Plano de Aposentadoria

Crítica – Plano de Aposentadoria

Sinopse (imdb): Quando Ashley e sua filha Sarah se envolvem em um empreendimento criminoso que coloca suas vidas em risco, ela recorre ao pai afastado Matt, atualmente vivendo a vida de um vagabundo de praia aposentado nas Ilhas Cayman.

Não costumo ver trailers, mas me enviaram o trailer deste Plano de Aposentadoria (The Retirement Plan, no original) acabei vendo e curti a ideia. Parecia ser um “novo John Wick”, com o Nicolas Cage no papel principal. Ok, vamos ver qualé.

A comparação é válida, afinal são dois super mega assassinos, aposentados, que são forçados a voltarem à ação. O problema é que John Wick pode até ter uma premissa clichê, mas a execução é bem longe disso. Já Plano de Aposentadoria tem uma execução burocrática, o que nos entrega um filme bem genérico. Escrito e dirigido por Tim Brown, Plano de Aposentadoria é extremamente óbvio. A gente consegue prever tudo o que vai acontecer.

Se tem algo aproveitável é o elenco. Porque, se a trama é previsível e cheia de clichês, pelo menos vemos na tela atores como Nicolas Cage, Ron Perlman, Jackie Earle Haley e Ernie Hudson – inclusive este último é aquele clichê do “amigo do mocinho que entra na trama só pra se ferrar”.

Falei desses quatro atores, mas o melhor personagem é sem dúvida o do Ron Perlman, assassino brutamontes e ao mesmo tempo carinhoso. Se uma coisa vale a pena em Plano de Aposentadoria, é o personagem do Ron Perlman!

As cenas de ação são ok. Não tem nenhuma coreografia de luta que chama a atenção. Mas, pelo menos, mostra sangue quando precisa mostrar.

Por fim, uma coisa curiosa: os diálogos repetem insistentemente que estão procurando um HD, mas o filme só mostra um pen drive. Se a gente vê um pen drive, por que não mudaram o texto dos diálogos?

Pode divertir os menos exigentes. Mas é daquele tipo de filme que a gente esquece na semana seguinte.

American Fiction

Crítica – American Fiction

Sinopse (imdb): Um romancista que está cansado de ver o sistema lucrar com o entretenimento “negro” usa um pseudônimo para escrever um livro que o leva ao coração da hipocrisia e da loucura que ele diz desprezar.

E vamos ao décimo filme do Oscar!

Antes de tudo, preciso falar que não sei se o nome do filme aqui no Brasil vai ser “American Fiction” ou “Ficção Americana”. O imdb fala em “Ficção Americana”, mas a wikipedia não usa nenhum nome em português. E não aparece nada no calendário de lançamentos do filmeB. Na dúvida, vou chamar de “American Fiction” mesmo.

Dirigido e co-escrito por Cord Jefferson, American Fiction traz uma crítica bem pertinente para os dias de hoje. Um escritor negro quer ser apenas um escritor, não quer ser rotulado pela cor da sua pele. Ele se sente incomodado com isso, mas não consegue ir contra o mercado – seus livros mais bem elaborados não vendem bem, enquanto livros de outros autores negros que exploram os clichês e estereótipos figuram nas listas de best sellers. Revoltado com a situação, ele resolve criar um personagem e escreve um livro usando todos os clichês e estereótipos que estava criticando – e o livro é um sucesso. Agora ele precisa lidar com a sua criação e o sucesso que ela está fazendo.

O filme traz algumas sacadas geniais desse personagem que está involuntariamente preso numa espécie de cota mas não quer ser rotulado. Além disso, tem algumas piadas muito boas.

Um dos grandes trunfos de American Fiction está no seu elenco. Jeffrey Wright, o narrador do What If da Marvel, está ótimo como o escritor rabugento e mal humorado – não, não é um cara que a gente vai gostar, ele é antipático e até meio mala. Mesmo assim é um ótimo personagem. E de quebra Sterling K. Brown também está excelente e rouba todas as cenas onde aparece. Não à toa, os dois estão concorrendo ao Oscar (ator e ator coadjuvante, respectivamente). Ainda no elenco, Tracee Ellis Ross, Issa Rae, John Ortiz e Keith David.

