Operação Vingança

Crítica – Operação Vingança

Sinopse (imdb): Quando seus supervisores na CIA se recusam a tomar providências depois que sua esposa é assassinada em um ataque terrorista em Londres, um decodificador decide resolver o problema com as próprias mãos.

Alguns filmes são bons e disputam espaço em listas de melhores do ano, como o recente Pecadores. Outros são ruins e disputam espaço em listas de piores, como o igualmente recente Nas Terras Perdidas. Já outros estão aí só pra “cumprir tabela”. Operação Vingança é um desses. Um filme ok, mas esquecível.

Dirigido pelo pouco conhecido James Hawes, que tem um currículo razoável na TV mas pouca coisa para cinema, Operação Vingança (The Amateur, no original) é baseado no livro “The Amateur”, de Robert Littell, que já tinha virado filme em 1981, estrelado por John Savage e Christopher Plummer. Ou seja, o péssimo nome “Operação Vingança” não é novidade.

Conhecemos Charles Heller, que trabalha nos computadores da CIA. Perfil de nerd que sofre bullying no formato de trabalhar de graça pros colegas. Quando sua esposa morre, vítima de um ataque terrorista, ele chantageia seus chefes para ganhar treinamento para fazer vingança com as próprias mãos.

O melhor de Operação Vingança é que o protagonista Charles Heller não tem o perfil de agente de campo, e não consegue aprender isso no seu rápido treinamento. Ele vai atrás dos vilões, mas continua sendo um “nerd de computador”. E pra piorar, a CIA começa a persegui-lo. Ou seja, ele está atrás de perigosos terroristas enquanto precisa fugir da CIA.

Claro que precisamos de muita suspensão de descrença, porque algumas coisas feitas por Heller são bem difíceis de se aceitar. Mas, faz parte do pacote “filme de espionagem”.

O problema é que Operação Vingança é “correto”, mas em nenhum momento chega a empolgar. Na verdade, parece um produto de streaming, aquele tipo de filme que serve pra entreter por duas horas, e que na semana seguinte você nem se lembra mais.

No elenco, ouvi críticas à atuação de Rami Malek, mas confesso que achei ele bom pro papel (sei que ele fez Mr Robot, mas nunca vi). Rachel Brosnahan, a nova Lois Lane, morre logo no início do filme, mas continua aparecendo por causa de uma boa sacada de roteiro. Também no elenco, Laurence Fishburne, Jon Bernthal, Holt McCallany, Julianne Nicholson e Caitríona Balfe.

Operação Vingança não vai mudar a vida de ninguém, mas pelo menos não vai deixar nenhum espectador com raiva de ter perdido tempo.

Pecadores

Crítica – Pecadores

Sinopse (imdb): Dispostos a deixar suas vidas conturbadas para trás, irmãos gêmeos retornam à cidade natal para recomeçar suas vidas do zero, quando descobrem que um mal ainda maior está à espera deles para recebê-los de volta.

Heu ia falar sobre Pecadores antes de Nas Terras Perdidas. Mas tenho tanta coisa pra falar de Pecadores que preferi atrasar o texto pra poder falar com mais calma.

Vi Pecadores ao lado do meu amigo André Gordirro. Ao fim da sessão, ele fez um comentário que faço questão de repetir aqui: “a gente, como crítico de cinema, vê tanta porcaria, é muito bom quando finalmente vemos um filmão como este”.

Pecadores é um filmão. Daqueles que dá vontade de rever assim que acaba a sessão.

Escrito e dirigido por Ryan Coogler (Pantera Negra, Creed), Pecadores (Sinners, no original) estava na minha lista de expectativas para 2025. Mas posso tranquilamente dizer que superou as expectativas. É daquele tipo de filme onde tudo está no lugar. A história é boa, o elenco está ótimo, a ambientação de época é perfeita, os efeitos especiais são excelentes, e a trilha sonora… A trilha sonora me pegou como há muito tempo uma trilha não me pegava.

Mas, antes de entrar no filme, preciso falar sobre spoilers. Tem uma coisa que acontece bem no meio do filme que muda completamente o rumo da narrativa. E tem muita gente comentando o que acontece, afinal isso aparece no segundo trailer (não aparece no primeiro). Mas… Acredito que o melhor seja ver o filme sem saber, então não vou comentar aqui! Este é um texto spoiler free!

Vamulá. Pecadores começa com um rápido prólogo, e a história volta para o dia anterior. Anos 30, conhecemos os gêmeos Fumaça e Fuligem, que trabalharam em Chicago com Al Capone e agora querem abrir um clube de blues só para negros. Esta primeira metade do filme é mais lenta, pra conhecermos os vários personagens e a relação entre eles, e o roteiro de Coogler é muito bem estruturado neste aspecto. Quando o filme muda de rumo na segunda metade, sabemos quem são aquelas pessoas, temos motivo para nos importarmos por elas!

Preciso falar da trilha sonora. Há muito tempo uma trilha de um filme “não musical” não me impactava assim. Adorei a trilha composta por Ludwig Göransson – se fosse anos atrás, ia correr atrás do disco pra minha coleção. Göransson consegue cria um clima perfeito de tensão usando o violão do blues. Göransson já tem dois Oscars (Pantera Negra e Oppenheimer), não será surpresa se for indicado de novo.

