Pig

Crítica – Pig

Sinopse (imdb): Um caçador de trufas que vive sozinho, isolado no Oregon, deve retornar ao seu passado em Portland em busca de sua amada porca depois que ela foi sequestrada.

Nos últimos anos, Nicolas Cage tem feito dezenas de filmes ruins. Parece que o cara se especializou nisso. Dá até pra pinçar um ou outro no meio de tanto lixo, mas são sempre filmes esquisitões, filmes como o lovecraftiano A Cor que Veio do Espaço, ou Mandy, filme que gosto bastante, mas que é completamente fora da curva – e que combina com a atuação over acting que virou marca registrada de Cage.

Aí apareceu esse Pig, primeiro longa dirigido por Michael Sarnoski (que também é o roteirista) . E tem um monte de gente elogiando, tem gente até dizendo que é a melhor atuação da carreira dele. Ok, bora ver.

Quase sempre prefiro comentários sem spoilers, mas acho que poucas pessoas vão ver este filme. Então vou colocar um aviso de spoilers no momento certo, pra fazer um comentário sobre o final do filme.

A sinopse lembra John Wick, que começou sua jornada de vingança porque mataram seu cachorro. Mas Pig não tem nada a ver com John Wick. Não é um filme de ação, é nem sei se podemos chamar o que acontece de vingança.

Pig é um drama, lento, quem estiver esperando correria melhor catar outro filme. Nic Cage faz um cara esquisitão, como sempre, mas, diferente do habitual, aqui ele está contido. Sua atuação é introspectiva, ele fala pouco, quase tudo está no olhar. É um personagem que nitidamente desistiu das convenções sociais, vive sujo, vive largado, dentro daquele mundinho particular que ele construiu com sua porca.

Aos poucos a gente começa a confrontar o passado do personagem, e começamos a entender o que está se passando. Mas, repito, tudo é muito lento, cenas longas e contemplativas. Provavelmente vai desagradar os fãs da fase atual da carreira do ator.

Gostei muito da resolução final, nem sei se podemos chamar de plot twist, mas digo que gostei de como o personagem encerrou a história. Mas, um detalhe me incomodou, então vamos aos avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Logo no início do filme, quando a porca é sequestrada, o cara se machuca, e fica sujo de sangue. E ele segue o filme inteiro sem se limpar. Ok, coerente com um personagem que não se importa com convenções sociais. Mas, ao longo do filme a gente descobre que ele foi um grande cozinheiro, um chef famoso, que largou tudo e foi pro meio do mato. E quando descobre que sua porca morreu, sua vingança é fazer um prato específico para o cara responsável pela sua morte, um prato que vai lhe trazer lembranças dolorosas, uma espécie de Ratatouille ao contrário. Ele atinge o seu oponente pela memória afetiva ligada àquele prato específico. Genial, não?

Agora, ele continua imundo e sujo de sangue. Na boa, um cozinheiro sujo de sangue foi uma coisa que me incomodou. Ele podia ter se limpado para aquele momento.

FIM DOS SPOILERS!

Tem gente apostando em uma indicação ao Oscar pro Nicolas Cage por causa deste filme. Ele está bem, mas acho que Oscar é um exagero. Também no elenco, Alex Wolff (Tempo) e mais uns rostos desconhecidos.

Recomendado pra quem curte filmes contemplativos.

Na Mira do Perigo

Crítica – Na Mira do Perigo

Falei aqui outro dia sobre Legado Explosivo, novo filme genérico do Liam Neeson. E, olha lá, já tem mais um genérico!

Sinopse (imdb): Um fazendeiro na fronteira do Arizona se torna o improvável defensor de um jovem mexicano que foge desesperadamente dos assassinos do cartel que o perseguiram até os EUA.

Muita coisa que falei naquele texto sobre Legado Explosivo pode ser repetida aqui, porque o Liam Neeson está num loop, se repetindo no mesmo estilo de coroa badass. Mas, não me canso de repetir, é um grande ator, com um currículo invejável. Antes de assumir a carreira de action hero da terceira idade, concorreu ao Oscar por A Lista de Schindler, concorreu 3 vezes ao Globo de Ouro (Schindler, Michael Collins e Kinsey), e ainda fez um monte de filmes de ação blockbuster, como Star Wars, Batman, Esquadrão Classe A e Fúria de Titãs.