Queria comentar duas cenas, mas vou tomar cuidado pra não entrar em spoilers. Uma é o tradicional momento onde o escritor está diante do teclado, desenvolvendo uma parte do livro. Em vez da clássica cena dele digitando, temos a visão dele, e os personagens surgem em tela, desenvolvendo os diálogos. E essa cena ainda conta com Keith David, de Eles Vivem.

A outra cena é o fim do filme, justo a conclusão. A narrativa muda um pouco o estilo apresentado ao longo do filme inteiro. Li críticas com relação a isso, mas posso dizer que curti o final “diferente”.

Uma coisa que achei curiosa, mas não me lembro de ter sido mencionada no filme. O protagonista se chama Thelonious, mas todos só o chamam de Monk. Como é que ninguém no filme citou o pianista Thelonious Monk? Acredito que parte do público não conheça o pianista…

American Fiction está concorrendo a 5 Oscars: filme, roteiro adaptado, ator, ator coadjuvante e trilha sonora.

Quem Fizer Ganha

Crítica – Quem Fizer Ganha

Sinopse (imdb): Com a chegada da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, um técnico precisa de muita dedicação, sorte e empenho de seus atletas para tentar classificar o time de futebol da Samoa Americana, considerada a pior seleção do mundo.

Quem Fizer Ganha (Next Goal Wins, no original) estava na minha lista de expectativas de 2022, por ser o novo filme do Taika Waititi. O filme teve problemas na pós produção e demorou a ser lançado, e ainda por cima foi mal lançado. Um amigo disse que é ruim. Claro que minha expectativa mudou e agora estava lá embaixo.

Mas, não é que curti? Está longe de um Jojo Rabbit (que deu o Oscar de roteiro para Waititi), mas é um filme leve e divertido sobre superação através do esporte.

Um dos problemas da produção foi o personagem Alex Magnussen, que originalmente era interpretado por Armie Hammer. Hammer se envolveu em polêmicas pesadas ligadas a abuso e até canibalismo, então a produção achou melhor trocar o ator por Will Arnett, ou seja, todas as cenas que envolvem o personagem tiveram que ser refilmadas. Não sei o quanto isso atrasou a estreia, mas acho que eles deram mole em não ter lançado perto da Copa do Mundo.

A história contada em Quem Fizer Ganha é muito boa. O time da Samoa Americana entrou na história por ter levado a maior goleada da história das eliminatórias: perdeu de 31 a zero para a Austrália em 2001. E o sonho dos caras não era ganhar um campeonato, mas simplesmente marcar um único gol. Por outro lado, o técnico Thomas Rongen também passava por problemas pessoais e profissionais, quando resolveu assumir o time samoano.

Tem mais: este time tinha uma jogadora trans, Jaiyah, que como estava no meio da transição, ainda podia jogar entre os homens (isso é explicado em um diálogo, em breve ela não poderia mais fazer parte do time). Jaiyah foi a primeira atleta trans a competir em uma eliminatória de Copa do Mundo, e hoje é embaixadora da Fifa pela igualdade.

Uma história dessas merece um filme. Agora, precisamos reconhecer que Quem Fizer Ganha é previsível e usa todos os clichês de “filmes de superação no esporte”.

Todos os filmes do Taika Waititi têm um pé forte na comédia, então claro que Quem Fizer Ganha tem várias cenas engraçadas. O contraste do treinador estrangeiro com toda a calma do povo samoano gera algumas piadas muito boas. Pena que algumas não funcionam, tipo o padre interpretado pelo próprio Taika. Ele como Korg (Thor) ou como Hitler (Jojo Rabbit) funciona melhor.

Por outro lado, Michael Fassbender mais uma vez mostra que é um dos grandes atores em atividade. O seu personagem Thomas Rongen tem camadas, é um cara rabugento e mal humorado, e que aos poucos a gente conhece melhor alguns de seus problemas. Grande ator, grande personagem.

(Para mim, o que enfraqueceu Quem Fizer Ganha não teve nada a ver com o filme. Mas, é difícil a gente não se lembrar de Ted Lasso, onde um técnico “diferente” foi contratado pra treinar um time de futebol. E se Thomas Rongen é um bom personagem, Ted Lasso é ainda melhor.)

No fim do filme, vemos cenas do time real e do treinador real. E tem uma piadinha bem boba no pós créditos.