Heu diria que a trilha sonora aqui é tão importante quanto em um filme musical. A última vez que vi algo parecido foi em Baby Driver, que tinha cenas editadas coreografando com a música da trilha, como o tiroteio no ritmo de Hocus Pocus do Focus, ou o sensacional plano sequência inicial ao som de Harlem Shuffle. A diferença é que em Baby Driver eram músicas pop, e aqui Pecadores é uma trilha original (pelo menos heu não conhecia nenhuma das músicas). Mas a trilha é quase um “personagem” do filme. Quase tudo é blues, mas abre um pequeno espaço pra outros estilos, como uma boa cena usando música irlandesa.

Ainda nesse tema, tem uma cena sensacional no meio do filme, uma cena que vai dividir opiniões porque é bem fora da caixinha, mas que se você entrar na onda, vai curtir. Tem uma frase no filme que fala que a música pode invocar espíritos do passado e do futuro, e que pode romper o limite entre a vida e a morte. Então vemos um plano sequência que começa com o personagem Sammie cantando e tocando violão, e a música cresce e toma rumos inesperados, e a câmera começa a passear por caminhos igualmente inesperados. É daquelas sequências pra aplaudir de pé!

E, já que falei do som, tem alguns detalhes geniais que merecem uma ida ao cinema. Vou citar dois exemplos. Um acontece quando uma personagem está mexendo com feitiços e sua voz aparece mais encorpada. É só ela falando, mas a gente sente que ela não está sozinha. Outra é quando ouvimos um personagem contando uma história, e que numa narrativa convencional, a gente veria um flashback. Só que aqui a gente não vê nada – mas ouve tudo!

Os efeitos especiais são muito bons. Já é o quarto filme que vi em poucas semanas onde um ator interpreta dois papéis (os outros são Mickey 17, O Macaco e Alto Knights). Pecadores não tem muitas cenas com os dois personagens interagindo (neste aspecto, Mickey 17 é mais impressionante), mas todas as cenas onde vemos Fumaça e Fuligem juntos são perfeitas. E, quando o filme se assume terror, temos bons efeitos de maquiagem. Não sei o que é efeito prático e o que é digital, mas acho que isso pode ser positivo…

Até agora só falei da parte técnica. Mas Pecadores também tem seu lado político. O diretor sabe abordar o tema do racismo de maneira que fica natural e não panfletária. O modo como ele apresenta as questões raciais não tem nada da lacração que vemos de vez em quando por aí.

No elenco, Michael B Jordan (protagonista de todos os filmes do diretor) está ótimo. Os dois irmãos são muito parecidos fisicamente (em O Macaco os irmãos usam cortes de cabelo diferentes), mas têm personalidades bem distintas. E gostei muito do estreante Miles Caton. Segundo os créditos, ele realmente toca e canta. Também no elenco, Hailee Steinfeld, Delroy Lindo e Jack O’Connell, e uma ponta do músico veterano do blues Buddy Guy.

Pecadores tem cenas pós créditos. Mas não é o mesmo padrão de sempre. Logo no início dos créditos, volta o filme para uma sequência enooorme – heu diria que nunca vi uma cena pós créditos tão longa! É um epílogo, podia facilmente fazer parte do filme. E, lá no finzinho de tudo, aí sim, uma cena pós créditos com cara de pós créditos.

Por fim, uma coisa que heu não entendi o motivo. Parte de Pecadores foi filmado em Imax, então algumas cenas têm o formato de tela diferente, e o filme fica mudando entre os dois formatos. Deve ter algum motivo pra essas mudanças, mas não sei qual foi.

Nas Terras Perdidas

Crítica – Nas Terras Perdidas

Sinopse (imdb): Uma feiticeira viaja para as Terras Perdidas em busca de um poder mágico que permite que uma pessoa se transforme em um lobisomem.

Algumas pessoas encontram um nicho e seguem nessa zona de conforto. Sempre lembro do Adam Sandler, que junta uns amigos, viaja, se diverte, filma um fiapo de história, e vende isso como o seu novo filme. São filmes bem ruins, mas, ora, se tem gente comprando, ele está certo de continuar fazendo.

Paul W.S. Anderson também encontrou um nicho: filmes fantásticos com roteiro fraco e cara de videogame, sempre estrelados por sua esposa Milla Jovovich. Foi assim com Resident Evil, foi assim com Monster Hunter. Por que Nas Terras Perdidas ia ser diferente?

Nas Terras Perdidas (In The Lost Lands, no original), tem uma diferença, que poderia ser algo relevante: é adaptação de um conto de George R R Martin. Não li o conto, mas, pelo roteiro, realmente parece videogame.

Num mundo pós apocalíptico, conhecemos uma bruxa que contrata um mercenário pra encontrar o covil de um lobisomem, para atender os desejos de uma rainha. E o filme segue essa jornada, em etapas que parecem justamente fases de um jogo.

(Aliás, algumas das fases não fazem muito sentido, tipo aquela onde ela encontra seres que parecem uma versão zumbi do Groot.)

Nas Terras Perdidas não chega a ser exatamente ruim. Na verdade, encontrei exatamente o que estava esperando: uma trama rasa em um ambiente fantástico, com efeitos especiais de segunda linha, e um roteiro bem fraco.

Assim como em Monster Hunter, o roteiro é o pior do filme. Parece que ninguém releu e revisou, algumas soluções são bem toscas. Heu poderia listar várias inconsistências, mas ia ser um texto meio chato. Mas só vou dizer uma coisa que chegou a me incomodar. Eles demoram alguns dias para chegarem no destino, e isso porque cortam caminho. Aí depois ela consegue voltar no mesmo dia. Ué, são caminhos diferentes?

(Depois da sessão, comentei isso com um amigo, que fez a piada “é que na ida eles foram tirando fotos e postando no Instagram, não fizeram isso na volta”.)