Claro que o personagem Jim parece os últimos personagens do Liam Neeson. Agora, se a gente tiver um pouco de boa vontade, podemos ver alguns traços de Clint Eastwood no filme. O diretor Robert Lorenz não tem um currículo grande como diretor, esse é o seu segundo filme (e o primeiro foi estrelado pelo próprio Eastwood), mas no imdb, a gente vê que ele tem uma parceria de longa data com Eastwood. Em pelo menos dez filmes dirigidos pelo Clint Eastwood, o Robert Lorenz trabalhou como produtor ou assistente de direção. Ou seja, com um pouco de boa vontade a gente pode imaginar que esse papel cairia bem num Clint Eastwood de uns vinte anos atrás (Eastwood está com com 91 anos; Liam Neeson é 22 anos mais novo, mais coerente com o papel).

(Aliás, um parênteses rápido. O personagem se chama Jim Hanson. Sério que ninguém lembrou do Jim Henson, criador dos Muppets?)

Aproveitando que falei do elenco, acho que o único outro nome a ser citado é o de Katheryn Winnick, famosa pela série Vikings. O garoto Jacob Perez não é bom, mas também não atrapalha.

Teve uma cena que me incomodou. Mas antes, o aviso de spoiler!

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

O cara tá endividado, com problemas de grana, e queima o dinheiro do cartel??? Quem queimaria dinheiro, ainda mais endividado???

FIM DOS SPOILERS

O filme segue dentro do previsível. É genérico, mas não é ruim, pode agradar quem está atrás de novidades, nesses tempos tão difíceis de bons lançamentos.

Bela Vingança

Crítica – Bela Vingança

Sinopse (imdb): Uma jovem, traumatizada por um trágico acontecimento de seu passado, busca vingança contra aqueles que cruzaram seu caminho.

Preciso dizer que o nome em português me afastou desse filme. A distribuidora claramente quis linkar o filme a outros títulos onde uma mulher se vinga dos seus agressores, como Doce Vingança ou Vingança. Até curto filmes assim, mas deixei de lado, “um dia vejo”.

Aí vi Bela Vingança na lista dos 5 indicados a Globo de Ouro de melhor filme drama. Péra, deve ter algo a mais com esse filme. You had my curiosity, now you have my attention!

Realmente. Bela Vingança (Promising Young Woman, no original) não segue a linha dos filmes citados antes. Sim, tem uma mulher se vingando de homens, mas é outro tipo de vingança. No filme escrito e dirigido pela estreante Emerald Fennell, ela vai pra balada, finge que está bêbada, espera um cara abordá-la pra se aproveitar, vai pra casa com o cara, e aí ela entra em ação.

Se tem uma coisa que, pra mim, não funcionou nesse filme, é que acho que ela se arrisca muito. Vejo fácil fácil um cara desses – muito maior e mais forte – dando uns tapas nela só por ter sua masculinidade “ameaçada”.

Mesmo assim, achei a abordagem muito boa. É bem mais fácil de acreditar do que filmes que focam em “homens maus” e mulheres com vinganças cheias de pirotecnias. De repente o cara que é alvo da protagonista não é exatamente um mau caráter, mas, sabe a expressão “a ocasião faz o ladrão”? Será que ele continua assim se aparecer uma “oportunidade”? Acabou o filme e fiquei imaginando que esse tipo de coisa deve acontecer muito por aí.

(Li no imdb que o título original “Promising Young Woman” é uma referência a uma citação de um caso de um universitário de Stanford, acusado de agredir sexualmente uma mulher em 2016. Falavam na época que ele era um “promising young man” – ou seja, segundo essa lógica, se ele tem um futuro pela frente, a gente pode ignorar se ele for um cometer um crime?)

O elenco é fantástico. Carey Mulligan está perfeita – tanto que concorreu ao Globo de Ouro e agora concorre ao Oscar. Mas não só ela, outros atores conhecidos aparecem em papeis menores, e todos estão bem: Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Alison Brie, Christopher Mintz-Plasse, Connie Britton, Molly Shannon, Adam Brody. Ouvi gente criticando o Bo Burnham, que é o par romântico, porque o filme resvala num clima de comédia romântica. Mas gostei da atuação dele, e gostei de como isso é inserido no filme e ajuda o desenvolvimento da personagem principal.