Quem Fizer Ganha não é um grande filme, mas é um filme divertido e gostoso de acompanhar.

O Homem dos Sonhos

O Homem dos Sonhos

Sinopse (imdb): Um infeliz pai de família vê sua vida virar de cabeça para baixo quando milhões de estranhos começam a vê-lo em seus sonhos. Quando suas aparições noturnas tomam um rumo de pesadelo, ele é forçado a lidar com um novo estrelato.

Quando fiz minha lista de expectativas 2024, comi mosca em um detalhe que não costumo falhar. O Homem dos Sonhos (Dream Scenario, no original) é o novo filme do diretor e roteirista norueguês Kristoffer Borgli, o mesmo de Doente de Mim Mesma, filme que vi no Festival do Rio ano passado. Logo heu, que sempre reparo defendo que a gente deve reparar quem é o diretor do filme… Seria mais um motivo para O Homem dos Sonhos estar na lista das expectativas!

Segundo o imdb, Borgli apresentou o roteiro para Ari Aster, que dirigiria o filme com Adam Sandler no papel principal. Mas quando Doente de Mim Mesma começou a ter bons reviews, Aster e a A24 encorajaram Borgli a dirigir o próprio roteiro.

Se Doente de Mim Mesma trazia uma personagem capaz de fazer qualquer coisa para chamar a atenção, aqui o tema é parecido, mas sob outro ângulo. Paul Matthews não quer chamar a atenção, mas ele acaba chamando de qualquer maneira, e, querendo ou não, experimenta os seus “15 minutos de fama”. E depois, ainda involuntário, experimenta o “cancelamento” e passa a ser rejeitado. Mais uma vez o roteirista é diretor traz um estudo sobre comportamento social.

Mas, na minha humilde opinião, o melhor de O Homem dos Sonhos é o seu ator principal. Todo mundo conhece Nicolas Cage, todo mundo sabe de suas escolhas duvidosas na carreira, todo mundo sabe do seu over acting. E aqui ele está excelente, tanto no “mundo real”, quando dentro dos sonhos. Também no elenco, Julianne Nicholson, Michael Cera, Dylan Gelula, Dylan Baker e Tim Meadows – estão todos ok, mas ninguém se destaca.

Também preciso dizer que curti muito os momentos de sonhos – e também dos pesadelos. São momentos divertidíssimos, o filme podia ter mais cenas nos sonhos!

O Homem dos Sonhos tem claramente três momentos. Os dois primeiros são muito bons, tanto a ascensão de Paul como ícone pop involuntário, quanto o seu “cancelamento” por causa dos pesadelos. Já a conclusão da história não é tão boa, o filme meio que não sabe pra onde vai. Mas, preciso dizer que adorei a cena final, aquela que inclui o terno gigante do David Byrne.

Tiozões

Crítica – Tiozões

Sinopse (imdb): Um pai ranzinza de meia-idade e seus dois melhores amigos se sentem ultrapassados em um mundo repleto de CEOs bem mais jovens e diretoras de escola poderosas.

Vamos de comédia politicamente incorreta?

Tiozões tem uma polêmica extra filme em volta. Vou comentar isso, mas antes vamos falar do filme.

Tiozões (Old Dads, no original) foi escrito, dirigido e estrelado por Bill Burr, comediante famoso por fazer stand ups politicamente incorretos, mas que heu não conhecia ainda. Em sua estreia na direção, ele traz uma comédia que até tem suas falhas, mas que tem êxito na proposta básica de “ser uma comédia engraçada”. Porque em tempos de comédias bobas como Mafia Mamma e Meu Pai É Um Perigo, ser engraçado é um mérito!

Mas, tecnicamente falando, o filme tem suas falhas. Provavelmente Bill Burr pegou piadas de stand up e trouxe para o roteiro, mas são formatos diferentes, e existe um problema de ritmo, às vezes algumas cenas parecem deslocadas.

Os personagens são caricatos, mas acho que essa a proposta. Mesmo assim, muitas vezes ficou forçado. O personagem do Bobby Cannavale está completamente fora do tom, e a diretora da escola, Rachael Harris, parece vilã de desenho animado vagabundo dos anos 80. Acredito que a proposta deste tipo de filme não tem muito espaço para grandes atuações, mas, podia ser menos ruim.