O visual lembra Mad Max, mas cheio de câmera lenta e imagens estilosas – parecia que Paul W.S. Anderson queria emular o estilo do Zack Snyder. Não vou reclamar dos efeitos especiais. Não são muito bons, mas servem pro estilo proposto pelo diretor. Falo o mesmo sobre as atuações de Milla Jovovich e Dave Bautista. O problema aqui é roteiro!

Agora é aguardar a bilheteria, pra saber se o casal Anderson & Jovovich vai fazer uma continuação, ou se vão adaptar outro videogame. Ainda não sabemos. Só sabemos como o resultado vai ficar.

p.s.: A personagem da Milla Jovovich em Resident Evil é Alice. Aqui é Gray Alys. Ninguém reparou que soa igual?

9 Coisas que Não Fazem Sentido em Código Alarum

9 Coisas que Não Fazem Sentido em Código Alarum

Sinopse (imbd): Dois espiões desonestos saem da rede, casam-se e são atacados em sua cabana remota por várias agências de inteligência que buscam um disco rígido roubado.

A expectativa era a pior possível. Dois meses atrás, vi Blindado, com Sylvester Stallone, produção picareta de um cara picareta chamado Randall Emmett, que usa a seguinte fórmula: oferece um bom cachê pra um nome grande de Hollywood, que vai até o set e trabalha por poucos dias, apenas em algumas cenas, e o filme é lançado com o nome da estrela no cartaz. Um filme vagabundo, aparentemente todo o orçamento é pra bancar esse cachê caro.

Código Alarum (Alarum, no original) é com Sylvester Stallone e produção de Randall Emmett. Dá pra confiar?

Fui na curiosidade de ver a estreia hollywoodiana da Isis Valverde. Segundo o imdb, ela esteve perto de estrelar The Flash em 2023 – ela e Bruna Marquezine eram as principais escolhas para o papel da Supergirl, mas não puderam viajar para Londres para os testes presenciais por causa da pandemia da Covid. Bruna conseguiu um papel importante em outro filme da DC, o Besouro Azul. E Isis, bem Isis deu azar. Já comento sobre isso.

Não diria que Código Alarum é tão ruim quanto Blindado, porque, pra mim, Blindado nem chega a ser um filme de verdade, parece um curta amador esticado. Código Alarum também parece amador, mas pelo menos tem cara de longa metragem, tem mais personagens, mais locações. E tenho um elogio para fazer. Só um, mas pelo menos encontrei algo positivo.

Código Alarum é todo errado. O roteiro é um lixo, a história é confusa e mal amarrada, as atuações são péssimas, os efeitos especiais são sofríveis, tudo é ruim. Vou fazer alguns comentários e depois uma lista de coisas que não funcionaram.

O roteiro é péssimo! Fala de uma agência misteriosa, tem personagens que mudam de lado sem justificativa, tem gente que só fica no escritório falando ao telefone, todos os diálogos são ruins… Olhando de longe, parece que a trama é complexa, mas, de perto, acho que foi apenas mal escrita. E normalmente não reclamo de efeitos especiais, mas os tiros de metralhadora em cgi parecem efeito de celular. E celular velho.

Vou falar spoilers. Acho que pra um filme desses, dizer um spoiler é até algo positivo, porque minha recomendação é “NÃO VEJA!”. Mas, vamulá, spoilers liberados. Todos os brasileiros querem ver a Isis Valverde, afinal, alguns atores daqui começam a despontar em Hollywood. Bruna Marquezine teve um papel quase principal em Besouro Azul; Wagner Moura está muito bem como um dos protagonistas de Guerra Civil; Fernanda Torres foi indicada ao Oscar; Selton Mello está escalado para trabalhar com Jack Black e Paul Rudd. Já Isis Valverde, pena. Ela aparece em duas cenas, depois leva um tiro e acabou o filme pra ela. Sério, o papel dela é tão secundário que ela morre antes mesmo do Stallone aparecer em tela.

Sobre o elenco: Scott Eastwood é o protagonista, e é tão expressivo quanto o cenário onde ele atua. Ele tem moral porque é filho do Clint Eastwood, mas precisa melhorar seus filmes pra começar a ser lembrado por ele mesmo e não por ser um “nepo baby” (falei aqui outro dia do Jack Quaid, que aos poucos constrói um currículo maior do que “ser filho do Dennis Quaid e da Meg Ryan). Stallone nunca foi um grande ator, mas tem carisma pra segurar um papel – quando quer. Aqui acho que ele não queria. Inclusive o papel dele é muito mal escrito. Mike Colter, o Luke Cage da Marvel, está caricato. Mas, tenho um elogio no elenco: Willa Fitzgerald, de Reacher e Strange Darling, está bem. Ela convence nas cenas de luta e é de longe a melhor coisa de Código Alarum. Salva o filme? Claro que não. Mas se todos estivessem no nível dela, seria um filme bem menos ruim.

Já que abri os spoilers, vamos à lista de coisas que não fazem sentido?

1- O casal é um dos mais improváveis da história do cinema. O cara está sendo atacado, leva um tiro, mata o oponente. Aí outra pessoa o ataca, eles lutam por alguns segundos – um chute e dois socos no total – e caem pela janela. Aí ele “veste o Joey Tribianni” e manda uma cantada pra ela. “How you doing?” Caraca, eles se apaixonam depois de trocarem golpes por 30 segundos??? Até acredito que inimigos possam se apaixonar, mas precisa ter toda uma construção anterior, outros confrontos, etc.

