdb): Conto sombrio de espionagem que segue um relacionamento tenso entre pai e filha em uma empresa familiar. As reviravoltas giram em torno de traição e escolhas moralmente cinzentas.

E vamos para mais um Wes Anderson!

Vou copiar um parágrafo que escrevi ano passado, no texto sobre Asteroid City: “Wes Anderson é um dos poucos na Hollywood contemporânea que tem um estilo visual fácil de identificar. Seus filmes são sempre muito simétricos, cada frame é milimetricamente organizado, o cara deve ter TOC. As atuações são artificiais, mas isso parece proposital, e se encaixa bem na proposta visual.”

O Esquema Fenício (The Phoenician Scheme, no original) segue esse caminho. Tudo simétrico e com atuações robóticas. Claro que isso não agrada qualquer público, mas precisamos reconhecer que o cara tem um estilo característico.

Agora, se falei que Asteroid City era um filme onde pouca coisa acontecia, aqui é o oposto. O roteiro de Anderson com o habitual parceiro Roman Coppola traz uma trama complexa, onde os três personagens principais se deslocam entre vários núcleos, desenvolvendo diversas negociações confusas. Algumas são bem divertidas, como o “momento basquete”, mas outras parece que estão lá só pra ter espaço pra participações especiais no elenco.

Sim, como de costume, o elenco é fantástico. Acho curioso como Anderson consegue tantos atores famosos para os seus filmes, já que é um formato que não privilegia boas atuações. E O Esquema Fenício não é diferente. Os papéis principais são de Benicio Del Toro, Mia Threapleton e Michael Cera (Mia é a única do elenco que não é conhecida, mas ela é filha de uma tal de Kate Winslet). Dentre os coadjuvantes principais, temos Tom Hanks, Bryan Cranston, Benedict Cumberbatch, Scarlet Johansson, Jeffrey Wright e Riz Ahmed. E ainda tem pontas de Bill Murray, F Murray Abraham, Willem Dafoe, Rupert Friend, Charlotte Gainsbourg, Mathieu Amalric e Hope Davis. Sobre as atuações, os três principais até têm personagens interessantes. O resto é tudo apático.

O Esquema Fenício é extremamente bem filmado, e tem alguns momentos hilários (ri alto com as flechas do filho do protagonista). A trilha sonora de Alexandre Desplat (outro colaborador habitual) também é boa. Mas, precisamos reconhecer que é um entretenimento para poucos…