No elenco, o trio principal é formado por Bill Burr, Bobby Cannavale e Bokeem Woodbine – só lembro de outros filmes do Bobby Cannavale, como Homem Formiga, Jolt e Blue Jasmine. Tem dois nomes “médios” em papéis secundários: C. Thomas Howell (ET, Vidas sem Rumo, A Morte Pede Carona) faz o ermitão; Bruce Dern (pai da Laura Dern, e que estava em Oito Odiados e mais dezenas de filmes desde o início dos anos 60) faz o motorista de taxi. Também no elenco, Katie Aselton, Rachael Harris, Jackie Tohn, Reign Edwards e Miles Robbins.

Sobre o humor: algumas piadas são muito boas, como uma que está até no trailer, onde um cara reclama que “dois homens brancos estão dominando a discussão”, mas quem está reclamando também é um homem branco! Ou outra piada satirizando uma mãe que não educa o seu filho da maneira correta. São várias piadas com exageros do comportamento atual de certa parte da sociedade. Ok, algumas são bobas (tipo um cara ser demitido porque canta um rap racista quando está sozinho em casa), mas outras são muito boas.

(Essa galera que foi criticada no filme aparentemente não gosta de críticas, e por isso o filme está sendo banido de certos grupos sociais, mas no estilo de “não vi e não gostei”…)

Agora vou dar a minha opinião, mesmo sabendo que talvez heu perca leitores com isso. Já comentei outras vezes, nossa sociedade tem evoluído nas últimas décadas. Ainda existe desequilíbrio, mas hoje o machismo é menor, e racismo e homofobia são crimes. Acredito em um futuro onde todos seremos iguais, todos teremos as mesmas chances e os mesmos direitos e deveres. Dito isso, acho que vivemos numa época onde os militantes são muito chatos. Alguns assuntos que deveriam ser discutidos são deixados de lado porque os militantes monopolizam o tema. Aceito pessoas que pensam diferente de mim e querem me mostrar outros ângulos de assuntos onde discordamos, mas não aceito militantes que só querem ser chatos e querem disseminar a infelicidade dentre aqueles que pensam diferente deles.

Vendo sob esse ângulo, é legal vermos uma comédia que cutuca certos assuntos “proibidos” – lembrando que a maior parte das piadas do filme satiriza os progressistas, mas também sobram piadas pros conservadores. Neste aspecto, fico feliz que Tiozões teve um grande alcance de público, e torço pra que abra espaço pra outras comédias com temas delicados. Porque pra mim, o limite do humor é ele ser engraçado. Se uma piada ofensiva for engraçada, heu apoio!

Que horas eu te pego

Crítica – Que horas eu te pego

Sinopse (imdb): Maddie, à beira da falência, é contratada por pais superprotetores para ajudar seu filho introvertido a se tornar mais confiante antes da faculdade. Ela tem apenas um verão para completar sua missão.

Escrito e dirigido pelo pouco conhecido Gene Stupnitsky, Que horas eu te pego (No Hard Feelings, no original) usa o formato de comédia romântica: um casal improvável, começa a descobrir afinidades, rola um estresse, etc. Receita de bolo. Um bom exemplo da diferença de pontos de vista do casal está na interpretação da música Maneater, do Daryl Hall & John Oats – o garoto interpreta a música como se fosse um monstro que sai à noite para comer pessoas.

(Aliás, a versão piano e voz de Maneater ficou muito boa!)

Que horas eu te pego também tem uma pegada forte de comédias dos anos 90 / 2000 ligadas a temática sexual, tipo American Pie ou Um Show de Vizinha. Mas, na minha humilde opinião, as melhores piadas são as que focam na diferença de idade e de visões do mundo. (conflito de gerações)

Ainda sobre essa pegada de anos 90 / 2000, o filme apresenta uma falha sobre os dias de hoje, porque o garoto ia procurar informações na Internet sobre ela. Se em uma cena todos estão super conectados, no resto do filme até parece que não existem redes sociais.

Que horas eu te pego segue de clichê em clichê, uma piada boa aqui, uma piada sem graça acolá. O melhor são os dois principais. Jennifer Lawrence está ótima, e o garoto Andrew Barth Feldman é um achado. A química entre os dois é muito boa, as interações entre eles são o melhor do filme.