2- O Mike Colter estava num avião, matou os dois pilotos e pulou de para quedas, pra depois ir no avião caído e procurar um pendrive. Como é que ele sabia que o avião não ia explodir, colocando fogo no pendrive? Não seria melhor roubar o pendrive antes de matar os pilotos e derrubar o avião?

3- Entendo que em filme de ação o mocinho tem uma mira excepcional e todos os seus adversários tenham “mira de stormtrooper”. Mas aqui isso está exagerado. Tem uma cena onde o mocinho está sozinho numa casa, abrem um grande buraco na parede, e vários oponentes estão com metralhadoras atirando nele. E ele simplesmente aparece no meio do buraco da parede, à vista de qualquer um, atira de volta, e mata todos. Sem levar nenhum tiro!

4- Ainda nesse item, a mocinha mata quatro adversários com tiros. Aparecem outros oponentes, e atacam ela – sem armas de fogo! Por que??? Até aceito não terem matado ela na cena seguinte, o cara queria torturá-la. Mas, naquele momento, no meio do tiroteio, os inimigos não iam abrir mão dos revolveres e metralhadoras.

5- O Stallone é contratado pra duas tarefas: recuperar um pendrive e matar o Scott Eastwood. Aí ele envenena o Scott (na verdade não era veneno, mas ele não sabia disso, pra ele, ele realmente tinha envenenado). Logo depois consegue o pendrive. Por que não matou logo? Dava um tiro, pegava o pendrive e acabou a missão, pode voltar pra casa.

6- A aliança entre o Scott Eastwood e o Mike Colter não faz o menor sentido. O Scott mata TODOS os soldados do Mike, e depois ele diz “ok, não vou te matar agora, vamos virar parceiros”. Oi???

7- Os drones usados pra atacar os mocinhos são os piores drones da história. Mesmo com o “target locked”, conseguem errar todos os tiros!

8- No fim a gente descobre que o Scott Eastwood trocou o veneno, e quem está envenenado é o Stallone. Mas, o filme diz que o veneno mata em uma hora. Era de noite, e já está de dia! Calma que fica pior: eles se encontram, e o Stallone fala que “ainda tem alguns minutos”. Ou seja, a parada é realmente cronometrada! E só depois disso que o Stallone começa a passar mal com o veneno – sendo que ele tomou antes do Scott.

9- Por fim, uma coisa besta, mas que também não faz sentido. O cara da agência (sei lá qual agência) com quem eles conversam ao telefone tem um escritório numa sala enorme. E a mesa dele está bem no meio da sala. Se ele tem vários inimigos, qual é o sentido de ter uma mesa bem no meio da sala, onde qualquer um pode se aproximar pelas costas dele?

Novocaine – À Prova de Dor

Crítica – Novocaine – À Prova de Dor

Sinopse (imdb): Quando a garota dos seus sonhos é sequestrada, um homem incapaz de sentir dor física transforma sua condição rara em uma vantagem inesperada na luta para resgatá-la.

Já falei aqui mais de uma vez: gosto muito do lema da rede Luiz Severiano Ribeiro, “Cinema é a maior diversão”. Se entro na sala de cinema e me divirto, o filme ganha pontos pra mim. E isso aconteceu com este Novocaine – À Prova de Dor (Novocaine, no original).

Em Novocaine, a gente conhece Nate, que tem uma doença rara, e por causa disso não sente dor, nem calor, nem frio. Por causa de sua doença, ele é extremamente cuidadoso em tudo, porque, se ele se acidentar, não vai nem sentir. Aí quando sequestram sua colega de trabalho por quem ele se sente atraído, ele resolve, pela primeira vez na vida, usar seus “super poderes” e vai atrás dela.

Dirigido pela dupla Dan Berk e Robert Olsen, Novocaine tem duas coisas que, pelo menos pra mim, foram essenciais pra trazer alguma veracidade à trama. A primeira é que, diferente de um filme como Anônimo, onde o protagonista tinha um passado ligado a lutas, Nate nunca brigou. Ou seja, claro que ele vai apanhar quando enfrentar os vilões. E a outra coisa é que ele não sente dor, mas os machucados são reais, e trazem consequências ao personagem, consequências que vão escalando ao longo do filme. Uma das coisas que o time de dublês se preocupou era de dar poucos golpes no rosto, sempre que possível o golpe era transferido para o corpo – porque o rosto ia ficar inchado! Seria bem ruim se, do nada, ele virasse um grande lutador e nunca se machucasse. Ia virar um filme tosco de super herói.

Lendo isso, parece que é um filme sério e super violento, né? Bem, é um filme super violento, mas não é exatamente sério. Novocaine tem sequências muito engraçadas. Em várias cenas o filme apresentava situações inusitadas e exageradas que faziam o cinema inteiro dar gargalhadas. Não diria que é um filme de comédia, mas você certamente vai rir!

O protagonista é Jack Quaid, filho do Dennis Quaid e da Meg Ryan (falei dele há pouco em Acompanhante Perfeita) mas que é mais conhecido pelo papel de Hughie na série The Boys. Ele está muito bem aqui, mas preciso reconhecer que o elogio é mais pelo carisma do ator do que pela atuação, porque se a gente parar pra analisar, o Nate é muito parecido com o Hughie. O principal papel feminino é de Amber Midthunder, de O Predador – A Caçada, enquanto o vilão é outro “nepobaby”, Ray Nicholson (Sorria 2), filho do Jack Nicholson. Jacob Batalon, dos filmes recentes do Homem Aranha, faz um papel menor mas bem divertido.