O final não é o previsível. Vai desagradar muita gente. Mas heu gostei do final assim, um final desconfortável, que te deixa pensando depois.

Bela Vingança concorreu a 4 Globos de Ouro: melhor filme drama, roteiro, atriz e direção. 4 indicações dentre as mais importantes, mas não ganhou nenhum. E ontem saíram as indicações ao Oscar, Bela Vingança está concorrendo a 5 estatuetas, filme, roteiro, atriz e direção, e também edição. Não acho que tenha o perfil de ganhar melhor filme, mas ano passado ninguém achava que Parasita tinha o perfil, então, aguardemos.

Cherry

Crítica – Cherry

Opa! Pára tudo! Filme novo dos Irmãos Russo, estrelado pelo Homem Aranha Tom Holland?

Sinopse (imdb): Cherry abandona a faculdade e se torna médico do exército no Iraque – ancorado apenas em seu verdadeiro amor, Emily. Mas depois de retornar da guerra com o Transtorno de Estresse Pós Traumático, sua vida se transforma em drogas e crime enquanto ele luta para encontrar seu lugar no mundo.

Pra quem não ligou os nomes às pessoas. Anthony e Joe Russo eram diretores de seriados pra TV, até que foram contratados pela Marvel e dirigiram quatro dos filmes mais conceituados de todo o MCU: Capitão América Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato. Atualmente, eles simplesmente são os responsáveis pela maior bilheteria da história do cinema. Claro que o seu novo filme seria um projeto aguardado. “O que será que eles conseguem fazer sem as limitações de um grande estúdio?”

(Não estou criticando a Marvel, mas é um fato: o MCU é um projeto gigante, onde um diretor deve ter limitações criativas. E, ao ver o resultado do MCU, não tem como achar que isso é um erro. Tem que existir espaço pra “cinema de autor”, mas também para “cinema de produtor”.)

Cherry – Inocência Perdida (Cherry, no original) é esse projeto. Adaptação do livro homônimo de Nico Walker, que conta uma história baseada na sua vida, de como um jovem veterano de guerra se afundou nas drogas e depois virou assaltante de bancos. Detalhe: Walker escreveu o livro na prisão. Mas, pelo que li, o livro não é uma autobiografia, é apenas um personagem baseado na sua experiência de vida.

Mas, me parece que os Irmãos Russo queriam experimentar, e nem tudo funcionou. O filme passeia por estilos diferentes, mas isso nem me incomodou. O que achei ruim mesmo foi a experimentação, a narrativa às vezes parece meio bagunçada. O formato de tela muda, às vezes aparecem textos na tela, de vez em quando tem quebra de quarta parede… Além disso, o filme é longo demais (2h21min), e algumas partes são bem arrastadas, principalmente no início.

Mesmo assim, vale, nem que seja pela atuação do Tom Holland. Ele convence em todas as fases do personagem – inclusive li no imdb que ele perdeu 13 kg pra uma parte do filme.

Ah, Cherry não tem nada a ver com filmes de super heróis, mas ter diretores com experiência em filmar ação foi muito bom pra certas partes do filme. Toda a parte da guerra é extremamente bem filmada.

Outra coisa que gostei foi o humor sutil, tanto em nomes dos bancos (Shitty Bank, Capitalist One, Bank Fucks America, Credit None), quanto até em nome de personagem – um dos personagens se chama “Pills and Coke”, algo como comprimidos e cocaína.

No fim, Cherry até vale, mas fica a sensação de que os Irmãos Russo ainda estão devendo um bom trabalho fora do MCU.

A Maldição da Mansão Bly

Crítica – A Maldição da Mansão Bly

Sinopse do imdb: Após a trágica morte de uma au pair, Henry contrata uma jovem babá americana para cuidar de sua sobrinha e sobrinho órfãos que moram na Mansão Bly com o chef Owen, a zeladora Jamie e a governanta Sra. Grose.

A Maldição da Mansão Bly é a segunda temporada de uma série, mas é uma segunda temporada atípica, porque não tem nada a ver com a primeira, que é A Maldição da Residência Hill. Por isso, antes de falar de Mansão Bly, vou falar um pouco de Residência Hill. E antes de falar da Residência Hill, preciso falar do seu criador, Mike Flanagan.