Sobre a polêmica da cena de nudez, preciso dizer que é uma cena corajosa. Jennifer Lawrence ganhou o Oscar de melhor atriz em 2013 por O Lado Bom da Vida e foi indicada outras três vezes, por Inverno da Alma (2011), Trapaça (2014) e Joy (2016). Em 2015 e 16 ela era a atriz mais bem paga do mundo, com um papel importante na franquia X-Men e o papel principal da franquia Jogos Vorazes. Ela tem star power suficiente pra se recusar a fazer uma cena dessas. Mas, se a gente parar pra pensar, não é uma cena gratuita. Ela tirou a roupa pra seduzir o garoto, e foi recuperar as roupas que foram roubadas, existe um motivo pra personagem estar nua. Enfim, a cena ficou engraçada. Jennifer Lawrence nua sim, mas num contexto bem longe de sexual.

No elenco, o filme é dos dois principais. Mas preciso citar o pai de menino, interpretado por Matthew Broderick. Heu não reconheci o eterno Ferris Bueller!

Mesmo previsível, Que horas eu te pego funciona dentro da proposta. Pode divertir quem entrar na onda.

Barbie

Crítica – Barbie

Sinopse (imdb): Viver na Terra da Barbie é ser um ser perfeito em um lugar perfeito. A menos que você tenha uma crise existencial completa. Ou que você seja um Ken.

Finalmente estreia esta semana o aguardado Barbie! Será que é bom?

Dirigido por Greta Gerwig e escrito por Gerwig e Noah Baumbach, Barbie começa muito bem, usando ironia pra criticar vários clichês ligados à boneca Barbie. Algumas piadas arrancaram gargalhadas na sala de cinema. E todos os cenários e props são sensacionais, parece realmente que estamos vendo acessórios da boneca em tamanho real.

Mas, pena que nem tudo funciona. Todo o plot dos executivos liderados pelo Will Ferrell é péssimo. E aquela correria no cenário das baias é vergonha alheia nível Trapalhões. Outra coisa ruim foi o momento reflexivo depois que a história já estava encerrada, foi um grande anti clímax.

Posso soltar uma polêmica? Ken é irrelevante, ele só “existe” se a Barbie der atenção a ele. Mas, em determinado momento do filme, Ken descobre que pode ter uma personalidade própria. E acaba que ele cria um problema no mundo da Barbie, que acaba virando um “mundo do Ken”. O filme poderia ter aproveitado esse gancho pra promover a igualdade, corrigir onde o Ken estava errado e colocar ambos personagens como protagonistas desse mundo, mas escorrega e volta ao status inicial, jogando Ken novamente para a irrelevância. Ou seja, oportunidade jogada fora.

Mas, fazendo o “advogado do diabo”, a gente tem que lembrar que é um filme da Barbie. E, dentro do universo da Barbie, sim, o Ken e irrelevante. Ken é um acessório, ele não existe sem a Barbie; já a Barbie pode existir sem o Ken. então, pensando sob este ângulo, sim, o Ken pode continuar irrelevante.

O elenco está ótimo. Margot Robbie é excelente para o papel, e o Ryan Gosling consegue estar ainda melhor – tem um momento musical onde ele canta e dança que é sensacional. Kate McKinnon tem um papel curioso, a “Barbie esquisita”, aquela boneca velha que era rabiscada e tinha o cabelo estragado; e Michael Cera está engraçado no ponto exato. E quem for às sessões dubladas vai perder a narração da Helen Mirren. Ainda no elenco, Simu Liu, John Cena, Dua Lipa, Ariana Greenblatt, America Ferrera, Emma Mackey, Kingsley Ben-Adir e Rhea Perlman.

Enfim, Barbie deve agradar ao público alvo. Fui com minha filha, que está com 22 anos e brincou de Barbie quando criança, ela adorou…

Meu Pai é um Perigo

Crítica – Meu Pai É Um Perigo

Sinopse (imdb): Quando Sebastian diz a Salvo, seu pai, imigrante italiano da velha guarda, que vai pedir sua namorada americana em casamento, Salvo insiste em passar o fim de semana com seus pais elegantes.

Quando vou ao cinema, sempre vejo cartazes pra ver o que vem por aí. Lembro quando vi o cartaz deste Meu Pai É Um Perigo, e me pareceu um filme muito bobo. Mas um amigo disse, “Ah, é o Robert De Niro, sempre vale a pena”. Então fui ver o filme.