Novocaine – À Prova de Dor estreia nos cinemas quinta da semana que vem!

Branca de Neve

Crítica – Branca de Neve

Sinopse (imdb): Adaptação em live-action do filme de animação da Disney de 1937 “Branca de Neve e os Sete Anões”.

Estreou o filme mais polêmico de todos os tempos da última semana!

Não tem como não falar desta nova versão de Branca de Neve (Snow White, no original) sem lembrar das diversas polêmicas. Teve a escalação de uma atriz latina para um papel que deveria ser “branca como a neve”; teve esta mesma protagonista dando entrevistas falando mal da história original; teve a polêmica entre as duas atrizes principais, uma apoiando Israel e outra apoiando a Palestina; teve o Peter Dinklage reclamando da história desvalorizar os anões, e por isso supostamente os atores foram trocados por cgi… Muitas polêmicas, mas hoje vou falar do filme. (Sobre as polêmicas, procurem outros sites.)

Dirigido por Marc Webb (que fez os filmes do Homem Aranha com o Andrew Garfield), Branca de Neve se propõe a atualizar a história contada no desenho lançado em 1937. Algumas alterações até funcionaram, mas outras não. Mas, no fim, nem é um filme tão ruim. É apenas mais um live action desnecessário – como aliás, quase todos os live actions da Disney (na minha humilde opinião, o único live action bom é Cruella, que não é uma adaptação, é um spin off com uma história independente do desenho original). Ou seja, a gente esperava um grande lixo, mas é apenas mais um filme esquecível. E, claro, inferior à obra original.

Rachel Zegler foi uma escolha errada, porque na história original, a rainha fala “Como eu queria ter uma filha com a pele branca como a neve, lábios vermelhos como sangue e cabelos negros como ébano.” Tiveram que alterar a origem dela, no filme ela se chama Branca de Neve porque nasceu num dia que estava nevando – uma grande forçação de barra. Além disso, ela deu a entender através de entrevistas que não gosta do desenho. Pra que escalar uma atriz assim? Mas, pelo menos ela canta bem. Pena que Branca de Neve não tem nenhuma música empolgante – a única música que fica na cabeça quando acaba o filme é a dos anões, que todo mundo já conhece há décadas: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”

Escalar Rachel Zegler e Gal Gadot trazia outro problema, semelhante ao filme de 2012, Branca de Neve e o Caçador, quando Kristen Stewart era a Branca de Neve e Charlize Theron era a Rainha Má. Uma das falas mais famosas da história original é “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” – e, assim como Kristen Stewart nunca vai ser mais bela que Charlize Theron, Rachel Zegler nunca vai ser mais bela que Gal Gadot. Mas, reclamei disso em 2012, não sei se vale reclamar igual agora, treze anos depois. O que posso dizer sobre a Gal Gadot: ela está caricata, talvez um pouco acima do que deveria estar, mas não chega a atrapalhar. E ela canta, até canta bem, mas, nos dias de hoje, não sei se é a voz dela ou não.

Sobre os anões: eles viraram criaturas mágicas que vivem na floresta há centenas de anos, e todos são em cgi. Achei que ficou bom. O cgi dos anões é muito bem feito – assim como o cgi dos animais da floresta. Não sei muito sobre os bastidores da polêmica com o Peter Dinklage, se os anões em cgi foi por causa disso, mas sei que o resultado final, pelo menos pra mim, foi satisfatório.

Agora, o que foi bem ruim foi um núcleo de personagens que acompanha o “mocinho” – agora não pode ser mais príncipe, porque a Branca de Neve, empoderada, não pode ser salva por um príncipe (decisão que a produção tomou, que questiono se foi correta ou não). Enfim, em vez de príncipe, é um ladrão, e esse ladrão tem um bando, que não estava na história clássica, e que tem várias representatividades – e que parece saído de uma faculdade de Humanas na UFRJ. Já é uma grande forçação isso, mas calma que piora. O problema é que, tirando um (logo o anão!), essas pessoas do grupo são meros figurantes. Não têm nomes, não têm diálogos, não têm nenhuma importância para a trama. Caramba, se você vai incluir diversidade no seu filme, dê alguma relevância pra esses personagens!

Algumas coisas foram atualizadas para os dias de hoje, ok, a gente entende que se passaram quase 90 anos. Mas não entendo como não adaptaram o beijo do príncipe / ladrão no final. O cara encontra a Branca de Neve morta, e dá um beijo na boca dela? Quem beijaria a boca de um cadáver??? Não seria melhor um beijo na cabeça?

Enfim, Branca de Neve nem é tão ruim quanto esperado, mas é esquecível. O desenho ainda é muito melhor.

The Electric State

The Electric State

Sinopse (imdb): Uma adolescente órfã atravessa o oeste americano com um robô doce, mas misterioso, e um excêntrico vagabundo, em busca de seu irmão mais novo.

Os irmãos Joe e Anthony Russo eram ilustres desconhecidos, até que dirigiram quatro dos melhores filmes do MCU: Capitão América O Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato – detalhe que este último é a segunda maior bilheteria da história do cinema. Mas, depois de Ultimato, lançaram dois filmes bem fuén: Cherry e Agente Oculto. Não são filmes ruins, mas são filmes bobos e genéricos.

The Electric State segue a mesma onda. Não é ruim, mas é bobo e genérico.