Vi quase todos os filmes do Mike Flanagan (só falta Ouija a Origem do Mal, preciso consertar isso). Pra ninguém dizer que sou modinha, olhem o que escrevi no heuvi em maio de 2012, quando vi Absentia: “Mike Flanagan, o tal diretor / roteirista / editor, conseguiu um resultado impressionante com o seu Absentia. Fiquemos de olho no nome de Mike Flanagan!”.

Mike Flanagan é um cara legal, talentoso, todos os filmes dele são legais, mas nenhum é “obrigatório”. Doutor Sono, continuação d’O Iluminado, é um filme legal, mas, caramba, não dá pra comparar com o filme do Kubrik! E gosto de Jogo Perigoso, O Espelho e Hush A Morte Ouve, mas são filmes “menores” (de todos os filmes dele, acho que só não gostei de O Sono da Morte). O Mike Flanagan é tipo um aluno que nunca tira 10, mas tá sempre tirando 7 e 8 – você sabe que vai ver algo de qualidade, mas falta um pouco pro cara ser um dos “grandes”.

Até que ele fez a Residência Hill, e finalmente ele tem um “dez”.

A Maldição da Residência Hill é simplesmente fantástico. A ambientação da casa, os personagens, o elenco, a trilha sonora, tudo funciona direitinho. Foi um dos melhores filmes (minissérie?) que vi ano passado. Digo mais: sou burro velho com relação a filmes de terror, e teve um jump scare que me pegou – o do carro. Digo mais de novo – tem um episódio em plano sequência!

Claro que fiquei empolgado com a “continuação”. As aspas são porque sim, é uma nova temporada, mas é uma história completamente diferente.

Residência Hill foi baseado no livro homônimo escrito por Shirley Jackson (que teve uma adaptação meia bomba em 99, chamada A Casa Amaldiçoada, do Jan de Bont e com a Catherine Zeta Jones, Liam Neeson, Lili Taylor e Owen Wilson) (Residência Hill é baseado, mas é uma história diferente da que tá no livro). A história fechou, não tem como continuar. Então, a A Maldição da Mansão Bly é outra adaptação, de outro livro, A Volta do Parafuso, de Henry James (que curiosamente teve outra adaptação, pros cinemas, lançada no início deste ano, o filme Os Orfãos – que é beeem fraco, e tem um final péééssimo).

Mansão Bly é uma história completamente diferente, mas tem pontos em comum com Residência Hill. Não só parte do elenco está de volta, como a produção consegue ter todo um clima parecido, apesar de serem mansões diferentes. Até a trilha sonora se repete!

Assim como Residência Hill, a linha temporal não é linear. E aqui tem um detalhe que achei bem legal – tem um flashback dentro de um flashback que é colocado no ponto certo da trama, e só naquele episódio, não precisa ficar indo e voltando.

O elenco traz 5 dos 8 nomes principais da Residência Hill. Victoria Pedretti, Oliver Jackson-Cohen e Henry Thomas estão entre os personagens principais; Carla Gugino é a narradora; Kate Siegel tem um papel menor, mas importante. (Pra quem não ligou o nome à pessoa, Henry Thomas é o garotinho do ET). De novidade, gostei muito da Amelia Eve, tanto da atriz quanto da personagem. Rahul Kohli, T’Nia Miller e Tahirah Sharif também estão bem. E ainda preciso falar das duas crianças, Amelie Bea Smith e Benjamin Evan Ainsworth. Os dois são muito bons. O garoto tem mudanças na personalidade (que são explicadas no roteiro), e o ator convence. E a menininha… Olha, vou te falar que se tem uma coisa que acho assustadora em filme de terror, é garotinha com sotaque britânico. Perfectly Splendid!

Agora, o fato de Mansão Bly ser continuação de Residência Hill é um problema. Porque achei Residência Hill bem melhor. Mansão Bly tem alguns momentos sonolentos. Li uma crítica que disse que Mansão Bly perde pontos por ser “menos terror”. Não gosto de me fechar em rótulos, pode ser terror, drama, comédia, aventura, desde que seja bom. E parece que o Mike Flanagan voltou pra média 7 ou 8.

Mesmo assim, é uma boa minissérie. E agora aguardemos a terceira temporada. Qual será o livro que vai ser adaptado?

As Golpistas

Crítica – As Golpistas

Sinopse (imdb): Inspirado no artigo da New York Magazine, As Golpistas segue uma equipe de ex-funcionárias de clubes de strip-tease experientes que se unem para virar a mesa em cima de seus ex clientes de Wall Street.