Mas, heu tinha razão. É um filme muito bobo.

Depois da sessão descobri que Sebastian Maniscalco é um comediante famoso, inclusive a página deste filme no imdb o cita como “o melhor comediante na América” (seriously?). Essa deve ser uma história baseada em algo do passado dele, tanto que o personagem tem o mesmo nome do ator. Mas preciso dizer que o estilo do comediante não é pra mim.

Meu Pai É Um Perigo (About My Father, no original) conta uma história que já vimos dezenas de vezes: um casal que pretende casar vai passar um fim de semana com os pais de ambos os lados, e rolam vários tipos de desentendimentos. Inclusive o próprio De Niro já fez um filme parecido, Entrando Numa Fria.

Aí o leitor do heuvi vai dizer “mas, ora, Helvecio, você falou bem outro dia do filme Casamento em Família, que tem exatamente a mesma premissa!”. Sim, mas o melhor daquele filme não era a história clichê, e sim o fantástico elenco de veteranos (Diane Keaton, Susan Sarandon, Richard Gere e William H. Macy). Os quatro na tela valiam o ingresso!

E aqui vou deixar a triste constatação de que Robert De Niro ficou devendo. Olha, sou fã do cara, se heu for fazer uma lista de 100 melhores filmes da minha vida, ele estará em vários, tipo Era uma Vez na América, Coração Satânico, Os Intocáveis, Jackie Brown, Brazil o Filme Mas, de um tempo pra cá, ele virou uma caricatura de si mesmo. E pior do que ver Robert De Niro fazendo uma caricatura de si mesmo é vê-lo servindo de escada para um comediante ruim. Triste fim de carreira pra um grande ator com dois Oscar no currículo (O Poderoso Chefão 2 e Touro Indomável). No resto do elenco, dois nomes conhecidos, Leslie Bibb e Kim Cattrall. Não atrapalham, mas tampouco ajudam.

Sobre o humor do filme: deve ser engraçado para alguns. Algumas fileiras atrás de mim, algumas pessoas davam gargalhada altas. Quase fui sentar lá com eles, pra tentar ver se eles estavam vendo outro filme. Porque o filme que passou onde heu estava é muito fraco.

Mafia Mamma: De Repente Criminosa

Crítica – Mafia Mamma: De Repente Criminosa

Sinopse (imdb): Uma mãe americana herda o império da máfia de seu avô na Itália. Guiada pelo braço direito do chefe da organização, ela desafia hilariamente as expectativas de todos como a nova líder dos negócios familiares.

Às vezes dá vontade de não fazer um post comentando o filme que acabei de ver. Porque filmes como Mafia Mamma: De Repente Criminosa são tão bobos que bate uma preguiça…

Mas, preciso ser coerente comigo mesmo. Sempre defendo que a gente precisa pensar no objetivo do filme. Mafia Mamma: De Repente Criminosa não queria ser um grande filme, com roteiro de explodir cabeças e várias inovações visuais. Não, a proposta aqui é uma diversão ligeira, daquelas que a gente dá uns risinhos aqui e ali e depois esquece do filme. É, pensando por aí, Mafia Mamma: De Repente Criminosa pode funcionar.

Kristin é uma mulher de quarenta e muitos anos, triste porque seu filho está indo pra faculdade, com problemas no casamento e no trabalho. E se repente ela descobre que precisa ir pra Itália pra receber a herança do avô que ela nem lembrava que existia. O título do filme já é um spoiler sobre o que vai acontecer então: o avô era mafioso, e o filme vira uma paródia de filmes de máfia – inclusive, O Poderoso Chefão é citado algumas vezes.

A ideia de colocar uma dona de casa com crises de meia idade como líder de uma família mafiosa até podia ter funcionado. Mas, preciso falar que o humor usado me atrapalhou. Algumas cenas são bobas demais. Um exemplo: quando o avô gravou a vídeo explicando para Kristin que ela era herdeira, tem uns caras fazendo trapalhadas na lareira ao fundo. Ou, numa cena onde ela vai jantar com o Lorenzo e a mãe dele fica servindo mais comida para os seguranças. Entendo que alguém possa achar isso engraçado. Mas, pra mim, é um balde de água fria.