O filme se passa nos anos 90, mas é uma realidade paralela onde vivemos com robôs inteligentes (o que me faz questionar por que situar a trama nos anos 90, porque, se é uma realidade paralela, podia ser hoje em dia). Os robôs se rebelam, rola uma guerra entre humanos e robôs, e humanos ganham a guerra usando robôs controlados remotamente (ou seja, é tudo robô). Ter um robô passa a ser “crime de traição”. A protagonista, uma “adolescente” de vinte anos de idade, recebe a visita de um robô, que acredita ser controlado pelo seu irmão que foi declarado morto, e resolve acompanhá-lo numa aventura dentro do mundo dos robôs.

Vamulá. Tecnicamente falando, The Electric State é muito bom. É uma superprodução de 320 milhões de dólares onde boa parte deve ter ido pras equipes de efeitos especiais. São muitas cenas de atores interagindo com robôs – a maior parte deve ser cgi, mas nenhuma cena passa a sensação de ser fake. Realmente parece que os robôs são reais. Nesta parte, nenhuma queixa.

Agora, o roteiro é tão mal escrito que deu vontade de fazer uma lista de tosqueiras mais toscas… Então vou fazer mais alguns comentários, depois vou soltar um aviso de spoilers, e listar dez tosqueiras.

Tenho sensações dúbias quanto à trilha sonora. Porque é daquele tipo de filme que usa músicas pop pra despertar a nostalgia dentro do espectador, e neste aspecto as músicas são muito bem usadas. Sim, sei que é um truque sujo, mas é legal ouvir Journey, Danzig, Judas Priest, Oasis, The Clash e Marky Mark – inclusive esta última ainda traz uma boa piada. Aliás, a melhor piada do filme envolve a Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Agora, por outro lado, é triste ler nos créditos que a trilha original é do Alan Silvestri, e tentar lembrar da trilha e não conseguir. Sim, a trilha original é tão genérica quanto o resto do filme, não tem nenhum tema marcante.

Sobre o elenco: Millie Bobby Brown e Chris Pratt interpretam Millie Bobby Brown e Chris Pratt. Ambos fazem o de sempre, o que pode ser bom dependendo da proposta do espectador, mas, não é nenhum trabalho de atuação que mereça destaque. Stanley Tucci faz o vilãozão genérico; e, lembram que comentei que Giancarlo Esposito estava desperdiçado em Capitão América 4? Aqui ele está mais desperdiçado ainda! Alguém precisa avisá-lo urgentemente que ele precisa largar esse estereótipo, já cansou! Ke Huy Quan tem um bom papel, pena que é tão clichê que adivinhei o que ia acontecer assim que ele apareceu. Jason Alexander tem um papel pequeno e engraçado. Além disso The Electric State tem robôs com as vozes de Woody Harrelson, Anthony Mackie, Brian Cox, Jenny Slate, Hank Azaria, Colman Domingo e Alan Tudik – e preciso dizer que não reconheci Anthony Mackie, mesmo lendo seu nome nos créditos (talvez seja o único elogio que faço ao elenco).

E aí a gente volta pro assunto do início do texto: The Electric State é ruim? Não. O cara que ligar a Netflix atrás de uma diversão efêmera e despretensiosa vai curtir. O problema é você lembrar dos currículos das pessoas envolvidas e pensar que podia ser muito melhor…

Mickey 17

Crítica – Mickey 17

Sinopse (imdb): Segue Mickey 17, um “dispensável”, que é um funcionário descartável em uma expedição humana enviada para colonizar o mundo gelado de Niflheim. Depois que uma iteração morre, um novo corpo é regenerado com a maioria de suas memórias.

Finalmente foi lançado o aguardado novo filme de Bong Joon-Ho, depois que ele surpreendeu o mundo cinematográfico em 2020 ao levar 4 Oscars para Parasita, incluindo o de melhor filme – a primeira (e até agora única) vez que um filme não falado em inglês ganhou o Oscar principal. (Além de melhor filme, Parasita ganhou melhor diretor, melhor roteiro original e melhor filme internacional).

(A previsão era lançar ano passado, tanto que o filme estava na minha lista de expectativas para 2024…)

Mickey 17 é a adaptação do livro Mickey 7, de Edward Ashton. Soube que teve sessões de imprensa em outras cidades no Brasil onde críticos ganharam o livro, mas aqui no Rio não deram nada. Mas li no imdb o motivo de ser um número diferente: Bong falou que queria alterar pra poder matar o Mickey mais dez vezes.

O filme traz uma ideia boa. Mickey está endividado, então resolve se juntar a uma equipe que está saindo da Terra para colonizar um planeta distante. Como não tem muitas habilidades, resolve optar pelo cargo que lhe parecia mais fácil de ser contratado: o “dispensável”. Sempre que tem alguma tarefa perigosa, com risco de vida, ele vai executar. E quando morre, imprimem uma nova cópia, igual ao que acabou de falecer, inclusive com as mesmas memórias.

Aliás, tem uma coisa curiosa: várias vezes no filme perguntam ao Mickey “como é morrer?” Ora, se ele está sendo reimpresso com a memória até aquele dia, não tem como ele saber como é morrer! Não tem como recuperar a memória da morte!

(Achei estranho ter cópias com personalidades diferentes. Acho que se é pra ser igual, seria igual em tudo. Mas, impressão de corpo humano não existe na vida real, então, como estamos falando de ficção científica, vou aceitar que altere a personalidade.)

A parte técnica é muito boa. Robert Pattinson faz dois Mickeys, o 17 e o 18, e eles interagem boa parte do filme. Ok, não é a primeira vez que vemos um ator interpretando “gêmeos”, mas reconheço que o resultado aqui ficou perfeito.