As Golpistas (Hustlers, no original) se baseia numa história real que até é interessante. Mas, sabe quando o filme não engrena? A direção e o roteiro são de Lorene Scafaria (que fez o bom Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo), que faz um filme que até tem seus bons momentos. Mas no fim o resultado é fuén.

Agora, se tem uma coisa que indubitavelmente vale a pena em As Golpistas é a Jennifer Lopez, que entrega uma das melhores atuações de sua carreira (além de mostrar uma invejável forma física). Tinha um boato de indicação para o Oscar (o que seria merecido), mas não rolou, infelizmente. Também no elenco, Constance Wu, Julia Stiles, Keke Palmer, Lili Reinhart, Mercedes Ruehl, e uma desnecessária participação de Usher.

Vale pela J-Lo. Mas é fraco.

Coringa

Crítica – Coringa

Sinopse (imdb): Um corajoso estudo de caráter de Arthur Fleck, um homem desconsiderado pela sociedade.

Estreou o filme que vai gerar as maiores discussões nerds do semestre!

O Coringa é um personagem icônico na cultura pop, mas sempre foi ligado ao Batman. Fazer um filme “solo” do Coringa era um risco (lembrando que o filme do Venom sem o Homem Aranha foi muito ruim). Mas não é que deu certo?

Uma coisa chama a atenção do cinéfilo atento. O diretor é Todd Phillips, que ganhou fama pelos três Se Beber Não Case. Assim como aconteceu ano passado com Peter Farrelly e o seu Green Book, um diretor ligado a comédias de humor grosseiro resolveu fazer um drama – e mandou bem no novo estilo.

Coringa (Joker, no original) é um filme “redondinho”. Boa história, um personagem central muito bem construído, um ator protagonista inspiradíssimo, e uma parte técnica impecável – boa fotografia, boa direção de arte, boa trilha sonora, etc. Não será surpresa se tiver algumas indicações ao Oscar.

Joaquin Phoenix aqui tem talvez a melhor interpretação de sua carreira. Seu Coringa é diferente dos anteriores, aqui temos um cara desequilibrado, que para de tomar seus remédios e entra numa violenta espiral de loucura. Coringa se passa dentro do universo do Batman, ou seja, teoricamente podemos chamar de um filme de super heróis. Mas nada aqui tem ligação com super poderes – Arthur Fleck é um cara “normal”, pode ser o seu vizinho. Talvez isso seja o mais assustador de toda a história.

(Muita gente deve estar se perguntando quem seria o melhor Coringa, afinal, Heath Ledger também fez um trabalho excepcional em Batman Cavaleiro das Trevas. Mas pra mim não tem como comparar, ambos mandaram muito bem, mas em propostas diferentes. A única certeza é que Jared Leto foi infinitamente pior com seu Coringa em Esquadrão Suicida).

Joaquin Phoenix não é o único nome grande no elenco. Robert De Niro tem sua melhor atuação em muito tempo (nem me lembro quando foi seu último destaque). Sua presença confirma a intenção “scorsesiana” do filme (muita gente traça paralelos com Táxi DriverO Rei da Comédia, duas parcerias Scorsese / De Niro). Também no elenco, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen e Shea Whigham.

Preciso fazer um comentário, mas antes, os avisos de spoiler.

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Aparece o Bruce Wayne, ainda criança. Mas o Arthur Fleck já é quarentão. Se tivermos uma continuação deste universo, o Coringa será muito mais velho que o Batman!

FIM DOS SPOILERS!

Ah, sim, claro que um bom filme dentro do universo DC vai gerar briga entre Marvetes e DCzetes. “Chupa Marvel, Coringa está mais perto do Oscar do que qualquer filme do MCU!”. Bobagem. Mais uma vez, assim como Ledger vs Phoenix, são propostas diferentes. O MCU é um universo coeso com mais de vinte de filmes de super heróis, com os principais objetivos de divertir o público e fazer bilheterias milionárias. Coringa tem outra proposta. E vale dizer: as duas propostas são válidas. Quem ganha é o espectador!

A Profecia Celestina

Crítica – A Profecia Celestina

Sinopse (imdb): Uma adaptação do romance de James Redfield sobre a busca de um manuscrito sagrado na floresta tropical peruana.