Junte a isso situações clichê e personagens clichê. Não sei qual é o pior personagem, se é o marido caricato ou a amiga advogada também caricata. E, pra piorar, além dos clichês, tem algumas cenas completamente fora da realidade, como uma cena onde Kristin enfrenta aquele que era pra ser o melhor assassino profissional da família rival. Precisa de muita suspensão de descrença.

(Esta cena em particular traz um gore que me pareceu deslocado do resto do filme. Nada muito gráfico pra quem está acostumado com filmes de terror violentos, mas bastante forte para uma comédia bobinha.)

A direção é de Catherine Hardwicke, famosa por ter feito Crepúsculo. Ok, isso já era um sinal de que heu não deveria esperar nada. E no elenco, só duas atrizes conhecidas, Toni Collette e Monica Bellucci, que estão ok para o que o filme pede, o que é quase nada.

Enfim, Mafia Mamma: De Repente Criminosa não é um filme exatamente ruim, como O Chamado 4. Mas achei bem bobo. Não recomendo.

O Urso do Pó Branco

Crítica – O Urso do Pó Branco

Sinopse (Filme B): A história real sobre a queda do avião de um traficante de drogas, que estava carregado com um lote de cocaína que acabou sendo consumido por um urso de mais de 220kg. Após consumir a droga, o animal parte para a violência, com uma fúria movida a coca, em busca por novas presas e sede de sangue. Em paralelo, um grupo excêntrico de policiais, criminosos, turistas e adolescentes, estão a caminho ou já no território de uma floresta da Georgia.

Antes de tudo, um breve esclarecimento. O filme se diz “inspirado numa história real”, mas a história real é bem diferente. Em 1985, um traficante jogou vários pacotes de cocaína de um avião e depois pulou de paraquedas com 36 kg presos no seu corpo. O paraquedas não funcionou direito, provavelmente por causa do peso extra, e o traficante morreu. 40 kg da droga caíram numa floresta, e um urso comeu, e morreu logo depois de overdose. Ou seja, a história do urso com cocaína é até real, mas ele não matou ninguém! Fora o traficante e o urso, não houve nenhuma outra casualidade neste evento. Mesmo assim, a história correu o mundo e virou uma lenda urbana. Um shopping center em Kentucky fez uma estátua do “Pablo Escobear”!

Dito isso, vamos ao filme?

Heu queria gostar de O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear, no original). Na sexta 14 de abril vamos fazer uma sessão exclusiva dos Podcrastinadores e amigos, será uma grande festa. Pena que o filme é fraco.

Dirigido pela atriz Elisabeth Banks, O Urso do Pó Branco tem pelo menos dois grandes problemas. Um deles é que temos um grande elenco, com vários núcleos de personagens, cada um com seu drama, e sobra pouco tempo para o urso do título. Um filme de uma hora e trinta e cinco minutos precisava de menos gente pra ter mais do urso, que virou coadjuvante no próprio filme.

O outro problema é que o filme não se decide sobre o que quer ser. Às vezes parece ser uma comédia de humor negro; às vezes parece ser um filme de terror de monstro. Às vezes parece até ser um drama! Não tenho nada contra misturar estilos, mas tem que saber fazer, aqui ficou estranho.

Mas, mesmo com esses problemas, O Urso do Pó Branco não é de todo ruim. O gore é bem feito, são algumas cenas com partes de corpos voando pela tela. E tem uma cena de morte com tiro na cabeça que ri alto. E ainda tem a famosa cena da ambulância.

(Tem uma cena corajosa, envolvendo crianças e consumo de cocaína. Sei lá, achei que essa cena cruzou a linha. Mas reconheço a coragem).

Os efeitos especiais são ok. Em algumas poucas cenas o cgi não está muito bom, mas no geral, funciona.

O Urso do Pó Branco é um tipo de filme que não abre espaço pra grandes atuações. Keri Russell e Alden Ehrenreich fazem o feijão com arroz. Já Ray Liotta está mal, caricato demais. Pena, é um de seus últimos papéis. Também no elenco, O’Shea Jackson Jr., Isiah Whitlock Jr., Brooklynn Prince, Christian Convery, Margo Martindale e Jesse Tyler Ferguson.

Mesmo com o resultado final fraco, ainda acredito que a sessão dia 14/04 será divertida. Se você for do Rio, apareça!