Além disso tem as criaturas habitantes do planeta Niflheim (o nome do planeta é uma referência à mitologia nórdica, é um reino em estado permanente de inverno, a vida após a morte para aqueles que não morrem de forma heroica). Bong Joon-Ho já filmou monstros antes, o primeiro filme que vi dele foi O Hospedeiro, de 2006. Mas aqui são vários monstrinhos, e, que nem acontece com os “gêmeos”, o resultado é perfeito.

Assim como em outros filmes do diretor, os teóricos de plantão podem encontrar camadas para alimentar discussões sociológicas. Um amigo meu falou que seria uma crítica ao capitalismo, “onde você vai trabalhar até morrer”. Também podemos enxergar o personagem do Mark Ruffalo como um líder que mistura política com religião. Ou seja, é “filme de monstro e nave espacial”, mas também tem seu lado cabeça.

Sobre o elenco, é impressionante como, a cada filme, Robert Pattinson se mostra um ator melhor. Já tinha comentado isso em filmes tão díspares como O Farol e Batman, e aqui mais uma vez ele está muito bem, e ainda tem a oportunidade de fazer dois papéis completamente diferentes – Mickey 17 e Mickey 18 só são parecidos fisicamente, pois têm personalidades bem distintas. Por outro lado, achei Mark Ruffalo além do ponto. Entendo a opção de colocá-lo como um líder caricato, mas ficou over. Toni Collette, sua parceira, está melhor. Também no elenco, Naomi Ackie (Pisque Duas Vezes), Anamaria Vartolomei (O Império) e Steven Yeun (Não Não Olhe).

Mickey 17 pode não ser tão bom quanto Parasita. Mas mesmo sendo um filme menor, gostei, achei tão bom quanto O Hospedeiro ou O Expresso do Amanhã.

O Macaco

Crítica – O Macaco

Sinopse (imdb): Quando os gêmeos Bill e Hal encontram no sótão um velho macaco de brinquedo do pai, começa uma série de mortes terríveis. Os irmãos decidem jogar o brinquedo fora e seguir em frente com suas vidas, distanciando-se com o passar dos anos.

O Macaco (The Monkey, no original) estava na minha lista de expectativas para 2025, por ser uma história do Stephen King, e dirigida por Osgood Perkins, que ano passado apresentou o bom Longlegs.

Gostei de Longlegs e gostei ainda mais de O Macaco. Se o primeiro era um terror sério, o segundo traz várias cenas de humor negro que fizeram o cinema dar gargalhadas várias vezes ao longo da projeção. São muitas cenas de mortes, e com muito gore. E ao mesmo tempo são cenas engraçadíssimas! Às vezes lembra o clima da franquia Premonição, onde a gente fica esperando mortes cada vez mais absurdas.

O humor negro não está só nas mortes. Vários diálogos também são neste estilo. E preciso dizer que adorei o tom do humor. Olha, há muito tempo heu não ria tanto numa sessão. Lembro que há pouco vi a comédia Bridget Jones Louca Pelo Garoto, e não ri quase nada…

Não li o conto original do Stephen King. Não sei se já era engraçado, ou se o humor negro foi uma adição do diretor e roteirista Oz Perkins (que é filho do Anthony Perkins, pra quem não sabe). Independente de quem é o autor, achei perfeito, este é o meu estilo de humor!

(Alguns amigos meus estão chamando O Macaco de “terrir”. Sei lá, pra mim, “terrir” está mais ligado ao estilo do Ivan Cardoso, filmes tipo As Sete Vampiras ou O Escorpião Escarlate, que eram filmes de terror, mas meio trash. O Macaco não é nada trash!)

O Macaco apresenta um brinquedo que, quando dão corda e ele bate no tambor, uma morte aleatória vai acontecer. O irmãos gêmeos Bill e Hal herdam esse brinquedo, mas tentam se afastar depois que descobrem os efeitos desagradáveis e imprevisíveis.

Curiosidade sobre o brinquedo: segundo o imdb, Oz Perkins resolveu fazer o macaco bater em um tambor em vez de pratos porque os direitos da versão com pratos são de propriedade da The Walt Disney Company, já que o brinquedo apareceu como personagem em Toy Story 3. O que é irônico, porque o macaco com pratos estava em Toy Story 3 porque seu diretor Lee Unkrich é fã de Stephen King.

Oz Perkins, na minha humilde opinião, está num bom momento da carreira. Lembro de quando vi Maria e João, o Conto das Bruxas, que achei bem filmado, mas entediante. Longlegs foi bem melhor, parecia uma uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Zodíaco, mas em versão terror. O cara sabe filmar, sabe posicionar sua câmera, seus filmes fogem do óbvio. E agora, com O Macaco, Perkins acertou em cheio. E ainda tem um filme novo dele, Keeper, com previsão de lançar em outubro deste ano!

Os gêmeos Bill e Hal são interpretados pelo mesmo ator: Christian Convery quando adolescentes; Theo James quando adultos. Eles estão bem: achei que eram dois atores diferentes interpretando os adolescentes. Tatiana Maslany interpreta a mãe durante a primeira parte do filme. O Macaco ainda tem participações especiais de Elijah Wood e Adam Scott, cada um faz uma cena. E o diretor Oz Perkins tem um papel bem divertido, o tio dos meninos.

Alguns amigos meus falaram mal de O Macaco quando acabou a sessão. Mas te garanto que a sala inteira do cinema estava gargalhando alto. Acho que esses amigos esperavam um filme sério…

O Brutalista

Crítica – O Brutalista

Sinopse (imdb): Quando o visionário arquiteto László Toth e sua esposa Erzsébet fogem da Europa do pós-guerra em 1947 para reconstruir seu legado e testemunhar o nascimento da América moderna, suas vidas são mudadas por um misterioso e rico cliente.