Sabe quando nada dá certo?

Dirigido por Armand Mastroianni (que tem uma extensa carreira, com dezenas de filmes para a tv, mas nenhum digno de nota), A Profecia Celestina (The Celestine Prophecy, no original) é a adaptação do best seller homônimo de James Redfield. Mas falha – e muito – tanto na parte cinematográfica quanto ao mandar uma mensagem.

O roteiro é péssimo. Personagens rasos, situações forçadas, cenas desconexas, A Profecia Celestina é um caso a ser estudado em escolas de roteiro – como exemplo do que não fazer. O elenco até tem alguns nomes bons, mas não sei se por culpa do roteiro ou da direção, estão todos mal. O protagonista é o desconhecido Matthew Settle; mas o elenco também conta com Sarah Wayne Callies, Joaquim de Almeida, Hector Elizondo, Thomas Kretschmann, Annabeth Gish, Jürgen Prochnow e Obba Babatundé

O filme é baseado no best seller, né? Mas a mensagem é tão confusa que quando o filme acaba, tem uns textos explicando! Não me lembro de outro filme assim, que precisa de um texto pra explicar ao fim.

Se o livro é um best seller, deve ser melhor. Aliás, não é difícil ser melhor…

Minha Obra Prima

Crítica – Minha Obra Prima

Sinopse (imdb): Arturo é um negociante de arte inescrupuloso e Renzo um pintor socialmente desajeitado e amigo de longa data. Dispostos a arriscar tudo, desenvolvem um plano extremo e ridículo para se salvarem.

Perdi o novo filme do argentino Gastón Duprat quando passou no Festival do Rio. Por sorte, entrou no circuito!

O melhor de Minha Obra Prima (Mi obra maestra, no original) está nos dois personagens principais. A princípio não tinha gostado muito do marchand Arturo, mas ele conquista o espectador ao longo do filme – já o rabugento pintor Renzo é um daqueles personagens que a gente gosta logo de cara. É não só os personagens são bons, como os atores Luis Brandoni e Guillermo Francella também estão ótimos.

O roteiro (de Gastón Duprat e seu irmão Andrés) tem algumas escorregadas (não gostei da mudança da personalidade de um dos personagens), mas traz um plot twist bem legal (não vou me aprofundar por spoilers). E o filme, apesar de ser um drama, tem toques de humor negro, e algumas cenas engraçadíssimas (Renzo sem dinheiro no restaurante é impagável!).

Não dá pra fazer o trocadilho óbvio, Minha Obra Prima não é uma obra prima. Mas, apesar dos escorregões, os dois personagens principais valem o ingresso.

Creed II

Crítica – Creed II

Sinopse (imdb): Sob a tutela de Rocky Balboa, o peso pesado Adonis Creed enfrenta Viktor Drago, filho de Ivan Drago.

Quando surgiu Creed, achei que a franquia Rocky estava “passando o bastão”. Nada disso. Creed II podia ser chamado de Rocky XIII.

Tudo aqui segue a fórmula da franquia. Creed II é previsível, maniqueísta e cheio de clichês – como os outros filmes. Ou seja, isso não deve incomodar os fãs. E Creed II tem outro problema: é um filme longo demais, são duas horas e dez minutos, toda aquela parte do filho é arrastaaaada…

O grande lance aqui é a volta de Dolph Lundgren no papel de Ivan Drago. Seria legal vê-lo junto com Stallone – se não existisse a franquia Mercenários – onde, inclusive, os dois têm mais interação do que aqui. Ou seja, o grande atrativo de Creed II é um prato requentado.

Agora, os fãs vão gostar. As lutas são empolgantes e bem filmadas (infelizmente sem um plano sequência como no filme anterior, deve ser pela troca de diretor, agora é o desconhecido Steven Caple Jr.). E Michael B. Jordan mostra mais uma vez que é uma grande estrela.

O elenco tem um problema. Dolph Lundgren não é um grande ator, mas pelo menos é carismático. Florian Munteanu, que interpreta seu filho, não é um bom ator, e tem carisma zero. Também no elenco, Tessa Thompson, Milo Ventimiglia, Phylicia Rashad e uma ponta que os fãs da franquia vão gostar..

Recomendado apenas para os fãs da franquia. Que são muitos, não duvido que em breve tenhamos um Rocky IX – quer dizer, Creed III.