Tem filmes que, quando acabam, o rascunho do meu texto está pronto dentro da minha cabeça. Vou falar disso, daquilo, comentar sobre aquele problema, fazer aquele elogio… É só colocar no papel e formatar. Agora, tem outros filmes que não tenho ideia nem por onde começar meus comentários. O Brutalista está nesta categoria.

Antes de tudo, uma informação útil, que heu não sabia. Enganado pelo título e pelo cartaz, fui ao cinema ver um “Adrien Brody brutal”. Achei que era um filme violento. Não sabia que “brutalismo” é um estilo de arquitetura. Vou copiar aqui um trecho da wikipedia:

O estilo arquitetônico Brutalismo (também chamado de arquitetura brutalista), que surgiu no início do século XX e alcançou seu auge nas décadas de 1950 a 1970, é conhecido por sua estética ousada e impiedosa, caracterizada pelo uso de concreto bruto e aparente. O nome “Brutalismo” deriva da palavra francesa “brut”, que significa “cru” ou “bruto,” e não se refere à violência, como muitas pessoas podem supor. O concreto é o material central no Brutalismo, e os arquitetos que seguem esse estilo fazem questão de deixar a textura e a superfície do concreto visíveis, muitas vezes sem revestimento ou acabamento adicional. Isso cria uma sensação de honestidade e autenticidade na construção.”

Ou seja, “não se refere à violência”. Não criei expectativas, mas achei que era outro tipo de filme!

Ah, outra informação importante: László Toth é um personagem fictício. É bom deixar isso claro, porque a construção do filme passa a impressão de que ele existiu (principalmente pelo epílogo do filme).

Vamos ao filme. O Brutalista (The Brutalist, no original) acompanha a história de László Toth, arquiteto, judeu, húngaro, que fugiu da Segunda Guerra e foi aos EUA tentar uma vida nova. Se na Europa ele tinha problemas relativos à guerra, ele encontrou outro tipo de problema no seu novo país. Seu primo largou o sobrenome húngaro e se casou com uma americana, mas László quer manter suas raízes. Depois, quando encontra um cara rico que contratá-lo, ele precisa lutar para manter sua obra do jeito que ele idealizou.

A direção é de Brady Corbet, que teve uma carreira modesta como ator (estava no elenco de Melancolia e na versão americana de Funny Games), e que de uns anos pra cá resolveu dirigir. Apesar de ser apenas seu terceiro filme como diretor, Corbet já parece um veterano – O Brutalista é um “filme de gente grande”, uma super produção de época, grandiosa, com cenários e figurinos caprichados, apesar de ter um orçamento relativamente modesto (10 milhões de dólares segundo o imdb).

Vamos falar da pausa? Sim, rola uma pausa de 15 minutos. Isso não é da sala de cinema, está dentro do filme. O Brutalista tem três horas e trinta e quatro minutos, mas são três horas e dezenove de filme. No meio da projeção, aparece uma imagem com um contador marcando o tempo em contagem regressiva. Heu sou super a favor de pausas em filmes longos, acho que todo filme de mais de duas horas deveria ter uma pausa, dá pra ir ao banheiro ou passar na bombonière, é bom pro espectador e também pro cinema, pena que isso não é uma prática comum. Mas, por outro lado, O Brutalista não precisava ter mais de três horas. O filme cansa em alguns momentos. Sou a favor da pausa, mas também sou a favor de filmes mais curtos. Um filme só deveria ser longo se ele realmente precisar!

O Brutalista é dividido em duas parte e um curto epílogo. A divisão entre as partes é nítida, tanto que a pausa acontece entre elas. Agora, achei o epílogo desnecessário. Se László Toth fosse uma pessoa real, ok, justificava mostrá-lo velhinho. Mas, para um personagem fictício, achei que não precisava.

O Brutalista ainda tem outro problema, que é o final. Acontece uma coisa com um personagem, que poderiam ter deixado o personagem pra lá e seguido com a história. Mas não, o filme foca no que aconteceu com esse personagem – pra depois não concluir. Caramba, se a gente seguiu essa história paralela, que pelo menos a gente saiba a conclusão!

O elenco está muito bem. O trio principal, Adrien Brody, Felicity Jones e Guy Pierce, merece as indicações ao Oscar (mas não achei que Brody deveria ter ganhado seu segundo Oscar…). Rolou uma polêmica ligada ao uso de IA nas vozes do casal principal, alguém me disse que era pra ajudar a criar os sotaques húngaros dos personagens, mas me parece mais lógico que seja para melhorá-los enquanto falam em húngaro – é bem mais fácil o cara falar na sua língua imitando um sotaque do que ser fluente em uma língua estrangeira. Tinha gente achando que o Oscar não iria para Brody por causa disso, mas parece que os votantes da Academia não se incomodaram.

Também queria falar dos créditos, tanto os iniciais quanto os finais. São créditos em formatos diferentes do óbvio. Nada de excepcional, mas gostei, justamente por ser algo diferente do que estamos vendo todos os dias.

Alguns amigos meus adoraram O Brutalista, dizendo que seria um dos melhores filmes do ano. E o filme ganhou o Globo de Ouro e foi indicado a dez Oscars. Mas, heu preciso dizer que o filme não me empolgou. Não é um filme ruim, longe disso, é um filme bonito, bem filmado, bem atuado, mas, pelo menos pra mim, apenas mais um filme.